Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
08/06/2020 (Nº 71) GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E A POLUIÇÃO DOS RIOS E MARES: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TELÊMACO BORBA-PR
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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E A POLUIÇÃO DOS RIOS E MARES: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TELÊMACO BORBA-PR



Gonzalo Javier Olivares Flores1, Lorena Taborda Bonfim2, Paulo Henrique Schmidlin3, Fábio Luiz Gama Góes4, Pedro Chaves de Camargo5

1 Biólogo, Parque Ecológico Klabin, Klabin S.A, golivaresflores@gmail.com

2 Engenheira Ambiental, Sustentabilidade e Meio Ambiente, Klabin S.A, lorena.bonfim@klabin.com.br

3 Biólogo, Parque Ecológico Klabin, Klabin S.A, golivaresflores@gmail.com

4 Médico Veterinário, Parque Ecológico Klabin, Klabin S.A, fgoes@klabin.com.br

5 Médico Veterinário, Parque Ecológico Klabin, Klabin S.A, pedro.camargo@klabin.com.br



Resumo: Este trabalho teve por objetivo descrever a experiência de um programa de educação ambiental na cidade de Telêmaco Borba-PR, sob a ótica do tema de gestão de resíduos sólidos e a poluição dos rios e mares.

Palavras-chave: Educação ambiental, sustentabilidade, meio ambiente, resíduos sólidos, poluição.

Abstract: This paper aimed to describe the experience of an environmental education program in the city of Telêmaco Borba-PR, from the perspective of solid waste management and pollution of rivers and seas.

Keywords: Enviromental education, sustainability, enviroment, solid waste, pollution.



Introdução

A gravidade da questão ambiental, que se apresenta a sociedade atual, em nível local e global, contextualiza-se em um cenário onde diferentes aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais encontram-se em crise. Como solução para superar essa crise, mobilizações têm sido realizadas em busca de um modelo de desenvolvimento mais sustentável, onde o desenvolvimento econômico é associado à conservação do meio ambiente (GUIMARÃES, 1995)

De acordo com Carvalho (2017), no âmbito da esfera educacional, é consenso a necessidade de problematizar a questão ambiental em todos os níveis de ensino como ação educativa de forma transversal e interdisciplinar, possibilitando a formação de atitudes e sensibilidades ambientais. Assim, a inserção da Educação Ambiental nas escolas, permeando todas as disciplinas do currículo, é capaz de frear os problemas socioambientais instalado em todas as esferas da sociedade, formando alunos críticos e reflexivos. (REIGOTA, 2014).

No auxílio destas ações de educação ambiental o setor privado possui papel de destaque visto a incorporação do conceito de desenvolvimento sustentável e o novo paradigma integrador entre as dimensões econômicas, ambiental e social indissolúvel das ações humanas e suas consequências globais (ALMEIDA, 2002). Desta forma, a Klabin S.A, maior produtora e exportadora de papeis para embalagem do Brasil, assume um compromisso com o meio ambiente e com as gerações futuras através de sua política de sustentabilidade e ações em preservação e conservação da biodiversidade. Dentro de suas ações de conservação da biodiversidade encontram-se as iniciativas como: O modelo de mosaico de manejo de florestas plantadas entremeados por áreas de matas nativas preservadas; criação e manutenção de duas reservas particulares do patrimônio natural; manutenção do Parque Ecológico com o objetivo de promover a reabilitação de animais silvestres, preservação de espécies em extinção, desenvolvimento de pesquisas científicas e desenvolvimento de projetos em educação ambiental.

Neste sentido, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência da 28º edição do Programa Klabin Caiubi de Educação Ambiental realizado no Município de Telêmaco Borba-PR, com o tema de “Poluição dos rios e mares”. O Programa Klabin Caiubi, criado em 2001, visa reunir especialistas com o objetivo de capacitar professores para disseminar conceitos de consciência ecológica, além de contribuir para a formação de cidadãos mais críticos e cientes de suas responsabilidades para com o meio ambiente.



Metodologia

Caracterização da área de estudo



O presente trabalho foi desenvolvido no Município de Telêmaco Borba, Estado do Paraná (Figura 1). A cidade possui população estimada em 78.974 mil habitantes (IBGE, 2019), 46 escolas e 15 centros municipais de educação infantil. Também possui taxa de escolarização na faixa etária de 6 a 14 anos de idade em 98,4% (IBGE, 2019).



Figura 1 – Mapa de localização do município de Telêmaco Borba-PR

Fonte: Adaptado de Reis et al (2006)

Procedimentos metodológicos

Para a efetivação deste trabalho, 4 etapas distintas foram desenvolvidas de forma a obter melhores detalhamentos e resultados em cada uma destas:

1º etapa: Capacitação de professores

Nesta primeira etapa, foram ministradas palestras ao corpo docente (Professoras e coordenadoras pedagógicas) das escolas públicas e municipais com os temas de “Sustentabilidade”, “Sustentabilidade na Klabin” e “Poluição dos rios e mares” com foco nos resíduos sólidos urbanos gerados pelas atividades humanas e em como estes impactam os corpos hídricos. Em seguida foi realizada um percurso na área do parque ecológico conhecido como “Circuito da Biodiversidade” onde guias técnicos capacitados complementaram as informações dos diferentes impactos na fauna por meio da geração de resíduos. As palestras e a trilha tiveram duração de aproximadamente uma hora e meia, totalizando um período total de cinco horas de atividades.

2º etapa: Oficina técnica

Nesta etapa programa, os professores foram convidados a participar de uma oficina para confecção de brinquedos e objetos de decoração com materiais reutilizáveis. Esta oficina foi ofertada por um instrutor técnico, no Instituto Federal do Paraná, e teve duração total de 2 horas para cada grupo de 25 professoras. Os materiais utilizados para esta atividade foram: caixas de papelão, garrafas de vidro, embalagens plásticas e latas de alumínio com intuito de trabalhar o tema de resíduos sólidos, sustentabilidade e poluição dos rios e mares.

3º etapa: Acompanhamento de atividades

Foram elaboradas reuniões com o propósito de direcionamentos da temática da capacitação dentro dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Logo, foram realizados atendimentos específicos, junto às professoras e coordenadoras pedagógicas, de acordo com a solicitação de cada escola ou centro, para esclarecimento de dúvidas e elaboração de ideias.

4º etapa: Mostra ambiental

Em sua última fase, as escolas e centro de educação infantil foram incentivados a mostrar os resultados das atividades realizadas e conteúdos trabalhados em sala de aula com os alunos. Esta etapa recebe o nome de “Mostra Ambiental” e não há um modelo pré-definido a ser seguido para o desenvolvimento da exposição.



Resultados e discussão

No total foram capacitadas 98 professoras e coordenadoras pedagógicas impactando diretamente 955 estudantes de educação infantil e também de 4º e 5º ano, e indiretamente aproximadamente 10.000 estudantes.

Segundo Robaina et al (2008) a escola possui papel essencial no reforço do discurso e desenvolvimento de habilidades e práticas que motivem os alunos a atuarem no ambiente onde vivem. A partir do desenvolvimento de princípios e práticas que remontam a questão da consciência ambiental, obtém-se uma participação de todos os cidadãos, resultando num processo de destinação correta de resíduos (GONÇALVES, LOPES, 2019).

Para iniciar este processo de conscientização, foram apresentadas as professoras e coordenadoras pedagógicas informações sobre a definição clássica de sustentabilidade divulgada pela ONU (Figura 2), no Relatório Brundtland (1988) intitulado "Nosso futuro comum", pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas: “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades e aspirações”. Esta definição foi trabalhada de maneira holística com os conceitos de biodiversidade, ecossistemas e mostrando o ser humano não como o ponto central do conceito, mas sim como parte integrante de um processo que envolve diferentes comunidades de seres. Também foram trabalhados os conceitos de bacias hidrográficas, lençóis freáticos, ciclo da água e a poluição de rios e mares por resíduos sólidos urbanos.

Figura 2 – Palestras ofertadas as professoras de ensino fundamental e educação infantil

Fonte: Os autores

Em seu último momento, os professores foram convidados a realizar um percurso denominado “Circuito da Biodiversidade”. Esta trilha possui uma extensão de 820 m e contém 180 animais de 50 espécies diferentes em cativeiro. Neste momento, as professoras tiveram a oportunidade de observar exemplares da fauna nativa da região e aprender sobre seus hábitos de alimentação, comportamento, reprodução, distribuição geográfica e as diferentes categorias do estado de conservação de espécies (Figura 3). De acordo com Lopes, Bosa e Silva (2011) o envolvimento do público com os animais e as questões ambientais já é uma realidade nos dias atuais, onde estas informações não são tratadas apenas do ponto de vista biológico, resultando em uma melhor relação entre humanos e natureza.

Figura 3 – Professoras percorrendo o “Circuito da Biodiversidade” onde estão mantidos animais silvestres em cativeiro

Fonte: Os autores

Desta forma, as informações foram sempre conduzidas de forma à compreensão de como a fauna se inter-relaciona com o ecossistema (meio biótico e abiótico) e quais são os principais agentes que impactam direta e indiretamente o meio ambiente. Como principais exemplos tratados podemos citar o desmatamento, a gestão de resíduos sólidos urbanos, caça, tráfico e atropelamento de animais silvestres.

Em um segundo momento, foram realizadas oficinas de criação de materiais recicláveis. Esta oficina possibilitou um outro olhar sobre as diferentes utilizações que os materiais possuem, diferente da função aos quais foram concebidos. Desta forma, através de técnicas de colagem, recorte e pintura os materiais ganharam diferentes aplicações no formato de vasos de flores, brinquedos, painéis, maquetes e outros (Figura 4).



Figura 4 – Oficina técnica ofertada às professoras para reutilização de materiais

Fonte: Os autores

De acordo com Silva et al (2014) a utilização de aulas práticas em disciplinas de ciências é bastante eficaz, pois servem de complementação para as aulas teóricas e contribuem consideravelmente para os processos de ensino e aprendizagem dos estudantes. Este aspecto é corroborado por Bombonato (2011) que cita as aulas práticas de experimentação como aulas de campo (observação de fenômenos), recursos audiovisuais (slides, vídeos, outros) e aulas demonstrativas com maquetes e modelos como estratégias facilitadoras no entendimento de conceitos das mais diversas áreas de ciências, facilitando o processo de aprendizagem.

Em sua última fase, os colégios e escolas foram incentivados a mostrar os resultados das atividades realizadas e conteúdos trabalhados em sala de aula com os alunos. Esta etapa recebe o nome de “Mostra Ambiental” e não há um modelo pré-definido a ser seguido para o desenvolvimento da exposição (Figura 5).

Figura 5 – Mostra ambiental nas escolas com o tema de “Poluição dos rios e mares”

Fonte: Os autores

Das 38 escolas participantes do Programa no município, todas realizaram mostras de exposição dos trabalhos realizados, utilizando o meio ambiente e sustentabilidade como tema gerador e inter-relacionando com conteúdo de outras disciplinas. Desta forma, todas as atividades práticas, permitem aos alunos terem contato direto com os fenômenos da temática em questão, manipulando os materiais, equipamentos e permitindo a experimentação e o despertar científico (KRASILCHIK, 2004). Para Freire (1997), a experimentação da teoria torna completa a compreensão do assunto e Moreira (1999) ratifica esse modelo ao mencionar o desenvolvimento cognitivo do estudante sendo oportunizado e desenvolvido por meio da experiência prática.



Conclusão

Cada vez mais a temática ambiental tem sido implementada pelas escolas de maneira prática e interdisciplinar. Dessa maneira atinge-se a formação de estudantes com uma maior consciência ecológica e atuante em questões ambientais.

Também é possível afirmar que a formação docente quando praticada em parceria com diferentes atores e direcionada para temas específicos, possui ampla capacidade de movimentar e impactar um número significativo de pessoas que por sua vez tornam-se multiplicadores do conhecimento assimilado.

Finalmente, as ações referentes à capacitação de docentes sobre temáticas ambientais como recursos hídricos, flora, fauna e outros repercutem para muito além dos muros da escola, beneficiando toda a comunidade na qual ela se insere.



Referências Bibliográficas

ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

BOMBONATO, L.G.G. A importância do uso do laboratório nas aulas de ciências. Monografia (Especialização) Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Especialização em Ensino de Ciências. Medianeira. Paraná. 2011.

CARVALHO, I. C. DE M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. Cortez Editora, 2017.

Comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD). Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1988.

GUIMARÃES, M. Dimensao Ambiental Na Educaçao (a). Papirus Editora, 1995.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades, Brasil, Paraná, Telêmaco Borba. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/telemaco-borba/panorama> Acesso em 25 de novembro de 2019.

LOPES, L. ; BOSA, C. R.; SILVA, J. D. Percepção ambiental dos visitantes do Zoológico Municipal de Curitiba-PR. Revista Monografias Ambientais, v. 4, n. 4, p. 866-876, 2011.

MOREIRA, M.A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: EPU. 1999. p.95-107.

REIGOTA. M. (2014). O que é Educação Ambiental. São Paulo: Brasiliense

REIS, N. R. dos et al . Riqueza de espécies de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em dois diferentes habitats, na região centro-sul do Paraná, sul do Brasil. Rev. Bras. Zool., Curitiba , v. 23, n. 3, p. 813-816, 2006 .

ROBAINA, J. V. L.; COIMBRA, M. A.; WICKERT, M. Aprendizagem Significativa. Revista do Professor. Porto Alegre, ano 24, n. 93, p. 45-49, jan./mar., 2008.

SILVA, P.F.R.S., CAETANO, G.T.P., SILVA, A.P. A importância das aulas práticas no processo de ensino aprendizagem no ensino fundamental. In: V Encontro Nacional das Licenciatura, IV Seminário Nacional do PIBID e XI Seminário de Iniciação a Docência da UFRN, 2014, Natal. Professores espaço de formação. Natal, 2014. p. 1-10.





Ilustrações: Silvana Santos