Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) PARQUE DO INGÁ (MARINGÁ – PARANÁ): UMA ANÁLISE SOBRE SEUS ASPECTOS ESTRUTURAIS
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PARQUE DO INGÁ (MARINGÁ – PARANÁ): uma análise sobre seus aspectos estruturais

 

Maycon Raul Hidalgo – Universidade Estadual de Maringá-UEM mayconraulhidalgo@gmail.com

Ana Tiyomi Obara – Universidade Estadual de Maringa – UEM

anaobara@hotmail.com

Tais Elisangela da Cruz – Faculdade Ingá - UNINGÁ

taiselisangela@hotmail.com


PARQUE DO INGÁ (MARINGÁ – PARANÁ): uma análise sobre seus aspectos estruturais

Resumo: O Parque do Ingá foi criado com objetivo de ser uma área de preservação da flora e fauna local numa perspectiva inclusive do desenvolvimento do ecoturismo. O presente trabalho buscou fazer uma análise sobre as adequações da estrutura do Parque no que diz respeito ao seu potencial ecoturístico nos conceitos de Unidade de Conservação e educação ambiental uma vez que o parque tornou-se um local de extrema importância para a disseminação de conceitos ecológicos, dentre as conclusões destaca-se uma falta de perspectiva ecológica nos mais diversos aspectos das diretrizes de unidades de conservação tanto da população quanto da própria direção do local.

Palavras-chave: Ecoturismo, Parque do Ingá, Educação Ambiental.

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1.            introdução

Na segunda metade da década de 40 era criada a cidade de Maringá pela Companhia de melhoramento do Norte do Paraná. Em vista ao eminente avanço da então pequena cidade, em 1968 foi criado o bosque 01, que mais tarde passou a receber o nome de Parque do Ingá devido ao grande numero da Espécie Ingá em seu interior, com intuito de preservação da flora e fauna local sendo considerado juntamente com o bosque dois o pulmão da cidade (BOVO, 2011).

O Parque do Ingá localiza-se na região central de Maringá entre as avenidas São Paulo, Anchieta, Néo Alves Martins, Laguna e Juscelino Kubitschek. Suas coordenadas geográficas são 23º 25` 28``de latitude sul e 51º 55` 59`` de longitude oeste a uma altitude de 557 metros e compreende uma área de 473.300 m², sua vegetação é denominada Floresta Estacional Semidecidual e encontra-se numa região fisíografica denominada terceiro Planalto Paranaense. Foi aberto a visitação sob o mandato do prefeito Adriano José Valente pelo Decreto nº 870/1971, se tornando um dos principais pontos turísticos da região noroeste do Paraná (MARINGÁ, 1994).

 A criação de referido Parque assim como dos parques urbanos em geral, busca suprir a necessidade constante de locais de lazer para a população, tendo ainda como característica a melhoria do clima, purificação do ar, permeabilidade e fertilidade do solo e amortecimento de ruídos (MIKHAILOVA 2004). Sendo assim em 1994 foi elaborado o seu plano de manejo, que fez um levantamento sobre as espécies (flora e fauna) que o local abrigava, evidenciando também algumas preocupações com os vandalismos praticados contra o parque e a constante erosão que ocorria no interior do mesmo (MARINGA, 1994).

O parque sofreu ainda duas revisões deste Plano de Manejo ambos contendo apontamentos  sobre irregularidades, diminuição de espécies em seu interior, processos de erosão e inserção de espécies exóticas (MARINGA, 2007; MARINGA, 2008). Assim como muitos trabalhos científicos dissertando sobre os problemas ocorridos no parque, desde má aplicação de verbas à falta de comprometimento da administração (BOVO, 2011; GARUTTI, 2011). Problemas estes que culminaram no fechamento dos portões no ano de 2011 sob suspeita de um surto de febre amarela, e mesmo com a hipótese descartada, a direção decidiu por mantê-lo fechado sob o pretexto de reformas e implantação de novas atrações, contudo o processo que deveria durar menos de um ano, estendeu-se por mais de dois anos, sendo reaberto apenas em 2011 (PARANA-ONLINE, 2010; MARINGÁ, 2011; MARINGA, 2012).

