Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) POLUIÇÃO SONORA: UM OLHAR SOBRE A SAÚDE DOS DOCENTES E.E.E.M. DR. FÁBIO LUZ- TOMÉ – AÇU/PA
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Poluição Sonora: Um olhar sobre a saúde dos docentes E.E.E.M. Dr. Fábio Luz- Tomé – Açu/PA.

Alexandre Araújo de Souza¹

Salenne Pinho Cordeiro¹

João Paulo Rocha dos Passos²

 

¹Graduados em Ciências Naturais-Física, pela Universidade do Estado do Pará.  ale.plie@hotmail.com/   Salenne_cordeiro@hotmail.com

² Professor Assistente III, Departamento de Ciências Naturais, Universidade do Estado do Pará.

 

RESUMO

Este trabalho trata-se de um estudo sobre os impactos da poluição sonora no ambiente escolar. Com uma breve descrição do olhar da Física e da Biologia sobre som e ruído, e como esse fenômeno é perceptível ao ouvido humano. Investigando na literatura existente suas consequências na saúde de docentes, bem como, a concepção dos mesmos quanto à interferência da poluição sonora no ensino aprendizado em sala de aula e que possíveis soluções os docentes defendem para amenizar tal problemática que se alastra, não somente nos grandes centros urbanos como também em uma escola localizada no interior do estado do Pará.

Palavras chaves: Poluição sonora, saúde e escola.

 

1.      INTRODUÇÃO

 

A poluição sonora está cada vez mais presente em nosso cotidiano, e ela, nas últimas décadas, passou a ser considerada como a terceira forma de poluição que mais atinge pessoas. A escola, como não poderia deixar de ser, como veículo de comunicação, está de sobremaneira afetada pela poluição sonora, sendo transformada em vilã do aprendizado e os professores dentre os profissionais mais sujeitos às alterações de saúde devido ao ambiente de trabalho inadequado, como constata o Informe Técnico do Centro de Referencia em Saúde do Trabalhador - CRST-SP - (2006), pois estão comumente expostos ao estresse elevado, devido aos diversos fatores relacionados à organização de seu trabalho, aos riscos físicos e às condições salariais, assim como à violência e extensivas jornadas de trabalho. E com um ambiente desconfortável acusticamente a situação se agrava cada vez mais.

Para Vieira et al (2004), os professores sofrem as consequências de ambientes desfavoráveis em sala de aula, como: ruídos ambientais (de alunos, da rua, de ventiladores, ar condicionado), salas grandes com acústica ruim, muitos alunos em sala de aula, competição sonora com os próprios alunos, etc..., gerando o estresse e cansaço físico e mental.

Desde o Congresso Mundial sobre a poluição sonora realizado na Suécia em 1989, a questão da poluição sonora passou a ser considerada como questão de saúde pública. Alguns órgãos de grande importância mundial como A Organização Mundial da Saúde (OMS) vêm se preocupando mais com esse tema. A OMS tem publicado padrões de recomendação para exposição humana ao ruído nos quais as legislações de diversos países se utilizam para definir seus níveis de admissibilidade.

No Brasil existem leis que dispõem sobre a política nacional do meio ambiente, como a Lei Federal Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, já alterada pela Lei Nº 7804 de 18 de julho de 1989, onde o termo poluição representa degradação da qualidade ambiental que prejudiquem a saúde e o bem-estar da população, assim como lancem energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos art. 3º da Lei Federal Nº 6.938, 1981. E o artigo 54 da Lei 9.605/98 que trata dos Crimes Ambientais. Dispomos no país, também, de alguns órgãos que vêm estabelecendo padrões de confortabilidade acústica e controle da poluição sonora como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com as Normas Brasileiras Regulamentares (NBR), de 10 de junho de 2000, reedição. Temos a NBR 10.151-Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade e 10.152 – que mede os níveis de ruído para conforto acústico. Temos o Conselho Nacional do Meio ambiente/CONAMA, com a Resolução nº 1, 8 de março de 1990:

I – A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política, obedecerão, no interesse da saúde e do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução;

II - São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior, os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela Norma NBR-10.151;

III - Na execução dos projetos de construção ou de reformas de edificações para atividades heterogêneas, o nível de som produzido por uma delas não poderá ultrapassar os níveis estabelecidos pela NBR-10.152.

