Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS FELINOS DO PANTANAL PELOS ALUNOS DO MOINHO CULTURAL SUL-AMERICANO, CORUMBÁ-MS
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Percepção ambiental dos felinos do Pantanal pelos alunos do Moinho Cultural Sul-Americano, Corumbá-MS

 

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS FELINOS DO PANTANAL PELOS ALUNOS DO MOINHO CULTURAL SUL-AMERICANO, CORUMBÁ-MS

 

Grasiela Porfirio1

Sabrina Clink2

Fernanda Sandim Santos3

Lucimeire Montenegro de Freitas4

1- Mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Doutoranda em Biologia aplicada pela Universidade de Aveiro. Instituto Homem Pantaneiro. Rua Domingos Sahib, 300. Bairro Beira Rio CEP: 79300-130. Corumbá-MS. Telefone: (67) 3232-9981. (grasiela.porfirio@institutohomempantaneiro.org.br)

2- Graduanda em Ciência Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Instituto Homem Pantaneiro. (sabrina@institutohomempantaneiro.org.br)

3- Graduanda em Ciência Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Instituto Homem Pantaneiro. (sandim@institutohomempantaneiro.org.br)

4- Mestre em Educação. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Psicóloga da Prefeitura Municipal de Corumbá. (meiremontenegro@yahoo.com.br)

 

 

Resumo

Atualmente oito espécies de felinos ocorrem no Brasil e seis delas estão no Pantanal: a onça-pintada (Panthera onca), a onça-parda (Puma concolor), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), o gato-palheiro (Leopardus colocolo) e o gato mourisco (Puma yagouaroundi). No presente estudo buscamos avaliar a percepção de alunos da escola de artes Moinho Cultural Sul-Americano à cerca de quatro espécies: a onça-pintada, a onça-parda, a jaguatirica e o gato mourisco. Através da metodologia da pesquisa-ação, por meio da aplicação de pré-questionários, intervenção e pós-questionários, observamos que a maioria dos alunos participantes conhece a onça-pintada e a onça-parda, mas desconhece as demais espécies, e a percepção com relação à todas elas tende a ser negativa. Estudos como esse mostram a importância de se investigar a percepção e atitudes das pessoas à cerca das espécies a fim de alcançar resultados mais eficientes em prol da conservação.

 

Palavras-chave: percepção ambiental, felinos, Pantanal.

 

 

 

Introdução

 

            A fauna de predadores é caracterizada pela presença de diversas espécies, dentre elas os felinos (Leonel, 2001). No Brasil ocorrem oito espécies silvestres (Reis et al., 2011), e dessas, seis ocorrem no Pantanal (Rodrigues et al., 2002): a onça-pintada (Panthera onca), a onça-parda (Puma concolor), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-palheiro (Leopardus colocolo), o gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), e o gato mourisco (Puma yagouaroundi). O Pantanal é considerado uma das maiores planícies alagáveis do mundo (Mittermeier et al., 2002), conhecido mundialmente por sua abundância em vida selvagem (Trolle, 2003). No entanto, assim como em outros locais, sua fauna de felinos encontra-se severamente ameaçada por fatores como a redução do habitat que consequentemente leva à diminuição na oferta de presas naturais (Swank e Teer, 1989; Quigley e Crawshaw, 1992; Nowell e Jackson, 1996), por doenças (Weber e Rabinowitz, 1996), pela caça ilegal e ainda pela intolerância das pessoas, que geralmente respondem com retaliação aos prejuízos causados pela predação de rebanhos e criações domésticas como, por exemplo, o gado, porcos, carneiros e galinhas (Zimmermann et al., 2005; Altrichter et al., 2006). Contudo, felinos topos de cadeia alimentar desempenham um papel fundamental na manutenção dos ecossistemas por atuarem no controle e equilíbrio das populações de presas naturais pela predação, diminuindo assim a pressão sobre os recursos vegetais (Pitman et al., 2002). Apesar da importância ecológica, essas e outras espécies, só sobreviverão se nós, seres humanos, escolhermos protegê-las (Stokes et al., 2007). Nesse sentido, a percepção e atitude humana diante das espécies são determinantes para sua conservação (Marker et al., 2003). No presente trabalho, buscamos avaliar a percepção dos alunos de uma escola situada no bioma Pantanal a cerca de quatro espécies de felinos: a onça-pintada, a onça-parda, a jaguatirica e o gato mourisco e realizar intervenções de educação ambiental a fim de sensibilizá-los e conscientizá-los sobre o papel dessas espécies para o meio ambiente, para a economia e cultura pantaneira.

 

Metodologia

 

O estudo foi realizado na escola de artes Moinho Cultural Sul-Americano, localizada na cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul. O Moinho, como popularmente é conhecido, trata-se de uma ação social, através da arte, que envolve crianças e adolescentes dos municípios de Corumbá e Ladário, de assentamentos circunvizinhos e de cidades bolivianas fronteiriças. Inclui formação profissionalizante em dança e música, dinamização de conteúdos escolares, ensino de idiomas, instrução em informática, educação ambiental, educação patrimonial e atividades recreativas.

Para realização desse estudo utilizamos a metodologia da pesquisa-ação (Severino, 2007) em duas fases constituindo um pré-questionário (1° fase), intervenção, e um pós-questionário (2° fase) (Pádua et al., 2006). O pré-questionário com fotos das espécies focais e composto por seis perguntas - duas fechadas e quatro abertas foi utilizado para identificar o conhecimento e percepção à cerca das espécies (Santos et al., 2008), bem como para levantar informações sobre os alunos como nome, gênero e idade. As perguntas foram: (1) Você sabe quem sou eu? (pergunta fechada); (2) Qual é o meu nome? (3) Você já me viu? (pergunta fechada); (4) Onde foi? (5) Qual foi sua reação? (6) O que você faria se me encontrasse?

 Os dados obtidos foram analisados na forma de freqüência relativa de ocorrência das respostas (Porfirio, 2009) com o auxílio do programa Microsoft Office Excel. Após essa análise, partimos para a segunda fase do projeto, onde foi realizada uma palestra sobre os felinos com enfoque na biologia, funções ecológicas, ameaças, valores associados à cultura, economia, ética e religião, e status de conservação das espécies focais. Em seguida foi realizada uma gincana envolvendo perguntas e respostas como maneira de envolver os alunos à causa de forma lúdica, e aplicado um pós-questionário para constatação mais consistente do efeito do programa educativo como proposto por Pádua et al. (2006). O pós-questionário continha as seguintes perguntas: (1) Quantas espécies de felinos existem no Brasil? (2) E no Pantanal? Na 3° questão o aluno deveria ligar a imagem do felino ao seu nome. Na 4° pergunta os alunos deveriam responder qual é a função ecológica dos felinos e na 5° pergunta quais são as principais ameaças aos felinos. As duas últimas foram questões fechadas.

 

Resultados e Discussão

 

            A pesquisa foi realizada em uma turma de 15 alunos, 10 do gênero feminino e 5 do gênero masculino, com faixa etária que variou dos 8 aos 14 anos de idade. Com relação às respostas do pré-questionário, pergunta 1 – Você sabe quem sou eu? Observamos que 86,6% dos alunos reconheceu a onça-pintada, 73,3% reconheceu a onça-parda, 46,6% dos alunos disseram reconhecer a jaguatirica, e somente 40% disseram conhecer o gato mourisco (Figura 1).

 

 

Grafico_1_voce_sabe_quem_sou_eu

Figura 1: Respostas dos alunos do Moinho Cultural Sul-americano (Corumbá-MS) com referência ao reconhecimento das espécies focais.

 

Com relação à pergunta 2 – Qual é meu nome? Verificamos que 93,3% dos alunos acertaram o nome da onça-pintada, e 26,6% acertaram o nome da onça-parda. Erroneamente a onça-parda foi nomeada como leoa (Panthera leo) (n=3), leopardo (Panthera pardus) (n=1), apenas onça (n=3) e 4 alunos não responderam a questão onde era solicitado que escrevessem o nome da espécie. Com relação, a jaguatirica, 46,6% dos alunos disseram saber quem era a espécie, porém nenhum aluno efetivamente acertou seu nome. A espécie foi nomeada como cheetah (Acynonix jubatus) (n=1), apenas onça (n=2), como onça-pintada (n=2) e 10 alunos não responderam a questão. E quanto ao gato mourisco, apenas 13,3% acertaram seu nome. O gato mourisco foi chamado de leão preto e onça-parda (Figura 2).

 

 

 

 

Grafico_3_voce_ja_me_viu

Figura 2: Respostas dos alunos do Moinho Cultural Sul-americano (Corumbá-MS) com referência a nomenclatura das espécies focais.

 

Com relação à pergunta 3 - Você já me viu? Observamos que 73,3% dos alunos responderam sim, enquanto que apenas 26,6% responderam que não, ou seja, que nunca viram uma onça-pintada. Para a onça-parda, 60% dos alunos responderam não ter visto a espécie, enquanto que 20% responderam que sim e 1 aluno não respondeu a questão. Quando perguntado se já viram uma jaguatirica, 46,6% responderam que sim, e a mesma proporção respondeu que não. Um único aluno não respondeu a questão. Com relação ao gato mourisco, 46,6% dos alunos responderam nunca ter visto a espécie, enquanto que 26,6% responderam já ter visto, e a mesma proporção não respondeu a pergunta (Figura 3).

 

 

Grafico_4_onde_foi

Figura 3: Respostas dos alunos do Moinho Cultural Sul-americano com relação à visualização das espécies focais.

 

 

            A pergunta 4 – Onde foi? Verificamos que 46,6% dos alunos responderam que viram a onça-pintada na natureza, seguidos pelo contato visual através da televisão (26,6% das respostas) e 26,6% não responderam à questão. Com relação à onça-parda, 66,6% dos alunos não responderam a questão, seguido por visualização através da televisão (26,6%), e apenas 1 visualização na natureza. Para a jaguatirica, 20% dos alunos responderam ter visto a espécie na televisão e na natureza na mesma proporção, ao passo que 53,3% não responderam a questão e apenas um aluno afirmou ter visto a espécie no zoológico. Quando perguntado onde o gato mourisco foi visualizado, 20% responderam ter visto o animal na televisão, apenas um aluno viu o gato mourisco na natureza e 73,3% não responderam a questão (Figura 4).

 


 

Figura 4: Respostas dos alunos do Moinho Cultural Sul-americano com relação à fonte de contato visual com as espécies focais.

 

 

Com relação à pergunta 5 - Qual foi sua reação? Para a onça-pintada prevaleceu à reação de medo, seguida pela reação de correr, enquanto que para a onça-parda mais da metade dos alunos não respondeu a questão. Outras reações ao ver a onça-parda foram ter medo e correr. Quanto à reação ao ver uma jaguatirica, 73,3% dos alunos não responderam a questão. As demais respostas foram chamar os pais, sentir medo ou emoção. Já para o gato mourisco, 86,6% dos alunos não responderam a questão (Tabela 1).

 

Tabela 1: Respostas do pré-questionário aplicado a 15 alunos do Moinho Cultural Sul-Americano, Corumbá-MS, com relação à reação ao ver uma onça-pintada, onça-parda, jaguatirica ou gato-mourisco.

 

Qual foi sua reação?

Onça-pintada

Onça-parda

Jaguatirica

Gato mourisco

Correr

3

2

0

0

Curiosidade

1

0

0

0

Emoção

1

1

1

1

Paralisado

1

0

0

0

Medo

5

2

2

0

Chamar os pais

0

0

1

0

Se esconder

0

0

0

1

Sem resposta

4

10

11

13

Total

15

15

15

15

 

A última pergunta do pré-questionário referiu-se à reação que o aluno teria se encontrasse alguma dessas espécies (O que você faria se me encontrasse?). Para a onça-pintada as reações mais citadas foram correr, se esconder e fugir, enquanto que para a onça-parda a maioria das respostas foi correr, se esconder ou ficar paralisado. No caso da jaguatirica, as principais reações seriam ficar paralisado, fugir ou chamar os pais. Porém, 33,3% dos alunos não respondeu essa questão, assim como observado para o gato mourisco (Tabela 2).

 

Tabela 2: Respostas do pré-questionário aplicado a 15 alunos do Moinho Cultural Sul-Americano, Corumbá-MS, com relação à reação caso encontrassem uma onça-pintada, onça-parda, jaguatirica ou gato-mourisco na natureza.

 

O que você faria se me encontrasse?

Onça-pintada

Onça-parda

Jaguatirica

Gato mourisco

Chamar os pais

2

1

1

1

Correr

4

3

1

0

Se esconder

3

2

1

2

Gritar

0

1

0

0

Ir embora

0

2

0

0

Ficar paralisado

1

2

3

0

Fugir

3

0

2

2

Outros

1

1

2

1

Sem resposta

1

3

5

9

Total

15

15

15

15

 

Na 2° fase do projeto foi realizada a intervenção com 11 alunos da mesma turma, três deles do gênero masculino e o restante do gênero feminino. Após a palestra, que durou cerca de 30 minutos, foi realizada a gincana tipo “passa-repassa”, onde a turma foi dividida em duas equipes. Para cada pergunta relacionada à palestra a equipe escolhia um representante para respondê-la. Ao final a equipe A acertou a maioria das respostas. Após a realização da intervenção foi aplicado o pós-questionário, onde observamos que dos 11 participantes, 81% acertaram o número de espécies de felinos que existem no Brasil e no Pantanal. Com relação ao reconhecimento das espécies, onde pedimos que os alunos ligassem as imagens das espécies focais ao seu nome, observamos que 81% deles fizeram as ligações corretamente. No pré-questionário, onde os alunos deveriam escrever o nome da espécie, 93% deles nomearam corretamente a onça-pintada. Porém, o mesmo não aconteceu para as demais espécies: apenas 26% nomearam onça-parda corretamente, nenhum deles nomeou a jaguatirica como tal, e somente 13% nomearam o gato mourisco corretamente. Observamos que todos eles marcaram ao menos uma das alternativas corretas quanto às ameaças aos felinos, sendo elas o desmatamento, a perda de habitat e de presas, a fragmentação e a caça predatória.

Curiosamente, Campbell e Alvarado (2011) destacam que muitos esforços conservacionistas realizados previamente não levaram em consideração a percepção das pessoas com relação aos animais.  Entretanto, algumas espécies com as quais as pessoas se identificam podem ser utilizadas para atrair a atenção da comunidade em programas conservacionistas e obter resultados mais eficientes quanto a esse propósito (Carrillo e Batista, 2007). Por essa razão, investigar a percepção a cerca das espécies é fundamental quando se realiza projetos de cunho conservacionista.

Em nosso estudo, observamos que a onça-pintada é amplamente reconhecida, embora a espécie desperte o medo como sentimento, tanto que a reação da maioria dos alunos seria correr, se esconder ou fugir caso vissem uma onça-pintada. Em um estudo realizado por Santos et al. (2008) em biomas do Brasil, a onça-pintada foi indicada como um animal bonito, ou seja, havia ali uma percepção positiva da espécie. A única exceção foi verificada na Caatinga, onde a espécie foi apontada como um animal perigoso com mais frequência do que em outros biomas. Todavia, 85,5% dos entrevistados afirmaram que a onça-pintada não deveria ser eliminada da natureza (Santos et al., 2008). Por ser uma espécie bandeira, com um forte apelo, e por ser o maior felino das Américas (Seymour, 1989), a onça-pintada está muito presente no dia-a-dia das pessoas, como por exemplo, na nossa nota de cinquenta reais, marca de carros, artesanato, em outdoors, revistas, jornais, propagandas de rádio e programas de televisão. Embora o Pantanal seja um bioma muito propício a visualização de onças-pintadas, por abrigar a 2° maior população da espécie fora da região amazônica (Sanderson et al., 2002), e ser um bioma com grandes áreas abertas, muitos alunos residentes na cidade de Corumbá, nunca tiveram um contato visual com a espécie e tão pouco conhecem o Pantanal. Por essa razão, é de se esperar que a alternativa de contato seja mesmo a televisão. Como destacado por Pelicioni (2007), em um país de tradição oral como o Brasil, o rádio e a televisão assumem uma posição de destaque enquanto meios de comunicação em massa, e o acesso a revistas, jornais e livros torna-se mais restrito, pois é influenciado pela disponibilidade de recursos financeiros das famílias. Nesse sentido, a televisão assume uma responsabilidade muito grande, uma vez que além de entreter, ela também forma opiniões e percepções.

            Com relação às outras espécies, observamos que por não estarem tão presentes no dia-a-dia não são reconhecidas e não há uma percepção bem definida. A onça-parda é a segunda espécie no ranking de reconhecimento pelos alunos, e é uma das espécies mais tolerantes a presença humana e às alterações provocadas no meio natural (Silveira, 2004). É a 2° maior espécie de felino das Américas, e está presente em alguns produtos como marca de calçados, roupas e bolsas. Onças-pardas constantemente são notícias no Brasil por aparecerem em centros urbanos, tais como quintais de casas, nas escolas, e centros comerciais. Na maioria das vezes estão fugindo de alguma ameaça provocada por ações antrópicas, como as queimadas ou o desmatamento, ou estão em busca de presas, causando conflitos com moradores ou produtores rurais. Frequentemente casos de ataques às pessoas são reportados, principalmente na América da Norte.

Em El Salvador, por exemplo, onde a onça-pintada e a onça-parda estão extintas, no estudo de Campbell e Alvarado (2011) a maioria das pessoas entrevistadas acreditam na tolerância e remoção dos carnívoros à matança; na introdução de onças-pintadas e onças-pardas em áreas rurais ou especiais, ou ainda em zoológicos; que uma maior proteção aos animais é necessária; que a presença desses animais foi importante para os seres humanos, mas que foram perigosos para as crianças, e por fim, que onças-pardas foram apontadas como mais perigosas seguidas pelas onças-pintadas e coyotes.

            A jaguatirica e o gato-mourisco, por sua vez, são felinos de menor porte, de hábitos mais esquivos e que raramente são vistos em seu ambiente natural. No entanto, esperava-se que os alunos reconhecessem ao menos a jaguatirica devido ao fato de que popularmente a espécie é conhecida como ladra de galinhas. Porém, não observamos essa percepção pelos alunos do Moinho, provavelmente porque os alunos moram em centros urbanos e criações estejam mais presentes nas zonas rurais.

            Dentro do nosso conhecimento a cerca dos trabalhos já publicados, constatamos que esse é o primeiro estudo a enfocar a percepção dessas quatro espécies de felinos por alunos do ensino fundamental e médio no Pantanal. Outros estudos têm enfocado apenas na percepção à cerca da onça-pintada (Santos et al., 2008), ou num conjunto de espécies envolvendo a onça-pintada e onça-parda (Conforti e Azevedo, 2003), e onça-pintada, onça-parda e coyotes (Canis latrans) (Carrilo e Batista, 2007). Estudos como o de Santos et al. (2008) afirmam que a educação ambiental é uma ferramenta bastante útil para mudar as atitudes negativas a cerca das espécies. Como a percepção ambiental das crianças é o resultado da influência do meio em que vivem, seja ela positiva ou negativa (Paiva et al., 2007), acreditamos ter alcançado nosso objetivo de sensibilização e conscientização. Da mesma forma, acreditamos que estudos como esse, quando realizados de forma contínua, tendem, a médio e longo prazo, provocar uma mudança de atitude. Essa mudança refletirá igualmente em uma sociedade mais esclarecida e que conseguirá coexistir pacificamente com as outras espécies, inclusive os predadores.

 

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Ilustrações: Silvana Santos