Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) ...ALGUMAS PLANTAS PODEM REMOVER A MATÉRIA ORGÂNICA DE NOSSO ESGOTO?
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FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

VOCÊ SABIA QUE...

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

leosinos@gmail.com

 

 

 

... ALGUMAS PLANTAS PODEM REMOVER A MATÉRIA ORGÂNICA DE NOSSO ESGOTO?

Leonardo Francisco Stahnke – Biólogo

 


A falta de saneamento básico é um dos grandes problemas brasileiros, haja vista que apenas 80% dos moradores das áreas urbanas e 20% das rurais o possuem, segundo dados do último Censo, sendo raras as cidades que o tratam com totalidade. O reflexo disso é percebido nos arroios, córregos, rios, lagos, nascentes e até mesmo em lençóis freáticos que encontram-se poluídos; além dos postos de saúde e hospitais, que recebem inúmeros pacientes cometidos por doenças de cunho ambiental, como aquelas de veiculação hídrica.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que para cada R$1,00 investido na área ambiental, se economizaria R$5,00 que são destinados à saúde. Isso, entretanto, não é o que observamos em vários países mundo-a-fora, evidenciando uma cultura de tratamento às doenças e não de prevenção a elas.

A água é um elemento fundamental à vida. Presente em todos os seres vivos, representa cerca de 70% do corpo humano adulto e está presente em todos os órgãos, na pele e na formação do sangue. Nós a obtemos de forma direta ou através dos alimentos que ingerimos (como nos vegetais, que irrigamos, ou nas carnes e subprodutos animais, os quais também necessitam de água para viver), sendo eliminada do corpo através da urina, do suor, choro, saliva e pela expiração.

Além da ingestão, da irrigação e da dessedentação animal, utilizamos a água para inúmeros outros fins, como cozinhar, tomar banho, lavar a louça e as roupas, ao lazer, à pesca, à navegação, à produção de vários produtos industriais, além daqueles usos menos nobres. Dentre estes podemos destacar o transporte de nossas fezes e urina, as quais passamos a tratar como esgoto logo após a descarga. O problema é que fazemos estes inúmeros usos ao mesmo tempo, em uma mesma cidade, em uma mesma casa. Toda a água captada e tratada é abastecida à população, que a utiliza e descarta, deixando o problema à cidade rio abaixo. Esta repete o ciclo, assim como a cidade à sua jusante, até que a bacia hidrográfica inteira os lance ao mar, comprometendo a vida de peixes, tartarugas, baleias e diversos outros animais que ali vivem – não que isso também não ocorra com seres vivos que estavam nos próprios rios e que tem insalubres condições de vida impostas por cada um de nós, seres humanos.

Bem, é por conta disso, e da importância de se realizar o tratamento de nossas excretas, que apresento o “Sistema de Raízes”. Trata-se de um método de Bioconstrução que utiliza as plantas aquáticas, de ambientes úmidos, para o tratamento do esgoto, sendo um método de baixo custo e fácil aplicação. O mesmo é composto de subsequentes tanques cavados no solo e impermeabilizados por uma camada dupla de lona grossa impermeável sobre a qual são colocadas diferentes camadas de brita grossa, conchas e brita fina, que darão suporte ao plantio das plantas aquáticas (que não será feito em terra, mas diretamente sobre as britas). Estas plantas são importantes filtradoras da natureza, absorvendo a matéria orgânica da água (por meio de suas raízes) para conversão em folhas e flores, as quais são posteriormente cortadas e transformadas em adubo para outros vegetais (estando neste ponto, livres de patógenos nocivos à saúde).

Sobre o fundo do tanque (entre a lona e as camadas de brita), é disposto previamente um cano de PVC com vários furos (fechado em uma extremidade). Este receberá o líquido filtrado pelas rochas acima dele e o transportará para o tanque subsequente, liberando o efluente na parte superior (sobre as raízes das plantas e a brita fina), sendo novamente filtrado e transposto a outro tanque, até que o tempo de permanência do efluente neste sistema tenha eliminado cerca de 96% dos contaminantes (como já comprovado em alguns experimentos).

As medidas de volume e número de tanques vão variar dependendo do número de pessoas e a frequência de uso do banheiro, porém já se percebem resultados satisfatórios em apenas uma filtragem (sendo bem melhores do que os esgotos a céu aberto, presentes em várias cidades Brasil à fora). Além disso, o Sistema pode ser utilizado também em centros urbanos (sendo ligado subsequencialmente à fossa e ao filtro anaeróbico), sendo uma tecnologia importante no enfrentamento da poluição hídrica e em favor da conservação ambiental.

 

 

IMAGENS

 

Representação esquemática do Sistema de Raízes, com seus componentes e estruturas sequenciais.

 

Ilustrações: Silvana Santos