Muitas foram as modificações ocorridas nestes dois anos em que o local ficou fechado a visitação, como a retirada do mini-zoo que se encontrava no interior do parque, a instalação de pequenas trilhas dinâmicas destinadas as crianças, implantação de tirolesas, a praça das crianças, o novo deck e a criação do museu interativo, da praça de souvenires e alimentação, e o projeto das futuras instalações do auditório.

Contudo em 2006 o Ministério do Meio Ambiente (M.M.A.) juntamente com Secretaria de Biodiversidades e florestas; Diretoria de Áreas Protegidas formularam diretrizes para visitação em unidades de conservação (U.C.) tendo em vista o aumento expressivo de visitações em áreas de conservação em todo Brasil, o objetivo desta elaboração é em principio a conservação da biodiversidade:

A visitação no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC, contudo, deve ser cuidadosamente planejada para que possa cumprir os objetivos de sua criação, além de funcionar como uma ferramenta de sensibilização da sociedade sobre a importância da conservação da biodiversidade e como um vetor de desenvolvimento local e regional. (BRASIL, 2006. p. 7.)

Dentro das diretrizes citadas acima frisamos aqui: a necessidade de uma estrutura mínima que mantenha a integridade do ambiente assim como dos visitantes; a necessidade de elaboração da capacidade de visitantes que o ambiente comporta; informações sobre os percursos das trilhas, monitoramentos; correta destinação dos resíduos produzidos dentro da U.C.; Implantar meios de inclusão a todas as diversidades de possíveis visitantes, etc. (BRASIL, 2006). Neste sentido o Parque do Ingá ao reabrir seus portões, e se enquadrar dentro do que é concebido como uma U.C, tem por obrigação cumprir as referidas normas, fato este que justifica o presente trabalho.

2.     Metodologia da pesquisa

Para alcançar os objetivos propostos optou-se por um estudo exploratório, no caso a caracterização tanto do Parque quanto a estrutra oferecida aos visitantes, uma vez que tais estudos proporcionam maiores informações sobre o objeto de pesquisa.

[...] por meio do estudo exploratório, busca-se conhecer com maior profundidade o assunto de modo a torná-lo mais claro ou construir questões importantes para a condução da pesquisa (RAUPP; BEUREN, 2006. p.80).

De acordo com Piovesan (1995), tal método quando norteado integra-se ao planejamento principal da pesquisa, tornando-se assim um meio de encontrar a coerência com a realidade. 

Deste modo optamos pela pesquisa documental seguida de observação direta da infra-estrutura criada recentemente para levantar a percepção ecoturística sobre o parque, como registro utilizamos o recurso o fotográfico como fonte principal.

 

3.     discussÃO

Apesar da elaboração e das sequentes revisões do Plano de Manejo do Parque do Ingá, 1994, 2007 e 2008 estudos realizados em 2002 evidenciaram que alguns dos problemas já mencionados no Plano de Manejo e em suas respectivas revisões reincidiam, dentre eles receberam destaque: a erosão, insuficiência de bebedouros e estresse nos animais causados principalmente pelo espaço reduzido (RODRIGUES, 2002). Atualmente o problema com os animais já estão bem minimizados, em partes pela retirada dos animais do mini-zoo, sendo possível visualizar alguns animais como Saguis e algumas aves soltas no ambiente, neste caso em específico há ainda um constante comportamento inadequado por parte dos visitantes ao se depararem com estes animais em meio as trilhas, pois na ânsia de visualiza-los de perto e tirarem fotos, acabam os atraindo com alimentos, muitas vezes industrializados, Baez (2003) disserta sobre os males que estes alimentos podem causar nos animais selvagens, sendo um dos problemas a acomodação e perda do instinto de caça ao alimento, nato deste bichos, no caso da erosão ainda é possível visualizar, ainda que “camuflado” pela inacessibilidade ao local.

O problema dos bebedouros ainda esta nítido, tendo que caminhar quase que todo parque pra encontrar um bebedouro, ainda assim este não funciona em perfeitas condições, outros dois locais no interior do parque possui bebedouros, no entanto estes ficam adentrados a mata, de difícil acesso e em condições ainda mais precárias (ver imagem 1).