Fontes específicas de emissão de poluição sonora são regulamentadas pelo Conselho Nacional de Trânsito/CONTRAM e por normas do Instituto Nacional de Metrologia- INMETRO, entre outros. Para níveis sonoros admissíveis com o tempo de exposição ocupacional do trabalhador, as normas são definidas e regulamentadas pelo Ministério do Trabalho.

É importante ressaltar que o nível sonoro avaliado pelos instrumentos de medição através de níveis de depressão é uma propriedade de estudo da acústica, que se relaciona com alguns fenômenos como intensidade sonora, frequência, entre outros fenômenos do som e da ondulatória, que são de suma importância para a compreensão e um entendimento mais amplo da poluição sonora.

 Em sala de aula, o principal recurso utilizado pelo professor é a sua voz, como fonte de condução de conhecimento. Em ambientes ruidosos este recurso acaba por competir com sons provenientes do ambiente interno e externo, sofrendo distorções, prejudicando os alunos quanto à recepção destes sons, acarretando em interpretações errôneas conhecimento que está sendo transmitido. Logo, em ambientes com níveis sonoros acima do recomendável, o professor em sala acaba tendo que aumentar seu tom de voz por um período maior de tempo, podendo causar sérios danos às suas cordas vocais, entre outros problemas de saúde. Tanto o professor quanto os alunos podem sofrer efeitos fisiológicos, distúrbios na audição e distúrbios psicológicos, que serão vistos com mais detalhes no decorrer deste trabalho.

 

2.      DESENVOLVIMENTO

 

2.1. O que é Som e Ruído?

 

Som é a sensação percebida pelo cérebro que se relaciona com a chegada ao ouvido através de ondas de vibração mecânica. O som se propaga nos ambientes materiais como fluídos, na atmosfera e também em sólidos. Porém, não é todo o som que os ouvidos humanos podem detectar. Perturbação em frequências muita baixas (infrassons), como os sons produzidos pela movimentação da crosta terrestre, é imperceptível ao ouvido humano, assim como as muito elevadas (ultrassons), muito utilizados na medicina e na pesca para identificar cardumes de peixes, não são detectadas pelo ouvido humano. O som audível ao ser humano se encontra num intervalo limitado de frequência em 20 Hertz (Hz) e 20 Quilohertzes (kHz).

O Ruído trata-se de um som indesejável, ou seja, desagradável para quem ouve, e se caracteriza com uma notação negativa, mas essa característica pode ser relativa para quem a ouça. Segundo Bistafa (2011, p.07) “O ruído deteriora a qualidade de vida, causa problemas de saúde, e impacta econômica e financeiramente a vida de pessoas e organizações”.

 

 

2.2.  Acústica

 

A acústica é o ramo da física que estuda o som e já era conhecida na Grécia antiga. Alguns estudiosos como Marin Mersenne (1588-1648) tinham forte interesse em música e passou muito tempo pesquisando a acústica e a velocidade do som. Em 1627, ele publicou uma de suas obras mais famosas, L'Harmonie Universelle. Neste trabalho, ele foi o primeiro a publicar as leis relativas à corda vibrante: a sua frequência é proporcional à raiz quadrada da tensão e inversamente proporcional ao comprimento, ao diâmetro e à raiz quadrada do peso específico da cadeia, desde que todas as outras condições permanecem as mesmas, quando uma dessas quantidades está alterada, sendo conhecido como o pai da acústica.

No séc. XVII, com o surgimento das primeiras academias e sociedades científicas, com a Accademia del Cimento (1657), Royal Society of London (Londres em 1662), e a Académie dês Sciences (Paris em 1666), surgem os primeiros trabalhos de cunho científico com Newton, Galileu e outros. Nesta época (1701), passou também a ser utilizada a palavra “Acústica”, que se originou do grego “ακουω”, que significa ouvir.

A teoria da propagação como se conhece hoje em dia somente passou a ser desenvolvida a partir do século XIX, a partir da teoria ondulatória desenvolvida por Fourier, Fresnel, Laplace e outros. O estudo da acústica, porém, não se limita apenas como área de conhecimento e estudo da física. Durante o século XX com o desenvolvimento das diversas áreas associadas como Eletrônica, Instrumentação, etc., foi possível um notável desenvolvimento, com uma constante aplicação da acústica às diversas áreas do conhecimento (MEDEIROS, E.B. 2002). Esta multidisciplinaridade da acústica, segundo (BISTAFA, 2011), se dá pelo fato dela ser:

 

 

 

 

Primeiramente, a natureza ubíqua da radiação mecânica, gerada por causas naturais e pelas atividades humanas. Em seguida há a sensação da audição, da capacidade vocal humana, de comunicação via som, acompanhada de uma variedade de efeitos psicológicos provocados pelo som em quem escuta. (BISTAFA, 2011, p.06).

 

 

 

 

 

 

Figura 01: Os diferentes setores dos estudos acústicos.

Fonte: Adaptado de R.B Lindsay, J. Acoust. Soc. Am, 36: 2242, 1964.

 

 

 

 

2.3. Psicoacústica

                       

Psicoacústica é o estudo de como os seres humanos percebem o fenômeno sonoro, ou seja, como ouvimos nossas respostas psicológicas e o impacto fisiológico do som no sistema nervoso humano. No âmbito da psicoacústica, os termos música, som, frequência e vibração são intercambiáveis. O estudo da psicoacústica disseca a experiência auditiva. Apesar de o ouvido humano ser capaz de ouvir em frequências entre 20 Hz e 20.000 Hz, a percepção do som nos humanos é um processo idiossincrático.

É importante ressaltar que os estudos e dados da psicoacústica são colhidos de forma experimental, colhidas entre grupos de ouvintes e dados de medição sonora baseado em normas e técnicas vigente. De acordo com (Lazzarini, 1998).

 

 

 

 

 

Muitas das descobertas da psicoacústica ainda residem no plano experimental, pois razões físicas ou anatômicas sobre a sua causa ainda não são conhecidas. No entanto os dados apresentados pela psicoacústica são muito importantes para o entendimento da relação entre a percepção humana e o ambiente sonoro que a envolve. (Lazzarini, 1998.p.33).

 

 

 

2.4. Fisiologia e processamento auditivo do som

 

O ouvido é um receptor especializado para detectar ondas sonoras no ambiente em que o indivíduo se encontra. Evolutivamente, o ouvido dos vertebrados surgiu como um órgão de equilíbrio, o labirinto. O ouvido humano é representativo dos ouvidos dos mamíferos. O sistema auditivo dos seres humanos está dividido em três partes: Orelha externa, orelha média e orelha interna. A orelha codifica as informações contidas no som para serem interpretadas pelo cérebro.

 

 

2.4.1.      Orelha externa

   

A orelha externa consiste na aurícula e no conduto auditivo, possuindo a função de coletar e encaminhar as ondas sonoras até a orelha média, amplificar o som, auxiliar na localização da fonte sonora e proteger a orelha média e interna.

Entretanto, a principal função da orelha externa é a proteção da membrana do tímpano, além de manter certo equilíbrio de temperatura e umidade necessárias à preservação da elasticidade da membrana. Contribuem para essas funções às glândulas ceruminosas produtoras de cerúmen, os pelos, e a migração epitelial da região interna para a externa.

 

2.4.2 Orelha média

 

Após o ouvido externo, temos uma cavidade cheia de ar conhecida também como cavidade do tímpano, cujo volume é da ordem de 1,5 cm³ e que contém 3 ossículos: martelo, bigorna e estribo. A função de tais ossículos é, através de uma alavanca, acoplar mecanicamente o tímpano à cóclea (caracol), triplicando a pressão do tímpano.

Na parte interna da cavidade do tímpano, existe a janela oval e redonda, que são as aberturas do caracol. As áreas de tais janelas são da ordem de 3,2 e 2 mm² respectivamente. A janela redonda é fechada por uma membrana, e a oval é fechada pelo "pé" do estribo.  Caso a janela oval estivesse diretamente exposta ao som aéreo, aquele que se propaga pelo ar, apenas uma diminuta parcela da energia sonora seria transmitida para a cóclea. Déoux e Déoux (1996) complementam: existe um elemento de proteção contra o barulho no ouvido médio, o arco reflexo estapediano.

Caso o barulho seja superior a 85 dB(A) e dure mais de um segundo, os músculos dos pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo) vão contrair-se para diminuir a vibração ao nível da janela oval e proteger o ouvido interno. É o reflexo estapédico. Mas, se a duração do barulho for inferior a um segundo, este reflexo não pode ser estimulado, e compreende-se, então, a nocividade dos sons ditos impulsivos, que poderão causar lesão definitiva à cóclea.

