Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/05/2005 (Nº 13) Educação Ambiental: a única saída
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A ÚNICA SAÍDA

Magno de Aguiar Maranhão

Ao divulgar os resultados do último Censo Escolar, o Inep deu destaque ao fato de que 65% das escolas de ensino fundamental inseriram a questão ambiental em suas práticas pedagógicas. Cumprem sua obrigação, já que se trata de um dos temas transversais ao currículo obrigatório (são temas transversais aqueles que, por sua relevância e urgência social, devem permear todas as disciplinas). No entanto, sabemos que, devido à precariedade da infra-estrutura de nossos estabelecimentos, torna-se difícil para os professores abordar a questão de maneira adequada e com conhecimento de causa. Por isso temos que aplaudir aquelas escolas que se empenham em formar cidadãos e futuros profissionais segundo a ótica do desenvolvimento sustentável. É pouco e os poderes públicos precisam não só fornecer mais recursos humanos e financeiros a fim de que essas ações sejam multiplicadas, mas avaliar sua eficácia. O importante é que, passo a passo, a temática ambiental se torne prioridade em todos os níveis de ensino, já que não existe alternativa de progresso econômico e social a não ser a que considera a relação equilibrada do homem com seu ambiente.

A natureza desconhece as fronteiras que criamos, as conseqüências de sua destruição atingem todas as nações e é preciso que todas assumam o compromisso de combater o problema em seus territórios. Entretanto, após séculos de agressão, uso e abuso dos recursos naturais, não vem sendo fácil convencer os indivíduos (e seus governos) de que são apenas partes de um sistema com o qual devem viver em harmonia, sob pena de sofrerem os efeitos que tornarão sua estadia no planeta cada vez mais penosa: entre eles o aquecimento global, gerado pela concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, acompanhado por mudanças violentas nos fenômenos climáticos; a escassez de água; a desertificação que torna os solos estéreis a atividades agrícolas.

A questão ambiental tem sido uma das mais espinhosas com que a comunidade internacional já se deparou: em parte porque as pessoas têm poucos conhecimentos sobre o tema, o que se pode atribuir à baixa escolaridade, à omissão dos sistemas educacionais e dos meios de comunicação de massa; em parte porque há pesados interesses em jogo, que levam até países desenvolvidos a adotar posições inaceitáveis em face da dimensão do problema. Um dos mais evidentes exemplos é a recusa dos Estados Unidos em ratificar o Protocolo de Quioto, aberto para assinatura em 1998, através do qual as nações comprometem-se a reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 5% em relação aos níveis de 1990, até o período entre 2008 e 2012 (os países desenvolvidos emitem 55% do total). No fim de 2004, no que foi considerada uma das mais difíceis negociações da história da humanidade, a Rússia, que emite 17,4% dos gases que poluem a atmosfera, ratificou o Protocolo (o governo brasileiro o aprovou através do Decreto 144, de 20/06/2002).


O Protocolo de Quioto é um dos instrumentos através dos quais a ONU tenta reverter o quadro de degradação ambiental. O sucesso desta luta, porém, dependerá de uma série de medidas adotadas por cada país. No Brasil, tivemos algumas vitórias com a promulgação da Lei 9.795/97, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e da Lei de Crimes Ambientais (13/02/98). Lei que, infelizmente, não é cumprida com a severidade requerida. Um exemplo está na Amazônia, cuja área desmatada, segundo o Fundo Mundial para a Natureza, cresceu 44% na década de 90 (15% só entre 1999 e 2000). A extração de 80% da madeira da floresta é ilegal. Há poucos dias, foi noticiado que o Instituto de Pesquisas Espaciais montou um sistema de monitoramento avançadíssimo, que revela um panorama geral da região a cada quinzena (isso só era possível anualmente, até 2003). Mas nada disso adiantará se o Estado continuar ausente. Já o tráfico de animais chegou ao terceiro lugar no ranking das atividades criminosas mais lucrativas do país, depois do tráfico de armas e de drogas: 12 milhões de animais são capturados todos os anos.


Na lista de nossos problemas ambientais temos, ainda, a desertificação, que atinge 55% do semi-árido do Nordeste e é causada pela exploração inadequada do solo. Enquanto isso, nossos rios recebem 6,2 milhões de quilos de carga poluidora por ano (cinco vezes mais do que podem absorver), justo quando o planeta discute a escassez de água potável – apenas 3% da água da Terra são próprios para consumo. O Brasil possui 8% deste tesouro na bacia amazônica e em lençóis freáticos que, no entanto, são ininterruptamente contaminados pelo lixo: 63% do lixo brasileiro vão parar em cursos de água doce devido à coleta ineficiente.


Os problemas atingiram tal magnitude que muitos devem se perguntar se o fato de algumas escolas ensinarem as crianças a respeitar a natureza vai mudar este quadro. A resposta é sim. Os dramas que hoje enfrentamos foram causados por gerações e gerações que desconheciam o delicado equilíbrio homem/ambiente e construíram um modelo de desenvolvimento predatório. A solução está em preparar as novas gerações para um modelo de desenvolvimento alternativo. Não temos saída, a não ser a acomodação. O que, no caso, significa compactuar com as ações que deterioram nossa qualidade de vida, enquanto não inviabilizam a própria vida.

Presidente da Associação de Ensino Superior do Rio de Janeiro
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Ilustrações: Silvana Santos