Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
08/06/2020 (Nº 71) MEDIDAS PREVENTIVAS E INTERVENTIVAS CONTRA O BULLYING EM ESCOLAS DE BELÉM - PA
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MEDIDAS PREVENTIVAS E INTERVENTIVAS CONTRA O BULLYING EM ESCOLAS DE BELÉM - PA



Felipe Ari Araújo Belfort1,2, Suzana Carla da Silva Bittencourt2, Marcia Francineli da Cunha Bezerra2, Luiza Nakayama2



1Graduando de Oceanografia-UFPA; 2Sala Verde Pororoca/CEABIO/UFPA

*E-mail: felipeari15@gmail.com



RESUMO

Realizamos atividades pedagógicas sobre bullying para alunos de três instituições de ensino básico belenenses. Consideramos que essas atividades foram eficazes para ensino e aprendizagem em Educação Ambiental.



Palavras-chave: Educação Ambiental; preconceito; recurso audiovisual; filme; agressão.





INTRODUÇÃO

Em 2006, foi aprovado o Programa Sala Verde Pororoca: Espaço Socioambiental Paulo Freire, convênio UFPA – MMA (Ministério do Meio Ambiente). Este Grupo interdisciplinar objetiva desenvolver trabalhos na esfera da Educação Ambiental (EA) e inclusão social, envolvendo a tríade ensino, pesquisa e extensão (NAKAYAMA et al., 2017).

Pelas nossas observações em um Centro de Referência à Assistência Social de Belém – PA (TRINDADE et al., 2010) e pelas nossas sessões do Projeto EACINE em escolas (Pró-Reitoria de Extensão, PROEX-UFPA, edital NAVEGA SABERES/Infocentro), constatamos que só existe bullying porque existe plateia e, portanto, concluímos que devemos focar ações mais específicas sobre esse tema, partindo dos alunos de ensino básico.

Percebemos que crianças e jovens com alguma deficiência têm uma propensão maior de sofrerem bullying, por terem algumas características peculiares e se encontrarem desprotegidas pela falta do círculo de amizade, sendo, consequentemente, menos inclusas do que deveriam (DUTRA et al., 2016/2017). Além disso, alunos, os quais apresentam algum tipo de deficiência, de transtornos e de distúrbios, podem reagir de forma agressiva à vitimização, passando a serem vítimas provocadoras (ABRAMOVAY; RUA, 2002).

Assim, a partir de 2016 até o presente momento, temos participado de editais da PROEX-UFPA, com o Projeto “Filmes como instrumento para a inclusão social de alunos com necessidades especiais e para evitar o bullying na escola” o qual se encontra na versão IV. Nas versões anteriores, como resultado da bolsa Eixo Transversal, para alunos de graduação da UFPA, publicamos alguns resumos para evento científico e extensão (SILVA et al., 2016/2017; DUTRA et al., 2016/2017; 2017; DUTRA; NAKAYAMA, 2017), sobre o tema.

No intuito de conhecer o estado da arte, colocamos na opção “Procurar” a palavra-chave bullying, no site da revista on-line Educação Ambiental em Ação, desde a primeira edição (n. 1, em 2002) até a de 2019 (n. 68, Jun/Ago 2019). Nesse levantamento bibliográfico obtivemos 12 artigos, mas apenas a metade apresentava metodologias pedagógicas diferenciadas, para trabalhar o bullying, usando as Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), dentre elas, o audiovisual, e ou oferecendo sugestões de alunos e de professores, para tratar desse assunto em projetos ou para inseri-lo no currículo escolar (BEZERRA et al., 2019).



CAMINHOS METODOLÓGICOS

Realizamos as atividades teórico-práticas, com alunos de quatro turmas do Ensino Fundamental I e II, nas seguintes instituições: Escola Estadual de Ensino Fundamental Waldemar Ribeiro (E.E.E.F. Waldemar Ribeiro) no dia 11/12/2018; Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Antônia Paes da Silva (E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva), no dia 28/05/2019 e Colégio Dom Mário nos dias 29 e 31/05/2019, localizadas na cidade de Belém-PA.

