Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) PEGADA ECOLÓGICA DOS PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE URUARÁ-PA
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PEGADA ECOLÓGICA DOS PROFESSORES DE ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE URUARÁ-PA.

 

Reinaldo Lucas Cajaiba - Laboratório de Ecologia Aplicada-LEA, Utad/Portugal (reinaldocajaiba@hotmail.com).

Wully Barreto da Silva - Universidade Federal do Pará-UFPA (wully_bio@hotmail.com).

 

 

Resumo

Na busca de uma vida satisfatória para todos, em consonância com a capacidade regenerativa da natureza, o presente artigo objetiva analisar a consciência ambiental dos professores de escolas da zona urbana do município de Uruará-PA atraves do Ecological Footoprint Method (Pegada Ecológica).  Para isso, foi aplicado um questionário, envolvendo o teste de Pegada Ecológica, com 76 professores. Os resultados obtidos mostram a necessidade de sensibilização, a fim de melhorar a percepção ambiental dos entrevistados, e, consequentemente, seu compromisso com um mundo mais sustentável.

 

Palavras-chave: Pegada Ecológica; Conscientização; Sustentabilidade.

 

 

Introdução

As atividades sociais e econômicas que utilizam matéria e energia geram impactos positivos e negativos sobre o meio ambiente. As atividades humanas funcionam como sistemas abertos que captam recursos do meio ambiente e devolvem resíduos no final do ciclo. Os recursos naturais (água, madeira, combustíveis fósseis, fauna, flora, entre outros) são os principais inputs para o metabolismo dessas atividades. No entanto, os resíduos gerados nesses processos, além de não substituírem os recursos naturais consumidos em quantidade ou qualidade, promovem impactos negativos no meio ambiente (SEBASTIÃO, 2010).

Diante deste contexto, surge uma necessidade de desenvolver indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para a tomada de decisões em todos os níveis e que contribuam para uma sustentabilidade autorregulada dos sistemas integrados de meio ambiente e desenvolvimento (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 2001, p. 257).

Rees (1992) contribuiu com o uso de indicadores de sustentabilidade a partir do momento em que elaborou um índice chamado Pegada Ecológica ou EF (do inglês Ecological Footprint). Este método consiste em um índice de sustentabilidade que mede o impacto do homem sobre a terra, um indicador da pressão exercida sobre o ambiente, e permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de vida. Trata-se de um conceito simples e compreensível, oriundo da ecologia e relacionado à capacidade de suporte do ecossistema (GUIMARÃES & FEICHAS, 2009). Da leitura da obra depreende-se que o método proposto mede o fluxo de energia e matéria necessária a suprir o consumo de determinada população e converte este gasto de matéria e energia em área de solo e água requerida da natureza para suportar esse fluxo (WACKERNAGEL & REES, 1996).

Com o cálculo da pegada ecológica um país, região ou negócio individual pode identificar o consumo relativo de recursos das suas operações e pode estimar o seu impacto ambiental. Baseado nos resultados deste indicador, políticas e iniciativas para promover atividades sustentáveis podem ser desenvolvidos (SEBASTIÃO, 2010).

Considerando a possibilidade de a quebra de paradigma no perfil de consumo com vistas à sustentabilidade, este artigo tem como objetivo analisar o uso do Ecological Footprint a partir do modelo proposto por Wackernagel e Rees (1996) como ferramenta para avaliar o perfil do consumo consciente dos professores de escolas da zona urbana no município de Uruará-PA. Justifica-se a escolha de tais sujeitos, uma vez que esses profissionais são os mediadores diretos da educação ambientale que podem (ou poderão) interferir nas tomadas de decisões em prol do desenvolvimento sustentável.

 

Metodologia

A coleta de dados se deu a partir da impressão do questionário disponibilizado online pela Global Footprint Network, (www.myfootprint.org), que foi utilizado como roteiro para as entrevistas. As perguntas foram agrupadas nas categorias de alimentação, bens de consumo, geração de resíduos, consumo de água e energia e transporte.

 

Resultados e Discussão

Participaram da pesquisa 76 professores, dos quais 42% pertencem ao sexo masculino e 58% ao sexo femimino. Em relação às perguntas específicas que permitem a identificação da pegada ecológica dos entrevistados, obtiveram-se as respostas a seguir.

O primeiro item analisado foi relacionado aos hábitos alimentares. Quando questionados sobre as escolhas que fazem ao comprarem nos supermercados, 11,54% afirmaram que compram tudo que tem vontade, sem prestar atenção no preço, na marca ou na embalagem; 11,54% afirmaram que usam apenas o preço como critério de escolha; 7,69% prestam atenção se os produtos de uma determinada marca são ligados a alguma empresa que não respeita o meio ambiente ou questões sociais e 69,23% afirmaram que procuram considerar preço e qualidade, além de escolher produtos que venham em embalagens recicláveis e que respeitem critérios ambientais e sociais.

Ainda sobre o tipo de alimentação consumida e seu modo de preparo, encontraram-se as seguintes respostas: 34,62% consomem alimentos que são de outras regiões/embalada/pré-preparada e 65,38% consomem apenas alimentos produzidos na região ou de origem orgânica.

O alto percentual do consumo de produtos orgânicos ou produzidos localmente deve-se ao fato de o município em questão ser basicamente de atividades agrícolas onde a população consegue comprar os produtos produzidos na região e ainda ao fato de a via de acesso ao município ser através da Br 230 Transamazônica que ainda não se encontra asfaltada encarecendo ou dificultando a chegada de produtos oriundos de outras regiões. Apesar disto, uma boa parte da população consumem produtos de outras regiões que são embaladas ou pré-preparadas.

Com relação à frequência que consomem produtos de origem animal (carne, peixe, ovos, laticínios). 96,15% da dieta alimentar dos entrevistados é composto por carnes, ovos ou derivados do leite e apenas 3,85% não consome nenhum tipo de alimento de origem animal.

A análise da categoria alimentação no Ecological Footprint Method está relacionada ao impacto causado pela criação de animais como gado e frango sobre o solo, medido pela quantidade de hectares necessários para a criação, assim como o consumo de alimentos e energia utilizados na criação desses animais (GÓMEZ et al., 2009).

Criações de gado bovino são responsáveis pela emissão de 80 milhões de toneladas anuais de metano para atmosfera durante a ruminação. E o esterco acrescenta mais 25 milhões de toneladas. Cada molécula de metano é 23 vezes mais eficaz para aquecer a atmosfera que a do gás carbônico. No Brasil a pecuária bovina é a maior responsável pelo desmatamento e consome grande parte da produção de grãos para seu alimento (LISBOA & BARROS, 2010).

No item sobre produção e destinação final dos resíduos produzidos em casa, 7,7% dos entrevistados afirmaram que não se preocupam muito com o lixo produzido; 92,31% afirmaram que tudo é colocado em sacos recolhidos pelo lixeiro, mas não fazem a menor ideia para onde vai.

Observa-se que 100% da população estudada não se preocupam ou não fazem a menor ideia da destinação do lixo, esse fato deve-se ao município de Uruará-PA não ter nenhum processo de coleta seletiva e todo material recolhido na cidade ser destinado ao “lixão”. Em um estudo realisado por Cajaiba & Santos (2013) para verificar a coleta e disposição final dos resíduos sólidos urbanos, os autores detectaram que todo material coletado, inclusive pneus, aparelhos eletroeletrônicos, pilhas, baterias, lixo orgânico e até mesmo resíduos de saúde são destinados ao lixão a céu aberto.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB (2008) os “lixões”, ainda são o destino final dos resíduos sólidos em 50,8% dos municípios brasileiros, mas esse quadro teve uma mudança significativa nos últimos 20 anos.

Com a aprovação da Lei 12.305/2010 que obriga todos os municípios brasileiros a extinguirem os seus “lixões” espera-se que a população uruaraense tome medidas precautivas em relação à destinação dos seus resíduos, evitando assim sérios impactos ambientais.

No item consumo de energia, os professores foram questionados se ao comprarem eletrodomésticos e lâmpadas, levam em consideração informações referentes à eficiência energética do produto (se o produto consome menos energia). 3,85% afirmaram que utilizam lâmpadas frias, mas não levam em consideração a eficiência energética de eletrodomésticos; 11,54% compram eletrodomésticos que consomem menos energia e utilizam lâmpadas incandescentes (amarelas), e 84,62% só utilizam lâmpadas frias e compram eletrodomésticos que consomem menos energia.

Ainda no quesito consumo de energia os professores foram indagados se deixam luz, aparelhos de som, computadores ou televisão ligados quando não estão sendo utilizados; 23,08% declararam que deixam as luzes acesas, computador e tv ligados, mesmo quando não estão no ambiente ou utilizando-os, enquanto 76,92% sempre desligam os aparelhos e lâmpadas quando não estão utilizando, ou deixam o computador em estado de hibernação (stand by).

Por fim, a última questão que aborda sobre consumo energético, os professores foram questionados quantas vezes por semana, em média, ligam o ar condicionado em casa ou no trabalho. 46,16% ligam seus aparelhos de ar condicionado pelo menos duas vezes por semana, enquanto 53,85% não tem ar condicionado em casa ou no trabalho.

O ato de poupar energia elétrica diariamente significa preservar os recursos naturais do planeta. O desperdício de energia elétrica, além de não sair barato para o consumidor, pode se tornar um grande problema ambiental.  Quase 100% da energia elétrica produzida no Brasil é gerada pelas centrais hidrelétricas que dependem de milhões de litros de água para movimentar as turbinas responsáveis pela geração de energia. Evitando o desperdício e o consumo desnecessário, adiamos, entre outras consequências, a construção de novas hidrelétricas, que causam sérios impactos ambientais. Há muito o que podemos fazer para melhorar a eficiência de energia de nossas casas. Alguns cuidados nos hábitos cotidianos é a compra ou melhoria de alguns dos aparelhos eletrodomésticos que mais consomem, entre outros itens, são o melhor caminho.

No item consumo de água, os professores foram perguntados quanto tempo levavam, em média, tomando banho diariamente. 30,77% gastam entre 10 e 20 minutos; 57,7% até 10 minutos; e 11,54% menos de 5 minutos. Questionados ainda sobre o tempo gasto ao escovar os dentes, 19,23% afirmaram que a torneira permanece aberta o tempo todo e 80,77% abrem a torneira apenas para molhar a escova e na hora de enxaguar a boca.

A população mundial, como já é sabido, vem crescendo a um ritmo muito alto, o que tem preocupado estudiosos há muito tempo. Thomas Malthus (1766-1834) estimou que o crescimento da população ultrapassaria o crescimento da oferta por alimentos e água, o que deixaria a população com sérios problemas, podendo até ocasionar guerras e conflitos.

Em 2005, o consumo de água doce mundial era cerca de seis vezes maior que o consumo em 1990, embora a população mundial não tenha crescido na mesma proporção ao longo do século (MARTINI, 2009).

De acordo com Rocha et al. (1998), o consumo de água está diretamente ligado a diversos fatores como o clima, padrão econômico e os hábitos da população, o custo da água entre outros. Geralmente, o consumo aumenta conforme o número de habitantes de uma determinada cidade, ou seja, quanto maior a cidade, maior é o consumo de água registrado em litros/habitante/dia.

O último item que leva em consideração o tipo de transporte utilizado para ir ao trabalho ou se locomoverem diariamente, 26,92% afirmaram que o carro é seu único meio de transporte e, na maioria das vezes, andam sozinho; 3,85% tem carro, mas procura fazer a pé os percursos mais curtos; 68,23% não tem carro e anda muito a pé ou de bicicleta.

A última questão deste item perguntava quantas horas por ano gastam andando de avião. 3,85% 25 horas; 15,38% 10 horas; 80,77% nunca andam de avião.

Segundo o relatório Planeta Vivo (WWF, 2006) os gases causadores do efeito estufa resultantes do uso de combustíveis fósseis foram os itens que mais cresceram na pegada ecológica mundial, chegando a uma evolução de nove vezes em 40 anos. No Brasil, as emissões por uso de combustíveis fósseis estão em torno de 17% do resultado total da pegada nacional (GÓMEZ et al., 2009).

 

Após o finalizado o levantamento dos dados, calculou-se a pegada ecológica dos professores através do software disponível pelo Global Footprint Network, (www.myfootprint.org) e identificou-se que a pegada ecológica média dos pesquisados é 2,5 hectares globais da área bioprodutiva do planeta. O item que mais influenciou nos resultados foi área de pastagens (que mede a área para a criação de rebanhos) com 45,9%.

A média da pegada ecológica dos professores pesquisados está um pouco abaixo da média mundial de 2,7 hectares globais. Se todas as pessoas do planeta mantivessem esse mesmo padrão de consumo seria necessário uma capacidade de regeneração de 1,4 planetas por ano, mostrando assim que o grupo estudado precisam rever seus hábitos e adotando medidas que reduzam seus impactos no planeta. É preciso ter consciência de que somos ao mesmo tempo, um todo e parte de outro todo maior e que possamos refletir sobre as necessárias adaptações para a garantia do acesso aos recursos ecológicos que sustentam a vida, mas que são limitados.

 

Considerações Finais

Avaliar a Pegada Ecológica constitui um instrumento para construir estratégias e cenários futuros em várias escalas, buscando a sustentabilidade e a responsabilidade de todas as gerações para contribuir e avançar rumo a uma vida satisfatória para todos de maneira concreta. Se desejarmos uma vida sustentável no futuro, é imprescindível reduzir drasticamente o nosso consumo atual de matérias-primas e combustíveis fósseis para tentar com isto reduzir a nossa Pegada Ecológica ao nível de um planeta (SCHWAMBACH, 2010).

Um dos fatores a serem abordados como um agente importante para diminuir a Pegada Ecológica diz respeito aos padrões de consumo adotados pelo indivíduo no seu cotidiano. Este fator tem relação com a situação econômica. Evitar o excesso de consumo de carnes, produtos com muita embalagem, utilizar produtos em envoltórios reciclados, reciclar e reutilizar os resíduos sólidos que produzimos, entre tantas outras, são ações de grande impacto se cada pessoa fizer a sua parte (SCHWAMBACH, 2010).

Nossos resultados evidenciam que mesmo em um grupo que é considerado essencial na construção de saberes sobre a questão ambiental estão em um nível de consumo consideravelmente alto.

Conclui-se que a pegada ecológica dos professores é maior do que a média da pegada ecológica mundial, mais é equivalente à média geral da populaçao brasileira. Este trabalho aponta um problema que pode ser tomado como grave, uma vez que o público-alvo são os professores e deveria estar mais conscientizado da importância de um consumo moderado com vistas à sustentabilidade.

 

Referências Bibliográficas

CAJAIBA, R.L. & SANTOS, E.M. Coleta e disposição final dos resíduos sólidos urbanos no município de Uruará-PA. IV Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, Salvador/BA, p. 1-7, 2013.

 

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Agenda 21. Curitiba: IPARDES, 2001.

 

GÓMEZ, C.R.P., PARÍSIO, D.C.A., CASTILLO, L.A.G., SANTOS, J.F. Ecological Footprint Method como ferramenta para avaliar o perfil do consumo consciente. Revista Alcance – Eletrônica, v. 16, p. 320-338, 2009.

 

GUIMARÃES, R.P. & FEICHAS, S.A.Q. Desafios na Construção de Indicadores de Sustentabilidade.  Ambiente & Sociedade, v. 12, n. 2, p. 307-323, 2009.

 

LISBOA, C.K. & BARROS, M.V.F. A pegada ecológica como instrumento de avaliação ambiental para a cidade de Londrina. Confins, v. 8, p. 1-20, 2010.

 

MARTINI, F. Potencial de economia de água potável por meio do uso de água de chuva em São Miguel do Oeste-SC. TCC, UFSC, 2009. 96p.

 

REES, W. Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban economics leaves out. Environment and Urbanization, v. 4, n. 2, p. 121-130, 1992.

 

ROCHA, A. L.; BARRETO, D.; IOSHIMOTO, E. Caracterização e monitoramento do consumo predial de água. Brasília: Ministério do Planejamento e Orçamento/ Secretária de Política Urbana. 38p. (Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água–PNCDA. DTA E1), 1998.

 

SCHWAMBACH, A. Avaliação da consciência ambiental de alunos da rede pública estadual: um indicador da qualidade da educação ambiental em São Leopoldo/RS. Dissertação (Mestrado em Ciências) UFRS. 90 f, 2010.

 

SEBASTIÃO, I.L.C. Aplicação da Pegada Ecológica ao Turismo. Como a Pegada Ecológica pode Influenciar a Gestão Ambiental.  Universidade Nova de Lisboa, 184 f, 2010.

 

WACKERNAGEL, M.; REES, W. Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth. Philadelphia, PA: New Society Publishers, 1996. 160 p.

Ilustrações: Silvana Santos