Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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05/09/2006 (Nº 18) DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL NO CANAL DO SANTA BÁRBARA
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Educação Ambiental em Ação

ARTIGO

 

DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL NO CANAL DO SANTA BÁRBARA, PELOTAS- RS COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO EM APLICAÇÕES À EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

LUZZARDI, Roberta do Espírito Santo; PEPPELER, Adriana; OLIVEIRA Antônio Farias de; MARQUES José Paulo; SANTOS, Lucimar Moraes dos; SILVA, Noemi Rosimeri Costa.

 

 

Palavras-chave: Educação ambiental, Canal do Santa Bárbara, Diagnóstico Socioambiental.

 

 

INTRODUÇÃO

 

O Canal do Santa Bárbara localiza-se no município de Pelotas, Estado do Rio Grande do Sul. Encontra-se numa área com altitude média de 7 metros em relação ao nível do mar e posição geográfica de 31°45’43” de latitude sul e 52°21’00” de longitude oeste, sendo o principal responsável pelo escoamento hídrico da bacia hidrográfica do Santa Bárbara. A maioria dos rios e arroios responsáveis pela drenagem desta bacia hidrográfica, possui suas nascentes localizadas nas encostas da parte leste do Escudo Cristalino Sul-Riograndense, na zona rural do município de Pelotas.

 O presente trabalho visa analisar a atual conjuntura ambiental do Canal do Santa Bárbara e realizar um levantamento da percepção ambiental de seus moradores. A ação humana ao longo do Canal foi ocasionando sucessivos processos de degradação decorrentes de diversas formas de impacto ambiental, como as construções irregulares em área de preservação permanente, a emissão de esgoto doméstico e químico, além do depósito inadequado de lixo em vários pontos do curso. Segundo ALMEIDA, 2001, “os recursos que permitem a representação das transformações constituem uma chave para o pensamento crítico sobre o espaço”, e isto diz respeito à preservação ambiental.

Este trabalho também abrange diretamente as conseqüências da ação humana sobre o meio natural e também traduz a situação da população diante de sua exposição a condições de risco.

 

 

METODOLOGIA

Num primeiro momento, realizou-se o levantamento bibliográfico, fundamental para a compreensão dos aspectos físicos e humanos da área em estudo, assim como da dinâmica de modificação sofrida pelo Canal e a complexidade das problemáticas ambientais atuais. Também realizou-se 20 entrevistas com os moradores da área que vai da Av. Duque de Caxias até a Zona do bairro Simões Lopes  e o Diagnóstico ambiental com o objetivo de obter-se o reconhecimento mais minucioso possível da realidade em que se pretende intervir, ou seja, conhecer o campo de ação, suas características gerais e peculiaridades próprias.  Os trabalhos de campo (Diagnóstico) foram necessários para a constatação dos impactos ambientais provocados pela emissão do esgoto doméstico, de dejetos químicos e depósitos irregulares de lixo evidenciados nas fotografias aéreas, assim como o reconhecimento da estrutura e a classificação das habitações irregulares. Além disso, através do diálogo com os habitantes e a entrevista, foi possível compreender a situação destas pessoas que vivem em áreas de risco e sua interação com o Canal.

 

 

DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL NO CANAL DO SANTA BÁRBARA

 

Aspectos Positivos:

a-                  vegetação nativa;

b-                  plantas gramínias, que evitam assoreamento;

c-                  vida aquática existente (tartarugas de água doce);

d-                  maçaricos que se alimentam nos água-pés.

 

 

Aspectos Negativos:

a-                 água com mau cheiro. O mau cheiro e a elevada turbidez demonstram a quantidade de matéria orgânica e inorgânica carregada ao longo de seu percurso;

b-                 coloração da água alterada (preta);

c-                 presença de vegetação em cima da água- macro-algas;

d-                 plantas aquáticas suspensas;

e-                 lixo nas margens;

f-                   lixo nas águas;

g-                 alguns trecho da margens com assoreamento;

h-                 vegetação ciliar destruída as margens do canal, com grande desflorestamento;

i-                   queimadas;

j-                    Concentração de lixos tipos: pneus, parte de geladeira, material isolante, pilhas, garrafa PET, sacos de lixos, pedaços de alumínio, latas e outros;

k-                 Gramínia que nasce do fundo do canal e vem para superfície;

l-                    Esgoto doméstico;

m-               Esgoto sem tratamento, junto à ponte;

n-                 Bactérias fermentando- bolhinhas de CO2;

o-                 Habitações com infra-estrutura muito deficiente;

p-                 A ocupação irregular nas margens do Canal;

q-                 As pequenas vilas formadas neste trecho do Canal recebem energia elétrica e possuem iluminação nas ruas, porém não são atendidas pelo serviço de coleta de lixo e tratamento de esgoto. Desta forma todas as casas liberam diretamente o esgoto doméstico dentro do Canal, sendo que, em vários momentos este fato foi presenciado.

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Na analise dos dados, salientamos os mais significativos:

Idades: adultos entre 13 – 65 anos (60%);

Grau de instrução: Ensino Médio (10%), Curso Superior (0%); Ensino Fundamental Incompleto (60%), analfabetos (30%);

Preocupação com o meio ambiente: A grande maioria esta preocupada com o meio ambiente (98%);

Programas de Educação Ambiental: Os usuários do parque nunca participaram de algum programa de educação ambiental no canal (94%), mas gostariam de participar se houvesse oportunidade;

Lixo: a maioria dos moradores do local são catadores que descartam o lixo não utilizado no próprio canal.

Percepção ambiental do canal: Muitos aspectos foram citados, sendo os mais citados: mosquitos, mau cheiro do curtume, sujeira, falta de saneamento, ratos, alergias, falta de iluminação.

Doenças percebidas pelos moradores: 80% dos moradores percebem alergias e coceiras.

Melhoria no Ambiente em torno do Canal: Muitos aspectos foram citados a serem melhorados, sendo os mais citados: limpeza do canal, segurança, eliminação dos mosquitos e ratos, os moradores deveriam ser conscientizados a não jogarem lixo no canal.   

Algumas ações que poderiam ser realizadas para melhoria do local serão citadas a seguir:

1º) Dragagem: desobstruir o canal, permitindo que a água flua melhor, e não haja o acúmulo de resíduos e lixos.

a) Lixos sólidos: através da Coleta Seletiva.

b) Esgosto doméstico: através de fossas sépticas; população sendo removida para um local de menos risco de vida e de doenças.

c) Efluentes industriais: fiscalização e exigências ambientais dos órgãos governamentais, no Curtume local, e nas possíveis indústrias que despejam no canal seus resíduos. Pois, o possível uso de metal pesado, contamina toda a espécie de vida, degradando a Lagoa dos Patos, matando seus crustáceos e pescados, ou sofrendo estes mutações genéticas, influenciando desta forma, em toda a cadeia alimentar, sem falar na vida humana, que pode sofrer com inúmeras doenças, tais como, sinusite, câncer, e outras.

2º) Educação Ambiental: através de palestras referentes à higiene pessoal, prevenção de doenças, conscientização de diminuição de lixos e suas concentrações, buscar geração de renda no local, conscientização da influência educacional para o meio ambiente e sua importância no dia a dia de cada um, buscar seus direitos de moradores locais junto aos órgãos públicos.

 

 

CONCLUSÕES

 

O Canal do Santa Bárbara é um dos pontos naturais de fundamental importância no processo de formação e desenvolvimento do município de Pelotas.

A falta de conscientização assim como o descaso dos órgãos públicos,  fizeram com que o Canal se transformasse em um grande problema ambiental que afeta diretamente a população pelotense.  As mudanças ocorridas em seu leito, não sortiram o esperado efeito no que diz respeito às enchentes na área do antigo curso.

Se o desenvolvimento do capitalismo fez com que o curso do Canal fosse desviado em nome do progresso, agora são as conseqüências deste capitalismo mal estruturado nos países de terceiro mundo que agem, provocando sérios danos ambientais.

Sendo a única alternativa para várias famílias, a ocupação das áreas nas margens do Canal é cada vez mais constante e desordenada. Todo o processo que acompanha estas aglomerações irregulares traz ainda mais conseqüências perturbadoras ao meio ambiente. Segundo ROSS & DEL PRETTE (1998) “As questões ambientais tem sido tratadas de forma setorial e desvinculadas das questões sociais e econômicas”.

A consciência ambiental, que já vem sendo debatida e implantada pela Secretaria de Qualidade Ambiental do Município, é fundamental e necessária para a reversão destas problemáticas pelas gerações futuras. Apenas desta forma, poderá ocorrer a verdadeira preservação prevista nas áreas marginais dos cursos d’água, fazendo com que o Canal do Santa Bárbara, além de exemplo de conscientização e planejamento ambiental, seja exemplo de organização e políticas públicas de respeito ao meio ambiente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

 

ALMEIDA, R. D. de. Do desenho ao mapa, iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, 2001.

 

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo; Global, 1998. 551p.

 

GRÜN, M. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Papirus, Campinas. 1996. 123p.

 

LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001. 240 p.

 

MEDEIROS, R. M. V. EIA-RIMA: Estudo de impacto ambiental. Porto Alegre: Metrópole, 1993

 

ROSS, J. L. S. & DEL PRETTE, M. E. Recursos Hídricos e as Bacias Hidrográficas: Âncoras do Planejamento e Gestão Ambiental. Revista do Departamento de Geografia/FFLCH/USP. Nº 12, 1998.

 

SILVA, Ricardo Sache da. Arroio Santa Bárbara, a morte e o braço morto. Monografia de conclusão de curso. Pelotas: UFPel, 2003.

 

Ilustrações: Silvana Santos