Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) A RESERVA DO POÇO ESCURO EM VITÓRIA DA CONQUISTA- BA NA ATUAÇÃO DOS DOCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO ENTORNO
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A RESERVA DO POÇO ESCURO EM VITÓRIA DA CONQUISTA- BA NA ATUAÇÃO DOS DOCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO ENTORNO

 

Marcelo Lacerda Oliveira

Turismólogo / Fund Visconde de Cairu e Esp. em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Itapetinga-BA.

Artigo extraído da monografia de especialização orientada pelo Prof . Ms. Fábio dos Santos Massena

 

 

RESUMO

 

O objetivo deste trabalho é demonstrar através de pesquisa, a percepção ambiental da comunidade docente que atua em unidades escolares situadas no entorno da Reserva do Poço Escuro, e os problemas por que passa aquela importante área natural como Unidade de Conservação (UC) na visão dessa comunidade, e também, sugerir propostas alternativas de uso coletadas junto ao público pesquisado que contribuam para implantação programas de Educação Ambiental no município. O estudo consiste da aplicação de questionários a 122 pessoas, professores de escolas públicas estaduais e municipais, localizadas nos bairros Guarani, Pedrinhas, Petrópolis e Iracema escolhidos dado a proximidade geográfica com a UC e para se conhecer a relação desses professores com a Educação Ambiental e com a reserva como instrumento dessa educação. Foram valorizadas, nas questões subjetivas, as observações espontâneas dos entrevistados com o objetivo de apontar possíveis atividades que colaborem com a preservação daquela importante área natural. Atividades educativo-interativas, relacionadas à educação ambiental e ao ecoturismo foram sugeridas pela maioria dos entrevistados que acredita que a percepção ambiental da população pode ser mudada através da sensibilização da comunidade, o que seria mais facilmente conseguido se existisse uma comunicação clara e suficiente entre gestor e comunidade. O diagnóstico apresentado pela percepção ambiental evidenciou alto grau de topofilia para com a Cidade de Vitória da Conquista, mas alto grau de topofobia para com a Reserva do Poço Escuro, o que se traduz em baixo índice de participação e interação da comunidade com aquela importante área natural.

 

Palavras-chave: Unidade de Conservação, Percepção e Educação Ambiental.

ABSTRACT

 

The purpose of this work is to show the environmental perception of school teachers' community around Reserva do Poço Escuro. What this important natural area as a Conservation Unit (CU), and the problems through which it passes according to that community point of view. It also aims to offer some alternatives of use collected from the researched public that may contribute to the implantation of Environmental Education programs in the county. The study was based on the application of a questionnaire to 122 teachers of public schools maintained by the state and the country located in the districts of Guarani, Pedrinhas, Petrópolis and Iracema which were chosen due to their geographic proximity to the CU and to know those teachers' relationship to the Environmental Education and to that area as a tool for this education. The spontaneous respondents' observations in order to point some activities which may contribute to the preservation of that important natural area were appreciated in the subjective questions. Most of the respondents believe that environmental perception of the population may be changed through the raise of the awareness in the community about the issue what would be easily achieved if there was clear and sufficient communication between manager and community. They also suggested some interactive educative activities related to environmental education and ecologic tourism. The diagnosis presented through the environmental perception pointed a high degree of topophilia related to the City of Vitória da Conquista, but a high degree of topophobia towards Poço Escuro Reserve, what shows a low manifestation of participation and intaraction of the community with that important natural area.

 

Key words: Conservation Unit, Perception and Environmental Education

 

1.    INTRODUÇÃO

 

A degradação do meio ambiente e a exaustão dos recursos naturais pelos serem humanos é um problema que afeta o mundo em sua totalidade. O crescimento econômico está em desequilíbrio com a proteção do meio ambiente e todos os esforços para mudar esse comportamento humano são válidos na busca por um modelo sustentável de desenvolvimento. E essa mudança de comportamento em relação às atividades humanas, pode ser conseguida através da educação ambiental.

