EDUCAÇÃO AMBIENTAL: A ÚNICA SAÍDA
Magno de Aguiar Maranhão
Ao divulgar os resultados do último Censo Escolar, o Inep deu destaque ao fato
de que 65% das escolas de ensino fundamental inseriram a questão ambiental em
suas práticas pedagógicas. Cumprem sua obrigação, já que se trata de um dos
temas transversais ao currículo obrigatório (são temas transversais aqueles
que, por sua relevância e urgência social, devem permear todas as
disciplinas). No entanto, sabemos que, devido à precariedade da infra-estrutura
de nossos estabelecimentos, torna-se difícil para os professores abordar a
questão de maneira adequada e com conhecimento de causa. Por isso temos que
aplaudir aquelas escolas que se empenham em formar cidadãos e futuros
profissionais segundo a ótica do desenvolvimento sustentável. É pouco e os
poderes públicos precisam não só fornecer mais recursos humanos e financeiros
a fim de que essas ações sejam multiplicadas, mas avaliar sua eficácia. O
importante é que, passo a passo, a temática ambiental se torne prioridade em
todos os níveis de ensino, já que não existe alternativa de progresso econômico
e social a não ser a que considera a relação equilibrada do homem com seu
ambiente.
A natureza desconhece as fronteiras que criamos, as conseqüências de sua
destruição atingem todas as nações e é preciso que todas assumam o
compromisso de combater o problema em seus territórios. Entretanto, após séculos
de agressão, uso e abuso dos recursos naturais, não vem sendo fácil convencer
os indivíduos (e seus governos) de que são apenas partes de um sistema com o
qual devem viver em harmonia, sob pena de sofrerem os efeitos que tornarão sua
estadia no planeta cada vez mais penosa: entre eles o aquecimento global, gerado
pela concentração dos gases de efeito estufa na atmosfera, acompanhado por
mudanças violentas nos fenômenos climáticos; a escassez de água; a
desertificação que torna os solos estéreis a atividades agrícolas.
A questão ambiental tem sido uma das mais espinhosas com que a comunidade
internacional já se deparou: em parte porque as pessoas têm poucos
conhecimentos sobre o tema, o que se pode atribuir à baixa escolaridade, à
omissão dos sistemas educacionais e dos meios de comunicação de massa; em
parte porque há pesados interesses em jogo, que levam até países
desenvolvidos a adotar posições inaceitáveis em face da dimensão do
problema. Um dos mais evidentes exemplos é a recusa dos Estados Unidos em
ratificar o Protocolo de Quioto, aberto para assinatura em 1998, através do
qual as nações comprometem-se a reduzir a emissão de gases de efeito estufa
em 5% em relação aos níveis de 1990, até o período entre 2008 e 2012 (os países
desenvolvidos emitem 55% do total). No fim de 2004, no que foi considerada uma
das mais difíceis negociações da história da humanidade, a Rússia, que
emite 17,4% dos gases que poluem a atmosfera, ratificou o Protocolo (o governo
brasileiro o aprovou através do Decreto 144, de 20/06/2002).
O Protocolo de Quioto é um dos instrumentos através dos quais a ONU tenta
reverter o quadro de degradação ambiental. O sucesso desta luta, porém,
dependerá de uma série de medidas adotadas por cada país. No Brasil, tivemos
algumas vitórias com a promulgação da Lei 9.795/97, que institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, e da Lei de Crimes Ambientais (13/02/98). Lei
que, infelizmente, não é cumprida com a severidade requerida. Um exemplo está
na Amazônia, cuja área desmatada, segundo o Fundo Mundial para a Natureza,
cresceu 44% na década de 90 (15% só entre 1999 e 2000). A extração de 80% da
madeira da floresta é ilegal. Há poucos dias, foi noticiado que o Instituto de
Pesquisas Espaciais montou um sistema de monitoramento avançadíssimo, que
revela um panorama geral da região a cada quinzena (isso só era possível
anualmente, até 2003). Mas nada disso adiantará se o Estado continuar ausente.
Já o tráfico de animais chegou ao terceiro lugar no ranking das atividades
criminosas mais lucrativas do país, depois do tráfico de armas e de drogas: 12
milhões de animais são capturados todos os anos.
Na lista de nossos problemas ambientais temos, ainda, a desertificação, que
atinge 55% do semi-árido do Nordeste e é causada pela exploração inadequada
do solo. Enquanto isso, nossos rios recebem 6,2 milhões de quilos de carga
poluidora por ano (cinco vezes mais do que podem absorver), justo quando o
planeta discute a escassez de água potável – apenas 3% da água da Terra são
próprios para consumo. O Brasil possui 8% deste tesouro na bacia amazônica e
em lençóis freáticos que, no entanto, são ininterruptamente contaminados
pelo lixo: 63% do lixo brasileiro vão parar em cursos de água doce devido à
coleta ineficiente.
Os problemas atingiram tal magnitude que muitos devem se perguntar se o fato de
algumas escolas ensinarem as crianças a respeitar a natureza vai mudar este
quadro. A resposta é sim. Os dramas que hoje enfrentamos foram causados por
gerações e gerações que desconheciam o delicado equilíbrio homem/ambiente e
construíram um modelo de desenvolvimento predatório. A solução está em
preparar as novas gerações para um modelo de desenvolvimento alternativo. Não
temos saída, a não ser a acomodação. O que, no caso, significa compactuar
com as ações que deterioram nossa qualidade de vida, enquanto não
inviabilizam a própria vida.
Presidente da Associação de Ensino Superior do Rio de Janeiro
______________________________________________________
www.magnomaranhao.pro.br