Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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20/03/2004 (Nº 8) Parceria: uma atitude fortalecida pela Educação Ambiental
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Parceria: uma atitude fortalecida pela Educação Ambiental

Berenice Gehlen Adams

 

Parceria significa reunião de indivíduos que se agregam por um determinado fim, portanto, que têm objetivos em comum. Este conceito é fundamental para todo e qualquer tipo de atividade que possamos desenvolver.

 

Aplicado à educação, o conceito de parceria revela-se como essencial para que seja possível melhorar a qualidade do sistema educacional. Apesar de tão importante, percebe-se que este conceito é, muitas vezes, excluído ou esquecido entre grupos de educadores, quando se sobressaem atitudes individualistas e competitivas. A dificuldade do estabelecimento da interdisciplinaridade nas ações educacionais confirma que: cada professor está mais preocupado com a sua disciplina, com seus alunos, com seu planejamento; assim como cada membro da escola está preocupado em exercer sua função específica, e o que foge da sua “especialidade” é repassado para o “devido responsável”.  Não que isto esteja “errado”, afinal, a escola é um espaço fragmentado, departamentalizado, mas a forma como são jogados, de um para o outro, os “problemas” relacionados ao cotidiano escolar, deixa transparecer o individualismo.

 

Se formos observar criteriosamente as ações educativas veremos que a escola está longe de alcançar seu objetivo pleno que é o de proporcionar aos sujeitos as condições favoráveis para o seu desenvolvimento e aprendizado. Isto porque a escola não sabe como lidar com a diversidade que abarca o seu público.

 

Ao questionarmos a finalidade da educação e da escola propriamente dita, que é a de oportunizar o aprendizado sistemático, disseminar conhecimento, ampliar horizontes, desenvolver habilidades e atitudes, percebemos que somente será possível alcançar este objetivo se houver forte parceria entre os pares do contexto educativo. Infelizmente, esta não é a realidade que perpassa o espaço escolar.

 

O atual sistema educacional está fortemente atrelado à sociedade do consumo, que privilegia a competitividade e o individualismo, com raras exceções. Se esta sociedade da qual fazemos parte é excludente, capitalista, privilegia o “ter” sobre o “ser”, então se conclui que não existe uma educação para a cidadania, para a solidariedade e para uma integração social que permita uma vida digna para todos.

 

Uma educação que resulta de verdadeiras parcerias, ou seja, aquela que não oculta outros objetivos que se rendem a interesses outros, é aquela que desenvolve o senso da cidadania, da fraternidade, privilegiando ações e atividades voltadas para o desenvolvimento de posturas éticas. Ora, se o nosso sistema social apresenta inúmeros problemas referentes às questões de gênero, etnia, pré-conceitos, onde padrões de comportamento são pré-determinados pela mídia, excluindo a maioria da população - normalmente definida como “povo”, ou “povão”, como se estes não fizessem parte da sociedade pela negação dos mais favorecidos – então a educação não está cumprindo o seu papel. A sociedade reflete o que perpassa a educação e revela o “culto oculto” ao individualismo e à competitividade.

 

Para JUNQUEIRA*, “no contexto de uma sociedade globalizada é senso comum que não se pode sobreviver sem a colaboração de parceiros; no âmbito educacional onde o compartilhamento do conhecimento se torna o objetivo principal, a importância ainda é mais significativa”. O autor refere-se, principalmente, à parceria entre professor/aluno, mas podemos estender a uma parceria entre todos os participantes dos processos educativos em seu amplo sentido. Segundo ele, algumas ações, comportamentos, estratégias são indispensáveis para o estabelecimento de parceria, como: ouvir, ser flexível, estar presente, ter humildade, gerar confiança, ser carismático e empático, ser paciente, encarar os fatos, evitar subterfúgios. Estas atitudes, portanto, são fundamentais para a “criação de um clima de parceria”.

 

No início do ano 2000 foi criado um grupo de Educação Ambiental que se comunica através do recurso tecnológico de correio eletrônico. O grupo foi criado com o objetivo de aproximar indivíduos de diferentes segmentos da sociedade que têm o interesse comum de divulgar e difundir a Educação Ambiental/EA em diferentes contextos, considerando seu aspecto interdisciplinar. Com o passar do tempo, o grupo foi crescendo e se fortalecendo. Após três anos de funcionamento, o grupo, nomeado de GEAI/Grupo de Educação Ambiental da Internet, consolida-se graças ao forte sentimento de parceria que se estabeleceu entre seus membros ativos. Este clima de parceria é percebido através:

 

- da ajuda permanente na busca de informações sobre a temática central do grupo;

- da troca de informações;

- dos debates sobre a teoria e prática da EA;

- da consolidação de laços de amizade;

- das ações prestativas de um membro para com outro;

- da troca de experiências e dúvidas sobre a EA;

- da criação de uma revista eletrônica.

 

Seria possível ampliar esta lista de ações que confirmam o clima de parceria existente no grupo, mas estas são suficientes.

 

Alguns participantes que ingressam no grupo, que é aberto a todos interessados pelo assunto, destacam que se surpreendem com a solidariedade e bom convívio virtual que se estabelece entre os participantes do GEAI. Alegam, também, sentir um forte diferencial entre este grupo (GEAI) e outros dos quais fazem parte, que utilizam a mesma ferramenta – correio eletrônico – no que se refere ao clima de parceria. Um dos fatores que influem para esta aparente e consolidada parceria entre os membros do grupo é, justamente, o tema central que une os membros: Educação Ambiental.

 

Se para falar de Educação Ambiental faz-se necessário falar em respeito, ética, cuidado (Boff), complexidade (Morim), teia (Capra), interdisciplinaridade, inclusão, cidadania, colaboração, conseqüentemente estaremos, também, falando em parceria. Este convívio com as questões acima relacionadas, colabora, sobremaneira, na formação de sujeitos parceiros. Não é à toa, portanto, que o clima de parceria existente no GEAI seja tão aparente.

 

A 'educação' ambiental revela-se como uma contribuição filosófica, um ato político calcado na opção por valores que levem à transformação (...) Logo, do ponto de vista didático, a idéia de um projeto pedagógico fundado na malha imaginária dos sujeitos, dos grupos, das culturas, da forma de organização social, sugere um ponto de partida para encarar a variedade de visão de meio, de necessidades e de interesses, tendo em vista que o conhecimento do ambiente vai além do entorno que compõe a própria natureza, abrangendo todo o patrimônio cultural e o uso que dele se tem feito e se faz (...) e as complexas relações sociais tornam multidimensionais os conflitos já existentes, fazendo com que não possam mais ser vistos unicamente como crises ambientais ou problemas ecológicos, passando a ser encarados como problemas de outra ordem - a busca de outras formas de organizações sociais (PEREIRA** ).

 

Uma das ferramentas que muito tem contribuído para o estabelecimento de parcerias que confirmam esta busca por outras formas de organizações sociais são as chamadas Redes, que agregam pessoas que se relacionam a partir de um núcleo comum.

As redes de educação ambiental têm se tornado uma prática comum de comunicação e interação entre educadores, ambientalistas, técnicos de órgãos públicos e pesquisadores das Universidades, para que haja uma troca de idéias em tempo praticamente real sobre tudo o que está sendo desenvolvido nesta área na nossa região, no Estado e no país” (GUERRA***).

 

Neste sentido, entendemos que a Educação Ambiental transcende ao seu principal objetivo que é o de agregar ao sistema educacional o contexto ambiental buscando mudanças de atitudes, porque ela desenvolve, também, o senso da cidadania, da fraternidade, privilegiando ações e atividades voltadas para o desenvolvimento de posturas éticas, incentivando o estabelecimento de parcerias.

 

 



* Vice-presidente do Instituto MVC- Educação Corporativa http://www.institutomvc.com.br/costacurta/artlacj_Aparceria.htm  Artigo acessado em 26.02.2004

** Yára Christina Cesário Pereira é diretora do Colégio de Aplicação e docente nos cursos de biologia e pedagogia da UNIVALI -   http://an.uol.com.br/anverde/especial21/ - Artigo acessado em 26.02.2004.

*** Antônio Fernando Guerra é presidente da Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental http://www.reasul.univali.br/  

Ilustrações: Silvana Santos