REFLETINDO...
ENTRE TRILHAS E
PAUSAS INTERPRETATIVAS
[OU COMO NÃO CHEGAR AO FIM
DESTA TRILHA...]*
Profa. Dra.Solange T. de Lima Guimarães
Depto. de Geografia –
IGCE/UNESP,Rio
Claro/SP
hadra@uol.com.br
“Às
vezes, tudo o que é preciso é a percepção das múltiplas possibilidades”
-
Rachel N. Remen, 1998:88
Podemos considerar que em relação aos programas de Educação
Ambiental, observamos a necessidade emergencial de projetos tanto por parte da
iniciativa pública quanto particular, voluntária ou não, que visem a
capacitação e o treinamento adequado de monitores e educadores ambientais,
considerando-se que somente intenções de boa vontade desprovidas de
conhecimento técnico, treinamento e capacitação profissional, podem até mesmo
contribuir para piorar situações relacionadas ao ensino da Educação Ambiental e
à execução de atividades de Gestão Ambiental correlacionadas, tais como a
elaboração e implantação de projetos conservacionistas integrados, mediante a
transmissão de conceitos errôneos, distorcidos, descontextualizados, fato que
contribui muito negativamente em se tratando de sensibilizarmos as comunidades
para a percepção, interpretação e representação ambiental de seus entornos, bem
como de sua valorização envolvendo aspectos pertinentes à cidadania e a
recuperação do patrimônio natural e cultural.
Ao analisarmos as preferências paisagísticas podemos vislumbrar
caminhos no sentido da implementação e implantação de programas continuados de
educação e conscientização que apresentem níveis e etapas de informações
progressivas no sentido da assimilação e estabilização de conhecimentos sobre
as realidades ambientais, marcados por uma evolução seqüencial da incorporação
de novas atitudes e condutas individuais e coletivas, reforçando os objetivos
já alcançados através do desenvolvimento destas atividades de sensibilização.
Com referência a subsidiar programas de humanização de terapias,
tanto as trilhas quanto às vivências funcionam como complementos capazes de alterar
estados físicos e psicológicos, não só porque oferecem uma gama imensa de
estímulos multi-sensoriais, mas também porque propiciam um experienciar
imediato que envolve meio ambiente e pessoas, isto é um processo de
socialização que leva ao reencontro das sensibilidades da Natureza e à
identificação do sentido de pertinência em relação ao próprio grupo de
trabalhos de forma cooperativa e integradora, estando correlacionado aos
princípios da Ecologia Profunda, sob os domínios da qualidade da psicosfera (BATESON,1985;
GUATTARI, 1990; MORAIS, 1993).
Ao longo destes anos, presenciamos durante as trilhas e
vivências, demonstrações de afetividade, solidariedade e de interesse entre
pessoas com diferentes tipos de problemas (depressão grave, doenças crônicas,
etc), bem como descobertas sensoriais pelos deficientes visuais congênitos ao
apreenderem um mundo vivido através de novas experiências ambientais. Paracelso,
há séculos atrás, já reforçava a idéia curadora da Natureza, e, por meio das
trilhas e vivências podemos induzir a estados emocionais, capazes de gerar
novas disposições proativas, mesmo em caminhos que possivelmente são tenham
volta no atual estágio científico no qual nos encontramos, através da aceitação
e da ressignificação de realidades exteriores e interiores, na busca de outros
vislumbres e de outras dimensões de qualidade de vida para estas pessoas.
Morais (1993: 101), fundamentado em Humberto Maturana (1992), ao abordar
aspectos concernentes às relações de alteridades e reciprocidades entre pessoas
e meio ambiente, e as dimensões da Ecologia, em especial, da Ecologia da Mente,
afirma que: “O necessário, pois, não é que destruamos o mundo que temos,
para construirmos um outro ideal; mas apenas entendermos que só teremos de fato
o nosso mundo com os outros, e que a razão só atinge seu real valor se
mobilizada pelo desejo da convivência.”
Trilha
Interpretativa: Represa do Lobo, Estação Experimental de Itirapina, Instituto
Florestal de São Paulo: educação ambiental sensibilizando através da paisagem
Foto:
Solange T. de Lima Guimarães, 2001.
Deste modo, vemos a trilha interpretativa e as vivências na
Natureza como exemplos de atividades formativas e informativas, que provocam
novos processos de adaptação e assimilação relativos ao desenvolvimento de
nossas experiências e de um conhecimento estruturado em relação ao entorno,
através de reações ativas, respostas criativas, reorganização e associação
(união) com outros significados, tornando a percepção e a interpretação do meio
ambiente mais complexa ao propiciarem o restabelecimento de um estado de
receptividade completa a partir da experiência direta. (DUBOS, 1974).
Assim, podemos afirmar que as atividades de Percepção e
Interpretação Ambiental durante a realização de uma trilha interpretativa ou de
uma vivência devem ser desenvolvidas, mobilizadas a partir do desejo de
reeducarmo-nos tendo em vista horizontes de melhor qualidade ambiental e de
vida, expandindo nossas ações e compreensão a respeito do meio ambiente e dos
outros, propiciando não somente as mudanças condutuais, mas principalmente as
mudanças emocionais, ou seja, que tenhamos a compreensão de qual “emoção
fundamentalmente mobilizadora” está presente na construção ou destruição de
nossas paisagens, de nossos lugares, raízes e territórios. Desta forma,
teremos condições de “mudar aquilo que de fato podemos mudar”, entre a
experiência e a esperança, considerando-se o papel da Educação Ambiental, pois
“ante as urgências da terceira ecologia (a ecologia da mente), a educação
pode assumir as suas responsabilidades.” (MORAIS, 1993:98; 72-76). Uma
educação sobre aprendizados significativos e vivenciais, ou seja, uma educação
sobre valores para se viver. (ROGERS, S/D; BARYLKO, 1999;
WAISMAN & SHOCRON, 2001)
Referências Bibliográficas:
BARYLKO, Jaime. Educación en
Valores. Buenos aires: Ameghino, 1999.
BATESON, Gregory. Pasos hacia
una ecología de la mente. Buenos aires: Ediciones Carlos
Lohlé, 1985.
DUBOS, R. Um Animal Tão Humano.
São Paulo: Melhoramentos/EDUSP, 1974.
GUIMARÃES, Solange T. de Lima. Imagens de Lugar: um estudo de
percepção, interpretação e representação do meio ambiente. Relatório
de Pesquisa apresentado a FUNDUNESP, São Paulo, em agosto de 2004.
MATURANA, Humberto R. El Sentido de lo Humano. Santiago: Hachette, 1992.
MORAIS, Regis de. Ecologia da Mente. Campinas: Editorial Psy, 1993.
ROGERS, Carl. Libertad Y Creatividad en la Educación. Ed. Piados, s/d.
WAISMAN,
Laura y SHOCRON, Mónica. EducarNos:
nuevas propuestas para la educación y la convivencia.
Buenos
Aires: Lugar Editorial, 2001
Agradecimentos especiais:
FUNDUNESP – Fundação para o Desenvolvimento da UNESP
*O texto é parte de um estudo
no campo da interpretação ambiental. Deverá ser lançado sob a forma de e.book
em abril/maio de 2005.