 

 

2.4.3     Orelha interna

 

A orelha interna consiste em duas partes: o labirinto ósseo (cavidade e canais dentro do osso temporal) e o labirinto membranáceo (vesículas comunicantes e dutos alojados no labirinto ósseo). O labirinto membranáceo é composto de seis dutos: três semicirculares, o utrículo e o sáculo (responsáveis pelo equilíbrio), e a cóclea, especializada na detecção e codificação do som.

Entre o labirinto ósseo e o membranáceo contém um líquido chamado perilinfa, e o labirinto membranáceo contem a endolinfa. A endolinfa e a perilinfa diferem significativamente em termos de seus eletrólitos. O cátion predominante da endolinfa é o potássio, ao passo que o da perilinfa é o sódio. Uma característica importante do espaço endolinfátivo está no fato de ele ser completamente contido por tecidos, não havendo nenhuma comunicação entre a perilinfa e a endolinfa.

 

2.5. Área auditiva pelo cérebro

 

Células ciliadas são células nervosas. Células nervosas são também chamadas de neurônios, e os prolongamentos são os axônios. Os neurônios respondem a sinais químicos (neurotransmissores), sendo sua resposta na forma de impulsos elétricos, que transmitem informações a outros neurônios. (BISTAFA, 2011).

Tudo que escutamos é codificado nas respostas dos neurônios. As principais formas de codificação dos sons pela atividade neural são: localizada, por impulsos e temporal. A localizada refere-se à região da membrana basilar que é excitada pelo som. Assim, se apenas os neurônios próximos à base da membrana basilar respondem, então o som deve ter componentes de alta frequência.

Na codificação por impulso a intensidade do som está associada principalmente à taxa de descarga de impulsos elétricos gerados pelos neurônios, que envolve certa população de neurônios, pois com um único neurônio não pode responder por toda faixa de níveis sonoros audíveis.

Codificação temporal é impossível para uma única célula responder a cada ciclo do estímulo, porém, coletivamente, certo número de células ciliadas pode fazê-lo. Assim, é pouco provável que qualquer estímulo sonoro natural possa ser codificado em intensidade e frequência, sem ambiguidades, por uma única célula CCI.

O cérebro consiste do telencéfelo e do diencéfalo, sendo o telencéfelo a parte mais desenvolvida do encéfalo humano, constituído entre 85% e 90% da massa encefálica do crânio. A região do cérebro responsável pela audição é onde ficam os Lobos temporais, situados nas regiões laterais inferiores da cabeça, na altura das têmporas.

A intensidade dos sons é percebida no cérebro pelo número de impulsos nervosos que chegam pelo nervo auditivo e permite-nos diferenciar sons fortes e fracos. Quanto maior o volume do som que atinge a orelha, mais fortes são as vibrações transmitidas ao líquido coclear, o que determina maior estimulação das células sensórias e maior quantidade de impulsos transmitidos ao córtex cerebral. (AMABIS; MARTHO, 2004).

 

 

 

3.  METODOLOGIA

 

A escola estudada é uma escola de ensino médio, localizada na cidade de Tomé-Açu-PA, pertencente à rede estadual de ensino, com dezesseis salas, uma quadra de esportes, uma biblioteca, um refeitório e uma sala de professores. Localizada no centro da cidade, a escola sofre fortes fontes de ruídos provenientes do conturbado perímetro escolares, com tráfego de motos, carros, carros de propaganda, obras, etc.

Participaram da pesquisa dezesseis professores, 50% masculino e 50% feminino, todos os professores do Ensino Médio. Os professores apresentavam idade média de 39 anos, com média de carga horária semanal de 60h, sendo que 81,25% nos turnos manhã, tarde e noite (M/T/N), 12,5% nos turnos M/T e 6,25% no turno da noite. Com relação ao tempo de docência, o quadro docente encontra-se com treze anos, em média.

A pesquisa desenvolveu-se em duas etapas. Na primeira etapa foi elaborado um questionário com vinte perguntas, (3) abertas e (17) fechadas, e entregue aos professores com o intuito de saber como a poluição sonora está presente na escola, e como ela interfere no comportamento e na aprendizagem dos alunos, assim como as alterações de saúde sofridas pelos professores.

Na segunda etapa foi, primeiramente, confeccionada a planta baixa da escola onde foram localizados os pontos de medição, e em seguida houve a mensuração dos níveis de ruído na área escolar, tanto interna (salas, corredores, refeitório, biblioteca, quadra) como no ambiente externo (ruas próximas). Procurou-se medir todos os locais onde se realizavam atividades com alunos. É importante ressaltar que houve a preocupação de realizarem-se medições nos três turnos de funcionamento da escola.

Para as medidas foi utilizado o aparelho medidor de pressão sonora (decibelímetro), modelo AKSO Ak814 com Faixa de medição: 40 a 130 dB, Resolução: 0.1 dB Exatidão: 3 dB, Faixa de frequência: 31.5 Hz a 4 kHz, Ponderação em frequência: A, Amostragens: 2 por segundo Tempo de resposta: 125ms (Fast) Faixas de nível: Baixa: 40 - 100dB Alta: 60 - 130dB que registra de forma direta o nível de pressão sonora de um fenômeno acústico. Foi utilizado curva de ponderação “A”, por apresentar resposta mais próxima do ouvido humano e leitura lenta (slow), em decorrência das situações de grande flutuação, para facilitar a leitura. As técnicas e medidas foram baseadas nas Normas Nacionais Brasileiras (NBR) 10.151 e 10.152.

As medidas foram obtidas no período de 09 a 13 de Setembro, num total de trinta medições para cada sala de aula, com intervalos de três minutos, sendo que o aparelho ficou distante do professor cerca de um metro e meio. Os valores máximos obtidos foram, 77,5dB(A) pela manhã, 72,3dB(A) pela parte da tarde e 74,4 dB(A) pelo período noturno. Os valores mínimos obtidos entre os períodos matutino, vespertino e noturno foram 65,27dB(A), 64,29 dB(A) e 62,94dB(A), respectivamente. Para que não houvesse interferência no comportamento dos alunos os pesquisadores adotaram a seguinte metodologia: foram realizadas visitas diárias na escola, antes das devidas medições, acompanhando três professores em suas salas de aula para que os alunos tivessem familiaridade com os pesquisadores, e assim não ocorrer alteração no comportamento dos discentes.

 

 

 

4.      RESULTADOS

 

                      As análises referem-se à avaliação da faixa etária, tempo de serviços, disciplinas que lecionam os possíveis sintomas de doenças que os professores apresentam quais as principais fontes de ruídos, horários com maiores níveis de ruído na área escolar, as mudanças no comportamento e rendimento dos alunos em exposição ao ruído em sala de aula, visto pelos professores, e as possíveis soluções para minimizar os efeitos da poluição sonora no ambiente escolar que influenciam no desempenho dos professores.

A maioria dos professores entrevistados encontra-se na faixa etária entre 36 a 40 anos, representando 31,25% dos pesquisados como mostram o gráfico 01.

 

 

Gráfico01: faixa etária

 

O gráfico 02mostra os principais sintomas de saúde que acometem aos professores pesquisados. Os problemas mais frequentes estão relacionados à garganta 10%, dores nas costas e rouquidão, ambas com 7,69%, seguidas de estresse, problemas com sono e cansaço, todos com 6,92%, entre outros como mostra o gráfico.

Gráfico 02: Principais sintomas

Gráfico 03: Percepção dos professores quanto ao horário com maior intensidade sonora

Com relação aos horários, a maior queixa dos professores está relacionada a intervalos e horários vagos, período de troca da aula, ausência de professor em sala de aula e a grande frequência de carros propagandas nos períodos da manhã e tarde no perímetro escolar.

 

Gráfico 04: Percepção dos professores quanto à mudança no comportamento dos alunos

           

Para os professores, o barulho proveniente tanto das áreas internas como externas, são grandes inimigos do aprendizado escolar. Qualquer alteração que ocorra na área escolar chama à atenção dos alunos, onde 50% apresentam agitação, principalmente com a constante circulação de carros propagandas no perímetro. Essa agitação, segundo os professores, dificulta bastante à concentração, onde 27,77% dos alunos não conseguem voltar ao nível de atenção de antes dos barulhos; 16,67% apresentam desinteresse para a aula e 5,56% apresentam irritação.



         Gráfico 05: Percepção dos professores para as principais fontes de ruídos.

 

Observa-se que, entre as várias fontes de ruídos, 12,75% dos professores entrevistados apontam os próprios alunos como o maior fator de ruído que proporciona desconforto na realização de atividades em sala de aula e 11,76% apontaram que os corredores da escola são as principais causas de poluição sonora, devido à grande agitação dos alunos quando estão sem aula. Esta constatação pode ser vista no gráfico 04.

 

Gráfico 06: Quanto a possíveis soluções para amenizar os altos níveis de poluição sonora

 

Segundo o gráfico, 30% dos professores acreditam que os índices de poluição sonora podem ser melhorados com a manutenção do imobiliário escolar; 25% acreditam que trabalhos voltados para a conscientização dos alunos, que são os maiores produtores de ruídos, podem amenizar este problema; 10% concordam que o ruído externo poderia ser amenizado se houvesse proibição ou conscientização da comunidade local em diminuir o tráfego de carros propagandas e obras próximas à escola; 10% relatam que uma intervenção mais rigorosa por parte da direção escolar poderia ter resultado. 10% admitem como solução uma cobrança para estipular que os celulares devam permanecer na função silenciosa. 10% se abstiveram em responder. Os dados obtidos na EEEM Dr. Fábio Luz conforme a figura 02 nos traz resultados muito acima do permitido pela NBR 10152 na Figura 02.

 

Figura 02: Níveis permitidos em área escolar NBR 10152

Description: Imagem3.jpg

 

 

 

Figura 03: Níveis de ruídos obtidos na área escolar

Description: Imagem2.jpg

            Os dados experimentais das salas de aulas, bibliotecas, laboratórios, quadra e área externa da escola não se adequaram ao estabelecido pela norma NBR 10.152, pois, como já foi citado acima, as médias exibem valores acima de 70dB(A). Logo, o nível de estresse adquirido no ambiente no decorrer do tempo, pode, portanto, levar à graves problemas físicos e psicológicos, uma vez que, segundo a OMS, os níveis acima de 70dB(A) já levam o corpo humano a um estado de alerta e estresse degenerativo, causando assim as doenças relacionadas usualmente ao estresse.

            Deste modo, tais observações nos permitem constatar que os depoimentos dos profissionais envolvidos diretamente na pesquisa e as análises experimentais, reforçam a importância da preservação da qualidade do ambiente sonoro, especialmente no espaço escolar, pois dele depende o equilíbrio das relações interpessoais dos sujeitos que atuam na comunidade escolar, o rendimento dos discentes e, sobretudo, seus plenos desenvolvimentos.

 

5.      DISCUSSÕES

 

            A nocividade do ruído é gerada pela duração, repetição e intensidade medida em forma de decibéis (dB). Os efeitos nocivos da poluição sonora podem ser graduados em três grupos:

De 30 a 60 decibéis, provoca perturbações simples.

De 60 a 90 decibéis, surgem perturbações perigosas como efeitos mentais e degenerativos.

De 90 a 120 decibéis, ocorrem alterações na saúde com transtornos dos mais variados tipos cardíacos, estresse. Acima de 120 decibéis pode causar surdez.

            A OMS considera toleráveis os ruídos até 50 dB(A).Os níveis sonoros medidos na escola, infelizmente, estão muito acima do que a NBR 10.152 determina conforme a tabela 01. Nos três horários M/T e N com os alunos em sala de aula os níveis ultrapassam os 70 dB(A). O estresse degradativo do organismo começa a partir de 65 dB(A) com desequilíbrio bioquímico, aumentando o risco de enfarte, derrame cerebral, infecções, osteoporose etc.

            O excesso de colesterol liberado devido ao aumento de ruídos justifica resultados como o do Congresso da Alemanha, onde comprovam que populações, submetidas a níveis entre 65 e 70 dB(A), tiveram 10 % a mais de infarto e entre 70 e 80 dB(A), 20 % a mais.

            Em relação ao sono, 6,92% dos professores queixam-se que têm a sensação de que dormiram pouco. O sono, a partir de 35 dB(A), vai ficando superficial, à 75 dB(A) atinge uma perda de 70 % dos estágios profundos, restauradores orgânicos e cerebrais. De fato, tal interferência no sono, pode interferir no desempenho e criatividade dos professores em sala de aula, onde 5,38% dizem sentir indisposição para o trabalho.

            Quando se dorme menos do que sua média, ou poupando mediadores químicos do sono no cérebro ao privá-lo, ocorre uma curiosa compensação por ficar fisicamente mais ativo durante o dia, mas reagindo menos intelectual e criativamente, e vice-versa. Isto representa, entre os professores da pesquisa, um quadro de 6,15% que revelam cansaço mental.

            É importante destacar que o ensino-aprendizagem fica comprometido nos ambientes com níveis de poluição sonora acima do estipulado pela NBR 10.152. Autores como Bradley & Picard, (1997), citam que em escolas normais de Ensino Médio os estudantes conseguem reconhecer 66% das palavras faladas pelos professores, o que torna a situação alarmante. Soma-se a isto a fadiga vocal experimentada pelos professores que tentam ultrapassar os valores do ruído de fundo. O que de fato é constatado na pesquisa onde 7,69% apresentam rouquidão e 10% apresenta dores na garganta.

            Um ambiente ruidoso prejudica a comunicação com outras pessoas que estejam por perto, pois, além de se ter que falar mais alto, haverá dificuldade em se fazer entender e de compreender o que falam. Para Medeiros (1999), ruídos elevados podem causar transtornos na comunicação, como o mascaramento da voz, prejudicando a compreensão da fala.

            Costa (1989) afirma que pessoas submetidas aos ruídos, mesmo por períodos curtos como dez ou quinze minutos, apresentam contração das paredes dos vasos, ocorrendo no coração um aumento do número de batimentos, podendo haver irregularidade do ritmo, com alteração na quantidade de sangue bombeado e aumento da pressão arterial sistólica e diastólica.

            Libardi e Vieira (2005) realizaram um estudo a fim de investigar a percepção de professores universitários sobre suas próprias vozes e as possíveis relações com o ruído em sala de aula. Encontraram em relação às queixas de saúde dos professores, que os sintomas mais relatados se referem ao sistema digestivo (gastrite, azia, má digestão) e auditivo (zumbido), que também ocorrem com os professores desta escola.

            A poluição sonora deve cada vez mais ser vista com atenção pelos órgãos responsáveis, pois o barulho piora a qualidade de vida, causa irritabilidade, afeta o sono, dificulta a concentração no trabalho e nos estudos, causa perda da capacidade auditiva, aumenta a frequência arterial e pode causar infartos e derrame cerebral. Só em 2007, segundo a OMS, 210mil pessoas no mundo tiveram infartos fatais devido ao excesso de barulho.

 

 

 

6.      CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Ao final da pesquisa, pôde-se perceber que os professores sofrem de diversos sintomas que podem afetar sua saúde e que, tais sintomas, podem estar associados aos altos índices de poluição que afetam o ambiente escolar, principalmente nas salas de aulas. Considerando efeitos fisiológicos e psicológicos, há, sem dúvida, bastante interferência na produção e rendimento dos profissionais em sala de aula, devidos à poluição sonora. Os níveis de ruído também interferem de forma negativa no ensino-aprendizagem, provocando nos alunos agitação, desinteresse e desconcentração.

Novas tecnologias e o crescente aumento de automóveis vêm mudando o cenário de pequenas cidades e com isso as escolas também têm sofrido o reflexo deste crescimento com o aumento da poluição sonora. Assim como as escolas das grandes cidades, que estão cercadas por intenso tráfego, construções e o próprio espaço escolar em si, as escolas do interior não se prepararam estruturalmente para amenizar os impactos da poluição sonora. Estudos como estes trazem a necessidade de se pensar em construir escolas com o mínimo de conforto acústico, minimizando os impactos da poluição sonora nas escolas.

Ao realizar este trabalho, perceberam-se quão poucos trabalhos existem na literatura brasileira sobre estudos físicos para esse problema, bem como a necessidade de novos estudos sobre os impactos da poluição sonora nos seres humanos. Os altos níveis de poluição sonora na escola estudada podem de imediato, ser reduzidos com o apoio do poder legislativo, criando no município leis que proíbam a circulação de carros-propaganda transitando nas redondezas do perímetro escolar.

É importante também que os alunos tenham consciência do que é a poluição sonora e quais riscos ela pode trazer e para isso é necessário inserir nos currículos escolares o estudo do som, não somente sob o ponto de vista da acústica, mas também ampliar está área de estudo em parceria com outras disciplinas, trabalhando esta temática de forma contextualizada e interdisciplinar, buscando levar para a escola projetos que envolvam o espaço formal e também o não formal, fazendo das ruas, dos bairros ou quaisquer outros locais, extensões da escola para que a comunidade tenha conhecimento dos problemas que a escola sofre, tornando os alunos mais participativos, críticos e transformadores do espaço em que vivem.

 

 

7.      REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos