Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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07/12/2014 (Nº 50) DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DO EQUILÍBRIO PLANETÁRIO
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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DO EQUILÍBRIO PLANETÁRIO

 

 

Glória Cristina Cornélio Nascimento

¹Doutoranda do PRODEMA/UFPB; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPB); Licenciada em Biologia (UVA); Técnica Ambiental (IFPB); Integrante do Comitê Orla de Lucena-PB e da ONG MAR. E-mail: gccornelio@hotmail.com 

 

 

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Mestrando do PRODEMA/UFPB; Especialista em Educação (IESP); Licenciado em Biologia (UFPB); Bolsista Capes; Pesquisador integrante do GEPEA-GEPEC da UFPB; Presidente da ONG MAR. E-mail: ecordula@hotmail.com

 

 

RESUMO

 

O planeta passa por profundas transformações ambientais que afetam todas as formas de vida que nele habitam, evidenciadas pelo fenômeno do aquecimento global, em virtude da ação antrópica sobre o planeta, motivada sistema econômico capitalista que estimula o consumismo e, como consequência, maior exploração dos recursos naturais ao longo do tempo. Este quadro precisa urgentemente mudar, através da Educação Ambiental como processo de sensibilização dos indivíduos e na promoção de transformações de valores e atitudes que atinjam o âmago da essência humana. Desta forma, com uma mudança de percepção de mundo, cada indivíduo poderá contribuir de forma decisiva para desenvolver em sua comunidade, com reflexos na sociedade, da tão almejada sustentabilidade ambiental.

 

Palavras-Chave: Sustentabilidade; Recursos Naturais; Meio Ambiente.

 

 

 

 

1. Introdução

 

O desenvolvimento do modo de vida contemporâneo tem sua história calcada na utilização dos recursos naturais, que teve seu início há aproximadamente 1,7 milhões de anos, com o surgimento do Homo erectus, considerado por Oliveira (1998), como o primeiro homem de verdade, onde, nesta época, havia uma vivência de igualdade de relações intrínsecas com o meio ambiente e dele era explorado apenas o essencial à sobrevivência das comunidades. Porém, com a evolução social do ser humano, formação das comunidades e contínua formação das cidades houve modificações e a necessidade pelos recursos foi crescente em proporção com o aumento populacional, dando início as reais mudanças do ambiente natural, que se agravaram com a era industrial, início da era do capitalismo e do consumismo (CÓRDULA, 2012a; CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012a).

            A sociedade contemporânea se desenvolveu ao longo de sua história baseada no modo de produção capitalista, onde o quantitativo do lucro econômico prevaleceu sobre o qualitativo das relações sociais humanas (Figura 1), o que levou a humanidade a uma ascensão vertical no último século, porém, com aceleração e agravamento dos problemas socioambientais, e que ainda, continuam a se repetir apesar da expansão e do desenvolvimento científico e tecnológico em todas as áreas do conhecimento, o que mostra um paradoxo contínuo na nossa espécie (CÓRDULA, 2010a; 2012b).

 

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Figura 1 - Ação antrópica sobre o planeta em virtude do atual modelo socioeconômico de estímulo ao consumismo.

 

Fonte: Os Autores, 2014.

 

 

            Segundo Capra (2006a), pesquisas já mostraram que para as diferentes sociedades no globo ao longo da história da civilização humana, houve momentos de ascensão e declínio, causados exatamente por problemas semelhantes aos que vivenciamos hoje na sociedade ocidental. As sociedades que continuaram a existir foram devido às que respostas positivas que conseguiram ter e superaram tais problemas, outras como: a Asteca, Maia, Assíria, Helênica etc., não conseguiram superar seus paradigmas e mazelas e, por esta razão, tiveram um declínio acelerado passando a registros históricos. 

            Conseguir superar a crise social e ambiental determinará o futuro da humanidade, porém, a visão cartesiana, positivista e capitalista a que estamos sendo submetidos ao longo do tempo, impossibilita o ser humano de conseguir abstrair e detectar as ramificações que sustentam a vida por toda a biosfera, das suas interações e interdependências (bióticas e abióticas) que possibilitam a sua existência neste planeta (CAPRA, 2006b; CÓRDULA, 2010a). A percepção necessária para conseguirmos estagnar os processos de degradação, consumo e poluição seria pela adoção e internalização de uma visão sistêmica do planeta (CÓRDULA, 2011a). Caso contrário, estaremos fadados a continuar cometendo os mesmos erros, assim como proferiu o índio Marcos Terena: “tudo o que fazemos estamos construindo alguma coisa, até mesmo para as pessoas que não nasceram, que vão nascer um dia. Tudo o que construímos hoje vai recair sobre os seres humanos futuros” (MORIN, 2000, p.22).

 

 

2. O Paradigma Atual

 

Dias (1998) afirma que ao longo das décadas o ser humano vem modificando o meio ambiente, passando de um estado de equilíbrio entre as partes dos ecossistemas, para o estado atual com desequilíbrios e diversos problemas ambientais. Lovelock (2006), coloca em sua obra que estes danos ambientais voltam-se a espécie humana - aceleradora e causadora dos mesmos - a nós mesmos, por não perceber a frágil, tênue mútua ligação com o planeta, e, desde que conseguimos despertar para o planeta sistêmico, a humanidade está lutando para expandir a visão da Terra viva Gaia, na busca da homeostase planetária. Portanto, problemas ambientais são todos os danos que ocorrem ao meio ambiente de forma direta ou indireta, o que acarreta desequilíbrio ecológico no meio biótico (seres vivos) e abiótico (GRISI, 2000).

 

É bem verdade que o homem soube explorar e utilizar os recursos da biosfera para viver melhor, mas desde o século XIX essa evolução tem proporcionado vantagens imediatas, sem considerar nem prever as consequências, a longo prazo, de tais atividades para o meio ambiente. A humanidade está tomando consciência da envergadura desses danos e destruições (BRASIL, 1997, p. 23).

 

O ser humano constrói e reconstrói seu modo de vida a partir de sua consciência, formando assim, a nossa sociedade, que por sua vez, com todos os seus conceitos religiosos, étnicos, culturais, éticos, científicos, tecnológicos e econômicos, trazem reflexos na mudança do ambiente natural para acomodação dos centros urbanos e rurais (CÓRDULA, 2012a). E é nas áreas urbanas das grandes cidades que há um metabolismo intenso, consumindo em um nível elevado das matérias primas, o que demanda e gera um grande fluxo de energia (elétrica, calor, química, etc.) e como consequência, com grande produção de resíduos (poluição – fuligem, poeira, gases tóxicos, lixo, etc.) que retornam ao ambiente causando desequilíbrios (DIAS, 1998; GUATTARI, 1990). A consequência deste modelo destrutivo e antiambiental assim considerado por Vernier (1994), vem trazendo visíveis alterações ao planeta, em todos seus continentes, sendo representados principalmente a nível global, pelas modificações climáticas que se mostram a cada ano (FELDMAN; MACEDO, 2001), e que provocam a diminuição de nossos recursos naturais como o caso evidente das fontes de água potável e dos solos férteis e aráveis (SÃO PAULO, 1999). Em poucos séculos, o modelo de desenvolvimento da humanidade irá destruir aquilo que, hoje, concebemos como meio ambiente (TANNER, 1978; BRASIL, 1997; DIAS, 1998; JACOBI, 1999).

No Capítulo VI - Do Meio Ambiente, da Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988a, p. 40), em seu Art. 225, que trata do meio ambiente, há em seu texto a seguinte afirmação:

 

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

 

            Para que as premissas da Constituição ocorram, é necessário uma intervenção, como a que Vernier (1994) coloca como uma solução em seis alavancas de ação: (1) Leis mais efetivas de prestação, criação de unidades de conservação, de punitivas na emissão de poluentes e fiscalização mais atuante; (2) Estímulos econômicos e fiscais para produção industrial limpa, na logística reversa, na redução da produção de resíduos sólidos; (3) Cidadãos e associações ativas na luta pela proteção e conservação dos recursos naturais e na fiscalização dos gastos públicos destinados a estas mudanças; (4) Uma educação sobre o meio ambiente (Educação Ambiental) na promoção da sensibilização da sociedade, buscando mudar hábitos e pensamentos e; (5) Uma ação internacional mais efetiva e coesa com os acordos internacionais e  com políticas públicas que coloquem a sociedade humana rumo a um novo sistema socioeconômico que reduza o consumismo e a extração de recursos naturais. Portanto, a humanidade precisa urgentemente de uma mudança de paradigma, para adentramos em uma nova era (Figura 2).

 

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Figura 2 - Ação para mudanças da relação ser humano e natureza

 

Fonte: Os Autores, 2014.

 

 

            2.1. A Perspectiva Futura

 

É da natureza humana demorar a reconhecer seus erros e tomar decisões que mudem e corrijam as falhas cometidas, o que compromete nosso futuro, tornando-o incerto. Mas na certeza de que nossa espécie está ameaçada de extinção, pelos danos que causamos a este planeta por considerarmos que somos dono dele (CÓRDULA, 2011b), deveremos mudar nossos modos e pensamentos. Somos fadados à autodestruição, na medida em que somos canibais pelo poder, e medimos forças através dos tempos, onde as civilizações se destroem pela ganância da dominação de demais nações subdesenvolvidas, em virtude do tamanho do ego de reis, governantes e ditadores que acreditam serem superiores, mas que na essência estão longe disto (CAPRA, 2006a; CÓRDULA, 1999).

No dia em que conseguirmos evoluir e dissociar a questão monetária que controla nossas vidas, para passarmos a vivermos como uma verdadeira sociedade, contribuindo para o nosso contínuo desenvolvimento e entendimento de que o universo interior e exterior são correlatos e interdependentes, passaremos a criar um nirvana terrestre, onde os avanços tecnológicos serão inimagináveis, que respeitem o ser e não o ter (BOFF, 1999; CÓRDULA, 2011c). Temos urgência em construir um modelo de desenvolvimento que se baseia no padrão sistêmico dos fenômenos planetários e do universo (BOFF, 2012). Um modelo que insurgisse em poucas décadas, a mudança total do modo de vida e do consumo no planeta (CÓRDULA, 2012c). Para isto, haveria de ter a retomada da produção de ecotecnologias verdadeiramente duráveis, com menor consumo de energia e menor produção de calor – tecnologias frias – o que diminuiria a necessidade de produção energética elétrica e pouparia os recursos naturais (CAPRA, 2006a; CÓRDULA, 2009; 2010b,c; 2011a,c; DIAS, 1998; 2006).

Mudar é uma garantia de nossa sobrevivência, pois estamos infelizmente fadados a destruir a humanidade (CÓRDULA, 2012c), e, infelizmente, este processo de se autorefazer do planeta – reação às mudanças brutais que impomos a ele ao longo dos séculos – se reflete em escala global, delineando um novo mapa abiótico (geológico, climático, aquífero, etc.) e biótico (todos os seres vivos ou biosfera), que está entrando novamente em um equilíbrio ecossistêmico. No meio deste, estamos nós, e apesar de sermos os organismos mais adaptáveis, por modificarmos o ambiente, não estamos nos percebendo dentro deste processo e, consequentemente, as tragédias humanas ocorrem, onde centenas ou milhares de vidas são ceifadas rapidamente, por tsunamis, vulcões ativos, terremotos, enchentes, nevascas, etc.  Nos sentimos impotentes perante tal processo, mas o que temos que fazer é entender que isto continuará a ocorrer até a completa homeostase planetária, mas quando irá diminuir, isto não sabemos (MATURANA; VARELA, 1997). O que sabemos é porque começou, qual momento de nossa história começou já que somos protagonistas deste processo que denominamos de caos ecológico (CÓRDULA, 2011b).

Estamos em pleno século XXI, o tão esperado momento da humanidade, vislumbrado, sonhado e até temido por muitos ao longo da história, como o término ou renascimento áureo da nova era. Para alguns houve a decepção, mas para muitos a esperança de um tempo onde às mazelas que afligem o ser humano não mais existiriam, e sim, estaríamos em franco desenvolvimento harmônico, prospero e de plenitude de nossa espécie em nosso planeta (CÓRDULA, 2012d).  Temos em verdade, que nos preocuparmos em curarmos a nós mesmos, para entrarmos em equilíbrio sistêmico com a nossa própria espécie, e consequentemente, com o meio ambiente (CÓRDULA, 2012e). A humanidade busca incessantemente pela evolução tecnológica ao longo dos séculos, numa competição ilusória de poder e hegemonia que influenciou gerações a finco, e que foram levadas a esquecerem de evoluir espiritualmente e socialmente, nas relações interpessoais, o que garantiria uma humanidade mais humana, sustentável (CÓRDULA, 2010b). Lembremos que sempre é tempo e há tempo para mudanças e novos paradigmas para a humanidade.

 

            2.3 Desenvolvimento e Paradoxos

 

O ambiente humano continua tanto em crescimento social quanto econômico, porém, em constantes paradoxos, como por exemplo: avanço na medicina vs. aumento de epidemias e agentes patológicos resistentes; desenvolvimento da agricultura em qualidade e quantidade de produção por hectare vs. aumento da fome planetária; melhoria tecnológicas em indústrias para aumento e eficiência de produção vs. poluição e aumento da exploração dos recursos naturais; aumento da expectativa de vida vs. aumento da mortalidade juvenil vítimas de patologias sociais; aumento da qualidade de vida vs. favelização, desemprego, exclusão, etc.; melhoria no abastecimento e qualidade da água potável servida a população vs. escassez e falta deste recurso não renovável em várias partes do globo (CÓRDULA, 2012c) (Figura 3).

 

Figura 3 - Paradoxos do desenvolvimento da sociedade, gerando o atual paradigma.

 

 

fig 3.jpg

 

 

Fonte: Os Autores, 2014.

 

 

 

Segundo BOFF (2012), sustentabilidade são todos os processos envolvidos na manutenção da vitalidade do planeta, com a preservação e conservação dos recursos naturais, propiciando a continuidade de vida de todas as espécies, concomitantemente, com o desenvolvimento da humanidade, para atender às presentes e as futuras gerações. Há uma crescente falta de consenso no que diz respeito à palavra sustentável ou desenvolvimento sustentável, que para Abílio e Guerra (2006), e Dias (1998), são recursos bem utilizados hoje para que as futuras gerações se beneficiem. Esta concepção provocou um equívoco na percepção e na responsabilidade ambiental do ser humano, pois gerou uma corrida a chamada “Era Verde”, com foco direto para a conservação das áreas naturais, o que acabou deixando ao esquecimento o modo de vida consumista e que leva, portanto, à geração de resíduos nas sociedades, o que, por um lado, agravou a qualidade de vida do ser humano, por outro, atingiu diretamente o planeta, pela emissão de poluentes (CAPRA, 2006a; CÓRDULA, 2010b; DIAS, 2004).

 

A sustentabilidade do desenvolvimento é um problema complexo, porque a sua essência está imbricada em um tecido de problemas inseparáveis, exigindo uma reforma epistemológica da própria noção de desenvolvimento (MORIN, 2000, p.09).

 

Podemos conceber, então, um período de pensamento incompleto da nossa concepção de sustentável, que na verdade estávamos tratando de uma pseudosustentabildiade, pois não abarcava toda a complexidade planetária da teia que sustenta o frágil equilíbrio da vida, e, portanto, da nossa própria espécie em sociedade e no planeta (CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012b,c). Desenvolvimento e crescimento são palavras bastante distintas e não levam soluções ideais para uma melhor utilização de recursos naturais no planeta, pois, segundo Diegues (2001), devem se levar em conta o reconhecimento da existência de uma grande diversidade ecológica, biológica e cultural entre povos que nem a homogeneização sociocultural imposta pelo mercado. Apenas processos de Educação Ambiental podem refazer a percepção do ser humano sobre si mesmo e o ambiente, garantindo assim, um processo transformador de atitudes e valores (CÓRDULA, 2010b).

 

 

3. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável

 

A Educação Ambiental (EA) vem para tratar de sensibilizar o ser humano sobre seu papel na conservação e preservação dos recursos naturais do planeta (BRASIL, 1998b), atuando como uma concepção pedagógica alternativa para gênese de práticas ambientais pelos cidadãos da sociedade contemporânea, visando à qualidade de vida ambiental (DIAS, 1998).

A EA é o encontro real da fusão entre a razão e a emoção, não distante da educação formal, ensinado a criança a usar sua criatividade e a pensar no amanhã, de forma crítica para que se tornem cidadãos conscientes, defensores de seus direitos e cumpridores dos seus deveres para com a vida, a sociedade e a família (CÓRDULA, 2010b). Porém, atualmente, o que é perceptível é que a EA por si própria não conseguiu ainda que o ser humano passe a ter conhecimentos necessários ao desenvolvimento das práticas sustentáveis que levam a mudanças de comportamento, já que os problemas ambientais continuam a reincidir sobre as comunidades e a sociedade (CÓRDULA, NASCIMENTO, 2012d). As mudanças necessárias na população devem surgir de uma mudança de valores e de percepção de si mesmo sobre o planeta e a vida, para que o ser humano passe a desenvolver um Comportamento Ambientalmente Responsável (CAR), que só é possível através da hermenêutica ambiental (CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012e).

 

Figura 4 - Educação Ambiental na sensibilização e transformação do paradigma atual.

 

 

 

Fig 4.jpg

 

 

Fonte: Os Autores, 2014

 

Atualmente os esforços para mudar a percepção do ser humano e da sociedade perante o meio ambiente é universal, atuando em vários setores da própria sociedade, tendo como foco a EA Formal, para formular cidadãos verdadeiramente ativos, participativos e conscientes dentro de nossa sociedade, para, com isto, garantirmos a sobrevivência do ser humano nas próximas décadas (CÓRDULA, 2012c). Encarar estes problemas como se fossem separados e não relacionados conduz a soluções de curta duração e pouco alcance, que muito frequentemente criam mais problemas ambientais de logo alcance que os que são resolvidos (TANNER, 1978). A consciência humana deve “conceber o ambiente em seu tríplice universo: o natural, o cultural e o social” (BRANCO, 2003, p. 09). O ser humano como mola mestra da educação ambiental, já que é um ser cultural e social, tem que se interá-lo ao universo natural para não separá-lo novamente do meio ambiente.

Ao se trabalhar com educação, meio ambiente e sociedade, visando mudanças de atitudes e valores no ser humano, entram a pedagogia que trouxe à luz das experiências e trabalhos desenvolvidos na área comportamental e ambiental, juntamente com a hermenêutica, propiciando a transmutação da EA para o surgimento da Educação Socioambiental (ESA) (CÓRDULA, 2011c). Esta abordagem, mais centrada na entidade humana, nas suas experiências e vivências, deixa de lado o tecnicismo e a tentativa de simplesmente “conscientizar”, para sensibilizar o ser humano, através de seus problemas sociais e ambientais, mostrando a relações sistêmicas envolvidas, onde uma afeta diretamente a outra, numa retroalimentação negativa sem precedentes (CÓRDULA, 2009; 2010b; 2012f).

Quando se lança mão não só de uma pedagogia, mas de uma ecopedagogia aliada a uma psicologia ambiental é possível concretizar ações verdadeiramente capazes de estimular o ser humano, resgatando sua humanidade tão distorcida como nos dias atuais (GADOTTI, 2000). Sendo sensibilizado, passa a se reconhecer como agente ativo de mudanças e passa também, a conhecer o ambiente ao seu redor e atua de forma a preservá-lo (DIAS, 1998). Abandonando a visão egocêntrica e antropocêntrica que fragmenta os componentes de nosso planeta, e adquirindo uma visão holística e das interdependências, passa-se a considerar a Terra como um ente “vivo”, em virtude de toda a sua dinâmica, e desta forma, consegue-se preservá-la (CAPRA, 2006a).

           

 

4. Considerações Finais

 

            A ação humana sobre o planeta acelerou processos que culminaram nos graves problemas ambientais da atualidade, gerando um paradigma antiambiental, baseado no modelo de desenvolvimento socioeconômico capitalista que dissociou a humanidade do planeta e levou a um padrão altíssimo de consumo de recursos para manutenção do que passamos a chamar de “qualidade de vida”. Porém, este modelo acarretou graves problemas não só ambientais que afetam diretamente a humanidade, mas também a sociedade, gerando outros grandes conflitos sociais que se perpetuam ao longo das décadas.

            Para mudar este quadro e adotarmos um modelo de desenvolvimento sustentável, é necessária a atuação da educação ambiental em todos os níveis e esferas da sociedade, mudando assim, a percepção do ser humano sobre si mesmo, sobre este planeta e seus recursos, garantindo assim a sobrevivência desta e das futuras gerações. Caso isto não ocorra, estaremos fadados a um modelo pseudossustentável e ao declínio da humanidade a ponto de comprometer verdadeiramente nossa qualidade de vida e existência neste planeta.

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos