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A FUNDAMENTAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A
SUSTENTABILIDADE
Maria Lúcia de Sousa Silva
Entrar em salas de aula ou grupos de trabalho, fazer parte do vocabulário dos
docentes procurando conhecer a realidade, brasileiros, goianos, grupos sociais
diferenciados, para que possa promover mudanças de hábitos, atitudes,
contribuindo assim para um despertar de consciência dentro do processo de
transformação social.
Há um reconhecimento de que a Educação
Ambiental (EA) é necessária para se alcançar o ideal das sociedades sustentáveis.
Isso se verifica através da formulação recente de políticas, difusão do
tema em diferentes movimentos sociais e propostas de incorporação do estudo do
ambiente associado à Ciência, Tecnologia e Sociedade no âmbito escolar. Nesse
sentid o a avaliação da preparação dos professores com competência para
atuarem como agentes de mudança tem sido considerada prioritária (UNESCO-UNEP,
1988; TILBURY, 1992; FIEN & RAWLING, 1996). Há também um amplo
entendimento de que essa formação é bastante complexa face ao conhecimento,
atitudes e habilidades exigidos para se alcançar a variedade de
objetivos e metas da EA.
No projeto pedagógico da escola o ensino deve
afirmar sua intenção educativa, consciente de que se dirige para o fazer educação
no sentido de vivenciar e pesquisar para conhecer como o ser humano aprende a
respeitar as necessidades do grupo social, do seu local, e desafiando os
aprendizes a compreender a dinâmica das causas e efeitos. Por isso nos PCNs a
"crise ambiental" é tratada como "crise civilizatória",
desde a conferência de Estocolmo em 1972, até a RIO+10 é denunciado a forma
com que certos grupos estão despreocupados com a vida humana, é preciso
desenvolver os saberes científicos da lógica desenvolvimentista, para o
emprego da interdisciplinaridade PROF. FÁBIO CASCINO.
A história da Humanidade pode ser contada pela
evolução tecnológica, mas também pela devastação causada por ela ao meio
ambiente. Sempre achamos que a natureza existe apenas para o nosso usufruto. Ao
longo dos séculos devastamos, queimamos, extinguimos, derretemos, perfuramos,
assoreamos, poluímos e contaminamos a Terra, afetando plantas e animais, e a
qualidade da água e do ar. A natureza cansou de ser maltratada e dá o troco.
Enfrentamos hoje problemas ambientais mundiais e locais. Chuvas torrenciais
deixam milhares de desabrigados na Índia; o deserto do Saara aumenta de tamanho
a cada ano; as nevascas nos Estados Unidos e na Europa isolam cidades inteiras.
No Brasil, enfr entamos uma crise energética sem precedentes. E, no mundo todo,
a ameaça de falta de água potável tem colocado governos em alerta.
Para mudar esse jogo cabe aos governos em todo o
mundo adotar uma série de medidas, como, por exemplo, uma nova política de
exploração racional dos recursos naturais buscando o desenvolvimento sustentável.
Mas, e os cidadãos comuns, que vivem sua vida e pagam seus impostos? Esses
personagens, geralmente, se sentem distantes disso tudo. Não percebem como eles
poderiam ter alguma responsabilidade sobre os desastres ambientais, e, quando
pensam no assunto, se perguntam: o que eu tenho a ver com isso? Tudo, respondem
os educadores ambientais. Cada ação cotidiana nossa interfere no meio ambiente
em que vivemos.
A idéia errada de que Educação Ambiental é
tema apenas para as aulas de Ciências;
As limitações decorrentes dos aspectos
infra-estruturais, tais como falta de recursos didáticos específicos, tempo
para preparação coletiva de novas propostas metodológicas e grande número de
alunos por sala;
A supervalorização da transmissão de informações;
As políticas contrárias a um trabalho orientado
para mudança de valores e atitudes diante da realidade.
Nesse contexto, a temática ambiental emerge como
uma possibilidade de comprometer professores e alunos em situações de
Ensino-Aprendizagem, nas quais a problematizarão tem sido facilmente atingida
por envolver questões vitais. Estes aspectos impõem e torna um desafio a busca
de alternativas formativas para os profissionais que atuam nesta área. A
EA deve estar inserida num projeto educacional que tenha como metas as
transformações das relações entre Ciência-Sociedade-Tecnologia-Ambiente em
direção à sustentabilidade.
Para garantir a inserção da temática
ambiental, há necessidade de reflexão sobre conceitos e pressupostos
ambientais e educacionais que norteiam as políticas e práticas de EA, dentro
de um espaço curricular próprio face à situação atual;
A utilização de metodologias investigativas é
uma das formas de envolver tanto cognitiva quanto afetivamente os aprendizes na
exploração de problemas relevantes da comunidade;
Trabalho em grupo, promovendo a cooperação, é
mais eficiente do que o individual para resistir às pressões que normalmente
se exercem no trabalho inovador em Educação;
Faz-se necessária a formação de equipes
interdisciplinares para construção de saberes originais, numa abordagem sistemática.
O primeiro mo mento refere-se à estratégia de
análise da evolução histórica da EA e das mudanças educacionais. Para
proceder ao estudo sobre esse histórico utilizaram-se procedimentos didáticos
conjugados, que tenham por objetivo tornar mais inteligível o estudo, de modo a
possibilitar a percepção mais ampla do momento histórico, inter-relacionando
as proposições em EA e os acontecimentos e pensamentos no âmbito sócio-político-cultural,
bem como vivenciar estratégias alternativas de ensino.
O segundo momento diz respeito à abordagem dos
conceitos básicos da EA: meio ambiente, educação ambiental, desenvolvimento
sustentável e interdisciplinaridade.
Na primeira aula distribuiu-se um questionário
em que, entre outras informações, se pede aos alunos para que tentem
expressar as suas idéias sobre os conceitos referidos. A opção por esse
instrumento é garantir o registro permanente, para a avaliação das mudanças
conceptuais, e ainda que permita a derivação de categorias e a elaboração
de quadros sinópticos das concepções, de maneira a evidenciá-las no início
das discussões, fornecendo posteriormente as interpretações científicas
correntes na literatura.
· Pretende-se, dessa forma, promover
o confronto de idéias para a produção de sínteses pessoais mais elaboradas e
significativas.
· A explicitação de concepções
exclusivamente por meio da expressão escrita e a subseqüente estratégia de
utilização de quadros sinópticos gerará a riqueza de diálogo que se
pretende entre o conhecimento dos alunos e os conceitos veiculados na
literatura.
· O intervalo decorrido entre a
aplicação do questionário e as discussões em aula, entre outros fatores,
podem contribuir para o baixo envolvimento dos alunos nessa tarefa.
· Uma alternativa a ser explorada
seria a utilização de imagens para complementar e incrementar a expressão
verbal, como na metodologia descrita por FREIRE (1982) e por REIGOTA (1999), que
poderia propiciar o levantamento não só de aspectos cognitivos, mas também
valorativos e afetivos, mais controversos e tão essenciais para a discussão de
temas do meio ambiente e educação.
· Assim sendo, permanece o
desafio de empreender melhor o referido diálogo, que é talvez o desafio maior
dos educadores preocupados com uma aprendizagem significativa nas suas práticas.
· A elaboração e implementação de
projetos de intervenção constituem o terceiro momento.
· Para promover a vinculação dos
conceitos aprendidos com a realidade do trabalho em EA, os alunos desenvolvem
projetos, parti ndo do diagnóstico de problemas ambientais comuns e que surgem
descritos na comunicação social, visando a que apresentem soluções eventuais
para os mesmos.
Mudar culturas, pensamentos e atitudes não é uma tarefa fácil, a idéia desse
"novo modelo" de Educação Ambiental não é coisa nova por aqui. Nos
anos 60, Paulo Freire já colocava em prática um método educacional que partia
da interação entre o aluno e seu meio, sua comunidade. De lá para cá, com o
modelo de desenvolvimento adotado, nossa relação com a natureza piorou muito,
embora a temática da Educação Ambiental tenha ganhado força no período (ver
boxe). Mesmo assim, hoje vivemos um momento grave, que exige mudança em termos
globais. Mudança que pode ser efetivada com a colaboração da educação,
particularmente a ambiental.
"Já existe, em termos práticos, um conjunto muito rico e diversificado de
ações na área da educação ambiental no país", afirma Carlos Frederico
Loureiro, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e pesquisador do Ibase, há 17 anos "militando" nos movimentos
ambientalistas brasileiros. Mas há um problema: "Essas ações são
restritas, ligadas a mudanças de comportamento locais e à preservação de
recursos naturais. Isso limita o aprendizado de EA. A sua filosofia, no sentido
pedagógico, não aparece". Não que essas ações não tenham valor. Pelo
contrário: é preciso estimulá-las e divulgá-las. "Mas é necessário
que os avanços individuais levem a uma reflexão coletiva que promova a mudança
na sociedade".
É o que também pensa a uruguaia Naná Medina, mestre em Educação, diretora
nacional da Fundação Universitária Ibero-Americana e consultora na área de
EA do Ministério do Meio Ambiente. Para ela, há uma preocupação tanto das
escolas como da sociedade em geral em conhecer a educação ambiental: "O
que ainda não se conseguiu fazer é sistematizar isso. Não há uma troca de
informações mais institucionalizada para que os projetos se espa lhem,
provoquem reação e mudança de paradigma".
Para mudar esse quadro, a consultora lembra que o governo federal já promoveu
duas medidas para criar um ambiente favorável à efetiva institucionalização
da EA: em 1997, o MEC lançou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que
incluíram o meio ambiente como um dos temas transversais; e em abril de 1999 o
Ministério do Meio Ambiente criou a Lei nº 9.795, que instituiu a Política
Nacional de Educação Ambiental.
Os Parâmetros visam, no que se refere ao meio ambiente, a desenvolver um senso
crítico nos alunos através da análise dos problemas ambientais e da busca por
soluções para esses problemas. Já a lei cria responsabilidades e obrigações
para a promoção da EA em todos os setores da sociedade, fornecendo a base para
as políticas públicas. "O desafio agora é a implementação efetiva da
lei e dos PCN a partir das escolas e da sociedade". O Brasil é um dos
primeiros países do mundo a elaborar uma política específica para a EA:
"Mas é preciso investir pesado em recursos humanos e materiais". Nem
a lei, segundo Naná Medina, dá conta disso.
Naná Medina, que há 20 anos veio para o Brasil pela ONU para implementar núcleos
de educação ambiental em algumas universidades, cita como exemplo disso a criação
dos PCN: "Na época em que eles foram distribuídos, nenhum professor foi
capacitado para lidar com eles, então houve muita rejeição. E, mesmo que
quisesse, não havia condições materiais para que o professor pudesse
trabalhar. Ainda hoje, não se fala em PCN nas faculdades, e continuamos a
formar professores despreparados para lidar com a temática ambiental".
Para tentar preencher essa lacuna, ela conta que o Ministério do Meio Ambiente
iniciou, no segundo semestre de 2001, um curso de EA a distância para 15 mil
professores e técnicos de várias partes do país. O curso, de quatro meses,
tem como principal objetivo oferecer noções básicas de EA para que eles
possam atuar na área.
Além dis so, o MEC lançou, em junho de 1999, um importante programa, cujo
objetivo é ajudar o professor a trabalhar com os PCN em sala de aula: os Parâmetros
em Ação, que estão presentes hoje em milhares de municípios em todo o país.
Agora, a novidade são os Parâmetros em Ação para a Educação Ambiental (ver
boxe).
Tanto Naná Medina quanto Frederico Loureiro acreditam que a Universidade tem um
papel fundamental nesse processo. "Ela tem uma grande responsabilidade na
formação de professores; em segundo lugar, é o espaço ideal para se criar
uma rede de informação e discussão sobre os temas ambientais, além de ser o
espaço democrático da produção acadêmica", afirma o professor.
Naná ressalta ainda que a falta de uma formação adequada gera, inclusive,
projetos equivocados de EA. E dá um exemplo: "Uma escola motiva os alunos
a catarem latas de alumínio para reciclagem. Isso é válido, claro, mas se não
se analisa, primeiro, a questão do excesso de consumo, a mera coleta de
latinhas não resolve a questão. Que opções podemos ter às latas para
diminuir seu consumo? São os hábitos que precisam ser mudados. Quando um
projeto de EA busca esse tipo de reflexão, está cumprindo o seu papel
transformador da realidade".
O professor Carlos Frederico Loureiro lembra que os projetos bem-sucedidos
"fazem o aluno pensar a educação ambiental, e fazem com que o professor
repense sua ação pedagógica a partir dela. Também buscam a articulação
entre a comunidade e a escola, entre o formal e o não-formal, ou seja,
provocam, de algum modo, uma reflexão e as conseqüentes mudanças de valores e
de atitudes".
Já a consultora Naná Medina destaca que, no âmbito da educação pública, o
meio ambiente ainda não está presente em todas as escolas como prática de
sala de aula. "Existem esforços iniciais de Secretarias de Educação, mas
nada que valha ser destacado". No caso da educação não-formal, ela
destaca os comitês de bacias hidrográficas, como o da Baía de Guanabara (RJ)
e o do Rio Guaíba (RS). "Mas insisto: são iniciativas isoladas, que não
promovem grandes transformações".
Esse isolamento é provocado, em grande parte, pela falta de integração e de
informação. "É necessário realizarmos levantamentos e diagnósticos da
educação ambiental no Brasil, para que possamos conhecer seu perfil e, enfim,
obtermos uma base concreta para o estabelecimento de políticas públicas
coerentes", defende o professor Layrargues.
Nos 20 anos que separam as conferências mundiais de Estocolmo e do Rio de
Janeiro houve uma importante mudança na concepção de meio ambiente. Antes se
pensava na relação homem/natureza; agora, o foco está no desenvolvimento econômico.
Por isso, a educação ambiental não se limita a garantir a preservação de
espécies e de recursos naturais, e destaca como prioridade as mudanças nas
relações econômicas e culturais entre a sociedade e a natureza. Por isso,
deve ser entendida como Educação Política, no sentido de que reivindica e
prepa ra os cidadãos para lutar não só por um ambiente ecologicamente
equilibrado, mas, sobretudo, por uma sociedade mais justa.
Naná Medina concorda e acredita que precisamos contextualizar as questões do
mundo globalizado para formar um cidadão capaz de atuar nele. E tudo passa pela
problemática ambiental. "A Educação Ambiental é um processo que
propicia às pessoas uma compreensão crítica e global, esclarecendo valores e
desenvolvendo atitudes que lhes permitam atuar na conservação e adequada
utilização dos recursos naturais".
"O Brasil sabe que tem problemas ambientais, e a sociedade como um todo
entende isso. A própria carência de recursos provoca a criatividade para
superar as dificuldades. Precisamos aproveitar essa nossa vocação e aprender,
através da educação, a exercer plenamente nossa cidadania", defende
Frederico Loureiro.
"O Brasil não ficou restrito à EA confundida com o ensino de ecologia ou
com a educação conservacionista", analisa Phillipe Layrargue s. Segundo
ele, há sinais positivos de mudança, "não apenas com o surgimento de uma
produção acadêmica com rigor científico, competência teórica e compromisso
social, como também no sentido da convergência do enfrentamento pedagógico
simultâneo dos problemas ambientais e sociais".
Para o especialista, a idéia da Educação Ambiental como instrumento de
transformação social tem grandes chances de se consolidar logo. "O que é
preciso acompanhar é em quanto tempo essa produção literária ganhará
repercussão na sociedade como um todo, para que os projetos de educação
ambiental efetivamente implementados possam cumprir sua função social".
Que não demore!
BIBLIOGRAFIAS
FREIRE, P., (1982), "Educação como prática da liberdade". Paz e
Terra, 150 p., Rio de Janeiro.
PENTEADO, H.D., (1997), "Meio Ambiente e formação de professores".
Cortez Editora, 138 p., São Paulo.
REIGOTA, M., (1999), "Uma educação ambiental pós-moderna". Cortez
Editora, 167 p., São Paulo.
UNESCO-UNEP, (1988), "International strategy for action in the field of
environmental education and training for the 1990s". UNESCO, 388 p., Paris.
DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas, 2º Edição,
Editora Gaia, São Paulo, 1993.