Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/04/2021 (Nº 47) A PRÁTICA DE HORTA MANDALA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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A PRÁTICA DE HORTA MANDALA NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Sandro Daniel Drosdoski, Jennefer Bortoluzzi Pereira, Gilvane Bueno

 

RESUMO

 

A construção de uma Horta Mandala pode ser um instrumento valioso para promover a conscientização ambiental ampliando a percepção da sustentabilidade como componente essencial do meio ambiente. O Projeto Ambial é um incentivo para desenvolver um conhecimento básico sobre Permacultura e Sustentabilidade com o intuito de conscientizar as crianças do 4º ao 8º ano do Ensino Fundamental da Escola de Educação Básica Nilo Peçanha, mostrando através da prática que a sustentabilidade é fundamental para a manutenção da vida. Observou-se um grande envolvimento das crianças que passaram a se interessar mais pelo assunto, contextualizando-o nos seus espaços de vivência. A educação ambiental através da construção da Horta Mandala no Projeto Ambial possibilitou a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes de induzir mudanças de atitudes, resultando na construção de uma nova visão das relações dos alunos com o seu meio, e, portanto na ampliação da consciência de que se não conservar o meio ambiente, eles, os alunos e a sociedade terão sérios problemas futuramente, seja de ordem alimentar, seja ambiental.

 

Palavras chave: Educação Ambiental, Projeto Ambial, Horta Mandala, Permacultura

 

INTRODUÇÃO

 


Educar tem sido uma tarefa difícil nos últimos anos. O mundo mudou radicalmente: uma nova configuração de países emergiu, novas forças políticas se estabeleceram, novas demandas sociais afloraram, novas formas de se organizar o trabalho surgiram. Apesar de tantas mudanças a nossa volta, quando olhamos a escola, esta permanece a mesma. Pires (2002) destaca a seguinte passagem “Imagine as reações de um médico do século XIX, de repente transportado para frente no tempo dentro de uma sala moderna de cirurgia, repleta de todos os avanços tecnológicos da medicina moderna. O médico de ontem reconheceria muito pouco talvez nem sequer o paciente e certamente não seria capaz de funcionar em nenhum modo significativo. Contraste isso com um professor do século XIX, transportado para uma sala de aula da universidade contemporânea. Aí tudo seria familiar os mesmos púlpitos para preleção, quadros negros e estudantes prontos para tomar notas. Mesmo os assuntos literatura, história, línguas seriam familiares e ensinados precisamente dos mesmos modos”.

Apesar deste contraste, vemos na literatura várias tentativas de se tornar a escola alinhada há seu tempo e atrativa aos alunos. Entretanto, a realidade continua sendo dura e as práticas continuam sendo aquelas do século XIX. Em algum ponto, a passagem das concepções contemporâneas às práticas cotidianas é falha. Tentamos importar modelos, mas nossa realidade de alunos, de cultura e de dimensão de país é muito diferente. Temos que buscar alternativas próprias e valorizar a experiência local. Talvez uma das razões para este fracasso seja a adoção de práticas pontuais que acabam por serem superadas pela força da tradição conservadora de se fazer escola. Assim, mesmo mudando a forma de se avaliar, as práticas de relação entre aluno e professor permanece, o enfoque centrado no programa da disciplina se impõe, entre outras ações.

Todo indivíduo tem a capacidade de desempenhar papéis importantes na melhoria do planeta. Aos educadores cabe a responsabilidade de despertar no aprendiz o senso de auto-estima e confiança indispensáveis para que acredite o suficiente em seus potenciais e passe a exercer plenamente sua cidadania. Essa crença em si própria pode desencadear um maior engajamento e posturas ativas diante dos problemas socioambientais, resultando em processos de mudança.

Para Dias (1992), na importância temática ambiental, a escola é um espaço privilegiado de informação, construção, produção na implementação de atividades e conhecimentos que giram em torno dos problemas ambientais. Os professores devem trabalhar na perspectiva de visões cotidianas, exercendo um papel muito importante no processo de construção de conhecimentos dos alunos, na modificação dos valores e condutas ambientais, de forma contextualizada, crítica e responsável (GUIMARÃES, 2001).

A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para formação de cidadãos conscientes, prontos para atuarem de modo comprometido em suas realidades sócio-ambientais. Assim, o papel do professor é essencial na formação dos alunos, de forma que constrói com eles uma postura crítica diante da realidade, de informações e valores veiculados pela mídia e daqueles trazidos de casa e essa atitude deve atuar de forma contínua no desenvolvimento da maturidade, de uma conscientização ambiental no processo de troca de experiência e aprendizagem (BRASIL, 1998).

A escola é, sem maiores dúvidas, o local adequado para promover aprendizagens voltadas para a formação de atitudes preservadoras do meio ambiente. As disciplinas escolares são os recursos didáticos, através dos quais os conhecimentos científicos são colocados ao alcance dos alunos (REIGOTA, 1999).

Entretanto, o desenvolvimento de projetos que visam à conscientização da preservação ambiental pode representar possibilidades de aprendizagem para a escola como um todo, especialmente, para trabalhar numa perspectiva interdisciplinar (DIAS, 1992).

Dias (1992) sugere que, os trabalhos relacionados à Educação Ambiental devem ter como objetivos, a sensibilização e a conscientização, buscando uma mudança comportamental, formando cidadãos mais atuantes na sociedade, pois a educação ambiental trabalha primordialmente com a integridade humana.

Educar para a cidadania envolve a tarefa do professor de favorecer ao aluno, de forma adequada, a compreensão da sua realidade, evidenciando valores essenciais para o bem viver na sociedade, possibilitando-o agir no cotidiano escolar e fora dele. A aprendizagem de procedimentos ou regras é indispensável para o desenvolvimento da participação, da solidariedade e da co-responsabilidade sobre todas as ações desenvolvidas no planeta. A natureza construiu com grande sabedoria ao longo de 15 bilhões de anos o trabalho de equilíbrio do universo. Os bens da terra são patrimônio de toda humanidade e seu uso tem que obedecer às regras de respeito e solidariedade para com o restante da humanidade e para com as gerações futuras (BOFF, 1996).

Assim sendo a escola é o espaço social e o local onde o aluno será sensibilizado para as ações ambientais e fora do âmbito escolar ele será capaz de dar sequência ao seu processo de socialização. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis (REIGOTA, 1999).

Em 2003, a Secretaria de Estado da Educação de SC criou o Programa de Educação Ambiental e Alimentar – AMBIAL, “principal objetivo é a inclusão social, com atividades socioeducativas, atendendo crianças de população de baixa renda, com ações extracurriculares, turmas multisseriadas, em turno extraclasse” (SC, 2005).

O Projeto AMBIAL tem como uma de suas proposições a realização de ações educacionais ressignificativas à luz do Projeto Político Pedagógico visando o desenvolvimento de trabalhos e atividades interdisciplinares, na comunidade escolar, voltadas às questões ambientais, transformando as relações entre o ser humano e a natureza (SC, 2005).

A Horta Didática inserida no ambiente escolar é um laboratório vivo que irá possibilitar o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental. Ela unirá teoria e prática de forma lúdica, fazendo com que haja uma maior interação entre os estudantes. E, por conseguinte, um melhor aproveitamento da disciplina de Ciências/Biologia. A Horta Didática não deve apenas ficar restrita ao processo de produção de alimentos, mas deve ser trabalhada como um processo pedagógico (RAMOS et al, 2009).

O processo mandala de Desenvolvimento Holístico e Sistêmico Ambiental (DHSA) busca promover o Resgate da Dignidade Humana por meio da disponibilização do conhecimento e organização de ambientes coexistentes de forma holística e sistêmica, fazendo uso de ações práticas e funcionais (RODRIGUES, 2010).

Hortas de formato circular ainda não são muito comuns, embora a idéia de fazê-las assim tenha mais de 30 anos. Ganhou atenção na década de 1970, com o movimento de permacultura, criado pelo ambientalista Bill Mollison, na Austrália. Ele preconizava outra forma de dispor as espécies vegetais, mais de acordo com o ecossistema. Com a crescente preocupação envolvendo a natureza, esse conceito adquire fôlego novo e se espalha entre os agrônomos. "Esse tipo de horta economiza água, trabalha com a diversidade de plantas, aproveita melhor o espaço, usa apenas fertilizantes orgânicos e poupa o solo. Além disso, horta pode ser um meio de complementação da renda familiar", explica o agrônomo paulista Marcelo Martins (STRINGUETO, 2007).

Praticar a agricultura sustentável é proteger os recursos naturais: solo, água, ar e florestas, enfocando especialmente as três atividades básicas, englobadas na conservação desses elementos – manutenção, preservação e restauração ou recuperação (EHLERS, 1994).

De modo geral, a agricultura sustentável é uma evolução do atual modelo de produção agrícola, sendo possível que a agricultura alternativa esteja mais próxima das situações sustentáveis. Mas isto não quer dizer que as vertentes alternativas possam substituir, em curto prazo, o papel da agricultura convencional no tocante ao volume de produção. Sugerem-se então soluções intermediárias aliando vantagens do sistema alternativo e convencional (Guivant, 1995).

Ehlers (1994) sugere um novo padrão de sustentabilidade, mais tangível e em curto prazo, utilizando a agricultura familiar e um conjunto de práticas e regras produtivas mais racionais, com a diminuição de insumos industriais e utilização de insumos biológicos. Desta forma, nenhum dos modelos agrícolas pode ser considerado “sustentável”, se for considerada a abrangência do termo.

O conceito de permacultura (MOLLISON & HOLMGREEN, 1978), criado pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren nos anos 70, inicialmente significava a junção das palavras “permanent” e “agriculture”, sendo depois considerada a união de “permanent” e “culture”. Trata-se de uma idéia de criar “modelos sustentáveis de ocupação humana em harmonia com o meio ambiente e que fornecem alimento, água, energia, habitação e retornos financeiros para uma determinada comunidade” (IPOENA, 2010).

A Permacultura aproveita todos os recursos disponíveis e faz uso da maior quantidade de funções possíveis, aproveitando cada elemento presente na composição natural do espaço. Excedentes e dejetos produzidos por plantas, animais e atividades humanas são utilizados para beneficiar outras partes do sistema (MOLLISON, B. 1991).

Este trabalho justifica-se que com o intuito de auxiliar os professores e demonstrar/relacionar a horta com o meio ambiente, desenvolveu-se uma metodologia baseada na construção de uma horta mandala, relacionando-a com as atividades humanas visando à conscientização dos alunos como agentes responsáveis pela utilização e preservação do meio ambiente. Porque uma educação transformadora envolve não só uma visão ampla de mundo, como também a clareza da finalidade do ato educativo, uma posição política e competência técnica para programar projetos a partir do aporte teórico e formador de profissional competente.

O objetivo geral proposto neste trabalho tem como função levar conhecimento básico aos alunos sobre educação ambiental e alimentar através do Projeto Ambial e desenvolver atividades práticas na construção e manutenção de uma horta com alunos da Escola de Educação Básica Nilo Peçanha, situada no bairro Vice King do Município de Porto União/SC, como instrumento de transformação e preservação dos mesmos.

Para que este trabalho fosse atingido foi feito um levantamento bibliográfico através de um estudo literário exclusivo, uso de revistas científicas, boletins técnicos, artigos científicos, consultas pela internet, cartilhas e outros.

Foi feita uma Horta Mandala em um espaço específico dentro da Escola de Educação Básica Nilo Peçanha, com auxilio do professor os próprios alunos construíram, plantaram e mantém a horta, no intuito de repassar conhecimentos de sustentabilidade, permacultura e agricultura orgânica, matérias de ensino da Educação Ambiental no Projeto Ambial.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

PORTO UNIÃO

 

Porto União, localizada no planalto norte de Santa Catarina, possui 32.253 habitantes em uma área de 845,8 km². O relevo é constituído de planícies, montanhas, vales, grandes várzeas nas bacias dos  Rios  Iguaçu e Jangada, na divisa com o estado do Paraná, e do Rio Timbó (Porto União, 2011).

O clima se classifica como mesotérmico úmido, com temperaturas médias de 17C e uma precipitação anual de 1.400 milímetros. O município é banhado pelos Rios Iguaçu e seus afluentes Jangada, Timbó, Pintado, dos Pardos, Bonito e Tamanduá (Porto União, 2011).

 

ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA NILO PEÇANHA

 

A Escola de Educação Básica Nilo Peçanha, é uma escola estadual localizada na Rua Francisco Peluski, número 365, bairro Vice-King, município de Porto União, sob as coordenadas geográficas: 26°15'53.29"S 51°5'37.30"O

O prédio da EEB Nilo Peçanha conta com área de construção de 2.207,38 m2, e quadra de esportes com  697,20 m2, com iluminação. O terreno onde a escola esta localizada conta com 10291 m2 (PPP, 2011).

O corpo docente desta Unidade Escolar  conta neste ano letivo 25 professores  efetivos, 21 professores ACTs, 03 especialistas em assuntos educacionais (Supervisora, administradora, orientadora), 01 diretora geral, 02 assessores de direção, 01 assistente de educação (secretário), 02 assistentes técnicas pedagógicas , 01 Técnico de informática, 05 funcionárias contratadas pela APP, Uma funcionária de serviços gerais concursada, 01 vigia, contratado pela empresa de vigilância CASVIG.   Em  julho de 2010 houve a terceirização da merenda escolar pela empresa “Convida”, foram contratadas 04 merendeiras (PPP, 2011).

A Escola de Educação Básica Nilo Peçanha, atende alunos do Bairro Vice-King, Limeira, Rio d Areia e localidade do interior. O educandário oferece das séries iniciais ao Ensino Médio, com matrícula de aproximadamente 800 alunos nos três turnos, matutino, vespertino e noturno. Nossos alunos são na maioria filhos de operários, diaristas e empregados informais (PPP, 2011).

 

PRÁTICA TEÓRICA

 

            Os alunos foram incumbidos de construir e manter uma horta na escola, esse trabalho foi desenvolvido entre fevereiro e agosto de 2011, a escolha pelo modelo de Horta Mandala foi motivada por ser uma prática inovadora que envolve diversos elementos como a preocupação ambiental, permacultura, sustentabilidade, produção orgânica e fatores místicos, criando uma expectativa de que seria interessante desenvolver esse modelo na escola para observar seus resultados e a partir destes, discutir o rumo do próprio Projeto Ambial na Escola. Para tanto foi necessário realizar aulas teóricas, onde os alunos obtiveram aprofundamento sobre os determinados temas envolvidos. A metodologia para a construção da Horta Mandala foi ministrada em sala de aula, onde os alunos obtiveram o passo a passo de como realizar a construção da horta. Aprenderam também que diversidade de plantas atraem diversidades de insetos, que polinizam e se autocontrolam, e por esse motivo a prática de monocultura é descartada. Caminhos devidamente projetados facilitam o manejo, a irrigação e a colheita, fertilizantes orgânicos oriundos da compostagem e das próprias sobras da horta repõem os nutrientes, a cobertura morta mantém a umidade e protege o solo. A Horta Mandala tem diversas vantagens, pois permite o aproveitamento máximo da água e da terra, tem custos de produção menores que os da irrigação tradicional e permite usar áreas bem pequenas. Ela é, portanto, ideal para a escola.

Com intuito de agregar a reutilização de lixo na prática da horta, foi levantada a idéia de reutilizar garrafas Pet para a construção dos canteiros, sendo assim fez-se necessário realizar uma ação envolvendo todas as turmas da escola para a arrecadação das garrafas, para tanto foi desenvolvida uma gincana ambiental, como pode-se observar na Figura 1, onde foram realizadas diversas atividades recreativas de cunho ambiental, e através dessa gincana obtiveram-se as garrafas Pet necessárias para o trabalho na horta.

 

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Figura 1: Gincana Ambiental

Fonte: DROSDOSKI, 2011

 

As aulas práticas foram ministradas atrás do ginásio de esportes da escola, espaço que foi cedido para a construção da horta.

 

Ferramentas Utilizadas

           

            Nas aulas práticas foram utilizadas 01 roçadeira para a limpeza da área, 04 carrinhos de mão que foram utilizados para transportar terra, adubo e entulhos, 03 cortadeiras utilizadas para cavar, 04 pás que foram usadas para retirar terra e adubo, 08 enxadas utilizadas no revolvimento da terra e na retirada de plantas invasoras, 03 regadores para molhar os canteiros, 04 rastéis que foram usados na retirada do capim seco e na preparação dos canteiros, 04 pazinhas para plantio, estacas e 01 rolo de barbante utilizados na demarcação dos canteiros.

 

Construção da Horta

 

            Após realizarem a limpeza da área os alunos rastelaram o capim cortado e em seguida foi iniciada a demarcação de onde se fariam os canteiros. As garrafas Pet foram utilizadas cheias d’água, enterradas no solo com a tampa para baixo a uma profundidade de aproximadamente 7 cm, com a função de estabelecer os limites de cada canteiro e realizar a contenção da terra nos mesmos, como observa-se na Figura 2.

 

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Figura 2: Demarcação e uso das garrafas Pet nos canteiros

Fonte: DROSDOSKI, 2011

 

A terra utilizada nos canteiros foi extraída de uma encosta próxima da horta, os alunos utilizaram pás, cortadeiras e enxadas para retirar a terra, como se observa na Figura 3, e através dos carrinhos de mão, transportaram a terra até os canteiros em construção. No local da escavação a cova resultante foi convertida em um minhocário, forma de compostagem onde diariamente o material orgânico proveniente da cozinha, tais como cascas de frutas e restos de alimentos, era depositado para serem decompostos por microorganismos e minhocas, resultando em húmus, utilizado posteriormente na adubação dos canteiros.

 

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Figura 3: Alunos realizando extração de terra para construção dos canteiros.

Fonte: DROSDOSKI, 2011

 

Com o objetivo de proteger o solo dos canteiros contra as intempéries da natureza, foi realizada a cobertura vegetal morta, observada na Figura 4.

 

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Figura 4: Cobertura vegetal morta. Proteção para o solo.

Fonte: DROSDOSKI, 2011

 

Essa cobertura é uma prática que visa proteger o solo do impacto direto das chuvas e da radiação solar mediante a colocação de materiais diversos sobre a sua superfície, ajuda também a manter a umidade do solo, dificulta o aparecimento de plantas espontâneas, evita a evaporação da água e mantém o ponto de aeração do solo que é a circulação do ar nos espaços do solo, essencial a respiração das raízes das plantas e demais organismos vivos. Para esse fim foi utilizado o capim seco, proveniente da limpeza da área.

No mês de agosto os alunos terminaram a construção da Horta Mandala, realizando então a preparação do solo para o plantio, observado na Figura 5, a adubação com material oriundo do minhocario, o revolvimento da terra com uso das enxadas e a nivelação e limpeza dos canteiros com os rastéis. Com isso os canteiros estão prontos e já estão recebendo uma grande diversidade de vegetais, tais como hortaliças, frutas, ervas aromáticas, ervas medicinais, flores, entre outros, objetivando o princípio da permacultura e sustentabilidade, incluído na filosofia da Horta Mandala.

 

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Figura 5: Alunos realizando o preparo da terra, e o plantio na Horta Mandala

FONTE: Drosdoski 2011

 

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            A inclusão da Horta Mandala no Projeto Ambial teve intenção de prover a sensibilização ambiental e educação alimentar de um modo mais didático e atrativo, visando o máximo aproveitamento das aulas e a motivação dos alunos a participarem do Projeto.

            Os resultados obtidos foram satisfatórios e para promover a discussão foi realizado um questionário para se obter depoimentos dos alunos. Não houve nenhum tipo de preparo ou indução em relação às questões, objetivando ao máximo a espontaneidade dos alunos. Foram utilizadas 3 questões descritivas e 1 questão objetiva. O questionário foi aplicado a 60 alunos do Projeto Ambial, sendo 31 do Nível 1(4º e 5º ano) e 29 do Nível 2(6º ao 8º ano).

Destes, quando questionados sobre a preferência entre as aulas teóricas ou práticas, 41 alunos responderam que preferem as aulas práticas, 11 preferem as aulas teóricas, e 8 responderam que gostavam tanto das teóricas quanto das práticas. O Gráfico 1 ilustra melhor o percentual de preferência dos alunos, onde claramente se vê que a maioria prefere as aulas práticas, ou seja, as aulas na horta.

 

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Gráfico 1: Preferência dos Alunos em relação ao tipo de aula.

Fonte: DROSDOSKI, 2011

 

            Quando questionados sobre a importância da horta os alunos tiveram respostas bem diversificadas, como alguns depoimentos dos alunos do Nível 1: “É importante para o nosso almoço no Ambial.”, “Ela da comida.”, “Que nós podemos comer o que nós plantamos”, essas respostas revelam que alguns alunos vêem a importância da horta em sua alimentação, outro aluno tem uma resposta mais abrangente: “Ela tira vários litros das ruas e usamos para fazer as hortas, só usamos adubo natural e comemos o que plantamos”, se referindo as garrafas Pet reutilizadas para fazer os canteiros, o adubo natural proveniente do minhocário, e novamente a citação da alimentação. “Aprendemos o que pode ser reciclado e lá a gente aprende a trabalhar em grupo” essa foi a resposta de uma das alunas, fazendo uma menção ao trabalho em grupo, lembrando que o Ambial trabalha com alunos de diferentes idades em uma mesma turma. Os alunos do Nível 2 se referem mais a questão alimentar: “[...] na horta nós plantamos verduras, frutas, hortaliças, tudo isso e mais um pouco é para enriquecer nosso prato e ele fica colorido e para o nosso corpo é fundamental porque tem muitas vitaminas.”, “A horta possui frutas, verduras e legumes que nos ajudam ater uma alimentação rica e nutritiva”, “A horta é importante para nós por causa dos alimentos e remédios.”, como pode-se observar nas citações acima, os alunos são conscientes da importância de uma alimentação variada com produtos naturais, e também uma menção a ervas medicinais que começaram a serem plantadas na Horta Mandala.

            A relação da horta com o meio ambiente era tema da segunda questão, novamente obteve-se respostas variadas, como alguns depoimentos dos alunos do Nível 1: “a horta a gente planta e o meio ambiente a gente cuida”, “é a natureza em volta”,  revelando mesmo em respostas simples saber que precisamos cuidar do meio ambiente, e a importância do projeto Ambial em: “que nós cuidamos dos dois quando tem Ambial”, outros depoimentos: “é que na horta algumas coisas são iguais no meio ambiente”, relacionando as interações entre as plantas e insetos, a biodiversidade, o cuidado com a água, “na horta a gente aprende a cuidar das plantas, no meio ambiente a gente aprende a cuidar do planeta”, revelando a preocupação com o planeta Terra, “as plantas, os bichos, o verde, terra, água, insetos, [...]”, citando as diferentes interações que ocorrem na horta, “É que na horta nós usamos coisas que poderiam estar nas ruas e não usamos nada químico e sim tudo natural” sobre a importância ambiental da reutilização de materiais e da agricultura orgânica. Quanto ao Nível 2: “[...] a horta nos da alimentos saudáveis e o meio ambiente nos da recursos naturais,  [...]”, revelando que a relação entre a horta e o meio ambiente é o próprio aluno, já que ambas o beneficiam, “tudo, porque a horta faz parte do meio ambiente”, “a horta é um meio ambiente, na horta como em qualquer outro ambiente existem interações de ordem física, química e biológica”, “tudo que tem na horta faz parte do meio ambiente”, mostrando com essas respostas que para eles o meio ambiente não é só a natureza, e sim tudo ao nosso redor, e tudo que consta na horta é parte da interação ambiental.

            Outra questão era de modo geral, o que eles teriam aprendido com o Projeto Ambial, primeiramente o Nível 1: “aprendi a ter respeito com os mais velhos [...] e também a cuidar do ambiente”, “Eu aprendi a ter respeito com os meus colegas, aprendi a plantar, [...]”, revelando que os alunos aprendem mais do que educação ambiental, valores sociais também são inseridos mesmo que de forma sublime, “Aprendi a cuidar da natureza, plantar, saber das coisas, se eu não tivesse no Ambial eu não ia saber de nada”, “a preservar o meio ambiente”, “A cuidar do meio ambiente, eu aprendi a reciclar as coisas recicláveis e também que restos de comida viram adubo”, “Muitas coisas sobre o meio ambiente e educação alimentar e a ajudar os amigos”, “Eu aprendi que tem que cuidar das plantas, economizar água porque precisamos se não vamos morrer, não poluir os rios, etc”, como a pergunta era bem abrangente, as respostas também foram, como pode-se ver nas respostas acima, onde os alunos falam sobre preservação, alimentação, reciclagem, economia, interações ecológicas, os valores contidos na filosofia da permacultura, presente nos fundamentos da Horta Mandala. Os alunos do Nível 2 ficaram dentro do mesmo tema: “Eu aprendi a reutilizar todos os restos de comida para fazer um minhocário e os litros para reformar os canteiros”, se referindo à forma de compostagem e as garrafas Pet, ambos materiais que iriam para as lixeiras comuns e no entanto foram reutilizados, “Que a natureza precisa muito de nós, assim como nós precisamos dela, que o meio ambiente está sofrendo por causa do homem e que temos de ajudar o meio ambiente, também que a horta é muito importante para nós”, “a importância de cuidar do meio ambiente e a importância da boa alimentação”, “Eu aprendi que nós temos que cuidar com o que comemos. Sobre a natureza e os animais da região” revelando a importância do aprendizado da alimentação correta e da sensibilidade do meio ambiente que necessita de cuidado, “você não precisa ter dinheiro para ter um prato de comida colorido, é só ter energia para montar uma horta”, ressaltando a questão da alimentação variada e mostrando o baixo custo para se construir uma horta, “que o homem está destruindo a natureza e o meio ambiente está sofrendo, assim como nós estamos sofrendo por causa disso”, mostrando a consciência de que o homem sofre as consequências de um meio ambiente degradado, assim como: “que o meio ambiente não é só arvores e animais, o meio ambiente é tudo ao nosso redor” que explicita que os alunos saíram do pensamento de que o meio ambiente é algo que está fora do alcance das mãos deles, e sim, que o meio ambiente é como foi citado acima, é tudo ao nosso redor, e como muito citado, necessita de cuidado.

            Muitos resultados foram alcançados, porem a sensibilização ambiental foi o principal objetivo atingido, fazendo com que esses alunos sejam exemplos para os colegas, para a família e para a comunidade onde vivem, mostrando a eficácia do trabalho desenvolvido. O trabalho na escola não termina com esse projeto, os alunos continuam trabalhando, estudando, melhorando, crescendo, e o melhor de tudo é que estão motivados, felizes com os resultados do próprio trabalho, como se ilustra na figura 6.

 

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Figura 6: Colheita de Alfaces, alegria dos alunos.

Fonte: DROSDOSKI, 2011

 

 

 

CONCLUSÃO

 

            Conclui-se que o desenvolvimento da Horta Mandala no Projeto Ambial da Escola de Educação Básica Nilo Peçanha, trouxe contribuições relevantes tanto para a escola, quanto para os alunos e para os professores. Com esse trabalho foi possível introduzir educação ambiental de uma forma simples e prática, fazendo com que os alunos aprendam com motivação de aprender.

            Para o resultado final, os incentivos propostos pelo Projeto Ambial é de grande valia, como as aulas práticas, as aulas de informática e o almoço na escola, utilizando os produtos provenientes da horta que os próprios alunos construíram e mantém.

            Com a Horta Mandala não só alcançamos os objetivos relativos ao conhecimento teórico, permacultura, sustentabilidade e educação alimentar, mas avançamos ao proporcionar experiência entre professores e a interdisciplinaridade dos conteúdos, sendo uma importante ferramenta de educação ambiental e de incentivo do tema no meio escolar, assim como a inserção de valores sociais como o respeito e o trabalho em grupo.

 

REFERÊNCIAS

 

 

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GUIMARÃES, Mauro. A dimensão ambiental na educação. São Paulo: Papirus, 2001.

GUIVANT, J. – “A Agricultura Sustentável na Perspectiva das Ciências Sociais”, in VIOLA, E. et al. – Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cidadania: Desafios para as ciências sociais, São Paulo/Florianópolis, Cortez/ Universidade Federal de Santa Catarina, 1995, pp.99-133.

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Ilustrações: Silvana Santos