 

Imagem 1: Bebedouro localizado no interior de uma das trilhas, com apenas uma das três torneiras funcionando. Fonte: Os autores.

 

 Em relação à estrutura, ressaltamos também o caso das lixeiras, que em seus 47,3 hectares contabilizam 73 e apesar de estarmos em plena discussão em todo o mundo sobre os impactos ecológicos oriundos do lixo produzido pela população, o Parque do Ingá, mesmo sendo um local de preservação não conta com nenhum tipo de coleta seletiva, torna-se assim contraditório os objetivos do parque com suas ações.

Imagem 2: Uma das Setenta e Três lixeiras instaladas no parque, sem nenhuma forma de coleta seletiva. Fonte: Os autores.

 

Em relação a infra-estrutura instalada no parque, fica claro a importância de um constante monitoramento e orientação aos visitantes, pois em vários momentos foi visualizado o uso indevido dos atrativos, sem nenhum equipamento de segurança e sem trazer um objetivo educacional na participação das atividades. Tomamos como exemplo aqui o caso do arvorismo implantado porém ainda interditado para uso, contudo em vários momentos foi possível visualizar visitantes de várias idades se utilizando de maneira impropriado atrativo, chegando em alguns casos a quase cair de uma altura  aproximada de dois metros e meio (ver imagem 3). Com relação as “Pista de Aventura” destinada as crianças (pista dinâmica), durante três meses em que estivemos presentes para observação foi possível acompanhar a constante deterioração do atrativo.

Imagem 3: Uso inadequado dos equipamentos instalados no parque, apesar dos avisos de uso proibido sem orientação de um monitor, muitas pessoas se arriscavam pelo equipamento. Fonte: Os autores.

 

Ambos os casos mencionados nos levam a uma única explicação e possível solução, que compartilhamos com os estudos de Garuti (2011) e Bovo (2011), assim como também dos elaboradores e revisores dos planos de manejos, (1994; 2007; 2008), e dos elaboradores das diretrizes para visitação em Unidades de conservação (BRASIL, 2006), há uma grande necessidade de implantação de monitores no referido parque, assim como em todo parque que tenha como missão o ecoturismo.

O acompanhamento técnico de um monitor minimiza impactos ao ambiente e direciona as atividades promovendo a mudança conceitual em relação ao meio, entendemos aqui o impasse e a burocratização que se estende à contratação de monitores, no entanto arriscamos mais uma sugestão, no caso específico de Maringá, em que é conhecida como cidade universitária e que entre suas doze instituições de ensino superior presenciais, três contam com o curso de Ciências Biológicas, uma parceria entre administração do parque e essas instituições poderia ser a solução para a monitoria do parque, ainda que essa solução implique em modificações no processo de ensino, poucas ou até mesmo nenhuma seriam as alterações no currículo do curso de Biologia, seria sim uma boa alternativa para a questão do ecoturismo no parque e na formação dos futuros profissionais biólogos, não obstante seria necessário antes uma mudança na forma em que se entende o ecoturismo por parte da administração do parque.

Por fim achamos de bom grado terminarmos essa discussão com uma afirmação de Bueno (2006), onde ele diz que o ecoturismo é uma ferramenta da educação ambiental na busca da conservação da natureza, no entanto, até mesmo o ecoturismo produz impactos ambientais e compete a educação ambiental minimizá-los, a partir das diversas estratégias e ferramentas.

3.    CONCLUSÃO

Ao analisar os aspectos citados, observa-se a necessidade de grandes mudanças em vários pontos do parque para que ele consiga alcançar os objetivos iniciais de uma U.C. (ou ecoturística).

Simplesmente criar “refúgios verdes” não basta, é necessário promover a educação ambiental na sociedade, para que esta tenha consciência dos objetivos de uma unidade de conservação ambiental e sua importância para comunidade, Solís (2003) enfatiza o fato de que a E.A. deve acima de tudo proporcionar ao individuo uma auto-consciencia ambiental, sendo este o novo transmissor deste conhecimento.

Contudo para que uma unidade de conservação propicie práticas ecoturísticas é imprescindível que os aspectos principais de seu funcionamento estejam de acordo com os princípios da sustentabilidade. Mais do que um simples local de lazer, o parque deve funcionar como um centro de educação ambiental e mudança conceitual e atitudinal, para tanto a U.C. deve servir de exemplo à população, nesta perspectiva, os aspectos analisado dentro do parque, não cumpri seu papel primordial, deixando os visitantes a mercê de suas próprias conclusões sobre o objetivo dos atrativos e até mesmo do local em si, dessa forma, é fundamental que o parque conte com um projeto de educação ambiental efetivo, e que se repense a possibilidade da inserção de monitores para melhor auxiliar a compreensão dos visitantes sobre os aspectos funcionais e ambientais do Parque.

Conclui-se, assim, que há muito ainda por se fazer no Parque do Ingá. Muitas das questões levantadas no Plano de Manejo original e em suas revisões ainda não foram atendidas, a população vai ao parque e quando voltam nada lhes foram acrescentadas, desse modo o parque tem sido um centro atrativo de lazer a população, mas se distancia dos aspectos de uma unidade conservação ambiental.

 

4.    REFERÊNCIAS

BAEZ, A. L. ACUÑA, A. GUÍA PARA LAS MEJORES PRACTICAS DO ECOTURISMOEN AREAS PROTEGIDAS. México. CDI, 2003.

BOVO, M. C. AMORIM, M. C. C. T. ANÁLISE E DIAGNÓSTICOS DOS PARQUES URBANOS EM MARINGÁ (PR) BRASIL. Geo UERJ – Ano 13, nº 22, v 2, jul./dic. 2011.

BRASIL, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE. DIRETRIZES PARA VISITAÇÃO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. Brasilia: Ministerio do Meio Ambiente, 2006.

GARUTTI, C. ZANIN, T. RESPONSABILIDADE CIDADÃ EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: O caso do Parque do Ingá na cidade de Maringá – PR. Revista Cesumar – Ciências Humanas e Sociais Aplicadas v.16, n. 1, jan/jun. 2011, p. 121-146.

MARINGÁ. PARQUE DO INGÁ SERÁ REABERTO DEFINITIVAMENTE  A PARTIR DE QUARTA FEIRA. Maringá, PR. 2011. Disponível em < http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index.php?sessao=15b45244435515&id=13551> acesso em 16/03/2012.

MARINGÁ. Prefeitura do Município de Maringá. PLANO DE MANEJO DA PARQUEDO INGÁ. Maringá, Paraná. Secretaria do Meio Ambiente; 1994.

MARINGÁ. Prefeitura do Município de Maringá. Secretaria do Meio Ambiente. REVISÃO DO PLANO DE MANEJO DO PARQUE DO INGÁ: Educação Ambiental. Maringá, PR: PMM, 2007.

MARINGÁ. Prefeitura do Município de Maringá. Secretaria do Meio Ambiente. REVISÃO DO PLANO DE MANEJO DO PARQUE DO INGÁ. Maringá, PR: PMM, 2008.

MIKHAILOVA, I. SUSTENTABILIDADE: evolução dos conceitos teóricos e os problemas da mensuração prática. Revista Economia e Desenvolvimento, nº 16, 2004.

PIOVESAN, A. TEMPORINI, E. R. PESQUISA EXPLORATÓRIA: procedimento metodológico para o estudo de fatores humanos no campo da saúde pública. São Paulo: Revista Saúde Pública; 1995.

RAUPP, F. M. BEUREN, I. M. METODOLOGIA DA PESQUISA APLICÁVEL AS CIÊNCIAS SOCIAIS. In: BEUREN, I. M. (Org). COMO ELABORAR TRABALHOS MONOGRAFICOS EM CANTABILIDADE. 3. Ed. São Paulo: Atlas; 2006.

SOLÍS, E. T. EDUCACIÓN AMBIENTAL Y CONSERVACIÓN DE LA BIODIVERSIDAD EM LOS PROCESOS EDUCATIVOS. Pica: Liceo Padre Alberto Hurtado C, 2003.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos