Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Apresentação
14/03/2006 (Nº 15) Editorial - Solange Guimarães
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EDITORIAL

  

"Se quero chegar a um lugar que não conheço, tenho que percorrer caminhos que também desconheço" -  São João da Cruz

 

Tenho refletido muito nos últimos dias sobre esta frase em relação a várias situações, contextos, pois sempre nos deparamos, em alguma fase de nossas vidas com percursos e lugares desconhecidos. 

Não conhecer o caminho envolve uma insuficiência ou até mesmo a ausência total de referenciais sobre os possíveis trajetos. Ainda pode significar, a tomada de rumos equivocados, mas considerados como certezas... Nestes casos, é preciso termos a humildade de corrigir a rota, caso contrário, ficaremos perdidos e confusos.

Para muitos, conhecer um caminho já existente, é uma simples questão de munir-se de um mapa, de uma bússola, de um GPS, enfim, de conhecer coordenadas e meridianos, latitudes e longitudes...  Simples?! Nem tanto...

Por mais conhecido que seja, por mais trilhado que já tenha sido, os caminhos sempre podem apresentar surpresas agradáveis ou não, e até mesmo acidentes de percurso... Além do mais, um mapa não basta porque nestas cartas geralmente se representam apenas o que os olhos podem ver claramente, mas não as leituras necessárias para a sobrevivência, indicando os pontos e lugares essenciais [e aqui lembro do antigo aviador, Saint-Exupèry, comentando os mapas da aviação de sua época, tão falhos em suas indicações desnecessárias, mas consideradas importantes pelas convenções cartográficas. Onde estariam os mapas que sinalizariam os perigos reais e os refúgios diante de um desastre?]

Assim, não bastam os referenciais visíveis e tangíveis no caminho para que possamos saber realmente onde estamos e para onde vamos.  É preciso também conhecer sinais mais sutis, mais delicados, menos visíveis, porém, que marcam lugares, levando-nos a aprender a trilhar caminhos de pedras, experienciar paisagens exteriores e interiores com o próprio espírito, vivências que marcarão vidas, influenciarão novas explorações... Mas para isto é preciso que estejamos dispostos, abertos à novidade, ao inusitado, à descoberta...

Trilhar um caminho que desconheço significa contornar situações, confrontar outras tantas, desfrutar de outras mais, mas é poder chegar a construir um lugar e criar os nossos próprios referenciais mediante aprendizados constantes de vida: riscos, desafios, sacrifícios, valores...

Em relação ao momento atual, e refletindo sobre EA, vemos que inúmeras vezes esta frase é muito verdadeira -  não conhecemos todos os caminhos, nem todos os lugares, nem ao menos exploramos outros atalhos ou bifurcações existentes...

Na realidade, conhecemos muito pouco, colaboramos muito pouco, porque embora tenhamos consciência dos problemas ambientais [biosfera, tecnosfera, psicosfera], ainda não somos conscienciosos.  Mais dividimos e fragmentamos em várias situações, do que somamos esforços... Mais divergimos entre o emaranhado de teorias, conceitos e idéias que nem próximos das diferentes realidades geográficas e culturais se encontram... E deste modo, perdemo-nos em caminhos desconhecidos e desconstruímos lugares porque nem percebemos que eles fazem parte de outras realidades vividas, não por nós, mas pelos outros...

Que no próximo ano, 2006, tenhamos a coragem de trilhar caminhos desconhecidos para que através das experiências de alteridade, reciprocidade e solidariedade, possamos aprender outras lições de EA, a começar por nós...

Para isto, talvez seja importante lembrar:

Amplie de tal forma os domínios do seu coração que ninguém fique excluído.

     N.Sri Ram, Thoughts for Aspirants

Sol Guimarães

Este texto é dedicado a minha filha Iahel Manon, na esperança de que reencontre um caminho onde ninguém fique excluído...

e a Tania Maria Beltramini Trevilato, que tem lutado por muitos caminhos do coração, como mãe e como profissional  [USP/Ribeirão Preto],

dez/2005

Ilustrações: Silvana Santos