Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 45) EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE ÁPP DE PALMEIRA DAS MISSÕES E REGIÃO.
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: RECUPERAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DE PALMEIRA DAS MISSÕES E REGIÃO

 

 

ALVES, Maria Elenice de Oliveira 1; ESSI, Liliana 2.

 

1 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Maria – campus Palmeira das Missões. Bolsista PROLICEN.

2 Professora adjunta do Departamento de Zootecnia e Ciências Biológicas – Universidade Federal de Santa Maria.

 

 

1,2 Universidade Federal de Santa Maria – Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul - campus Palmeira das Missões. Rio Grande do Sul. Brasil. Endereço: Avenida Independência, 3751. Bairro Vista Alegre, Palmeira das Missões, RS. CEP 98300-000. Telefone: 55-3742-8800. Fone/fax: 55-3742-8822. E-mail: maria.elenice.o.a@hotmail.com

 

Resumo

 

A região norte do estado do Rio Grande do Sul vem apresentando uma série de problemas ambientais relacionados à degradação ambiental, inclusive à degradação de áreas protegidas por lei, as Áreas de Preservação Permanente. No intuito de conscientizar a população de Palmeira das Missões e outros municípios da região norte do estado sobre a importância das Áreas de Preservação Permanente e sobre a importância da conservação e recuperação ambiental, foi realizado um projeto de educação ambiental envolvendo escolas públicas de Ensino Básico. Inicialmente, foi realizada uma revisão histórica da questão ambiental no Brasil e no mudo e das alterações que o Código Florestal Brasileiro vem passando, e a seguir foram planejadas diferentes atividades de educação ambiental, as quais foram executadas em datas com simbolismo ambiental importante. Foram realizados seminários, trilhas ecológicas, plantio de árvores nativas e jogos didáticos sobre Áreas de Preservação Permanente. Houve a participação de 370 pessoas vinculadas a sete escolas e um hospital de três municípios da região, entre alunos, professores, funcionários e colaboradores. As atividades e seus resultados foram divulgados através de rádio, jornal e redes sociais, despertando o interesse de outras escolas e da população em geral sobre o assunto. O projeto procurou desenvolver um pensamento crítico e transformador nos participantes, e as ações realizadas estimularam a criação de novos projetos de educação ambiental por parte dos participantes, bem como a continuidade e fortalecimento de projetos já em andamento.

 

Palavras chaves: conservação ambiental, mata ciliar, recuperação ambiental, ensino de ciências.


 

 

Introdução

 

O passado da humanidade está diretamente relacionado a um contexto marcado pela degradação constante do meio ambiente. Grande parte da degradação ambiental é resultante de um modelo econômico predatório, o qual vem se perpetuando há séculos no mundo, inclusive no Brasil. No Rio Grande do Sul, uma das primeiras regiões em que os ecossistemas naturais foram mais intensamente degradados foi a região norte do estado, onde situa-se e o município de Palmeira das Missões. Por apresentar um solo adequado à agricultura, a região sofreu com a intensa interconversão da paisagem natural em lavouras, as quais muitas vezes avançam inclusive sobre Áreas de Preservação Permanente, protegidas por lei, tais como banhados, nascentes e matas ciliares. Embora a recuperação das áreas já degradadas ainda seja viável, poucas são as iniciativas de particulares nesse sentido, e a maioria em decorrência de ações do Ministério Público, e não espontânea. Assim, observa-se que é necessário um intenso e duradouro trabalho de educação ambiental, que contribua na mobilização das pessoas em prol do cuidado com o meio ambiente e do reconhecimento da importância da preservação e recuperação de Áreas de Preservação Permanente.

Diante desse cenário, foi proposto um projeto de educação ambiental, com foco na importância das Áreas de Preservação Permanente, envolvendo acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas, alunos, professores e demais funcionários de escolas públicas de Ensino Básico de Palmeira das Missões e região. O projeto procurou motivar a reflexão sobre a situação ambiental no Brasil e na região, a análise crítica das mudanças propostas no Novo Código Florestal, bem como incentivar ações de conservação e recuperação de matas ciliares.

Durante o estudo, realizou-se, também, uma revisão da situação ambiental no Brasil, a qual é apresentada a seguir.

 

Breve Histórico da degradação ambiental no Brasil e a evolução da legislação ambiental brasileira

 

O Brasil é um país que vem perdendo sua biodiversidade, desde sua descoberta. O reconhecimento da nova terra iniciou-se em 1500 e após um ano a colônia começou a ser explorada. A expedição realizada por Gaspar de Lemos constatou a existência de pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam.), madeira bastante valorizada na Europa para o tingimento de tecidos.

Até 1530, o pau–brasil foi a única riqueza explorada na nova terra descoberta, sendo responsável pela instalação da primeira forma de organização administrativa realizada pelo Governo Português (Ferreira, 1997). As áreas eram abdicadas quando as árvores se esgotavam.  A importância econômica do pau–brasil foi de tal ordem, que a partir de 1511 na Europa, não mais se mencionavam a nova terra como Terra de Santa Cruz e, sim, Terra do Brasil e logo em seguida, somente Brasil. Assim, o primeiro ciclo econômico do Brasil se deu a partir da extração e exploração da madeira obtida pelo pau-brasil.

Esta madeira foi explorada durante 375 anos contínuos, sem qualquer preocupação com o replantio, ocorrendo uma extração de forma desordenada e irregular, o que veio gerar o seu atual estado de extinção do habitat natural, pois se estendia em toda a Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa), porém, hoje ela está na lista das espécies ameaçadas de extinção. Em 1978, a Lei federal 6.607/1978, declarava o pau-brasil a árvore nacional do Brasil (Matos e Queiroz, 2009).

Após a exploração do pau-brasil, os portugueses começaram a cultivar cana-de-açúcar na colônia, que dominou grandes áreas próximas ao litoral, nesse período os portugueses escravizaram os índios e negros, foi uma cultura que ocasionou grandes impactos ambientais na Mata Atlântica (Ferreira, 1997). Em seguida, vastas áreas de mata foram sendo devastadas para a implantação da agricultura e agropecuária começando a ocorrer um acelerado processo de degradação ambiental. As técnicas empregadas para o cultivo era simples, pois eram técnicas depredadoras do solo que ainda são usadas ate os dias de hoje. A falta de conscientização ecológica na exploração dos recursos naturais tem ocasionado uma enorme perda da sua diversidade, decorrente do impacto ambiental das atividades do homem, que acabava por desequilibrar o ecossistema, causando prejuízos irreparáveis a flora arbórea.

A natureza era vista como uma fonte de recursos sem fim e as florestas não passavam de “obstáculos” que impediam o avanço do desenvolvimento. Essa visão permanece até hoje em algumas regiões do país: é mais barato queimar, degradar e procurar outra área do que ficar e cuidar da terra e investir no aumento da produtividade (SOS Florestas, s.d.).

Em 1693, iniciou-se a mineração que foi outra atividade econômica que ocasionou destruição da natureza, com exploração do ouro e diamantes nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso, Bahia e Goiás (Ferreira, 1997). No final do século XVIII, a mineração estava visivelmente em decadência, pois em 1759 ocorreu o esgotamento do ouro nessas regiões, deixando sérios problemas ambientais como erosão.

Os problemas ambientais têm uma raiz muito antiga, entretanto, o impacto só se agravou na medida em que a população mundial foi se tornando maior e o capitalismo foi definido como modo de produção decorrente da revolução industrial, que começou na Europa, mas em pouco tempo chegou ao Brasil (Cotrim, 2000). Nesse período começou a existir uma preocupação com a devastação ambiental que foi provocada por um modelo econômico exclusivamente capitalista.

Em 1931, o botânico Alberto Sampaio fundou a sociedade de Amigos das Árvores, que reunia jornalistas e políticos preocupados com a intensa devastação das florestas brasileiras (Scariot, 2011), através desses estudiosos ocorreu à primeira Conferência Brasileira de proteção a natureza. Os estudos realizados nesta Conferência ajudou na elaboração do Código Florestal Brasileiro.

No ano de 1934, o governo Getúlio Vargas criou o Código Florestal Brasileiro junto com os códigos de Água, Minas, Caça e Pesca e a primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza (Franco, 2002). Tudo isso foi uma tentativa do Estado de ordenar o uso dos recursos naturais, porém, não foi elaborada uma politica púbica eficaz que disciplinasse o uso dos recursos naturais. O Código Florestal Brasileiro em seu artigo 23 determinava a obrigação de se preservar áreas sensíveis e de manter uma parcela da vegetação nativa nas propriedades rurais e nas cidades, que são as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reserva legal. O decreto n0. 23.793/1934 determinava que nenhum proprietário poderia “abater” mais de ¾ da vegetação existente em seu imóvel (SOS Florestas, s.d.).

Segundo o Código Florestal Brasileiro atual, as APPs são áreas com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e também assegurar o bem-estar das populações humanas. Ou seja, é uma lei que tem o objetivo de proteger o ambiente natural das ações antrópicas que alteram processos, propriedades ou características físicas, químicas ou biológicas, ou interferem em usos pré-existentes de um determinado ambiente (Fornasari Filho e Braga, 1992). São áreas que devem ter sua cobertura vegetal original e formar ecossistemas nas margens de rios, córregos, nascentes, banhados, represas, encostas, restingas e topos de montanhas entre outros locais.

            Mas, infelizmente, essas leis não foram suficientemente divulgadas e o desmatamento desenfreado continuou. Outro problema foi a falta de fiscalização por parte dos órgãos públicos. Após ocorrerem várias catástrofes ambientais que causaram vários prejuízos à agricultura, se detectou a necessidade de reformular o Código Florestal. Em 1965, o novo código definiu que 50% da vegetação da Amazônia deveriam ser preservadas, porém, nas demais regiões do país era exigido 20% (Siqueira e Nogueira, 2004).

Através da Lei nº 4.771/1965, a fiscalização começou a ser implantada e várias atividades de educação ambiental começaram a ser realizadas. Tais iniciativas, porém, foram insuficientes. A maioria dos proprietários rurais, ao invés de se adequarem às leis e conservar os recursos naturais, optou por insistir em uma agricultura que não visa a sustentabilidade, mas que se baseia numa visão de retorno imediato. A principal alegação dos produtores que desrespeitam a legislação é a de que ela engessa o crescimento da agricultura brasileira tornando-se insustentável em termos financeiros.

Assim, o desmatamento da Amazônia acabou acelerando e atingiu recorde na década de 1990. Mais uma vez, chamou-se a atenção para a necessidade de preservar a biodiversidade. Em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso editou a Medida Provisória (MP) 1.511/ 1996, que ampliou as restrições de desmatamento da floresta amazônica, aumentou a reserva legal nas áreas de floresta da Amazônia para 80%, e o Cerrado ficou protegido com 35% de preservação, porém, o restante do país continuou com 20% (SOS Florestas, s.d.).

Como foi possível observar através desse resgate histórico, ao longo das décadas o Código Florestal Brasileiro vem sofrendo várias modificações, mas infelizmente as novas alterações propostas recentemente visam uma agricultura baseada na exploração de recursos naturais sem uma perspectiva sustentável, ocorrendo, por consequência, um incentivo à degradação do meio ambiente. Sabemos que apenas ambientais não bastam, pois, temos observado que, no Brasil, muitas leis em diversas áreas são simplesmente ignoradas – são leis que não “pegam”. Desse modo, para conquistar um modo de produção sustentável e a efetiva conservação ambiental, é necessário atuar na conscientização da população em geral sobre a importância da manutenção de ecossistemas equilibrados e da preservação das Áreas de Preservação Permanente. Tais atividades apresentam efeito mais significativo quando realizadas a partir de iniciativas locais e regionais, com a exposição dos problemas e soluções para os problemas dos municípios e da região.

 

A educação ambiental: teoria e prática

 

O Brasil foi um dos países mais dinâmicos do sistema mundial entre os anos de 1950 e 1980, porém, na década de 70 foi um dos principais receptores das indústrias poluentes transferidas do Norte, devido ao avanço do movimento ambientalista nos países desenvolvidos (Ferreira, 2003). A participação popular na gestão ambiental é atual e se reiniciou no início da década de 80, influenciada pela conquista de maiores espaços no campo sócio-político.

A educação ambiental surge como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla ordem, cultural e social. Sua perspectiva crítica e emancipatória visam à deflagração de processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas (Sorrentino et al., 2005). Segundo Jacobi (2003), a reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental.

Faz-se necessário uma educação ambiental vinculada com a reflexão da necessidade da importância de se ter um ambiente saudável. Conforme Sorrentino et al. (2005), a educação ambiental tem por finalidade abrir espaços que possam contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos e todas as espécies e sistemas naturais com os quais compartilhamos o planeta ao longo dos tempos. A desresponsabilização da população decorre principalmente da desinformação e da falta de práticas que envolvam a população. Através disto, se torna possível a construção de uma visão crítica ambiental.

Araujo e Bizzo (2005) acreditam que é através do conhecimento que o indivíduo consciente muda sua forma de se relacionar com o meio, de maneira a conservar os bens naturais para as gerações futuras e a transformar os construtos ambientais, historicamente elaborados pelo homem em uma sociedade mais justa. Para que essa conscientização venha ocorrer, é necessário que a sociedade como um todo esteja engajada nessa luta em propagar esse conhecimento. Uma das formas disto acontecer é através dos professores e profissionais em educação. Faz-se necessário que os educandos possuam capacidade para compreender este saber, e usar esse tema, que é tão abrangente, em diversas disciplinas.

Conforme Jacobi (2003), o educador tem a função de mediador na construção de referências ambiental e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza. Jacobi e Luzzi (s.d.) propõem que a educação ambiental aponte para propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos.

O tema de educação ambiental é um dos assuntos que fazem parte do ensino de ciências e que abrange outras disciplinas sendo possível um maior esclarecimento do assunto. Também é usada pelas escolas de Ensino Fundamental e Médio como ´´projetos interdisciplinares`` e ´´temas transversais``.

O projeto de Educação Ambiental aqui apresentado foi realizado na cidade Palmeira das Missões, que está situada no norte do estado do Rio Grande do Sul. O município possui 34.335 habitantes e 1.419 km2, e uma zona urbana bastante arborizada, com diversas praças e parques. É uma cidade onde grande parte das Áreas de Preservação Permanente se encontra irregular, pois a formação do município se deu em três fases todas relacionadas à degradação ambiental (Ardenghi, 2003). A vegetação caracteriza-se pela predominância do campo ocupado na agricultura, a cultura de soja, trigo, milho, feijão e erva mate que são praticamente exclusivas na geração da economia agropecuária.

O tema deste trabalho vai de encontro com a necessidade de educação ambiental no município e região, pois o mesmo apresenta grandes problemas ambientais ocasionados com o avanço de atividades agropecuárias sobre as APPs. No ambiente urbano não existe nenhuma fiscalização por parte do poder público em relação às APPs que são usadas para aterramento para ocupação humana, desrespeitando a legislação.

 O tema tem relevância global porque o crescimento da população mundial, o aumento da expectativa de vida e do consumo são fatores que aumentaram indiscriminadamente o uso dos recursos naturais, e isso afeta a qualidade de vida e a sobrevivência das futuras gerações o que justifica a necessidade de atividades voltadas à conscientização sobre importância que estes recursos têm no ambiente.

Pensando nisso, o presente trabalho foi desenvolvido em ambientes educativos desta cidade e da região, com o objetivo de divulgar o conhecimento das árvores nativas da região, realizar a recuperação de Áreas de Preservação Permanente em ambientes-modelo (Universidade, escolas...) e incentivar ações de recuperação e conservação ambiental e educação ambiental com foco na importância das Áreas de Preservação Permanente, da cidade e região.

Além disso, procura-se estimular a reflexão sobre o papel de todos os cidadãos na preservação e conservação do ambiente e sobre a necessidade e conservação de um meio ambiente saudável, bem como oportunizar para alunos de Ensino Fundamental e Médio o acesso ao conhecimento sobre as leis ambientais e práticas ambientalmente responsáveis.

 

Material e Métodos            

 

O projeto foi desenvolvido no ano de 2012, ao longo de oito meses, e envolveu alunos do Ensino Básico de escolas públicas dos municípios de Palmeira das Missões, Jaboticaba e São Pedro das Missões, todas no norte do estado do Rio Grande do Sul.

As atividades realizadas envolveram seminários sobre legislação ambiental e o Novo Código Florestal (Figuras 2, 3 e 7), realização de trilhas ecológicas (Figuras 4, 6 e 13), produção de mudas de árvores nativas da região e reconhecimento de APPs, plantio de árvores nativas em Matas Ciliares impactadas (Figuras 8 a 12), elaboração de maquete, bingo didático e outras, sempre com a participação dos estudantes.

Para o plantio de mudas de árvores, foram produzidas mudas de espécies nativas no Horto Florestal da Universidade Federal de Santa Maria, campus Palmeira das Missões, bem como foi recebida a doação de 900 mudas de árvores nativas de empresa parceira (Empresa CRELUZ - Figura: 15); O transporte de estudantes da escola até as áreas de plantio de mudas ou de trilhas foi realizado pela empresa parceira TRANSPAL, de Palmeira das Missões (transporte coletivo). A divulgação das atividades e de seus resultados foi feita através da participação em programas de rádio, publicação de textos em jornais e através de redes sociais.

Para a avaliação das atividades, além da análise experiência subjetiva (impressões dos organizadores) foi feito o uso de um questionário, entregue aos professores, alunos e aos demais participantes (Anexo 1). A partir da avaliação das respostas do questionário, foram elaboradas as atividades para as apresentações subsequentes.

 

Resultados e Discussão

 

Um dos primeiros destaques do projeto foi o sucesso na mobilização de professores e estudantes (Figura 1). Foram 370 participantes no total, sendo 127 de cinco escolas de Palmeira das Missões, 133 participantes de duas instituições de Jaboticaba (uma escola e um Hospital) e 110 participantes de duas escolas de São Pedro das Missões. Confirma-se que o ambiente escolar é um excelente ponto de partida para propostas de educação ambiental, enquanto em outros espaços a adesão é menor ou menos duradoura (Streck e Essi, em preparação). Uma estratégia que também pode ter contribuído na adesão satisfatória foi o fato de a maioria das atividades ter sido realizada em datas comemorativas em que a temática ambiental vem sendo trabalhada pelos professores em sala de aula, tais como Semana do Meio Ambiente, Dia da Árvore e Dia da Natureza. Além do alcance direto, é necessário considerar o efeito multiplicador que cada participante da atividade pode exercer, contribuindo para a disseminação de uma cultura ambientalmente responsável.

Com relação à avaliação das atividades, os questionários indicaram que o aproveitamento das atividades foi satisfatório, resultado esse confirmado indiretamente pelo convite de retorno às escolas e de realização de novas atividades de educação ambiental. Embora as atividades do tipo seminário ainda sejam procuradas pelas escolas, foram as atividades práticas e lúdicas aquelas que apresentaram maior mobilização e entusiasmo, tais como trilhas ecológicas (Figuras 4, 6 e 13), jogos e plantio de mudas de árvores (Figuras 8 a 12). Outro aspecto relevante e positivo é o fato de não apenas os professores de Ciências ou Biologia terem participado das atividades. Professores de outras áreas, tais como Literatura, Educação Física e Geografia também participaram das atividades, como continuação a temas trabalhados de modo interdisciplinar em sala de aula. De um modo geral, observa-se que a temática ambiental vem sendo trabalhada com mais frequência por professores de Ciências e Biologia, graças à ênfase que a educação ambiental recebe durante a formação de licenciados nessas áreas. Porém, deve-se estimular que professores de outras áreas também trabalhem nessa temática, para que a mesma alcance o verdadeiro patamar de tema transversal, previsto na lei.

Conforme Santos (2007), a ação direta do professor na sala de aula é uma das formas de levar a Educação Ambiental à comunidade, já que um dos elementos fundamentais no processo de conscientização da sociedade dos problemas ambientais é o educador. Porque este pode buscar desenvolver, em seus alunos, hábitos e atitudes sadias de conservação ambiental e respeito à natureza, transformando-os em cidadãos conscientes e comprometidos com o futuro do país. Para que o educador esteja preparado para falar aos alunos sobre esse tema, é necessário que na sua graduação ele tenha tido contato com esse assunto. Também se faz necessário que para melhor formação do educador ele tenha contato constantemente com as novas informações. Nesse prisma, o projeto também oportunizou aos acadêmicos de graduação em Ciências Biológicas uma vivência de ações de educação ambiental, permitindo uma reflexão mais aprofundada sobre o tema, antes e depois da experiência concreta da ação com as escolas.

Segundo Araujo e Bizzo (2005) professores que desejam desenvolver a formação ambiental com seus alunos, devem ser capazes de identificar e analisar coerentemente as informações e/ou avanços para a sociedade. Ou seja, ser um indivíduo que possua conhecimentos do assunto para que possa possibilitar aos alunos situações de aprendizagem que os capacitem a debater e analisar as questões ambientais sob o discurso da sustentabilidade.

Não podemos apenas esperar por políticas públicas e sim é necessário um processo educativo, com atitudes ambientais e sociais com que venha envolver a sociedade como um todo, pois, somente assim a sociedade irá saber da grande importância da questão ambiental. Umas das formas desse conhecimento chegar até a comunidade é através das redes escolares, atingindo todos os níveis de escolaridade. É importante que, desde os primeiros anos de vida, o indivíduo tenha esse saber, para isso se vê a importância que já na educação infantil esse assunto seja trabalhado, para que desde os primeiros anos de vida da criança ela saiba da necessidade de manter um equilíbrio entre o meio ambiente e ser humano. Uma das formas para que isso aconteça é o desenvolvimento de projetos educacionais que visem à educação ambiental também nas séries iniciais. A própria Constituição Federal de 1988 determinou ao Poder Público a promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino (Queiroz, 2008). Mas, infelizmente a lei aqui no Brasil não está sendo colocada em prática.

Muitos avanços ainda precisam ser feitos em termos de educação ambiental e de conservação ambiental no Brasil. Além da necessidade de maior envolvimento dos professores com projetos de modo interdisciplinar, que aparece de um modo tímido nas escolas, outra melhoria necessária é a realização de projetos de longo prazo, para que as ações em educação ambiental não tenham fim em si mesmas. Uma queixa frequente dos professores ao justificar a impossibilidade de trabalhar as questões ambientais em aula é a falta de tempo, devido a um grande volume de conteúdos a “serem vencidos” em sala aula. Por essa razão, alguns gestores têm sugerido a criação de disciplinas de educação ambiental, sugestão essa que vem sendo muito questionada por especialistas, justamente por ir de encontro à ideia de que essa temática perpasse todas as áreas do conhecimento.

O principal resultado do projeto foi a mobilização de diversas escolas em torno da importância das Áreas de Preservação Permanente. As atividades realizadas, as quais foram divulgadas por diversos meios, despertaram a curiosidade e interesse de escolas, alunos, e professores. Outro resultado relevante foi o fortalecimento da comunicação entre participantes de diferentes projetos de educação ambiental, os quais estão sendo conduzidos em Palmeira das Missões. Nesse sentido, no mês de outubro os participantes do projeto se inseriram no recém criado “Movimento em Educação Ambiental”, que consiste em um fórum de professores e estudantes de Palmeira das Missões, envolvidos em diferentes projetos de educação ambiental, cuja finalidade é divulgar as ações de educação ambiental no município e promover a troca de experiências entre os grupos. Assim, vislumbra-se a continuidade do projeto, a realização de novas parcerias e a troca mais intensa de experiências com outros profissionais comprometidos com a educação ambiental.

 

Agradecimentos

 

Os autores agradecem aos gestores e professores das escolas e instituições envolvidas, pela participação nas atividades, às empresas CRELUZ e TRANSPAL, pelo apoio nas atividades de campo, e ao Programa de Licenciaturas da Universidade Federal de Santa Maria, pela bolsa concedida. Agradecem, também, aos acadêmicos do curso de Ciências Biológicas que auxiliaram de modo voluntário na organização e execução das atividades de campo.

 

Referências Bibliográficas

 

Almeida, Lúcia; Rigolin, Tércio. Geografia. Série novo Ensino Médio. Editora: Ática. Vol. Único. São Paulo- SP. 2005. p. 7- 310.

 

Araujo, Maria; Bizzo, Nelio. O discurso da sustentabilidade, Educação Ambiental e a formação de professores de Biologia. Enseñanza de las Ciencias, Congresso número extra. VII Congresso. 2005. p. 1-5.

 

Ardenghi, Lurdes. Caboclos, ervateiros e coronéis: luta e resistência em Palmeira das Missões- RS. Dissertação (mestrado) - Universidade de Passo Fundo, 2003.p. 2- 209.

 

Cotrim, Gilberto. História e reflexão. São Paulo- SP. Editora: Saraiva. 2000. Vol. 3. p.9-150.

 

Ferreira, José. História. Editora: FTD. São Paulo-SP. 1997.p.11-223.

 

Ferreira, Leila da Costa. A questão ambiental. Sustentabilidade e políticas públicas no Brasil. Editora: Boitempo. São Paulo - SP. 2003. p. 9-145.

 

Franco, José. A Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza e a questão da Identidade Nacional. Editora: Varia História nº 26. Brasília, 2002. p. 77-96.

 

Fornasari Filho, Nilton; Braga, Tâina de Oliveira. Alterações do meio físico decorrentes de obras de engenharia. São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1992. (Publicação IPT; n. 1.972).

 

Jacobi, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Editora: Cadernos de Pesquisa, São Paulo-SP, 2003. p.189-205.

 

Jacobi, Pedro; Luzzi, Daniel. Educação e Meio Ambiente – um diálogo em ação. Educação Ambiental / n.22.

 

 

Matos, Eloina. Queiroz, Luciano P. Árvores para cidades. Editora: Solisluna. Salvador- BA.  2009. p. 256-257.

 

Nogueira, Jorge; Siqueira, Ciro. O Novo Código Florestal e A Reserva Legal: do preservacionismo desumano ao conservacionismo politicamente correto. In: XLII Encontro Brasileiro de Economia e Sociologia Rural - Encontro da SOBER, 2004, Cuiabá.

 

Queiroz, Oriel. A eficácia normativa da Educação Ambiental como garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Dissertação (Mestrado) 2008.p. 8-168.

 

Santos, Elaine. Educação ambiental na escola: conscientização da necessidade de proteção da camada de ozônio. 2007. Monografia (Pós-Graduação em Educação Ambiental) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria- RS, 2007. p. 9-53.

 

Scariot, Nádia. A Evolução do Estado na Perspectiva da Questão Ambiental. Editora: UPF. Passo Fundo- RS. 2011.p. 232.

 

Streck, Morgana; Essi, Liliana. (não publicado) Educação ambiental: uma experiência com famílias de produtores rurais. Artigo em preparação.

 

Sorrentino, Marcos; Trajber, Rachel; Mendonça, Patrícia; Junior, Luiz. Educação ambiental como política pública. Editora: Educação e Pesquisa. São Paulo-SP. 2005. p. 285-299.

 

 

FIGURAS

 

 

Figura 1: Níveis de ensino das turmas envolvidas, cidades onde ocorreram as atividades e número de participantes.

 

 

 

 


 

 

Figuras 2 a 7: 2) Alunos da Escola Estadual Antônio de Souza Neto, Palmeira das Missões; 3) Alunos da Escola Municipal Inspetor João Ferraz e da Escola Municipal José Bonifácio, São Pedro das Missões; 4) Pacientes em tratamento do Hospital de Caridade de Jaboticaba, Jaboticaba; 5 e 6) Atividade com a Escola Estadual Cacique Nenguiru, Palmeira das Missões; 7) Seminário com a Escola Estadual Três Mártires, Palmeira das Missões.

 

 

 

 

 

Figuras 8 a 13: 8 a 10) Atividade de plantio de árvores com alunos da Escola Estadual Três Mártires; 11 e 12) Plantio de árvores com alunos da Escola Municipal Trinta de Novembro, Jaboticaba; 13) Trilha ecológica com alunos da Escola Estadual de Ensino Básico Palmeira das Missões.

 

 


 

ANEXO

 

Tabela 1: Resultado do questionário aplicado para 19 professores e 188 alunos envolvidos em quatro das atividades realizadas. As perguntas formuladas tinham como objetivo analisar o conhecimento dos participantes das atividades e obter opiniões sobre as diversas atividades realizadas. Células sem informações referem-se a perguntas que não foram incluídas nos questionários de alunos ou professores.

 

 

 

Participantes

Professores

Alunos

Questões ↓

 

 

1- O objetivo do projeto é proporcionar aos participantes a reflexão e conhecimento das APP. Objetivo foi alcançado ou não?

100% Sim

97% Sim

2% Não opinaram

1% Não

2- As APPs da cidade onde você mora estão sendo preservadas ou não?

90% pouco preservadas, 5% estão preservadas e 5% totalmente degradadas.

_______________

3- Você já possuía algum conhecimento sobre APPs?

________________

55% Não possuíam e

45% já possuíam conhecimento do tema.

4- A escola da qual você faz parte tem algum projeto relacionado ao meio ambiente?

55% têm projetos sendo que 45% não têm projetos.

60% têm projetos, 35% não possuem projetos e 5% desconhecem se a escola tem projetos ou não.

5- Qual a sua opinião em relação às novas leis do Código Florestal Brasileiro?

75% consideram boas em parte.

12,5% acreditam que foi mal formulado.

12,5% consideram muito bom.

_______________

 

Ilustrações: Silvana Santos