É nesse contexto a Educação Ambiental se insere como importante ferramenta para subsidiar o debate ecológico e expandir o número de pessoas envolvidas e sensibilizadas para a prática da conservação ambiental, uma vez que propicia a inter-relação dos processos de aprendizagem, sensibilização, questionamento e conscientização em todas as idades; e a utilização dos diversos meios e métodos educativos utilizados para transmitir o conhecimento sobre o ambiente e enfatizar de modo adequado atividades práticas e sociais é fundamental para a formação de cidadãos plenos. (GUIMARÃES apud JACOBI, 2004).

Educação Ambiental essa que deve se utilizar de todas as ferramentas necessárias ao bom desempenho de sua absorção por aqueles que a praticam. Conforme estabelecido na lei do Sistema de Unidades de Conservação- SNUC, lei no 9.985, de 18 de julho de 2000 as Unidades de Conservação devem ser utilizadas para a prática de Educação Ambiental, respeitando-se os planos de manejo e a categoria à que pertence. Em seu Art. 11 o SNUC salienta:

O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

Assim, o Parque Municipal da Serra do Periperi, localizado na cidade de Vitória da Conquista, região Sudoeste da Bahia, tem como principal objetivo a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica, uma vez que possui em sua extensão uma ampla variação de ambientes. Dentre estes, destacam-se o Bioma Caatinga, áreas de tensão ecológica localizadas entre a Floresta Estacional Semidecidual, pequenas manchas de cerrado e resquícios de floresta ombrófila, quase sempre localizados no que restou das matas de galeria (VITÓRIA DA CONQUISTA, 1999) e possui dentro de sua poligonal a Reserva do Poço Escuro.

Criada pelo decreto municipal 8.696 de 1996, a Reserva do Poço Escuro, objeto de estudo deste trabalho, está localizada na vertente sul da Serra do Periperi, possui área de 16 hectares com vegetação composta de mata ciliar com árvores de copas altas, lianas e cipós; e abriga as principais nascentes do Rio Verruga, que desde a origem do Arraial da Conquista abasteceu a população de água potável até meados do século passado.

A Reserva é administrada pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e foi criada para preservar o importante resquício de mata ali existente e consequentemente garantir a preservação das nascentes do rio Verruga, que apesar de sua perenidade, não tem, atualmente, utilidade alguma enquanto recurso hídrico, sendo suas águas jogadas, logo após a nascente, nos subterrâneos da cidade.

O que se espera demonstrar neste trabalho é se há o uso, por parte das unidades escolares, da Reserva como ferramenta de Educação Ambiental e qual a visão desses professores sobre aspectos como localização, segurança, utilização da área, atratividade da unidade de conservação.

A Educação Ambiental que se espera que seja abordada nas unidades de conservação é a que tenta despertar em todas as pessoas a consciência de que o ser humano é parte do Meio Ambiente, e mais, que tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo, esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a Educação Ambiental é um tema transversal e deve ser estudado em todas as séries e em todas as disciplinas, ou seja, independente da ciência que o professor lecionar ele deverá inserir temas ambientais. Assim, foram entrevistados professores de diferentes formações para a conclusão deste trabalho. No entanto, percebe-se que não há políticas para a execução ou inserção da Educação Ambiental nas escolas pesquisadas

 

2.    METODOLOGIA

 

A partir da abordagem do problema esta pesquisa pode ser caracterizada como pesquisa quantitativa e qualitativa. Segundo Silva e Menezes (2001) este tipo de pesquisa considera tudo que é quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. De acordo com Minayo (2005), a abordagem quantitativa objetiva dimensionar e quantificar dados de processo e/ou de resultados.

Pelicioni (1998) indica que os estudos qualitativos são usados para verificar como as pessoas avaliam uma experiência, idéia ou evento. Do ponto da resposta aos objetivos ela pode ser classificada como pesquisa descritiva já que visa segundo Gil (1991), descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Desta forma, foi utilizado do ponto de vista dos procedimentos técnicos, o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática através de levantamento de entrevistas com os professores que atuam nas escolas situadas no entorno da Reserva do Poço Escuro.

Aplicou-se 122 questionários com 3 perguntas fechadas e 3 semi-abertas  nas escolas Iara Cairo de Azevedo (7 professores), Guimarães Passos (9 professores), Mãe Vitória de Petu (10 professores) Antonia Cavalcante Silva (9 professores), Batista Tia Zefa (9 professores), Maria da Conceição Meira Barros (48 professores) e a Escola Cláudio Manoel da Costa (30 professores); localizadas no entorno da Reserva do Poço Escuro.

 

3.    DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Referente ao percentual dos entrevistados que conhece a localização geográfica da Reserva do Poço Escuro, assim foi a distribuição das respostas, 95% conhecem onde  a localização da Reserva, os outros 5% não, conforme visto na Figura 3. Destes 95% que conhecem a localização, 60% deles já visitou o local, ainda que em atividades esporádicas educacionais, e como muitos dos entrevistados moram no entorno da Reserva, lá já estiveram por interesses diversos, inclusive para se servirem como fonte de abastecimento de água, uma vez que a Reserva abriga nascentes do rio Verruga. Outros 35% conhecem sua localização geográfica, mas nunca estiveram lá, e argumentam que a ausência, naquela área, de atividades que colaborem com a prática pedagógica e por não haver ali infraestrutura e segurança que permitam seu uso sistemático e contínuo de forma segura, inviabiliza a visita. Uma pequena parcela destes professores, ou seja, 5% deles, não conhecem a Reserva do Poço Escuro, e alegam não serem motivados seja pelos órgãos que deveriam estar envolvidos no processo da educação ambiental, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Educação, que deveriam trabalhar de forma harmônica na utilização da Reserva como instrumento facilitador da educação ambiental.


 

Figura 3: Percentual dos entrevistados que sabem da localização geográfica da Reserva a Reserva do Poço Escuro.

 

Aos entrevistados que conhecem e já visitaram a Reserva foi perguntado sobre quantidade de vezes que visitou e o motivo da visita, a totalidade das respostas se deram em torno de trabalhos escolares e o número de visitas foram em sua maioria apenas de uma vez, como visto na Figura 4, ou seja, apesar da beleza cênica existente, confirma-se que ela por si só não é suficiente para fomentar o desejo do retorno haja vista a falta de cuidado do poder público para com aquela importante área natural.


Figura 4: Numero de visitas realizadas pelos docentes entrevistados.

 

Nota-se que apesar de ser grande o número de entrevistados que conhecem a Reserva, é pequena a quantidade, deles, que voltam a fazer uma nova visita. Pode-se abstrair durante a aplicação do questionário que, feita a visita e cumprida a missão escolar, objetivo das visitas, não há interesse em retornar, haja vista que muitos são os problemas apontados pelos entrevistados.

 Estudar a percepção ambiental é fundamental para a compreensão das relações existentes entre os seres humanos e o meio ambiente, pois os seres humanos vêem, interpretam e agem no meio ambiente segundo sua percepção, que quase sempre é inadequada (SILVA e LEITE, 2000), ocasionando diversos problemas ambientais e sociais. Logo, os programas e projetos em Educação Ambiental devem ser executados a partir da percepção ambiental dos atores envolvidos, pois sendo Educação Ambiental um processo educativo voltado para o meio ambiente, deve promover mudanças de percepção e consequentemente de atitudes e de comportamentos.

O entendimento das distintas concepções sobre o meio ambiente e da importância das áreas naturais em ambientes urbanos torna-se importante na harmonização das questões que envolvem o planejamento ambiental e a utilização de recursos naturais. Sendo assim, segundo Hoeffel, (apud OLIVEIRA E CORONA, 2008), é de grande importância a pesquisa e a caracterização de concepções sobre o meio ambiente existente dentro de um mesmo modelo cultural, de forma a auxiliar a elaboração de propostas educativas e de políticas ambientais que auxiliem na construção de sociedades sustentáveis.

Àqueles que conhecem e sabem onde fica a Reserva do Poço Escuro, quando perguntados se a consideram um lugar adequado para atividades de educação e recreação/lazer, assim foram distribuídas as respostas conforme figura 5:

 


 

Figura 5- Percentual dos entrevistados que consideram a Reserva do Poço Escuro propício à atividades de educação e lazer.

 

Como constatado na Figura 5, a maioria dos entrevistados, ou seja, 85% consideram a área de estudo um lugar adequado à prática de atividades de educação e lazer por ser um importante fragmento de mata localizado em área urbana, rico em diversidade biológica e por apresentar uma relevante beleza cênica.

Dentre os que disseram não concordar com a adequação da área para essas atividades (15%) citam a falta de programação/divulgação e a segurança como fatores principais para embasar suas respostas, é sempre divulgado pela mídia a ocorrência de registros policiais envolvendo a Reserva do Poço Escuro, os próprios funcionários, vigilantes da reserva não aconselham a incursão pelo seu interior, pois há relatos de roubos e furtos sofridos pelos visitantes.   Um dos entrevistados ressalta: “è uma pena um local tão bonito ficar abandonado tanto tempo. Quando criança brinquei naquele lugar, agora vejo com tristeza seu abandono”. Outro professor diz: “Poderíamos utilizar aquela área como um livro a céu aberto, um mundo de possibilidades para educar nossos alunos, mas não há segurança nem atividades que permitam a sua utilização, principalmente por crianças”. Talvez sejam esses mesmos sentimentos que não despertam aos outros 15% o desejo de visitar e conhecer o Poço Escuro, uma vez que os bairros imediatamente próximos à Reserva, Guarani e Petrópolis apresentam altos índices de roubos, uso e tráfico de drogas e outros pequenos delitos, que tem um reflexo direto na utilização da Reserva, haja vista que grande parte desses delitos acaba tendo como destino e esconderijo o interior daquela área, tornando-a um local de alto risco para quem se arrisca numa visita.

A cidade retrata o lugar de cada um, um ambiente dinâmico e habitual, podendo ser legível ou não, geralmente constituído de fragmentos que suscitam no habitante sentimentos de topofilia e/ou topofobia. Para Tuan, (apud MUCELIN E BELLINI, 2008), “Topofilia é o elo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico [...], associa sentimento com o lugar”. Em oposição a esse sentimento afetivo, o mesmo autor usa o termo topofobia que significa medo do lugar, ambiente ruim, não desejável. Assim é preciso criar mecanismos que propiciem a apropriação daquela importante área natural pela comunidade, apropriação no sentido de ter aquilo como seu, de participar e ser participante do cotidiano local.

Na terceira abordagem a maioria, ou 89%, dos entrevistados afirmam não saber de programas de Educação Ambiental ou qualquer outra atividade exercida/executada na Reserva do Poço Escuro, como demonstram os números da figura 6. Os outros 11% consideram as visitas esporádicas como sendo atividade conhecidas.

 


 

Figura 6 – Percentual de conhecimento dos entrevistados sobre atividades realizadas na Reserva Poço Escuro.

 

Um dos objetivos previstos no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) conforme Art. 4º. inciso XII é: que as unidades favoreçam condições e promovam a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico, sempre que permitido no plano de manejo (BRASIL, 2000).

Um ponto a ser destacado é que a maioria das ações realizadas, tendo a Reserva do Poço Escuro como ferramenta da Educação Ambiental, têm sido iniciativas pontuais das escolas interessadas, não havendo um programa sistematicamente definido, nem atividades previamente agendadas incluídas na rotina da Reserva. Ainda há que se observar a disponibilidade de pessoal do órgão gestor para acompanhamento, uma vez que o local não é munido de seguranças em numero suficiente e no seu entorno não há cercas ou muros em perfeito estado de conservação. Há ainda no entorno do parque bairros com altos Índices de criminalidade, o que facilita o acesso de pessoas sem o conhecimento e/ou autorização do órgão gestor de pessoas.

Na quarta abordagem, foi constado que a maioria dos que conhecem a Reserva do Poço Escuro, (78%), acha que a sua utilização não está sendo feita de forma satisfatória. Utilização esta que deveria atender aos requisitos legais estipulados pelo SNUC em seu Art. 4º acima  citado que não vem acontecendo com a Reserva do Poço Escuro. As respostas a esta questão, demonstram de forma expressiva, conforme Figura 7, a insatisfação dos entrevistados sobre a utilização atual dada pelo poder publico à Reserva do Poço Escuro.

 


Figura 7: Nível de satisfação dos docentes sobre a utilização atual da Reserva do Poço Escuro.

 

Foram realizadas tentativas de implantar um programa de educação ambiental no ano de 2000, o qual definiu como prioridade o atendimento a aproximadamente 5.600 alunos de 16 escolas municipais que se localizam na sede do município de Vitória da Conquista e que possuíam maior proximidade com o Parque Municipal da Serra do Periperi.

 Como instrumentos para a abordagem da temática ambiental, foram utilizados debates e palestras, ainda que na sua grande maioria ministrados nas escolas, longe, portanto, da fonte principal da temática, com ênfase nas áreas do Parque e da Reserva do Poço Escuro. Contudo, no ano de 2004, o efeito das ações diluiu-se no tempo (VITÓRIA DA CONQUISTA, 1999).

Vale ressaltar que a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu Artigo 9º cita que a educação ambiental na educação escolar é aquela desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas; no Artigo 10º determina que a educação ambiental seja desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal (BRASIL, 1999). Educação que acaba sendo fruto de aprendizado que é resultado de uma reflexão onde processo de confrontar sistematicamente as representações da realidade com um sistema ou conjunto de sistemas conceituais articulados (teorias). Desse processo podem resultar mudanças nas formas de se ver o ambiente e suas relações com a sociedade (FUNBIO 2002).

Na questão seguinte, foi solicitado aos entrevistados justificar suas respostas quando insatisfeitos com a atual utilização, questões como alto índice de violência e consequentemente grande número de assaltos dentro e no entorno da Reserva; falta de infraestrutura física; inexistência de projetos e atividades de cunho educativo aliado à pouca divulgação dos atrativos existentes são as principais reclamações por parte dos entrevistados.

A preocupação com a segurança predomina nas respostas espontâneas da comunidade docente pesquisada, o que requer não apenas uma instalação/reforma da infraestrutura, mas investimentos na área de segurança pública, atividades educativas, enfim, investimentos em uma gestão de qualidade para que a Reserva do Poço Escuro volte a ser parte integrante da vida social da cidade. Numa tentativa de reverter essa percepção, podem a educação e percepção ambiental serem usadas como armas na defesa do meio natural, e de ajuda para reaproximar o homem da natureza, garantindo um futuro com mais qualidade de vida para todos, já que desperta uma maior responsabilidade e respeito dos indivíduos em relação ao ambiente em que vivem.

Ainda foi solicitado aos respondentes dar alternativas que na sua visão seriam uma forma de utilização satisfatória da Reserva o Poço Escuro. Aparecem como as mais citadas: a implantação de um horto para cultivo de plantas para a ornamentação do local; construção de local adequado a palestras e cursos ligados á questão ambiental; a formação de monitores que possam ajudar aos visitantes, prestando informações seguras do local; criação de local e atividades que envolvam as crianças e despertem nelas a curiosidade pelos problemas ambientais; criação/adequação de trilhas para passeios e aulas práticas; ter de forma clara um calendário sistemático para que as escolas possas se organizar para visitas e local de convivência social.

Evidencia-se aqui nesta pergunta de livre resposta que muitas das atividades sugeridas pela comunidade docente pesquisada estão ligadas à prática do ecoturismo, que tem como objetivo, a harmonização do desenvolvimento com a preservação ambiental, facilitando o aprendizado através da vivência real dos conceitos teóricos. Isto devido à mudança do modo como a natureza é vista pela sociedade (FUNBIO, 2002).

O termo "ecoturismo" teve sua origem na década de 60 do século passado, pois foi usado para "explicar o intricado relacionamento entre turistas e o meio ambiente e culturas nos quais eles interagem" (FENNELL, 2002). 

O Governo do Brasil, atento às possibilidades de desenvolvimento sustentado pelo turismo, cria um grupo de trabalho com a participação do então Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, Ministério do Meio Ambiente, IBAMA, EMBRATUR, empresários e consultores e, entre outras providências e deliberações, define o ecoturismo como:

Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. (MICT; MMA, 1995 p 23) 

 

Segundo os preceitos do ecoturismo, é através da educação ambiental, favorecida pelo contato das pessoas com os lugares de natureza, que pode-se despertar uma sensibilização e conscientização sobre as questões ambientais de conservação dos locais. Mas existe um espaço a preencher entre essa sensibilização e a educação ambiental.

Neiman (2002) afirma que, se o contato com a natureza for proporcionado de forma adequada, estimulando todos os sentidos (sentir o cheiro da mata, olhar os animais, ouvir os barulhos), há uma melhora de sentimentos positivos em relação ao que deve ser conservado, afinal “não é apenas através do sentimento ético de obrigação que se pode trabalhar o gosto pela natureza e pela conservação”. O grande desafio se encontra em conseguir transformar essa sensibilização em educação e, consequentemente, em ações afetivas e efetivas.

A falta de segurança dentro da área da Reserva do Poço Escuro é uma preocupação que afeta quase a totalidade dos respondentes, 81%, como visto na figura 8.

 

 


 

 

Figura 8: Percepção sobre a segurança no interior Reserva do Poço Escuro.

 

 

Isto posto, fica claro o desejo da comunidade de ver aquela importante área natural efetivamente inserida na vida social da cidade de Vitória da Conquista como uma área de convivência. No ano de 2000 foi fundado, pelo município, o Programa de Educação Ambiental, concebido pelo Módulo de Educação Ambiental do Parque Municipal da Serra do Periperi, que para o município de Vitória da Conquista, está fundamentado na promoção do desenvolvimento sustentável e na implementação de instrumentos de gestão, critérios, procedimentos e estratégias necessárias ao cumprimento das diretrizes para a educação ambiental, estabelecidas nos incisos VII e X do Artigo 3. º da Lei Municipal n.º691/92 e no Artigo 20 da Lei Estadual n.º 7799/2001 (SEMMA, 2001), o qual definiu como prioridade o atendimento a aproximadamente 5.600 alunos e 40 professores, de 16 escolas municipais que se localizam na sede do município de Vitória da Conquista e que possuíam maior proximidade com o Parque Municipal da Serra do Periperi.

Como instrumentos para a abordagem da temática ambiental, foram utilizados debates e palestras, com ênfase às áreas do Parque e da Reserva do Poço Escuro. Contudo, no ano de 2004, as ações centralizaram-se no aluno, e o professor, seja por não compreender a sua importância como orientador e formador de opinião, ou por não perceber a importância das ações que eram desenvolvidas pelo programa, ou até mesmo por não se sentir parte integrante, manteve-se afastado. Como resultado, o efeito das ações diluiu-se no tempo (LOUREIRO. et al 2008).

Hoje, os professores pesquisados, anseiam por alternativas que tornem aquela área um ponto convergente da sociedade, seja nos momentos de lazer ou para o aprendizado ambiental. Salientando que a legislação determina em seu Artigo 4º. que as unidades de conservação tenham a finalidade de servir a recreação e a educação, entre outros objetivos (BRASIL, 2000), vê-se que o problema levantado por este trabalho depende da articulação entre poder público e sociedade a ser executada concomitantemente à (re) urbanização que se pretende efetivar dentro e no entorno da reserva. Articulação essa que deve partir do órgão gestor, Secretaria de Meio Ambiente do município, mas que como orienta o SNUC deve ser feita de maneira efetivamente participativa, envolvendo toda a comunidade, numa tentativa de dar vida social à Reserva do Poço Escuro.


 

 

4.    CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Por meio dessa pesquisa sobre a percepção ambiental da comunidade docente que atua nas escolas públicas do entorno da Reserva do Poço Escuro foi possível, num primeiro momento, constatar as dificuldades enfrentadas pela Reserva enquanto área de preservação, uma vez que ela está sujeito ao pouco controle de acesso e consequentemente de retirada de recursos; das questões de segurança que ameaçam e impedem uma visitação segura; de ser percebida como um não-lugar, que na definição de Augé, (apud BINDE 2008), é um espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade. por faltar vivências que a torne um local desejado e querido,  por não haver vínculos estabelecidos entre ela e a população, principalmente àquela formada pelas crianças e jovens.

Num segundo momento, percebe-se a falta de políticas públicas voltadas para a educação ambiental no município, sejam elas elaboradas pele órgão gestor, a Secretaria de Meio Ambiente ou pela Secretaria de Educação, uma vez que ambas não apresentam programas e/ou projetos específicos de Educação ambiental que envolva a Reserva como ferramenta dessa educação.

Como consequência dessa falta de políticas públicas não há, até aqui, qualquer programa, projeto e/ou atividade sendo desenvolvidas nas escolas pesquisadas, nem no âmbito do município. Há que se considerar a importância que a criação de um programa de Educação Ambiental. Uma vez que possibilitaria o desenvolvimento da Educação Ambiental no Ensino Formal para os 2.961 alunos das escolas selecionadas, contribuindo para despertar nesses alunos uma visão mais holística, perceptiva, e crítica da realidade, voltado para os problemas ambientais, tornando-os disseminadores dessa Educação.

Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis. Dessa forma, a Reserva do Poço Escuro ofereceria, na visão dos professores pesquisados, boas possibilidades de informação, educação, lazer e entretenimento e a falta de programas e projetos oficiais no município dificulta a abordagem do tema que deveria ser transversal e constante no ambiente escolar, limitando a harmonização da teoria com a prática.

Todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre Educação Ambiental evidenciam a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a EA como meio indispensável para conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade/natureza e soluções para os problemas ambientais. Evidentemente, a educação sozinha não é suficiente para mudar os rumos do planeta, mas certamente é condição necessária para isso (PCN, 1998).

 

5.    REFERÊNCIAS

BINDE, João Luis. Não-Lugares – Marc Augé. Revista Antropos – Volume 2, Ano 1, Maio de 2008. Disponível em < http://revista.antropos.com.br/downloads/Resenha%201%20-%20N%E3o-lugares%20-%20Marc%20Aug%E9%20-%20Jo%E3o%20Luis%20Binde.pdf. Acesso em 20 abril de 2012.

 

BRASIL. Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Ministério do Meio Ambiente, Brasília – DF. Disponível em http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/lei%209795.cfm. Acesso em 12 de set. 2010.

 

BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Diário oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 19 de jul.2000. disponível em

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1998. 436 p

FENNELL, David A. Ecoturismo: Uma introdução. São Paulo: Contexto, 2002

 

FUNDAÇÃO PARA A BIODIVERSIDADE. Apostila Curso Básico – Melhores Práticas para o Ecoturismo. Salvador, Centro de Recursos Ambientais - CRA, 2002.

 

HOEFFEL, J. L.; SORRENTINO, M.; MACHADO, M. K. Concepções sobre a natureza e sustentabilidade um estudo sobre percepção ambiental na bacia hidrográfica do Rio Atibainha – Nazaré Paulista/SP. Disponível em:

Acesso em: 22 de março de 2012.

 

JACOBI. Claudia Maria.et al.   Percepção Ambiental Em Unidades De Conservação: Experiência.In  7º Encontro de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais.,Anais.Belo Horizonte,2004.

 

LOUREIRO. André L. C. et. al. Parque Municipal da Serra do Periperi: Uma Contribuição à Unidade de Conservação. Instituto Construir e Conhecer; Goiânia; Enciclopédia Biosfera N.05; 2008.

 

NEIMAN, Zysman (Org). Meio ambiente, educação ambiental e ecoturismo. São Paulo: Manole, 2002.

 

OLIVEIRA. Kleber Andolfato. CORONA Hieda Maria Pagliosa. A Percepção Ambiental como Ferramenta de Propostas Educativas e de Políticas Ambientais.In ANAP Brasil.

 

SILVA, Mônica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte. Estratégias Metodológicas para a formação de educadores ambientais do ensino fundamental. In Anais XXVII Congresso Internacional de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, 2000

Disponível em < http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/sibesa6/ccxl.pdf> acesso em 01 março 2012.

 

SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE -. SEMMA. Programa de educação ambiental, Vitória da Conquista, 2001.

Ilustrações: Silvana Santos