Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/12/2013 (Nº 46) LEVANTAMENTO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL EM CURITIBA
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LEVANTAMENTO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL EM CURITIBA/PR

 

Debora Cristina Lopes

Graduada em Bacharelado e Licenciatura em Geografia (UFPR). Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade (UNINTER). Professora da SEED/PR. Secretária de Estado da Av. Água Verde, 2140 - Vila Izabel. 80240-900 - Curitiba - PR. deboralopes@seed.pr.gov.br

 

RESUMO

 

A presente pesquisa realizou um levantamento com 91 alunos do 9º ano do ensino fundamental em três instituições públicas do município de Curitiba, com o objetivo de analisar como esses jovens estão saindo do ensino fundamental, se receberam conhecimentos que os capacitaram ou formaram com uma consciência ambiental, baseada em uma ética e valores ambientais. Com a análise dos dados pretende-se apresentar um diagnóstico da percepção dos educandos a cerca da questão ambiental, nos mostrando a importância da Educação Ambiental no âmbito escolar.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental. Consciência Ambiental. Percepção Ambiental.

 

Introdução

 

A migração generalizada das populações humanas para as cidades vem impondo desafios ambientais crescentes a legisladores, pesquisadores, ambientalistas e autoridades públicas. Impermeabilização de solos, edifícios mal projetados, emissão de gases do efeito estufa, produtos nocivos à camada de ozônio, intoxicação por inseticidas domésticos e ilhas de calor são apenas algumas das expressões agora inseridas na rotina diária das grandes cidades.

A Educação Ambiental surge como uma necessidade das sociedades contemporâneas, na medida em que as questões socioambientais têm sido cada vez mais discutidas e abordadas na sociedade, em decorrência da gravidade da degradação do meio natural e social. Desta forma, a sistematização destas discussões na escola, é uma maneira de oportunizar ao educando uma reflexão crítica da realidade a qual pertence, desde o nível local ao global.

Segundo Araújo (2007), a Educação Ambiental surge na segunda metade do século XIX, de forma bastante embrionária, com o lançamento do livro “O Homem e a Natureza”, ou “Geografia Física Modificada pela Ação do Homem”, de autoria do norte-americano Georges Perkins Marsh. Cinco anos depois, o vocábulo “ecologia” é proposto por Ernst Haeckel para definir os estudos a serem realizados sobre as relações entre as espécies e seu ambiente.

No plano internacional, destaca-se em 1951 a publicação do “Estudo da Proteção da Natureza no Mundo”, organizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza – UICN, que havia sido criada em decorrência da Conferência Internacional de Fontainbleau, na França, em 1948, com apoio da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação.

Em 1952, um acidente de poluição do ar decorrente da industrialização, ocorrido em Londres, Inglaterra, provoca a morte de cerca de 1.600 pessoas. Diante da necessidade de compreender-se esse quadro, realizou-se em março de 1965, a “Conferência de Educação da Universidade de Keele”, onde pela primeira vez utilizou-se a expressão “Educação Ambiental” (Environmental Education). Houve recomendação de que a educação ambiental deveria se tornar uma parte essencial de educação de todos os cidadãos. Naquela época, porém, a educação ambiental era vista como ecologia aplicada, ou seja, conservação, conduzida pela biologia (ARAÚJO, 2007).

A Conferência de Estocolmo de 1972, realizada em razão das idéias divulgadas pelo Clube de Roma, principalmente pelo relatório intitulado “Os limites do crescimento”, trouxe dois importantes marcos para o desenvolvimento de uma política mundial de proteção ambiental, que foram: a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com sede em Nairóbi, Quênia, e a recomendação de que se criasse o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA).

Em 1975, é lançada a “Carta de Belgrado”, buscando uma estrutura global para a educação ambiental.

Em 1977, na cidade de Tbilisi, antiga URSS, ocorreria o mais importante evento internacional em favor da educação ambiental até então já realizado. Foi a assim chamada “Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental”, que, fortemente inspirada pela Carta de Belgrado, seria responsável pela elaboração de princípios, estratégias e ações orientadoras em educação ambiental que são adotados até os dias atuais, em todo o mundo.

Em 1987 ocorreu a divulgação do Relatório “Nosso Futuro Comum”, conhecido como “Relatório Brundtland”, que inauguraria a terminologia “desenvolvimento sustentável”. No mesmo ano, realiza-se o “Congresso Internacional da UNESCO - PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental”, em Moscou. Tal Congresso teve por objetivo avaliar os avanços obtidos em educação ambiental desde Tbilisi, além de reafirmar os princípios de educação ambiental e assinalar a importância e necessidade da pesquisa e da formação em educação ambiental.

Vinte anos após a Conferência de Estocolmo, 1992 foi o ano em que realizou-se, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92. O principal documento elaborado foi a Agenda 21, que estabeleceu a importância de cada país em se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s), publicado em 1997 pelo Ministério da Educação e Cultura inclui o meio ambiente como um dos temas transversais nos currículos da Educação Básica, ou seja, como um tema que deve ser trabalhado pelos professores de diferentes áreas do saber, não se tratando, portanto de uma disciplina específica.

Segundo Travassos (2001), educar é uma tarefa de dedicação e envolve criação de planos de ação considerando conceitos, teorias, reflexões e o uso do bom senso, incluindo também o repensar dos currículos escolares.

A principal função do trabalho com o tema “Meio Ambiente” é contribuir para formação de cidadãos conscientes, prontos para atuarem de modo comprometido em suas realidades sócio-ambientais. Para isso, é necessário que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos que levem à conscientização sobre a importância do Meio Ambiente (BRASIL, 1997).

Dessa forma a Educação Ambiental tem papel importante na educação formal, oportunizando aos alunos e professores, novos olhares sobre o Meio Ambiente, aproveitando a realidade vivida, os saberes locais, abordando temas que façam sentido, valorizando a diversidade cultural.

A escola é um dos locais mais indicados para promover a conscientização ambiental a partir da conjugação das questões ambientais com as questões sócio-culturais. As disciplinas são os recursos didáticos através dos quais os conhecimentos científicos de que a sociedade já dispõe são colocados ao alcance dos alunos através da interdisciplinaridade (PENTEADO, 2007).

Em termos gerais pretende-se avaliar o nível de consciência ambiental dos educandos.

A pesquisa tem cunho qualitativo-interpretativa (ERICKSON, 1988; VASCONCELOS, 2002), e para o levantamento foram aplicados questionários em 91 alunos do 9º ano do ensino fundamental em três instituições pública do município de Curitiba, localizadas em diferentes locais para se ter um panorama da cidade: a primeira instituição localiza-se no bairro Pinheirinho (região sul), a segunda no bairro São Brás (região norte) e a terceira no bairro Centro (região central). O questionário contém quatro questões entre múltipla escolha e dissertativas.

 

Análise dos resultados

 

Partimos para a análise das questões sobre a consciência ambiental dos alunos. O questionário era composto por quatro questões das quais as três primeiras possuíam somente uma resposta a ser assinalada e a quarta questão era dissertativa.

A primeira questão era: Atualmente o mundo está vivendo uma crise ambiental? (Gráfico 1).

 

Gráfico 1: Crise Ambiental

 

A maioria dos alunos demonstrou noção de que enfrentamos problemas quanto à preservação, porém sete alunos assinaram não existir nenhuma crise ambiental, o que demonstra um desconhecimento frete a seriedade das consequências dos problemas ambientais.

A segunda questão era: Quais as principais causas dos problemas ambientais que afetam o mundo? (Gráfico 2).

 

 

 

Gráfico 2: Principais causas dos problemas ambientais.

 

Os problemas ambientais mais assinalados pelos alunos são o desmatamento e a poluição o ar.

A terceira questão era: Qual a solução para os problemas ambientais? (Gráfico 3).

 

Gráfico 3: Solução para os problemas ambientais

 

A maioria dos alunos apontou a conscientização da população como a principal solução para os problemas ambientais.

A quarta questão era dissertativa e perguntava: De que maneira você pode contribuir para a preservação de meio ambiente?

A maioria dos alunos respondeu que não jogar lixo na rua seria uma maneira de preservar o meio ambiente, mas durante a observação em sala de aula foi possível ver muitos jogando lixo no chão ou atirando pela janela, o que retrata a falta de consciência dos mesmos (Gráfico 4).

 

Gráfico 11: Como você pode contribuir com o Meio Ambiente?

 

Analisando as questões verificamos que os mesmos acreditam estar vivendo uma crise ambiental e apontam como a principal causa a poluição dos rios e do ar, as queimadas e o desmatamento, seguida pela falta de consciência das pessoas. Podemos perceber que os mesmos confundem causa com conseqüência. Como solução à maioria indicou a conscientização da população e ações que evitem a poluição do meio ambiente.

 

Considerações finais

 

Vivemos em um momento marcado pela preocupação mundial acerca das questões relacionadas ao ambiente e a própria manutenção da vida. Diversos setores da sociedade têm se organizado e buscado alternativas para estes problemas e uma delas é a conscientização.

Como podemos observar durante a pesquisa a maioria dos alunos estão cientes da crise ambiental, mas não agem.

De acordo com Sariego (2002, p.08), “Um ponto importante nesta nova consciência é o de que cada um de nós - e não apenas governos e indústrias - têm um importante papel na preservação da vida no planeta e pode assumir pequenas, mas eficazes atitudes em prol dessa causa.”

Acreditamos que será através da educação e com a Educação Ambiental que poderemos criar condições sustentáveis para que possamos reverter e reduzir o excesso de consumo, pensando qual será a herança que deixaremos para o futuro e nos levando a começar a agir.

 

 

Referências

 

ARAÚJO, T. C. D. Principais marcos históricos mundiais da educação ambiental. Disponível em <http://noticias.ambientebrasil.com.br/artigos/2007/09/11/33350-principais-marcos-historicos-mundiais-da-educacao-ambiental.html> Acesso em 21 dez. 2012.

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Apresentação dos temas transversais e ética. Brasília, v. 8, p. 61, 1997.

 

ERICKSON, F. Métodos cualitativos de investigación sobre la enseñanza. In: WITTROCK, M.C. (org.) La investigación de la enseñanza. II. Métodos cualitativos y de observación. Buenos Aires: Paidós, 1988, p. 195-301.

 

PENTEADO, H. D. Meio Ambiente e Formação de Professores. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

 

SARIEGO, J. C. Educação ambiental: as ameaças ao planeta azul. São Paulo: Scipione, 2002.

 

TRAVASSOS, E. G. A educação ambiental nos currículos: dificuldades e desafios. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 1, n.1, p 1-11. 2001.

 

VASCONCELOS, S.I.C.C. de. Pesquisas qualitativas e formação de professores de português. In: BASTOS, N.M. (org.) Língua Portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: Cortez I.P. . PUC/SP/EDUC, 2002, p. 277-297.

 

 

 

 

Ilustrações: Silvana Santos