Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
07/12/2014 (Nº 50) LIXO URBANO: PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS COMERCIANTES DO BAIRRO DE SÃO JOSÉ, RECIFE-PE
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1919 
  

Lixo Urbano: Percepção ambiental dos comerciantes do bairro de São José, Recife-PE

 

 

Yenê Medeiros Paz1, Marília de Macêdo Almeida2, Joycyely Marytza de Araujo Souza Freitas3, Mércia Damasceno Fonseca4, Romildo Morant de Holanda5

1-      Engenheira Agrícola e Ambiental, Mestranda em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

Email: yenemedeiros@hotmail.com

2-      Agrônoma, Mestranda em Engenharia Ambiental (UFRPE)

Email: mariliaa.almeida@yahoo.com.br

3-      Licenciada em Química, Mestranda em Engenharia Ambiental pela (UFRPE)

Email: jmarytza@yahoo.com.br

4-      Farmacêutica, mestranda em Engenharia Ambiental pela (UFRPE)

Email: mercia.fonseca@gmail.com

5-      Professor do Departamento de Tecnologia Rural, Programa de Pós Graduação em Engenharia Ambiental (UFRPE)

Email: romildomorant@gmail.com

 

 

Resumo

A geração dos resíduos sólidos pela população varia de acordo com uma série de fatores. Os fatores de geração devem ser analisados para que sejam encontradas solução para o volume de resíduos que tem sido destinado de forma inadequada nos últimos tempos. A percepção ambiental dos indivíduos tem fundamental importância na gestão dos resíduos sólidos, pois através da compreensão do pensamento das pessoas as ações necessárias podem ser tomadas para promover a sensibilização e conscientização. A presente pesquisa objetivou fazer um levantamento da Percepção ambiental dos comerciantes do bairro de São José da cidade do Recife em Pernambuco para viabilizar o desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental baseados na realidade local. Como instrumento da pesquisa foi utilizado como procedimentos técnicos a pesquisa bibliográfica e o levantamento de dados primários a partir da observação sistemática e  aplicação de questionários. Os tipos de estabelecimentos comerciais entrevistados consistiram principalmente em ambulantes com (28,57%), dos entrevistados 52,38% eram vendedores, e a faixa etária concentrou-se em 40-49 anos (30,95%).  Os tipos de resíduos produzidos pelos estabelecimentos consistem predominantemente em materiais recicláveis como Plástico (38%) e Papel/Papelão (30%). 57,14% dos entrevistados disseram que o descarte do lixo não causa nenhum transtorno. É nítida a necessidade de se fazer trabalhos de conscientização com a população da localidade.

 

1.    Introdução

Na atualidade, uma das grandes preocupações ambientais está relacionada aos resíduos sólidos gerados pelas atividades humanas, pois conforme Siqueira e Moraes (2009) o volume gerado por esses têm se avolumado nas sociedades contemporâneas, implicando a deterioração da qualidade de vida nos grandes centros urbanos, através de riscos à saúde pública, degradação ambiental, além dos aspectos sociais, econômicos e administrativos envolvidos na questão.

Conforme Cunha e Caixeta Filho (2002) a geração dos resíduos sólidos produzida por uma população depende de diversos fatores como renda, época do ano, modo de vida, movimento da população nos períodos de férias e fins de semana, além dos métodos utilizados para acondicionamento de mercadorias e a utilização de embalagens não retornáveis.

O conceito de Resíduos Sólidos é descrito pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010):

material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

A PNRS (BRASIL, 2010) ainda traz alguns conceitos importantes acerca do tema como gerenciamento, geradores, gestão integrada, reciclagem, rejeitos e responsabilidade compartilhada, que são fundamentais para compreensão no universo estudado. A responsabilidade compartilhada deve ser compreendida por toda a sociedade e agentes específicos como fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos para que desta forma as destinações dos resíduos ocorram de forma ambientalmente adequada.

A população no geral ainda utiliza bastante o termo “lixo” fazendo referência aos resíduos sólidos.  O termo é derivado do latim lix, que significa cinzas, pois uma grande quantidade dos resíduos eram formados por cinzas oriundas da queima de lenha (DIONYSIO & DIONYSIO, 2009). Segundo os autores, a denominação lixo ainda é muito utilizada para denominar materiais sem serventia, sem valor agregado e que não poderá ser reutilizado. Sabe-se que com o avanço da reciclagem dos materiais, muitos itens descartados poderão ser transformados e compor outros materiais.

Uma problemática na gestão dos resíduos sólidos é que como o descarte dos resíduos se dá em pontos distantes dos locais de geração, a população não visualiza os problemas que podem ser trazidos pelo acúmulo desses resíduos. Com isso a população em alguns casos dá preferência pela aquisição de novos materiais ao invés de optar por um reuso ou reciclagem, pois a ação de um indivíduo se relaciona diretamente a percepção que ele possui de determinada situação.

Segundo Gonçalves e Hoeffel (2012) cada indivíduo tem sua própria compreensão do meio ambiente, pelo seu próprio olhar, suas experiências, expectativas e ansiedades. Os autores relacionam os níveis de percepção a elementos como cultura, faixa etária, gênero, nível socioeconômico, entre outros, que revelam percepções sob diversas formas. Todas as manifestações psicológicas dos indivíduos são constantes e afetam sua conduta, principalmente de forma inconsciente (FAGGIONATO, 2011).

Nesse contexto, compreender os aspectos considerados positivos e negativos de cada segmento da sociedade permite desenvolver  ações adequadas às necessidades específicas de cada grupo, para que as atitudes necessárias sejam adotadas de forma coerente (TORRES & OLIVEIRA, 2008). Para Melazo (2005) o estudo da percepção ambiental é essencial para compreensão das inter-relações entre o homem e seu ambiente, além de suas expectativas, satisfações, valores e como este reage frente às ações sobre o meio. Segundo o autor além da simples compreensão da percepção do indivíduo, o estudo deve promover a sensibilização e a consciência. Para Faria et al. (2012) para o alcance da sustentabilidade, são necessárias práticas educativas que busquem a valorização do indivíduo e a compreensão de seu papel na sociedade, como cidadão capaz de criticar e transformar sua realidade.

 Tendo em vista as problemáticas locais de geração de resíduos sólidos, a presente pesquisa objetivou fazer um levantamento da Percepção ambiental dos comerciantes do bairro de São José da cidade do Recife em Pernambuco para viabilizar o desenvolvimento de trabalhos de educação ambiental baseados na realidade local.

 

 

2.    Material e Métodos

O estudo realizado foi do tipo descritivo, de caráter qualitativo e quantitativo, caracterizando-se como levantamento de dados (AQUINO, 2010).

Como instrumento da pesquisa foi utilizado como procedimentos técnicos a pesquisa bibliográfica e o levantamento de dados primários a partir da observação sistemática e  aplicação de questionários. A pesquisa bibliográfica foi subsidiada por materiais publicados compostos por: livros, artigos de periódicos, monografias, dissertações, teses e informações seguras disponíveis na internet, caracterizando pela utilização de dados secundários.

Foi definido como objeto de estudo o bairro de São José (Figura 1), pertencente ao município de Recife-PE, área onde predomina o comércio e é referente a uma das regiões mais antigas da cidade. Foram abordadas 19 ruas do bairro selecionadas ao acaso e a observação sistemática foi realizada em condições controladas e pré-estabelecida pelos questionamentos do formulário (GIL, 2010). Durante a observação in loco foram realizados registros fotográficos.

O bairro de São José é considerado um bairro eminentemente popular, com suas ruas estreitas e sobrados sóbrios de porta e janela, sofreu durante décadas intervenções públicas que visavam modernizá-lo e higienizá-lo, tornando-o conforme aos padrões pretendidos por uma elite que queria ver o Recife como espelho da modernidade européia (GUILLEN, 2009). Nos dias atuais além da composição antiga o bairro é composto por lojas de vestuário, materiais de construção, farmácias, alimentação, grande quantitativo de vendedores ambulantes, etc.

 

Figura 1 - Área de limitação do estudo no Bairro de São José, Recife-PE

Fonte: Google Maps

           

O levantamento de dados primários na pesquisa de campo foi realizado por meio de metodologia com a participação popular, orientada para uma interação entre pesquisador e pesquisado, por meio de entrevistas com aplicação de questionários seguindo as orientações propostas por El-Deir (1999) e Szymczaket al. (2012). Foram aplicados 42 questionários, semiestruturados, com perguntas objetivas e subjetivas,de forma aleatória a estabelecimentos comerciais formais e informais, sendo estes Ambulantes, Lojas de vestuário, Restaurantes e Lanchonetes, Lojas de móveis e eletroeletrônicos, Lojas de artesanato, Farmácias, Óticas, Cosméticos, Manutenção de máquinas, Livraria e Papelaria, a fim de se compreender os tipos predominantes de resíduos gerados, o serviço de coleta e varrição, e a percepção ambiental. A aplicação dos questionários foi realizada no mês de outubro de 2013.

A seleção do entrevistado pertencente a cada estabelecimento comercial se deu pela disponibilidade para responder aos questionamentos, indicada muitas vezes pelo responsável pelo estabelecimento. Além da aplicação de questionários, realizou-se entrevistas com quatro funcionários do serviço de varrição, que desenvolvem atividades dentro da área limite do estudo. Estas serviram para compreensão da realidade estabelecida.

Para análise dos dados foi empregada à estatística descritiva, na forma de distribuição de frequência pontual e aplicação da frequência relativa (SILVESTRE, 2007).

 

3.    Resultados e Discussão

 

Para se discutir acerca das problemáticas da geração e gerenciamento dos resíduos sólidos, assim como a percepção dos comerciantes entrevistados é fundamental a descrição do público entrevistado. Como a seleção do entrevistado foi referente à disponibilidade para responder aos questionamentos, estes possuíam cargos diferenciados.

Dos entrevistados 52,38% eram vendedores, 21,43% proprietários, 9,52% funcionários sem cargo definido, 9,52% responsáveis pelo estabelecimento, e 2,38% balconistas, caixas e autônomos. A faixa etária concentrou-se em 40-49 anos (30,95%), os demais entrevistados possuiam idades entre 50-59 anos (26,19%), 18-29 anos (21,43%), 30-39 anos (16,67%), 60-65 anos (4,76%) constatando o perfil demográfico urbano-contemporâneo, da qual a população com idade elevada encontra-se ativa no mercado de trabalho, entre outros aspectos (SILVA et al., 2012).

Em referência ao gênero, 54,76% foram do sexo feminino enquanto que 45,24% são do sexo masculino. O quantitativo de mulheres pode ter relação ao apontado por Caldeira (2009), como uma elevação no número de mulheres chefiando as famílias atualmente.

Com relação a escolaridade, o maior percentual possui o ensino médio completo (38,10%), contando também com um público de Fundamental incompleto e Médio incompleto (14,29%), Fundamental completo (4,76%), Superior incompleto e sem escolaridade (2,38%), além de 23,81% que não informaram. O nível de escolaridade impacta nos dados sobre padrão de consumo, uma maior escolaridade prevê maior conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente; bem como expressa a necessidade de consumir baseada na reflexão de produtos mais sustentáveis ou que possuam políticas voltadas para destinação dos resíduos sólidos (CALDEIRA, 2009; SILVA et al., 2012).

Os tipos de estabelecimentos comerciais entrevistados consistiram principalmente (Figura 2) em ambulantes com (28,57%), seguido de lojas fixadas no Mercado de São José com 14,29%. As lojas trabalhadas dentro do mercado são referentes à comercialização de artesanato e de frios. O segmento gastronômico também tem forte representação no bairro estudado, fazendo referência a 11,90% do total de entrevistados.

Description: C:\1Yenê Paz\Disciplinas do Mestrado\2013.2\Seminários II\grafico 1.jpg

Figura 2. Tipos de estabelecimentos comerciais pesquisados

 

 

Os tipos de resíduos produzidos pelos estabelecimentos comerciais entrevistados (Figura 3), descrito de acordo com os entrevistados, consistem predominantemente em materiais recicláveis como Plástico (38%) e Papel/Papelão (30%). Com isso existe um número significativo de estabelecimentos comerciais que relataram realizar a coleta seletiva (90,48%). Porém os coletores disponibilizados pela empresa responsável pela manutenção de resíduos sólidos urbanos na cidade do Recife são lixeiros comuns da cor vermelha. Em todo bairro só é possível encontrar coletores seletivos no terminal de ônibus localizado no Cais de Santa Rita e em frente à instituição do comércio do Recife.

 

 

 

Figura 3. Tipo de resíduo produzido pelos estabelecimentos comerciais pesquisados

 

 

 

Description: C:\1Yenê Paz\Disciplinas do Mestrado\2013.2\Seminários II\gráfico 2.jpg

É expressivo o percentual (90,48%) dos que realizam a coleta seletiva dos materiais recicláveis gerados. E de acordo com os entrevistados, há separação do material para que o serviço de limpeza urbana realize o recolhimento (42,86%), não sabem a destinação (42,86%), entregam aos catadores (11,90%), e entregam para uma recicladora (2,38%). A maior parte dessas destinações não gera renda para o estabelecimento (73,81%), outros  não souberam informar (21,43%), e do total os que  recebem incentivo financeiro são a minoria (4,76%).

Para verificação do volume médio de resíduos produzidos, fez-se uma análise comparando-se com o quantitativo de sacolas de supermercado geradas por cada estabelecimento. Dessa forma estes conseguiram apontar com maior precisão o quantitativo gerado. Em termos de volume, 50% apontaram para aproximadamente 0,04m3, 40,91% não sabiam ao certo, 37,27%  geram em torno de 0,02 m3, 16,36% em torno de 0,1m3 e 0,91% geram 0,05m3. Com relação ao volume de resíduos produzidos, a legislação municipal do Recife 14.903/1986 em seu artigo 7º, informa que o descarte acima de 0,3 m³ de resíduo sólido pelos comerciantes ocasiona multa. Mas a legislação indica que nos casos em que o quantitativo for superior em peso, o proprietário deve solicitar ao órgão responsável pela limpeza pública da cidade para que seja realizada a coleta do material e efetuado o pagamento pelo excesso, sendo isento da multa (RECIFE, 1986).

Foi questionado aos estabelecimentos onde era efetuado o acondicionamento e armazenamento dos resíduos, a maioria das respostas apontou para frentes de loja (54,76%), lixeiras das ruas (19,05%), em ruas adjacentes (7,19%), atrás da loja (7,19%), nos coletores da prefeitura (7,19%) e outros (7,14%).  Ainda que não seja permitido a colocação dos resíduos fora da loja em horário inferior as 18h devido a possibilidade de o estabelecimento receber multa (RECIFE, 1986), constatou-se que a maior parte faz a colocação fora da loja. Alguns ainda mencionaram que aguardam o horário permitido para fazê-lo e enquanto isso os resíduos permanecem dentro do estabelecimento (16,67%). Essa verbalização ocorreu principalmente nos estabelecimentos onde o tipo de resíduo produzido era referente a materiais recicláveis.

Na maior parte das localidades estes afirmaram que a periodicidade da coleta destes resíduos é realizada diariamente (97,62%) e somente 2,38% informaram que este serviço ocorre em dias alternados. Esta diferença nos resultados pode ser devido ao baixo conhecimento sobre este serviço, pois o serviço é realizado de forma completa em todo o bairro. Com relação ao serviço de varrição, ocorre diariamente como apontado por 100% dos entrevistados e sua periodicidade foi variada (Figura 4), nas diferentes localidades em que os estabelecimentos estão inseridos no bairro. Os funcionários do serviço de varrição que foram entrevistados, também corroboraram com essa informação, apontando para a realização do serviço três vezes ao dia, pela manhã, à tarde e a noite. Contudo, a maior dos comerciantes indicou duas vezes ao dia, devido à última varrição ocorrer após o horário de expediente (18horas). Os estabelecimentos informaram que o serviço de varrição atende as necessidades dos lojistas e da população (80%).

 

Description: C:\1Yenê Paz\Disciplinas do Mestrado\2013.2\Seminários II\grafico 3.jpg

Figura 4. Periodicidade do serviço de varrição no bairro de São José segundo os estabelecimentos comerciais

 

 

Também se buscou avaliar a eficiência do serviço de varrição na percepção dos comerciantes, e para 73,81% atende as necessidades. Dos insatisfeitos (26,19%), 7,16% acreditam que a quantidade de varridas é baixa, 4,76% informaram que o ambiente ainda permanece sujo, 4,76% informaram que os consumidores jogam o lixo nas ruas o tempo todo, 4,76% não justificaram sua insatisfação, 2,38% consideram os feirantes como poluidores, e 2,38% mencionaram que nas áreas próximas aos frigoríficos a periodicidade deveria ser maior. Alguns comerciantes mencionaram que eles próprios fazem a limpeza no entorno de suas lojas para manter o ambiente limpo (Figura 5 e 6).

 

Description: F:\Lixo São José\100_2791.JPGDescription: F:\Lixo São José\100_2901.JPG

Figura 5 e 6. Comerciantes realizando a limpeza das áreas próximas aos seus estabelecimentos

 

Ainda que o serviço de varrição seja considerado eficiente pelos estabelecimentos, devido ao acúmulo de resíduos nas ruas do bairro, questionou-se sobre quem seria o maior gerador volume de resíduos. Os resultados apontaram para a população que ao passar pelas ruas deposita seu lixo em local inadequado (42,86%), para os ambulantes (30,61%), os próprios lojistas (24,49%) e não souberam informar (2,04%). É importante destacar que o descarte correto do resíduo sólido contribui efetivamente para diminuição dos riscos biológicos que os trabalhadores, sejam do serviço municipal ou catadores, ficam expostos durante a realização da sua função (LAZZARI & REIS, 2011). Os estabelecimentos também apontaram que o volume de lixo jogado pela população é referente ao número de lixeiras nas ruas que é insuficiente (69,05%).

Segundo Santos (2008) o problema da geração e acúmulo de lixo se evidencia com mais clareza nas áreas urbanas devido à concentração de numerosas fontes geradoras e da necessidade da convivência da população com as diversas etapas necessárias à realização da limpeza urbana. Santos e Dias (2012), ainda indicam que no Brasil existe um grave problema em relação aos resíduos sólidos urbanos, que tanto as pessoas de baixa, como de alta renda, do ponto de vista de atitude, de comportamento, não se sentem remotamente constrangidas de jogar lixo na rua.

 Com relação à percepção ambiental dos estabelecimentos e a disposição inadequada dos resíduos (Figura 7), 57,14% disseram que o descarte do lixo não causa nenhum transtorno, dos que identificam problemas gerados, as respostas apontaram desde a questão visual da sujeira, até doenças provocadas pelo acúmulo de lixo. Alguns entrevistados compreendem o transtorno gerado, mas não conseguem verbalizar problemas relacionados. Dos que desconhecem qualquer transtorno, em conversa informal após a realização da entrevista eles disseram que como estão sempre no interior da loja não visualizam problemas. O entupimento das galerias pluviais, comentado por alguns entrevistados, gera transtornos a população em épocas de alta pluviosidade, pois diversas áreas do bairro ficam alagadas. Isso decorre da área ser altamente impermeabilizada pelas calçadas e asfalto, tendo como escoamento das águas as galerias pluviais que se encontram na maioria das ruas obstruídas pelos resíduos depositados (Figura 8 e 9).

 

Description: C:\1Yenê Paz\Disciplinas do Mestrado\2013.2\Seminários II\gráfico 4.jpg

Figura 7. Problemas gerados pela disposição inadequada de acordo com os estabelecimentos comerciais

 

 

Na oportunidade também se verificou a compreensão da relação da disposição inadequada dos resíduos nas ruas e a influência nas vendas do estabelecimento. Para 54,76% não há nenhuma influência, os demais (45,24%) informaram que é ruim, pois muitos consumidores não se sentem confortáveis ao caminhar por um ambiente sujo e culminam buscando outras opções para realizar suas compras como os shoppings.

 

 

 

 

 

Description: F:\Lixo São José\100_2852.JPGDescription: F:\Lixo São José\100_2875.JPG

Figura 8 e 9. Resíduos depositados nas galerias pluviais

 

Através das observações in loco, foi verificado que as disposições das lixeiras não segue um padrão de distâncias. Podendo-se constatar que existem ruas pequenas com número elevado de lixeiras, entretanto outras com ausência total (figura 10) ou com um quantitativo muito baixo e disposição de com grandes distâncias.

Description: F:\Lixo São José\100_2903.JPG

Figura 10. Disposição inadequada dos resíduos sólidos em rua com ausência de lixeiras.

 

Além da problemática de elevadas distâncias entre as lixeiras, muitas delas estão subutilizadas devido à abertura do coletor não ser compatível aos resíduos depositados (Figura 11), utilizadas para outros fins (Figura 12), ou em condições precárias. De acordo com Reis e Ferreira (2008) compete à administração municipal orientar a população e incentivar o uso adequado de recipientes para o acondicionamento do lixo.

 

Description: F:\Lixo São José\100_2841.JPGDescription: F:\Lixo São José\100_2857.JPG

 

Figura10 e 11. Coletores subutilizados e caixas de papelão para colocação de resíduos de maior dimensão; Coletor utilizado por ambulante para colocação de material particular

 

 

6. Conclusões

É nítida a necessidade de se fazer trabalhos de conscientização com a população da localidade. Através da Educação Ambiental os indivíduos podem se apropriar dos princípios básicos para conservação do meio em que vivem e se identificarem como componentes do sistema, além de passarem a compreender a amplitude do meio ambiente.

É fundamental que a gestão pública insira em seu planejamento orçamentário a realização de treinamentos para formação de multiplicadores ambientais, incentivando a disseminação de boas práticas. Neste ponto é importante frisar que a continuidade dos trabalhos facilita a absorção da mensagem e contribuição da população.

No bairro de São José por ser um atrativo turístico da cidade do Recife, há elevada movimentação de pessoas no local. A disposição inadequada de resíduos nas ruas provoca poluição visual e ambiental, e por consequência diminuição no número de  visitantes na localidade. Entupimento das galerias, insetos e roedores, e doenças foram algumas das problemáticas citadas pelos lojistas, mas a diminuição dos consumidores não é diretamente associada à disposição de resíduos nas ruas.

Através dos resultados pode ser observado que o quantitativo de lixeiras nas ruas do bairro São José não é suficiente e não atende as demandas da população. Essa quantidade precisa ser aumentada e o espaçamento entre elas reduzido. É necessário também uma manutenção dessas, pois muitas se encontravam com outro uso e/ou danificadas. Outra problemática encontrada é o formato dos coletores de lixo que não atendem a tipologia dos resíduos gerados, como foi demonstrado via registro fotográfico e leitura de alguns dos entrevistados. Dessa forma indica-se a inserção de lixeiras com abertura de maior dimensão para absorver mais tipos de resíduos.

A empresa responsável pela gestão dos resíduos sólidos urbanos na cidade do Recife deveria inserir coletores seletivos em pontos estratégicos do bairro para incentivar a segregação dos resíduos conforme sua composição.

Deve existir um trabalho de comunicação junto aos comerciantes visto que estes não obedecem às exigências da legislação municipal quando a disposição dos resíduos sólidos, colocando grandes quantidades de lixo nas ruas do bairro e causando transtornos para outros estabelecimentos, população e consumidores.

Referências

AQUINO, I. S. Como escrever artigos científicos: sem “arrodeio” e sem medo da ABNT. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

BRASIL. Lei nº. 12.305, de 02 de agosto de 2010 – Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Diário Oficial União, República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 03 de ago., 2010.

CALDEIRA, M. M.; REZENDE, S. HELLER, L. Estudo dos determinantes da coleta de resíduos sólidos urbanos em Minas Gerais. Revista Engenharia Sanitáriae Ambiental, Rio de Janeiro, v.14, n.3, p. 391-400, 2009.

CUNHA, V.; CAIXETA FILHO, J. V. C. Gerenciamento da coleta de resíduos sólidos urbanos: estruturação e aplicação de modelo não-linear de programação por metas. Gest. Prod., São Carlos,  v.9, n. 2,  2002.

DIONYSIO, L. G. M. ; DIONYSIO, R., B. Lixo urbano: descarte e reciclagem de materiais. 2009. Disponível em: http://web.ccead.puc-rio.br/condigital/mvsl/Sala%20de%20Leitura/conteudos/SL_lixo_urbano.pdf Acesso em: 10 abr. 2014.

EL-DEIR, S. G. Gestão ambiental: I - Percepção ambiental e caracterização sócio-econômica e cultural da comunidade de Vila Velha, Itamaracá - PE (Brasil). Trabalhos Oceanográficos, vol. 27, n. 1, 175 – 185 p.. 1999.

FAGGIONATO, S. Percepção Ambiental. Material e Textos. 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 mar. 2014.

FARIA, M. T. S.; ROSSONI, H. A. V.; ROSSONI, F. P. F.; PASSOS, M. O.; FARIA, B. R. N.; LEMOS, C. F. Análise da percepção ambiental sobre o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos de uma cidade universitária pertencente à região metropolitana de Belo Horizonte – Minas Gerais / Brasil. Revista ELO - Diálogos em Extensão, v. 1, n. 01, p. 1-18, 2012.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GONÇALVES, N. M.; HOEFFEL, J. L. M. Percepção ambiental sobre unidades de conservação: os conflitos em torno do parque estadual de Itapetinga – SP. Revista VITAS – Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade, n. 3, 2012.

GUILLEN, I. C. M. Mercado de São José: contando histórias em um lugar de memória. ANPUH – XXV Simpósio Nacional de História, 8p. Fortaleza, 2009.

LAZZARI, M. A.; REIS, C. B. Os coletores de lixo urbano no município de Dourados (MS) e sua percepção sobre os riscos biológicos em seu processo de trabalho. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 8, p. 3437-3442, aug. 2011.

MELAZO, G. C. Percepção ambiental e educação ambiental: uma reflexão sobre as relações interpessoais e ambientais no espaço urbano. Olhares e trilhas, Uberlândia, Ano 6, n. 6, p. 45-51, 2005.

RECIFE. Lei nº 14.903,  03 de outubro de 1986. EMENTA: Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos atos ofensivos à limpeza urbana e dá outras providências. Diário Oficial da Cidade do Recife, Recife, 1986. Disponível em: Acesso em: 22 out. 2013.

REIS, J. P. A. dos; FERREIRA, O. M. Aspectos Sanitários Relacionados à Apresentação do Lixo Urbano para Coleta Pública.Universidade Católica de Goiás, Goiânia, dezembro de 2008. 

SANTOS, L. C. dos. A Questão do Lixo Urbano e a Geografia. 1° SIMPGEO/SP, Rio Claro, 2008.

SANTOS, M. C. L. dos; DIAS, S. L. F. G. Resíduos sólidos urbanos e seus impactos socioambientais. São Paulo: IEE-USP, 82p. 2012.

SILVA, H.; BARBIERI, A. F.; MONTE-MÓR, R. L. Demografia do consumo urbano: um estudo sobre a geração de resíduos sólidos domiciliares no município de Belo Horizonte. Revista Brasileira de Estudos de População, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, p. 421-449, 2012.

SILVESTRE, A. L. Análise de Dados e Estatística Descritiva. São Paulo: Escolar, 2007.

SIQUEIRA, M. M.; MORAIS, M. S. Saúde coletiva, resíduos sólidos urbanos e os catadores de lixo. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 6, p. 2115-2122, 2009.

SZYMCZAK, D. A.; BRUN, F. G. K.;  KLEINPAUL, I. S.; MARAFIGA, J. S.; KRAMPE, A. L.. Percepção Ambiental na Gestão de Espaços Públicos: O Caso da Cohab Fernando Ferrari, Santa Maria, RS. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental., v. 7, n. 7, p. 1500-1509, 2012.

TORRES, D. F.; OLIVEIRA, E. S. Percepção ambiental: instrumento para educação ambiental em unidades de conservação. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient., Rio Grande, v. 21, p. 227-235, 2008.

Ilustrações: Silvana Santos