Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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31/05/2013 (Nº 44) BLOG NA PRODUÇÃO COLABORATIVA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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BLOG NA PRODUÇÃO COLABORATIVA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

Eliandra Gomes¹ Marques, Ilse Abegg²

¹ Educadora em economia solidária; com especialização em Educação Ambiental, em Mídias na Educação e em Gestão Educacional pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). egomesarques@gmail.com

² Doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora da UFSM/Centro de Educação/Departamento de Metodologia do Ensino; Pesquisadora UAB/CAPES e FAPERGS. ilse.abegg@ufsm.br

 

RESUMO

Essa pesquisa traz elementos de discussão sobre o pouco emprego das mídias nas práticas pedagógicas e um relato de uma experiência que proporciona aos estudantes e professores outro olhar à produção do conhecimento. Objetivamos construir um ambiente para aprendizagem colaborativa apoiada por computador, como estratégia de ensino-aprendizagem em Educação Ambiental (EA). O bullying foi o recorte feito sobre a temática ambiental como forma de problematizar questões como a violência enquanto dispositivo de constituição dos sujeitos. Buscamos desenvolver os princípios metodológicos da pesquisa-ação, que tem como características a ação, a pesquisa e a mudança de comportamento dos atores envolvidos, que, coletivamente, intervêm na ação em todas as suas fases, cuja finalidade comum é transformar a realidade. Os resultados demonstraram que os participantes utilizam de estratégias que cooperam para ações coletivas e participativas, demonstrando que o blog é uma ferramenta que problematiza o processo de interação mediada por computador e a produção de textos colaborativos, que contribuem para que a educação seja transformadora, crítica, emancipatória e participativa.

Palavras-chave: produção colaborativa; mídias; educação ambiental.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Este trabalho foi desenvolvido em uma escola pública estadual na região do extremo oeste do estado de Santa Catarina (Brasil) e contou com a participação de estudantes do ensino fundamental e ensino médio. Essa abertura às diferentes séries se deu pelo fato de a proposta ter sido apresentada a todas as séries da escola levando em conta a participação já que era uma proposta extraclasse.

Nesse artigo discutimos que dentre as inúmeras possibilidades de práticas educativas na Educação Ambiental (EA) estão aquelas que visam problematizar questões como a violência enquanto dispositivo de constituição dos sujeitos. A propósito, a abordagem da EA no contexto educacional consiste em abrir espaço para o diálogo, discutir novas formas de entender as relações do Ser humano com seu meio, promovendo novas ações comportamentais que visem o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, principalmente na prática de ações que contemplem a participação, formação e a autonomia do educando.

O bullying tem recebido grande destaque das mídias e principalmente no ambiente educacional por ser uma questão que está fortemente presente nesse contexto. Por isso a escolha desse tema se deu porque sua prevenção se constitui em uma necessária medida de educação que seja capaz de permitir o pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, habilitando-os à convivência social e ambiental. Assim, o objetivo geral dessa pesquisa é construir um ambiente para aprendizagem colaborativa apoiada por computador como estratégia de ensino-aprendizagem em EA.

Os objetivos específicos foram: (i) integrar as mídias na organização didático-metodológica das diferentes disciplinas; (ii) orientar o estudante para que o processo de aprendizado e construção do conhecimento aconteçam de forma colaborativa e interativa, fazendo-o com que seja coautor; (iii) sensibilizar quanto à necessidade de ações para minimizar os impactos socioambientais; e (iv) promover a integração de mídias na EA.

A metodologia está focada na pesquisa-ação devido ao caráter específico de investigação centrado em questões e/ou preocupações de um determinado contexto e na construção colaborativa do conhecimento facilitando o entendimento de um coletivo.

Este trabalho se justifica por apresentar uma prática interdisciplinar que valoriza a produção de leitura-escrita coletiva para a construção de um blog, uma vez que a adoção de práticas que desvalorizam o conhecimento compartilhado ainda está presente no dia-a-dia da sala de aula. Nesse sentido, Morin (1991) destaca que “as disciplinas se fecharam sobre objetos mutilados. Assim, o conhecimento fechado destruiu ou ocultou em toda a parte as solidariedades, as articulações, a ecologia dos seres e dos atos, a existência!” (1991, p. 195). Sob esse mesmo enfoque, Fazenda (1991, p. 56) destaca que é “difícil pensar em interdisciplinaridade quando fomos acostumados a pensar a educação compartimentalizada, produto da escola tecnicista”.

O desafio que se coloca é de efetivar uma prática educativa que seja crítica e inovadora no dia-a-dia da sala de aula cujo enfoque busque uma perspectiva de ação sistêmica que relaciona Ser humano e o meio ambiente, tendo como referência a aprendizagem colaborativa.

 

 

Blog e aprendizagem colaborativa

 

O blog, ou weblog, é um ambiente virtual em que são publicados em pequenos blocos dispostos em ordem cronológica reversa cujos conteúdos recentes se encontram na parte superior da página.

No Brasil, os blogs passaram a ser objetos de estudos “por trazerem a possibilidade de novos modos de pensar o uso da tecnologia na educação” (Gutierrez, 2005, p. 3) e por serem fáceis a sua criação, edição e publicação e, sobretudo, não precisarem de fluência tecnológica. A razão dessa facilidade se deve às diversas ferramentas disponibilizadas em um mesmo espaço que “é construído e colocado on-line por meio de um aplicativo que realiza a codificação da página, sua hospedagem e publicação.” (GUTIERREZ, 2005, p. 3).

Igualmente, vale enfatizar que o acesso ao conteúdo do blog é público e gratuito, podendo nesse espaço se dar uma relação de cooperação entre os autores e leitores por meio de comentários que podem ser filtrados pelos administradores/autores.

Por meio de sua funcionalidade, o blog educativo possibilita a interação entre os sujeitos devido ao seu caráter dinâmico e sua simples manutenção e facilidade de acesso aos registros.

Barbosa e Serrano (2005) trazem o blog como uma ferramenta de apoio à prática pedagógica. Para essas autoras o blog é um ambiente facilitador para a produção coletiva de conteúdos escolares que potencializa a construção coletiva, viabilizando a interação e a cooperação entre os envolvidos.

Sob o ponto de vista da colaboração, o blog garante a sócio-construção do conhecimento que ocorre pela ação coletiva e fundamenta a elaboração de soluções de problemas. A proposição da aprendizagem colaborativa como estratégia para a sócio-construção do conhecimento facilita a participação ativa dos estudantes na atividade. Na Figura 1 apresentamos uma leitura iconográfica, representada por um mapa conceitual, a partir do artigo de Barbosa e Serrano (2005).

 

Figura 1 – Rede Conceitual elaborada a partir do artigo de Barbosa e Serrano (2005).

 

Os blogs apresentam características que favorecem um processo de comunicação interativa e compartilhada entre os estudantes e desses com os professores sobre temas estudados em sala de aula. São práticas motivadoras que propiciam a vivência de situações de aprendizagem colaborativa no contexto educacional.

A aprendizagem colaborativa é um modelo de prática pedagógica que supera a reprodução do conhecimento e prioriza a construção social desse conhecimento, a partir de uma visão sistêmica. É uma estratégia de ensino que valoriza o trabalho coletivo, proporciona a interação entre os envolvidos por meio de uma abordagem progressista. Nesse contexto, os estudantes passam a ser construtores e socializadores de conhecimentos por meio do diálogo com o outro. Corroborando com essa prática, Abegg e outros (2009, p. 1644) destacam que:

 

As plataformas colaborativas acrescentam outras perspectivas ao processo de ensino-aprendizagem, proporcionando novas maneiras de realizar as atividades de estudo, agregando dimensões como planejamento colaborativo de projetos com aplicações e funcionalidades específicas, nos quais professores e alunos podem trabalhar em rede, colaborativamente, sobre um tema.

 

Por isso que a aprendizagem colaborativa demanda uma conduta cooperativa, ou seja, que os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem realizem as tomadas de decisões, o planejamento e as ações coletivamente, e que as discussões sejam críticas e reflexivas. Mais ainda as mídias estão se tornando instrumentos indispensáveis do processo educativo.

Diferentemente, das práticas tradicionais que privilegiam contextos de aprendizagem individual, a aprendizagem colaborativa

 

é uma estratégia de ensino que encoraja a participação do estudante no processo de aprendizagem e que faz da aprendizagem um processo ativo e efetivo, onde o conhecimento é resultante de um consenso entre membros de uma comunidade, algo que as pessoas constroem conversando, trabalhando juntas e chegando a um acordo. (ROMANÓ, 2004, p. 320).

 

Nesse sentido, o estudante, à medida que interage com o Outro e começa a ter fluência sobre os objetos de aprendizagem, torna-se um participante ativo nesse processo e passa a ter condições de construir seu conhecimento.

Corroborando com essa prática no processo educativo, Bittencourt e outros (2004, p. 2) destacam que “o objetivo maior da pedagogia colaborativa é que os ambientes por ela utilizados sejam ricos em possibilidades e propiciem o crescimento de um grupo”, posto que a aprendizagem não se dá de forma isolada e solitária, mas no diálogo entre os sujeitos.

Os desafios da prática pedagógica estão centrados em processos de aprendizagem que deem autonomia aos estudantes já que ainda é utopia a aprendizagem baseada em práticas que demandem uma educação que provoque ações colaborativas em um paradigma emergente, instrumentalizado pelas mídias (MORAN, 2006).

Sob esse aspecto, Leite (2008, p.72) coloca que, em análise à integração de mídia no contexto educacional,

 

identificamos aí um dos grandes obstáculos no sistema educacional, uma vez que, mesmo inserindo alguma mídia na prática pedagógica, a escola funciona, de maneira geral, fundamentada no paradigma da simplicidade, no qual tudo é mecânico, reducionista, linear, tendo a pretensão de formar cidadãos para um mundo no qual o paradigma que se apresenta é o da complexidade, ou seja, aberto, interdisciplinar, colaborativo, hipertextual.

 

Contudo, é pertinente destacar a urgência de a educação deixar a ”obsolescência da sala de aula centrada na pedagogia da transmissão” (Freire, 2008, p. 80) e passar a incorporar pedagogias que levem em conta a colaboração como processo criativo e colaborativo de educação.

 

 

O espaço-tempo das mídias no contexto da pesquisa

 

A escola onde foi realizada a pesquisa possui uma sala climatizada e equipada com 15 computadores conectados à internet e com software livre, um projetor multimídia com tela para projeção e um aparelho de som com microfone e caixas de som para apresentações com áudio. A sala é utilizada somente para pesquisa pelos estudantes e professores e nenhum professor usa-a como espaço de aprendizagem de sua prática pedagógica.

A partir desse diagnóstico, propôs-se à escola desenvolver um trabalho de pesquisa com estudantes e demais interessados que proporcionasse a construção coletiva do conhecimento por meio das interações sociais a partir da edição de um blog.

Os professores somente disponibilizaram suas aulas, caso fosse necessário, para o andamento do trabalho, entretanto não quiseram se envolver justificando que estavam sobrecarregados de atividades. Tal recusa se deve ao fato de muitos não terem fluência tecnológica sobre as mídias, em especial a informática, para utilizar em sala de aula. Ao serem indagados sobre a não utilização de mídias em suas práticas pedagógicas, responderam que não têm tempo para um trabalho mais elaborado por alguns terem atividades em outras escolas.

Também os estudantes, quando perguntados se sabiam utilizar as mídias como ferramenta de aprendizado, a maioria respondeu que apenas usava a informática para pesquisas e para envio de mensagens pelo correio eletrônico e páginas de relações sociais (orkut, facebook, sonico, twitter...).

O primeiro encontro com os estudantes interessados em participar do projeto se deu na sala de informática da escola. Foi feita a apresentação do projeto de concepção de um blog que trouxesse informações acerca da concepção de EA, bem como se realizou o planejamento das ações coletivamente definindo, dentre outros pontos, quando seria o próximo encontro e quem seriam os facilitadores.

 

 

Construção coletiva do blog “Educação Ambiental”

 

Nesta fase foram definidas a identidade visual do blog a partir da percepção do grupo sobre o entendimento do que é EA e a interação entre os sujeitos acerca das ferramentas do aplicativo Blogger da Google, para que o grupo, através do compartilhamento de saberes e conhecimentos, do diálogo, adquirisse fluência tecnológica.

Destaca-se que a escolha desse aplicativo da Google se deve ao fato de ser uma versão livre e disponibilizada em rede, pela facilidade de acesso aos conteúdos dos internautas sendo desnecessários código de acesso e senha, apenas são identificados pelo endereço eletrônico ou sítio, à exceção dos autores.

A construção do blog contou com a ajuda daqueles estudantes que já tinham fluência tecnológica dessa ferramenta e compartilharam conhecimentos com os demais integrantes da pesquisa uns ajudando aqueles que precisavam. Embora os participantes conhecessem as ferramentas de correios eletrônicos e sítios de relacionamentos, apenas um já havia construído uma ferramenta desse tipo.

Durante as interações foram apontadas pistas que permitiram desconstruir e construir o blog tanto em aspectos técnicos e comunicacionais (layout, plano de fundo, inserção de componentes e links) como nas produções escritas postadas.

A busca pela identidade visual do blog se deu pela relação que os estudantes tinham com a compreensão do que era EA. Mesmo após terem se familiarizado com esse conceito, optou-se em não alterar o plano de fundo por remeter à simbologia da esperança em sensibilizar e conscientizar os cidadãos sobre o respeito com seus semelhantes e consigo mesmo, conforme a Figura 2.

 

 

Figura 2 – Identidade visual do blog e conceituação de EA.

 

O plano de fundo remete, segundo o grupo, à natureza, ao cuidado com os elementos (água, solo, ar, resíduos). Dessa relação estabelecida de que a EA está relacionada exclusivamente às áreas de Biologia e Geografia, por meio de um diálogo presencial, a professora-pesquisadora fez um breve relato sobre a concepção de EA e seus usos, e, a posteriori, sugeriu ao grupo uma pesquisa na internet e em mídia impressa (livros, revistas e periódicos disponíveis na biblioteca municipal) sobre o conceito até para delimitar o foco.

Segundo Reigota (2001a, p.10), a concepção de EA

 

deve ser entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza.

 

Nesse sentido, o estudante deve ser autor da sua própria história de mudança, logo estão nas mãos do educador as ferramentas para uma transformação socioambiental. Nas palavras de Moran (2006, p. 71), para tal efetivação, “o inovador precisa ser criativo, articulador e, principalmente, parceiro dos estudantes no processo de aprendizagem”. Em virtude disso, o educador deve preocupar-se em criar problematizações que levem o estudante a acessar os conhecimentos e aplicá-los, fazendo-o refletir sobre a realidade, bem como administrar conflitos na escola e fora dela. Portanto, é nesse espaço-tempo que as mídias precisam estar contempladas na prática do educador.

 

 

Produção colaborativa

 

As primeiras produções colaborativas foram concebidas no terceiro encontro, o qual foi marcado pelo compartilhamento de saberes adquiridos a partir das pesquisas realizadas. Os estudantes trouxeram conceitos de EA para que pudessem refletir coletivamente e construir um conceito que desse conta de definir EA com suas compreensões, que pode ser visualizado na Figura 2; e em seguida, definiu-se o tema que nortearia as postagens e comentários no blog, como pode ser observado na Figura 3.

 

Figura 3 – Tema e inserção de hipertextos

 

Os textos publicados são importantes para clarificar que a produção do saber demanda ações que levem os educadores e os educandos a buscarem processos de investigação-ação-reflexão. Ainda na Figura 3, é possível verificar que, a partir da definição do leiaute do blog, os envolvidos na pesquisa começaram a postar textos e inserir hipertextos, inclusive com links que direcionam para outros ambientes virtuais.

Cabe aqui ressaltar a importância de o estudante problematizar sua realidade, pois é um momento motivador para a sua aprendizagem e para também avançar com ela. Estudos como os de Pereira (2002, p. 1) mostram que o professor deve ser ousado em transgredir as práticas tecnicistas e viabilizar espaços de conhecimento abertos, flexíveis e colaborativos.

O estudante deve ser estimulado a ir além do conteúdo abordado em sala de aula, participando ativamente do processo ensino-aprendizagem pesquisando, questionando, relatando suas experiências.  Tal prática visa o desenvolvimento das capacidades de socialização e de aprendizagem colaborativa, indispensáveis nos dias de hoje.

Ainda outras fontes foram disponibilizadas no blog para que o leitor possa navegar em sítios sobre bullying, proporcionando, com isso, um aumento nas informações sobre a temática ambiental de modo que transporte o leitor para outro espaço virtual, dando o formato ao blog arquivos de textos com várias ligações, por exemplo, o sítio da enciclopédia virtual denominada de Wikipédia que traz o conceito de bullying, como mostra a Figura 4.

 

Figura 4 – Ligação para a enciclopédia Wikipédia e para a Cartilha sobre Bullying.

 

A Wikipédia é um espaço livre disponibilizado na internet que traz informações acerca de diversos assuntos e também é um espaço que facilita a produção colaborativa através da ferramenta wiki disponível. Corroborando com essa ferramenta, Abegg e outros (2009) destacam que “após o surgimento da Wikipédia, o processo de produção colaborativa tornou-se mais universal.” (p. 1). Entretanto, os autores reiteram uma preocupação dos pesquisadores em educação de que, “infelizmente, a produção colaborativa no âmbito escolar ainda é pouco concretizada, talvez pelo fato da escolaridade estar centrada na individualidade e competitividade e não na colaboração entre os pares.” (ABEGG e outros, 2009, p. 2).

A página, como pode ser visualizada na Figura 5, traz elementos importantes acerca do bullying da escrita hipertextual. Para isso, a inserção de outras mídias fez com que o grupo pudesse utilizar-se de outros espaços midiáticos em rede, proporcionando, assim, a conexão com outros espaços virtuais que auxiliam na compreensão macro da temática abordada.

 

Figura 5 – Página da Wikipédia que contém informações sobre bullying.

 

A integração de mídias é um recurso usado para enriquecer o ambiente. Nesse caso a inserção de um vídeo sobre o tema gerador foi pesquisado e disponibilizado no blog. Devido à sua linguagem não-verbal, nesse exemplo, o vídeo faz o leitor refletir sobre as cenas, imaginá-las e transportá-las para a sua realidade, como pode ser vista na Figura 6.

 

Figura 6 – Inserção da mídia vídeo.

 

Com uma linguagem simples e sem falas, o vídeo traz em seu enredo uma ação de bullying praticada por estudantes no ambiente escolar. O vídeo foi descoberto dentre os inúmeros que apareceram a partir de uma busca no Google, e o grupo definiu-o como um exemplo que podia ser compartilhado no blog devido aos recursos utilizados para sua construção, com destaque para os elementos empregados em sua criação como situações parecidas àquelas vividas pelos estudantes nos diversos espaços da escola e até fora dela.

Importante destacar que a mídia informática vem para corroborar para a criação de espaços que utilizam a produção colaborativa como mediadora do processo de ensino-aprendizagem, como aponta Lévy (2006, p. 64):

A ajuda ao trabalho em equipe representa uma aplicação particularmente promissora dos hipertextos: ajuda ao raciocínio, à argumentação, à discussão, à criação, à organização, ao planejamento etc. O usuário destes programas para equipes é explicitamente um coletivo.

 

Diante do exposto, o diferencial dessa mídia está na aplicação da linguagem do hipertexto e também pela integração de outras mídias para a construção de objetos de aprendizagem.

 

 

Avaliação e Feedback

 

Este item compreende a última fase da pesquisa-ação, conforme já descrevemo-nas na página 9 em “A pesquisa-ação na educação”.

Constatou-se que estava sendo a primeira experiência dos estudantes em atividade colaborativa e mediada por mídias, o que demonstrou melhor motivação em participar da pesquisa.

A realização desse trabalho proporcionou uma percepção da realidade que quer mudança. Isso foi facilitado porque, quando os conhecimentos são articulados, a capacidade de enfrentar os problemas também se modifica. Isso ocorreu porque o diálogo entre todos os sujeitos participantes da pesquisa (estudantes e professora-pesquisadora) e o trabalho participativo estabeleceram uma relação entre os conhecimentos, um compartilhamento de saberes.

A produção colaborativa foi uma forma de os estudantes buscarem informações e também compartilharem com outros colegas, pais, professores e comunidade escolar e virtual. Essa prática possibilitou-os a interação e a colaboração entre o grupo.

Também o recorte da temática ambiental fez com que cada um do grupo refletisse sobre a importância de sua atuação na prevenção desse fenômeno socioambiental, e pudesse levar ao conhecimento de professores e profissionais da educação para que possam diagnosticar e tratar dos possíveis danos ao ambiente escolar e ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, além da necessidade deles orientar as famílias e a sociedade para o enfrentamento da forma mais frequente de violência juvenil que é o bullying.

As etapas de identidade visual, criação e administração do blog foram realizadas pelo grupo, mediante a discussão e a participação. O processo de pesquisa e de produção colaborativa na temática escolhida, que contemplou um assunto que vem sendo discutido atualmente por ser um dos problemas que assolam as relações socioambientais, fez com que os estudantes demonstrassem interesse e motivação e começassem a diagnosticar questões que afetam não só o meio em que vivem, mas o todo.

 

 

CONCLUSÕES

 

Observou-se que o uso do blog como ferramenta para a produção colaborativa, a qual se deu de forma coletiva, participativa e autônoma, facilitou a ação-reflexão sobre os problemas sócioambientais relacionados ao bullying e favorecendo a autoria coletiva. Por meio do diálogo, foi possível estabelecer a ordem de prioridades dos problemas pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta.

Evidenciou-se que o blog, como ferramenta para a aprendizagem colaborativa, traz benefícios ao processo de ensino-aprendizagem de estudantes nas mais diversas áreas do conhecimento. Por isso, é viável os professores integrarem o blog de forma complementar às suas práticas pedagógicas até para trabalhar com interdisciplinaridade de temas.

Contudo, enquanto os professores não deixarem sua imagologia de seres supremos do saber e adotarem posturas transformadoras nas práticas pedagógicas como a inserção das mídias na condução do conhecimento, proporcionando aos estudantes que sejam também coautores de seus conhecimentos, a educação continuará opressora. Dar espaço a práticas que estimulem a produção do saber e não sua simples reprodução como na abordagem tecnicista.

Conclui-se que a criação e a produção colaborativas trouxeram uma satisfação aos sujeitos envolvidos na pesquisa a cada ação, a cada limite vencido coletivamente, sobretudo ao produto final que se constituiu como um ambiente de dados que, estando em rede, pode ser acessado e utilizado por quem tiver interesse na temática versada. Outrossim, a colaboração favoreceu compreender que a EA está nas ações diárias que se realizam não importando qual contexto se está.

Fechamos nossa pesquisa, concordando com Reigota (2001b, p. 112): “sem uma transformação das consciências e dos comportamentos das pessoas” não haverá mudança no todo ambiente e essa mudança de postura e de educação emancipatória se faz pela educação ambiental aliada a práticas que têm em sua centralidade a aprendizagem colaborativa.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BITTENCOURT, C.S. et al. Aprendizagem colaborativa apoiada por computador. Revista Novas Tecnologias na Educação, vol. 2, n. 1, mar. 2004. Disponível em: .  Acesso em: 8 dez. 2012.

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Ilustrações: Silvana Santos