Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/06/2014 (Nº 48) METODOLOGIA DE ENSINO SOBRE OS DIFERENTES SUBSTRATOS DO SOLO
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METODOLOGIA DE ENSINO SOBRE OS DIFERENTES SUBSTRATOS DO SOLO

 

Débora Aparecida de Aquino Lima

Graduanda em Ciências Biológicas pela Fundação Educacional de Divinópolis - Funedi/UEMG

deboraquinu@hotmail.com

 

Catarina Teixeira

Mestranda em Educação no DED/ UFLA e Professora na Fundação Educacional de Divinópolis – Funedi/UEMG catarinabio@hotmail.com

 

Resumo:

O solo é o componente fundamental do ecossistema, além de ser o principal substrato utilizado pelas plantas para o seu crescimento e disseminação. A necessidade de preservação desse bem natural torna-se cada vez mais evidente devido a sua degradação constante. Tendo em vista a criação de novas formas de manejo do solo, o presente trabalho tem como objetivo a criação de hortas com diferentes substratos, para incentivar alunos do ensino fundamental a cuidarem melhor do solo. O projeto aconteceu em três fases, sendo na primeira teve duas aulas teóricas referentes ao tema, em seguida uma aula pratica para criação de hortas e por fim discussão dos relatórios produzidos pelos discentes. Essa prática de Educação Ambiental se deu com alunos de 6° ano, da Escola Estadual Padre Paulo do município de Santo Antônio do Monte, MG. A análise de dados deu-se pela observação participante da pesquisadora e através dos relatórios escritos pelos discentes onde foi possível comprovar a importância desse tipo de metodologia na formação dos adolescentes, que uma vez em posse dos conhecimentos a cerca das transformações do certo manuseio do solo, eles criam valores a fim de preservar melhor o ambiente.

 

Palavras Chave: Solo, húmus, metodologia de ensino

 

 

Introdução

 

O solo é o componente fundamental do ecossistema, além de ser o principal substrato utilizado pelas plantas para o seu crescimento e disseminação, fornece água, ar e nutrientes, fazendo com que as plantas se desenvolvam. Doran e Parkin (1994), enfatizaram sobre a qualidade do solo, pois o mesmo tem capacidade de funcionar dentro dos limites do ecossistema para sustentar a produtividade biológica, manter a qualidade ambiental e promover a saúde de plantas e animais.

O estudo científico do solo, a aquisição e disseminação de informações do papel que o mesmo exerce na natureza e sua importância na vida do homem, são condições primordiais para sua proteção e conservação, isso ajuda na garantia da manutenção de meio ambiente sadio e autossustentável (TEIXEIRA; VIEIRA, 2013)

No entanto, esse tópico é pouco estudado nos conteúdos do ensino fundamental. A população em geral desconhece a importância do solo e os seres vivos que ajudam na sua formação, o que contribui para ampliar processos que levam à sua alteração e degradação.

De maneira geral, os livros didáticos apresentam graves deficiências, presenciam definições equívocadas, para caracterizar os solos, não dão ênfase ao tratamento dos processos a qual os solo são submetidos desde a pedogênese até os processos de perdas da massa pedológica (SILVA et al, 2008).

Temos como exemplo de abordagem sobre solo e os seres vivos, as minhocas que participam efetivamente, melhorando a composição do solo que habitam. Elas ao cavarem galerias pelos solos favorecem a passagem de ar e água no seu interior, tornando os solos mais porosos e facilitando a penetração das raízes das plantas no mesmo (Feliconio, 2012).

Ao se alimentarem da matéria orgânica no solo e de minerais, as minhocas também contribuem para aumentar a fertilidade dos campos cultivados. As minhocas digerem estas substâncias que são excretadas sob a forma de húmus ou vermicomposto, que é um rico fertilizante, inodoro, contendo micronutrientes (ferro, zinco, cloro, boro, molibdênio, cobre) e macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio). Sendo um poderoso fertilizante e contendo um PH neutro, o húmus, contribui para um crescimento rápido e vigoroso das plantas. E não causa nenhuma reação maléfica como envenenamento, queimaduras ou apodrecimento de plantas (MARTINEZ, 2013). 

Por essas razões que na agricultura orgânica todas as práticas de manejo de solos, águas, plantas e criação animal visam criar condições que beneficiem a vida presente nos solos. Este é considerado não um mero suporte físico, mas um ecossistema cheio de vida, no qual através de complexas interações, os organismos que lá vivem irão disponibilizar tudo o que a planta precisa: ar, água, espaço para raízes e nutrientes (PRIMAVESI, 2000; STEINER, 2000). Técnicas, como a adubação e o manejo do solo e das plantas silvestres na propriedade visam alimentar esse solo vivo.

O solo é composto por uma mistura de minerais e matéria orgânica, porém encontram-se variações dos tipos de substratos, existem exemplares constituídos por uma menor quantidade tanto de minerais como resíduos orgânicos, isso faz com que o solo fique improprio para o plantio. Esse tipo de solo é muito comum de ser encontrado, com o processo de urbanização, e as construções exageradas, os solos tendem a se tornar menos férteis já que suas propriedades físicas e químicas se alteram com a mudança nesse ambiente. Por sua vez, solos que tem a presença de organismos são beneficiados já que esses indivíduos atuam como verdadeiros arados, afofando-o e o arejando, inclusive ao redor das raízes das plantas.

Os canais construídos por organismos têm, ainda, a grande vantagem de possibilitar uma maior penetração dessas raízes no subsolo, melhorando o seu crescimento. Os solos em que não existam minhocas são mais compactados, mais duros e ressecados pelo sol, além de impermeáveis ou de mais difícil penetração da água.

Trabalhos sobre o solo são de suma importância, agindo de forma a incentivar os alunos a darem mais atenção ao solo, criando um conceito de Educação Ambiental, onde os alunos agem como agentes transformadores do ambiente. O solo é componente essencial  para o equilíbrio ecológico do planeta, ele se comporta como um purificador, drenando e reciclando expressivas quantidades de resíduos que podem se acumular, contaminar e poluir o ambiente.

Tendo como pressuposto a importância sobre o ensino dos solos e a diferença entre substratos, o presente projeto visa à implementação de uma forma didática para o ensino a cerca do conteúdo proposto.

Pretende-se analisar a necessidade de inserir novas formas de ensino, o projeto tem como objetivo deixar clara a diferença entre substratos e a importância dos seres vivos presentes nos solos, relacionar as experiências diárias e na aplicabilidade de experiência orientada e demonstrada em sala.

Com isso capacitando o aluno para dar continuidade aos estudos no ciclo fundamental; inserindo formas para despertar o interesse pelas Ciências e suas áreas de conhecimento por meio de atividades práticas e metodológicas; e por fim desenvolver as habilidades dos conceitos básicos das Ciências, para que criem questionamentos, resolvam problemas e adquiram uma postura crítica às questões conflitantes.

 

 

Metodologia

 

Foram realizadas duas aulas teóricas a primeira contendo uma apostila com explicação sobre o solo. Informando como o solo é formado, quais seres vivos participam da formação do solo, qual a composição do solo, como os solos são estudados e como se apresentam na natureza.

A segunda aula teórica demonstrou a importância da utilização de um minhocário e os benefícios da presença de seres vivos no solo, nesse exemplo usamos as minhocas.

Em seguida foi realizada uma aula prática, onde a turma foi dividida em pequenos grupos, de 5 a 6 alunos, fora da sala de aula. Foram utilizados no desenvolvimento da aula húmus, proveniente do minhocário já existente na escola, terra retirada de um lote vago, garrafas pet, tesoura sem ponta, barbante, mudas de hortaliças.

Em um lugar determinado fora da sala de aula, foram produzidas hortas verticais em garrafa pet. Os alunos fizeram duas hortas, uma contendo húmus e a outra terra. E depois levaram para casa para poderem observar o desenvolvimento das midas.

Ao longo de um período de 30 dias, eles observaram as hortas, e fizeram um relatório comparando os diferentes substratos.

Passado o período para execução do relatório, ocorreu uma discussão sobre o tema em sala, onde cada grupo expos suas conclusões a cerca da observação da diferença entre substratos.

A análise de dados consiste na observação participante da pesquisadora durante as visitas e as explicações do minhocário. Foram analisados o envolvimento e interesse dos alunos durante a fase teórica e pratica, e a evolução referente ao desenvolvimento nas duas hortas formadas a partir de substratos diferentes.

Segundo Malinowski (1922), a construção sistemática da observação participante se torna cada vez mais evidente, uma vez que essa técnica modifica a ação do pesquisador que, ao integrar o grupo que vivencia a realidade social, propicia interações que contribuam para a mudança de comportamento do grupo observado.

 

 

Resultados e Discussão

 

As aulas teóricas foram ministradas seguindo a pauta de informações gerais sobre o solo e em seguida aprofundando mais em um solo que contem vermicompostagem.

A sala foi organizada em forma de circulo, de modo que todos os alunos pudessem participar e ver os demais participando. Foram oferecidos aos alunos apostilas referentes aos temas e logo após foi feita a leitura com os mesmos, seguida de explicações sobre o assunto, e discussão das duvidas, onde os alunos participaram ativamente. Durante essa fase os discentes se mostraram entusiasmados, fazendo sempre muitas perguntas, contando historias relacionadas ao tema e interagindo o tempo todo.

Como se tratou de uma aula que foge do formato sempre visto em sala, isso motivou os alunos. Quando eles tiveram a oportunidade de serem ouvidos demonstrou o quão participativos eles gostam de ser.

Segundo Milhoranza (2013), ensinar e aprender exige hoje muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação.

 No segundo momento do projeto os alunos foram levados para uma área externa da escola, local onde são realizadas as atividades práticas. Os alunos foram divididos em grupos de cinco a seis alunos, para darem inicio a confecção das hortas.

A escola ofereceu os diferentes tipos de substratos, terra e húmus. Cada grupo ficou responsável por levar as sementes de hortaliças. E as garrafas pet foram levadas também pelos alunos, a fim de incentivar a reciclagem.

Foi oferecida explicações de como montar as hortas verticais, de forma a deixar claro cada passo a ser seguido, as hortas foram montadas em conformidade com um modelo oferecido pela EMBRAPA, como se vê nas figuras 1 e figura 2.

 

Figura 1: Alunos montando as hortas com terra e húmus.

Figura 2: Alunos montando as hortas com terra e húmus.

 

Ao final da produção das hortas os alunos (fig. 3) levaram para casa os dois tipos de hortas, uma contendo húmus e a outra contendo terra comum sem adubo, para observação do crescimento das hortaliças em meios diferentes.

 

Figura 3: Alunos levando as hortas produzidas por eles para casa.

 

Por fim, após 30 dias de observação os alunos levaram as hortas e os relatórios para a escola. Foi observado claramente que as hortas produzidas utilizando húmus, tiveram suas plantas com crescimento mais rápido e as plantas se apresentavam com aspecto diferenciado das outras plantas produzidas a partir de terra e esterco comum. Todos os alunos, sem exceções, perceberam a diferença evidente entre um substrato e outro.

O húmus traz muitos benefícios para  o solo, como melhorar suas propriedades físicas, promover a liberação de nutrientes lentamente, tornando a adubação mais eficaz e duradoura, contribuir para o aumento da capacidade de tamponamento do solo, retém a umidade do solo por mais tempo e muito mais (NOGUEIRA, 2005).

Isso permitiu uma inferência sobre o assunto, onde os discentes puderam ver na pratica o quão melhor é um solo que contem húmus. Os solos mais ricos em organismos que vivem nele é um solo mais fértil e prospero. Sendo assim a conservação desse bem natural se torna de grande importância, visto que a maior parte da nossa alimentação vem do solo.

 

 

Considerações finais

 

Ficou evidente a diferença decorrente da variação de substratos, a importância dos organismos presentes no solo. Dessa forma os alunos se sentem motivados a sua preservação.

A ideia da necessidade de transmitir informações a cerca da diferença entre substratos comprovou-se importante para a formação dos jovens, uma vez que se tem conhecimento das transformações do certo manuseio do solo, eles criam valores a fim de preservar melhor o ambiente.

Estudar o solo é necessário para criar um manejo sustentável desse recurso natural. Investigar sua composição, observar sua relação com os demais elementos da natureza e examinar as interações entre a humanidade e esse substrato essencial para a vida colaboram para uma melhor compreensão da questão ambiental e na superação de seus desafios – dentre eles, como diz Pereira (2010), o de “controlar e reverter a notável degradação ambiental em curso no planeta e, assim, possibilitar um rumo verdadeiramente sustentável para a vida na superfície da Terra”.

 

 

Referencias Bibliográficas

 

FELICONIO, A. E. A importância da vida no solo para a agricultura, 2012. Disponível em: http://www.sitiodomoinho.com/organicos/textos-e-publicacoes/7-a-importancia-da-vida-no-solo-para-a-agricultura Acesso em: 10 de jan. de 2014.

 

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRS, 2000.

 

MALINOWSKI, B. Uma teoria científica da cultura. São Paulo: Zahar, 1975.

 

MARTINEZ, M. Húmus. Disponível em: http://www.infoescola.com/ecologia/humus/ Acesso em 01 de out. de 2013.

 

MILHORANZA, M. G. A importância da conscientização ambiental na infância. In: Sul 21. 20 jun. 2011. Disponível em: http://www.sul21.com.br/jornal/ opiniaopublica/a-importancia-da-conscientizacao-ambiental-na-infancia/ Acesso em: 23 out. 2013.

 

NOGUEIRA, W. C. L. Horta na escola: uma alternativa de melhoria na alimentação e qualidade de vida. Anais do 8º Encontro de Extensão da UFMG. Belo Horizonte: 3 a 8 de outubro de 2005.

 

PRIMAVESI, A. Cartilha do Solo: como reconhecer e sanar seus problemas. Fundação Mokiti Okada: Apostila, 2000.

 

SILVA, C. S. da. FALCÃO, C. L. da C., SOBRINHO, J. F. O ensino do solo no livro didático de geografia. 2008. Disponível em: http://www.uvanet.br/rhet/artigos_marco_2008/ensino_solo.pdf Acesso: 10 de jan. de 2014.

 

STEINER, R. Fundamentos da agricultura biodinâmica: nova vida para a terra. São Paulo: Antroposófica, 2000.

 

TEIXEIRA, C.; VIEIRA, S. M.. Solo na Escola: Uma metodologia de educação ambiental no ensino fundamental. 2013. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1624&class=21 Acesso: 14 de jan de 2014.

 

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos