Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
07/12/2004 (Nº 11) Entre trilhas e pausas interpretativas [ou como não chegar ao fim desta trilha...]
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REFLETINDO...

 

ENTRE TRILHAS E PAUSAS INTERPRETATIVAS

 [OU COMO NÃO CHEGAR AO FIM DESTA TRILHA...]*

 

Profa. Dra.Solange T. de Lima Guimarães

Depto. de Geografia –

IGCE/UNESP,Rio Claro/SP

hadra@uol.com.br

 

 

 

Às vezes, tudo o que é preciso é a percepção das múltiplas possibilidades

 -  Rachel N. Remen, 1998:88

 

 

Podemos considerar que em relação aos programas de Educação Ambiental, observamos a necessidade emergencial de projetos tanto por parte da iniciativa pública quanto particular, voluntária ou não, que visem a capacitação e o treinamento adequado de monitores e educadores ambientais, considerando-se que somente intenções de boa vontade desprovidas de conhecimento técnico, treinamento e capacitação profissional, podem até mesmo contribuir para piorar situações relacionadas ao ensino da Educação Ambiental e à execução de atividades de Gestão Ambiental correlacionadas, tais como a elaboração  e implantação de projetos conservacionistas integrados, mediante a transmissão de conceitos errôneos, distorcidos, descontextualizados, fato que contribui muito negativamente em se tratando de sensibilizarmos as comunidades para a percepção, interpretação e representação ambiental de seus entornos, bem como de sua valorização envolvendo aspectos pertinentes à cidadania e a recuperação do patrimônio natural e cultural. 

 

Ao analisarmos as preferências paisagísticas podemos vislumbrar caminhos no sentido da implementação e implantação de programas continuados de educação e conscientização que apresentem níveis e etapas de informações progressivas no sentido da assimilação e estabilização de conhecimentos sobre as realidades ambientais, marcados por uma evolução seqüencial da incorporação de novas atitudes e condutas individuais e coletivas, reforçando os objetivos já alcançados através do desenvolvimento destas atividades de sensibilização.

 

Com referência a subsidiar programas de humanização de terapias, tanto as trilhas quanto às vivências funcionam como complementos capazes de alterar estados físicos e psicológicos, não só porque oferecem uma gama imensa de estímulos multi-sensoriais, mas também porque propiciam um experienciar imediato que envolve meio ambiente e pessoas, isto é um processo de socialização que leva ao reencontro das sensibilidades da Natureza e à identificação do sentido de pertinência em relação ao próprio grupo de trabalhos de forma cooperativa e integradora, estando correlacionado aos princípios da Ecologia Profunda, sob os domínios da qualidade da psicosfera (BATESON,1985; GUATTARI, 1990; MORAIS, 1993).

 

Ao longo destes anos, presenciamos durante as trilhas e vivências, demonstrações de afetividade, solidariedade e de interesse entre pessoas com diferentes tipos de problemas (depressão grave, doenças crônicas, etc), bem como descobertas sensoriais pelos deficientes visuais congênitos ao apreenderem um mundo vivido através de novas experiências ambientais.  Paracelso, há séculos atrás, já reforçava a idéia curadora da Natureza, e, por meio das trilhas e vivências podemos induzir a estados emocionais, capazes de gerar novas disposições proativas, mesmo em caminhos que possivelmente são tenham volta no atual estágio científico no qual nos encontramos, através da aceitação e da ressignificação de realidades exteriores e interiores, na busca de outros vislumbres e de outras dimensões de qualidade de vida para estas pessoas. Morais (1993: 101), fundamentado em Humberto Maturana (1992), ao abordar aspectos concernentes às relações de alteridades e reciprocidades entre pessoas e meio ambiente, e as dimensões da Ecologia, em especial, da Ecologia da Mente, afirma que: “O necessário, pois, não é que destruamos o mundo que temos, para construirmos um outro ideal; mas apenas entendermos que só teremos de fato o nosso mundo com os outros, e que a razão só atinge seu real valor se mobilizada pelo desejo da convivência.”

 

 

Trilha Interpretativa: Represa do Lobo, Estação Experimental de Itirapina, Instituto Florestal de São Paulo: educação ambiental sensibilizando através da paisagem

Foto: Solange T. de Lima Guimarães, 2001.

 

 

 

Deste modo, vemos a trilha interpretativa e as vivências na Natureza como exemplos de atividades formativas e informativas, que provocam novos processos de adaptação e assimilação relativos ao desenvolvimento de nossas experiências e de um conhecimento estruturado em relação ao entorno, através de reações ativas, respostas criativas, reorganização e associação (união) com outros significados, tornando a percepção e a interpretação do meio ambiente mais complexa ao propiciarem o restabelecimento de um estado de receptividade completa a partir da experiência direta. (DUBOS, 1974).

 

Assim, podemos afirmar que as atividades de Percepção e Interpretação Ambiental durante a realização de uma trilha interpretativa ou de uma vivência devem ser desenvolvidas, mobilizadas a partir do desejo de reeducarmo-nos tendo em vista horizontes de melhor qualidade ambiental e de vida, expandindo nossas ações e compreensão a respeito do meio ambiente e dos outros, propiciando não somente as mudanças condutuais, mas principalmente as mudanças emocionais, ou seja, que tenhamos a compreensão de qual “emoção fundamentalmente mobilizadora” está presente na construção ou destruição de nossas paisagens, de nossos lugares, raízes e territórios.  Desta forma, teremos condições de “mudar aquilo que de fato podemos mudar”, entre a experiência e a esperança, considerando-se o papel da Educação Ambiental, pois “ante as urgências da terceira ecologia (a ecologia da mente), a educação pode assumir as suas responsabilidades.” (MORAIS, 1993:98; 72-76). Uma educação sobre aprendizados significativos e vivenciais, ou seja, uma educação sobre valores para se viver. (ROGERS, S/D; BARYLKO, 1999; WAISMAN & SHOCRON, 2001)

 

Referências Bibliográficas:

 

BARYLKO, Jaime. Educación en Valores. Buenos aires: Ameghino, 1999.

 

BATESON, Gregory. Pasos hacia una ecología de la mente.  Buenos aires: Ediciones Carlos Lohlé, 1985.

 

DUBOS, R. Um Animal Tão Humano. São Paulo: Melhoramentos/EDUSP, 1974.

 

GUIMARÃES, Solange T. de Lima. Imagens de Lugar: um estudo de percepção, interpretação e representação do meio ambiente. Relatório de Pesquisa apresentado a FUNDUNESP, São Paulo, em  agosto de 2004.

 

MATURANA, Humberto R. El Sentido de lo Humano. Santiago: Hachette, 1992.

MORAIS, Regis de. Ecologia da Mente. Campinas: Editorial Psy, 1993.

ROGERS, Carl. Libertad Y Creatividad en la Educación. Ed. Piados,  s/d.

WAISMAN, Laura y SHOCRON,  Mónica. EducarNos: nuevas propuestas para la educación y la convivenciaBuenos Aires: Lugar Editorial, 2001

 

Agradecimentos especiais: FUNDUNESP – Fundação para o Desenvolvimento da UNESP

 

*O texto é parte de um estudo no campo da interpretação ambiental. Deverá ser lançado sob a forma de e.book em abril/maio de 2005.

 

Ilustrações: Silvana Santos