Dividimos as atividades em momentos: 1. Diálogo com os estudantes, seguido da verificação dos conhecimentos prévios (questionário); 2. Dinâmica dos balões; 3. Exibição de dois audiovisuais e 4. Roda de conversa e aplicação do mesmo questionário do momento 1.

Esta pesquisa teve cunho quali-quantitativo, tendo como foco o tema gerador bullying, porque, de acordo com Freire (2001), seu uso possibilita alcançar uma abrangência maior na aquisição do saber pelos educandos, propiciando discussão, investigação e geração de novos aprendizados, sendo objetos de conhecimentos passíveis de reflexão e de interpretação por parte do educando. Além disso, um dos aspectos mais originais da proposta do tema gerador freiriano é a práxis dialógica-intersubjetiva, a partir da qual não há separação entre seres humanos sábios e ignorantes, em uma sociedade que classifica os “donos do saber” e os “tábulas rasa”, enquanto recipientes vazios, os quais devem receber o saber dos outros; este saber, no ambiente escolar, representado pelos professores.



RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresentamos nossa proposta de ação à gestora das três instituições de ensino e à responsável pela disciplina Ciências Naturais, a fim de que as atividades teórico-práticas pudessem ser desenvolvidas no período de aula. A seguir descreveremos, de maneira geral, como desenvolvemos as atividades.

No primeiro momento, a professora responsável pela turma nos apresentou. Para “quebrar o gelo” esclarecemos sobre o nosso Grupo Sala Verde Pororoca. Também fizemos cinco perguntas, para verificarmos os conhecimentos prévios dos alunos, sobre o tema bullying. Os alunos, de maneira geral, foram pouco cooperativos, neste momento inicial.

No momento 2, realizamos a dinâmica dos balões, seguido as instruções de Silva et al. (2016/2017), para o aluno: 1. Escrever um sonho em um pedaço de papel e o colocar dentro de um balão; 2. Amarrar o balão cheio de ar no tornozelo, imaginando que o balão é o seu maior sonho e 3. Caminhar pela sala protegendo seu sonho (Figura 1).

Figura 1. Dinâmica do “Balão dos sonhos”, com alunos da E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva, Belém-PA.



Em Silva et al. (2016/2017) descrevemos o que aconteceu, nessa atividade, realizada em uma escola pública de Belém - PA:

houve uma correria: cada aluno tentando estourar o balão do colega e proteger o seu; só pararam quando não havia mais balões cheios.

Pedimos aos alunos que se sentassem e contassem os obstáculos, quais os empecilhos para alcançar seus objetivos? Também perguntamos: Quais tinham sido as orientações? Após os alunos descreverem as etapas da dinâmica, fizemos a seguinte colocação: “Dissemos que os balões representavam os seus sonhos e que vocês deveriam protegê-los. No entanto, ninguém disse que vocês deveriam destruir os sonhos alheios. SILVA et al. (2016/2017, p. 36).



Cabe destacar que, após as atividades na E.E.E.F. Waldemar Ribeiro, os integrantes do Grupo Sala Verde Pororoca se reuniram e confirmaram a importância da dinâmica, porque permite, por analogia, melhor compreender o conceito de destruição de balão-bullying, além de criar um ambiente mais afetivo e descontraído.

Da mesma forma, os alunos puderam refletir sobre não necessário destruir os sonhos dos outros, para que seus objetivos e sonhos sejam alcançados; desta forma, fizemos o paralelo, de acordo com Silva et al. (2016/2017, p. 36): “assim como não devemos ofender e humilhar, para sermos reconhecidos e valorizados. Isso é bullying! Para que?”

Com os alunos mais relaxados e receptivos (Figura 2), reforçamos o conceito de bullying, também chamado de intimidação sistemática, definido, de acordo com a Lei nº 13.185/2015, como:

todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas [...].(BRASIL, 2015).



Além disso, também complementamos o conceito de bullying embasado em Chalita (2008), para o qual o termo é a negação da amizade, do cuidado, do respeito. Nesta ação, o agente agressor impiedosamente expõe o agredido às piores humilhações, desde os apelidos perversos às atitudes covardes de quem tem mais força física ou mais poder. Nessa situação, o agredido dificilmente encontra coragem para se defender e permite que estas situações de abuso permaneçam.

Comentamos que são muitos os relatos de casos, mesmo em Belém, de alunos agredidos até à morte ou de alunos que desistem de viver e que, antes disso, decidem se vingar da instituição que permitiu que isso acontecesse (casos recorrentes na mídia televisiva).

Citamos o depoimento de uma aluna da Escola Estadual Domingos Acatauassu Nunes - PA (DUTRA et al., 2016/2017, p. 69) de já ter sido vítima de bullying e que teve a ajuda da família, mas complementou “minha colega, infelizmente, sofreu inúmeras agressões, não aguentou e tirou sua própria vida”.

Lembramos também o caso de uma aluna de 15 anos, de uma escola pública belenense, ocorrido em março de 2019. Como a adolescente deixou um bilhete, ameaçando de colocar fogo na escola, a direção do estabelecimento registrou um boletim de ocorrência. Segundo o pai, sua filha estava sendo vítima de bullying e já tinha procurado a coordenadora pedagógica da escola para falar o que estava acontecendo e nada foi feito.

Os alunos citaram o caso do massacre, muito comentado na mídia televisiva nacional e internacional, ocorrido em uma escola pública do município de Suzano – SP, no início do ano letivo de 2019, sendo que os dois atiradores eram ex-alunos, os quais sofreram bullying nessa escola.

Figura 2. Diálogo com os alunos, sobre o tema gerador bullying. A= E.E.E.F. Waldemar Ribeiro; B= Colégio Dom Mário



Cabe informar, que nas primeiras versões deste projeto Eixo Transversal da PROEX-UFPA, passamos o filme “A Preciosa: uma história de esperança”, com duração de 1h:35min e verificamos que restou pouco tempo para a roda de conversa (DUTRA; NAKAYAMA, 2016; DUTRA et al., 2017). Em DUTRA et al. (2016/2017), projetamos um documentário curto: “Como evitar o bullying”, com duração de 3min53seg, sobrando um tempo maior para um diálogo com os alunos.

No presente artigo, no momento 3, passamos a chamada do Globo Repórter do dia 18/10/2013 (http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/10/bullying-globo-reporter-fala-sobre-casos-de-perseguicao-e-discriminacao.html, com duração de 39seg), seguido do trailer do filme “Extraordinário”, lançado em 2017, distribuído pela Paris Filmes (https://www.youtube.com/watch?v=MWyAIbj0lGE, com duração de 2min04seg) (Figura 3).



Figura 3. Projeção de audiovisuais para alunos da E.E.E.F. Waldemar Ribeiro, Belém – PA.



No momento 4, realizamos uma roda de conversa sobre os audiovisuais, e os alunos do ensino fundamental se mostraram muito interessados em tirar suas dúvidas (Figura 4). Nesse momento também aplicamos o mesmo questionário do momento 1.

Figura 4. Alunos da E.E.E.F. Waldemar Ribeiro, tirando dúvidas sobre o tema bullying com o integrante da equipe Sala Verde Pororoca e bolsista do projeto Eixo Transversal (PROEX-UFPA/2018-2019).



ANÁLISE QUALITATIVA DO QUESTIONÁRIO

No momento 1, fizemos cinco perguntas para verificarmos os conhecimentos prévios e no momento 4 repetimos as perguntas, para observar se a percepção e as respostas mudaram, após todas as atividades sequenciais realizadas.

Preferirmos realizar a análise qualitativa por instituição de ensino.



  1. E.E.E.F. Waldemar Ribeiro

Participaram 29 alunos do terceiro ano do Ensino Fundamental. Informamos que utilizamos falas dos alunos dessa escola, publicadas no Anais do V Encontro Metropolitano de Educação Ambiental (BELFORT et al., 2019), a fim de compararmos com os dados quali-quantitativos das outras duas escolas.

Na primeira questão, antes da sessão de vídeos (momento 1): O que é bullying e qual sua característica?, a maioria respondeu que era “Apelidar” e, após a sessão (momento 4) complementaram “Perseguição”; “Apelidar o colega”.

Na segunda pergunta: Quais as consequências do bullying para a vítima? no momento 1 pudemos resumir em: “A pessoa fica decepcionada quando é apelidada” e no quarto: “Se chamar uma pessoa de gorda pode ocasionar uma depressão e levar a morte da pessoa” e “Pode ocorrer brigas e discussões”.

Na terceira: Quais as maneiras de se evitar o bullying? no momento 1: “Sem brigar”; “Respeitando o outro” e no 4: “Pedindo desculpas”; “Ver as pessoas pela beleza interior e não pelo aspecto físico” e “Não fazer com os outros, o que não quer que façam com você”.

Na quarta: Você já sofreu ou viu alguém sofrer bullying? Sete alunos responderam que sim, e confirmaram a resposta no momento 4.

Na quinta: Você acha que já praticou bullying contra um colega? Nove alunos responderam que sim, e confirmaram a resposta no momento 4.



  1. E.E.E.F.M. Antônia Paes da Silva

Participaram 20 alunos (sexto ao nono ano) do Projeto Mundiar, cujo objetivo é a aceleração do estudo para alunos com distorção ano escolar/idade.

Na primeira questão, definiram e caracterizaram, no momento 1, bullying como: “Apelidar as pessoas, chamando elas de cabelo enrolado, negro, essas coisas assim”; “Quando me chamam de testa de aparar raio, apelidos”; “Xingar os outros, chamar de negro”. No momento 4: “É quando você apelida as pessoas, cada um tem os seus defeitos, então deve ter respeito entre cada um”.

Pergunta 2: as consequências do bullying para a vítima seria “A pessoa fica magoada, triste, com depressão e é capaz até de tirar sua própria vida”; “Se uma pessoa apelidar a outra, a pessoa fica magoada e ela sofre”; “Se uma pessoa mexe com a outra, muita das vezes a pessoa tenta se vingar”. Momento 4: “A vítima sofre, fica triste”.

Pergunta 3: as maneiras de se evitar o bullying seriam: “Respeitar e não chamar a pessoa de tal coisa”. No momento 4: “Ter um amigo por perto”; “Respeitar o colega, não xingar”; “Se a pessoa sofrer bullying na escola deve falar com os pais e com a escola”.

Pergunta 4. No momento 1, apenas um aluno afirmou já ter sofrido ou visto alguém sofrer bullying. No momento 4, dezenove alunos responderam que sim.

Pergunta 5. No momento 1, treze alunos responderam que já praticaram bullying contra um colega. No momento 4, dezenove alunos responderam que sim.



  1. Colégio Dom Mário

Realizamos as atividades em dois dias consecutivos, respectivamente, para 11 alunos do sétimo ano (29/05/2019) e para 16 alunos do oitavo (31/05/2019).

Após as análises dos dados resolvemos agrupar as duas turmas, uma vez que não verificamos diferença quando ao conteúdo e à elaboração das respostas.

Na primeira questão, definiram e caracterizaram, no momento 1, bullying como: “Xingar a pessoa, falar mal dela, da crença dela, da cor dela”; “Muitas vezes, as pessoas agridem as outras porque elas são diferentes”; “Às vezes as pessoas falam coisas que a gente não gosta”; “É quando você agride uma pessoa e faz pressão psicológica”; “É quando você é incapaz de se defender”; “O bullying não acontece só na escola, acontece em casa e na rua”. No momento 4: “É estragar o sonho da pessoa, é magoar, a pessoa não vai querer fazer mais nada”.

Pergunta 2: as consequências do bullying para a vítima, seria “Suicídio; “Pode ficar com depressão”; “Dificuldade na escola e problemas familiares na vida da pessoa”; “Pode causar problemas psicológicos”; “Pode deixar as pessoas mal e destruir suas vidas”; “Pode causar tristeza, depressão e morte”; “Pode deixar as pessoas tímidas”; “A pessoa começa a sofrer e pode ter depressão”. Momento 4: “Depressão”; “As pessoas nunca vão agradar todo mundo”; “Hoje na sociedade elas tem um padrão, se a pessoa não tiver nesse padrão, ela sempre vai sofrer bullying”.

Pergunta 3: as maneiras de se evitar o bullying seriam: “Respeitando mais o próximo”; “Eu fazia bullying com um menino porque ele era alto, mas ele não ligava para o que eu falava e com o passar do tempo nós viramos amigos”; “Não ligar para os que os outros falam”. No momento 4: “Respeitar um ao outro, muita gente tenta levar na brincadeira, mas o outro pode interpretar de outra maneira”; “Falar com os familiares para evitar o bullying”; “Apoiar e ajudar as pessoas que estão sofrendo bullying”; “Educação na escola e dentro casa, pois na escola encontramos pessoas diferentes”; “Socialização com pessoas que não fazem bullying”.

Pergunta 4. No momento 1, cinco alunos do sétimo ano afirmaram já ter sofrido ou visto alguém sofrer bullying; quatro do oitavo ano responderam que sim e uma aluna relatou: “Já sofri bullying, porque as pessoas falavam que eu era esquisita e vivia sozinha e sofri muito por causa disso. Já tive depressão, mas hoje tento não ligar para o que as pessoas falam”. No momento 4, 6 alunos do sétimo ano responderam que sim e houveram relatos: “Já vi uma menina negra sendo chamada de macumbeira, porque estava usando um vestido branco”; “Já aconteceu comigo de eu sofrer isso, mas agora não”; onze do oitavo ano responderam que sim.

Pergunta 5, sobre se já praticaram bullying contra um colega. Nos momentos 1 e 4, nenhum aluno do sétimo ano respondeu que sim e no oitavo ano apenas um aluno. No momento 4, no sétimo, cinco alunos, e no oitavo, ninguém confirmou mas houveram relatos: “Acho que todo mundo aqui meio que já fez bullying, mas a pessoa não se lembra e não percebe”; “A gente faz essas coisas, mas na brincadeira, mas depois fica tudo bem”.

Pelas falas dos alunos das três escolas podemos afirmar que o bullying, pode prejudicar o aluno: Tornar o seu ambiente escolar hostil; Prejudicar seu aprendizado; Levar à sua evasão escolar; Causar sequelas psicológicas e até levar ao homicídio ou ao suicídio.



Análise quantitativa das perguntas 4 e 5

Nas três instituições trabalhadas, felizmente, não verificamos alunos com problemas físicos, cognitivos ou emocional aparentes, os quais aumentariam a ocorrência de bullying, de acordo com diferentes autores (ABRAMOVAY; RUA, 2002; DUTRA et al. 2016/2017), embora uma aluna afirmou ter sofrido bullying porque “a acham esquisita”.

O roteiro de perguntas semiestruturadas norteou as discussões, nas três escolas, possibilitando que os alunos expusessem suas opiniões de forma crítica, reflexiva e conseguindo a empatia da classe, mas selecionamos as perguntas 4 (Figura 5) e 5 (Figura 6) do questionário, para análise quantitativa.

Figura 5. Alunos das instituições de ensino de Belém - PA: WR (E.E.E.F. Waldemar Ribeiro), AS (E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva) e DM (Colégio Dom Mário), os quais responderam ter sofrido ou visto alguém sofrer bullying.



Figura 6. Alunos das instituições de ensino de Belém - PA: WR (E.E.E.F. Waldemar Ribeiro), AS (E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva) e DM (Colégio Dom Mário), os quais responderam já ter praticado bullying contra um colega.

As duas figuras sugerem que no momento 1, as respostas dos alunos, de modo geral, foram mais reservadas e poucos admitiram ser vítimas ou praticarem o bullying. No momento 4, a sequência lógica de atividades (“dinâmica dos balões”; sessão do vídeo e roda de conversa) foi importante para que fosse criado um clima de confiança e harmonia entre os presentes, facilitando os depoimentos de alguns alunos perante a classe, no momento 4.

Na escola E.E.E.F. Waldemar Ribeiro verificamos que do total de alunos da escola que participaram das atividades, nas perguntas 4 (24,14%) e 5 (31,03%), mantiveram as respostas nos momentos 1 e 4.

Na E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva, houve uma grande diferença entre o momento 1 (5%) e o momento 4 (95%) de alunos que responderam sofrer ou presenciar bullying (pergunta 4); esta diferença também apareceu na pergunta 5, no momento 1 (65%) e momento 4 (95%) de alunos que afirmaram ter praticado bullying. Aqui destacamos que esta porcentagem elevada de alunos que “pratica e recebe bullying”, nos permite afirmar que o agressor precisa de tanta atenção quanto a vítima, uma vez que, de acordo com Oliveira-Menegotto et al. (2013), há troca de papeis (re)construindo um ciclo de violência no espaço escolar, no qual ocorre o deslocamento de papeis entre vítimas e agressores, evidenciando a complexidade de fatores que envolve o bullying, portanto, esse mal social não pode ser analisado de forma simplificada e reduzida, na medida em que os agressores não podem ser os únicos responsáveis pelos atos de violência, porque também são produto da mesma.

No Colégio Dom Mário, verificamos que na pergunta 4, no momento 1, 33,33% dos alunos afirmaram já ter sofrido ou visto alguém sofrer bullying; no momento 4, 62,96% dos alunos. Na pergunta 5: 3,70% afirmaram terem praticado bullying contra um colega (no momento 1) e 14,81% (no momento 4).

Avaliando o desempenho das três instituições, acreditamos que uma resposta menos efetiva na E.E.E.F. Waldemar Ribeiro se deve à ausência do momento 2 (dinâmica dos balões) e termos realizado as atividades antes do massacre ocorrido em Suzano – SP, o qual teve ampla divulgação nas mídias impressa e falada. Cabe lembrar que na E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva e no Colégio Dom Mário nossas atividades ocorreram após à comoção geral causada pelo massacre de Suzano. No entanto no Colégio Dom Mário, a porcentagem menor de pessoas as quais afirmam ter sofrido ou ter praticado bullying, em relação à E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva, talvez, seja em razão do próprio massacre, a escola já tenha tomado medidas preventivas, tais como: conscientização e a criação de um ambiente mais acolhedor, para prevenir; adoção de medidas de punição adequadas e o diálogo com as famílias de possíveis vítimas e de possíveis agressores, para intervenção rápida e urgente.



CONCLUSÃO

Observamos que as atividades em quatro momentos sequenciais propiciaram mudanças nas respostas dos alunos, demonstrando um melhor entendimento do tema bullying e suas consequências.

Com os relatos, pudemos observar como o bullying ainda é um tema recorrente e que precisa ser discutido constantemente, mesmo para os alunos que já tenham uma noção previa do assunto, a fim de fortalecer o desenvolvimento socioemocional dos alunos, uma vez que a consciência dos malefícios ocasionados pelo bullying gera empatia, que, por sua vez, gera tolerância, transformando positivamente a convivência social.

O clima de descontração e confiança construído possibilitou o compartilhamento de ideias, experiências e sentimentos. Ficamos gratificados com o depoimento corajoso dos alunos, porque, normalmente, os alunos têm dificuldade de expor seus problemas e sentimentos. Encorajamos os alunos para que fossem procurar a direção da escola e suas famílias, caso percebessem ou assistissem qualquer forma de agressão e, desta forma, interferindo na dinâmica do bullying.

Concluímos que possibilitamos aos alunos, que participaram das atividades, um novo olhar sobre o bullying, não o admitindo mais como simples “brincadeirinha que mau gosto”, mas uma forma de agressão, que deve ser denunciada e abolida da escola, sendo, portanto, necessário e urgente melhorar a comunicação escolar e investir na prevenção do bullying.



AGRADECIMENTOS

À PROEX-UFPA pela concessão de bolsa Eixo Transversal (período de 2018-2019), para o primeiro autor deste artigo. À E.E.E.F. Waldemar Ribeiro, à E.E.E.F.M. Escola Antônia Paes da Silva e ao Colégio Dom Mário, pela acolhida e pelo apoio logístico.



REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos