Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
20/09/2003 (Nº 6) Entrevista com Lara Lutzenberger
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Entrevista com Lara Lutzenberger

Por: Berenice Gehlen Adams

É com muito orgulho que apresentamos a nossa entrevistada desta edição: Lara Lutzenberger. Lara está a frente da Fundação Gaia, localizada no RS, fundada em 1987 por seu pai José A. Lutzenberger, e vai nos contar um pouco desta valiosa experiência. 

- Lara, como foi o início da Fundação Gaia?

A Fundação Gaia foi criada em 1987 pelo meu pai como uma forma de amplificar sua atuação pessoal em prol da causa ecológica e de um desenvolvimento sustentável. Reunindo uma equipe de profissionais em torno dele, a Fundação Gaia deu seus primeiros passos começando por um projeto de Capacitação de Promotores de Agricultura Orgânica junto a 6 núcleos de agricultores familiares no RS e pela consolidação do Rincão Gaia. O Rincão Gaia, em Pantano Grande/RS é a sede rural da Fundação e é um exemplo prático e vivo do quão é possível relacionar-se de forma mais construtiva e harmônica com nosso planeta. Tratando-se originalmente de uma área árida, rochosa e degradada pela exploração de basalto, o Rincão Gaia tornou-se ao longo de anos de um manejo diferenciado, em um oásis de biodiversidade.

Lá temos um corredor natural de fauna e flora;

áreas produtivas de agricultura orgânica - horta, pomar, e lavouras; 

pecuária natural - gado de leite; galinhas caipiras e suínos;

paisagismo ecológico - recomposição paisagística com uso predominante de espécies adaptadas às condições rupestres, plantas suculentas e cactáceas; e

infra-estrutura para desenvolvimento de atividades educativas.

- Seu pai, José Lutzenberger, foi pioneiro nas questões ambientais e é uma referência internacional. Como você se vê dando continuidade para algo tão grandioso e valioso para a humanidade? 

Tenho um imenso orgulho de ser filha de quem sou e sinto-me privilegiada em dar continuidade ao seu trabalho. Conto com uma equipe de trabalho muito especial e talentosa e acredito, como você mesmo colocou, que desenvolvemos um trabalho grandioso e valioso para a humanidade. Meu pai integrou um grupo seleto de pessoas que a partir dos anos 40 e 50 sabiamente perceberam a iminência de graves crises ambientais e sociais decorrentes da nossa conduta predominantemente egoísta e irresponsável em relação à grande Sinfonia Orgânica da Evolução que nos deu origem, alertando-nos para necessidade urgente de revisarmos nossos atuais paradigmas de desenvolvimento e progresso. Esse grupo felizmente expandiu-se nas últimas décadas, rumando para a formação de uma forte massa crítica planetária que deverá levar à paulatina inversão das tendências atuais. Vejo que passamos da época das vozes isoladas de alerta, para a formação de um movimento coletivo crescente, do qual a Fundação Gaia faz parte.

- Quais são as principais ações desenvolvidas pela Fundação Gaia e como são desenvolvidos os trabalhos de Educação Ambiental?

A Fundação Gaia oferece uma série de atividades educativas no Rincão Gaia, como cursos, oficinas, seminários, visitas guiadas e encontros eco-recreativos, que são divulgados em seu informativo digital e no seu site - www.fgaia.org.br. Para receber nosso informativo é preciso cadastrar-se conosco, enviando-nos um e-mail no sede@fgaia.org.br.  Adicionalmente, prestamos consultorias em produção orgânica e planejamento agrícola permacultural de áreas rurais, fazemos levantamentos de biodiversidade, projetos de paisagismo ecológico e de educação ambiental. Finalmente, buscamos também patrocinadores para realização de projetos em comunidades carentes.

- Como você vê hoje, de uma forma geral, a condição ambiental do planeta e quais as ações que você destaca como positiva? 

Na minha percepção, a condição ambiental e social planetária - hoje já preferimos  falar na condição sócio-ambiental, uma vez que ambas são absolutamente indissociáveis, está em seu limite suportável. Ou revemos profundamente nossos paradigmas atuais, reconsiderando nossas atitudes e nossa relação com o restante da Teia da Vida, vendo-nos e agindo cooperativamente como parte integrante de uma grande Comunidade Terrestre ou desencadearemos crises planetárias cada vez maiores e que poderão finalmente resultar na extinção de nossa própria espécie. Felizmente vejo também uma conscientização e mobilização crescente no mundo inteiro rumo a essa nova etapa evolutiva, o que me deixa muito esperançosa de que nossa civilização confirmará sua sabedoria e saberá rever, reconsiderar a tempo suas crenças, seus valores morais e éticos para o estabelecimento de uma cultura sustentável e solidária em relação aos demais.

- Cite alguns autores que você acha importante na área da EA que possam servir de referência para o incentivo das ações ambientalistas.

Considero Fritjof Capra uma das principais referências atuais na orientação de atividades eco-educativas, através de sua experiência na Califórnia com o Instituto de Ecoalfabetização. Seu último livro - Conexões Ocultas também é um 'must' para todos aqueles que estão iniciando uma reflexão.  

- Qual é a importância da Educação Ambiental, na sua opinião?

A educação ambiental é fundamental na construção e consolidação de um paradigma ecológico que reoriente nossa conduta civilizatória. Através da educação ambiental estimula-se uma releitura do mundo em que vivemos, resgatando conhecimentos ancestrais de conetividade com o cosmos, compreendendo a garantir uma convivência harmônica, dinâmica e profundamente enriquecedora da imensa variedade de formas e manifestações que a compõem. Nesse sentido, vejo a necessidade de desenvolvermos inciativas de educação ambiental junto à todos os setores da sociedade, de forma interdisciplinar e transversal.

- Para finalizar nossa entrevista, deixe um recado para nossos leitores e leitoras da Educação Ambiental em Ação:

Para aqueles que, como eu, percebem e estão apreensivos com a urgência de revermos nossa trajetória civilizatória, redesenhando nossas tecnologias e nossas estruturas sociais: não percam a esperança e façam, cada um, a sua parte. O terror e o pesadelo paralisam e levam a reações intempestivas e geralmente inadequadas. Vamos sonhar com um futuro positivo para agir de forma consistente e coerente!

Nós, Editores(as) e Colaboradores(as) da revista eletrônica Educação Ambiental em Ação agradecemos imensamente pela gentileza de conceder-nos esta entrevista. Muito Obrigada!

Endereço eletrônico da Fundação Gaia: www.fgaia.org.br

 

 

Ilustrações: Silvana Santos