Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 42) ATIVIDADES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA DA ZONA RURAL NO MUNICÍPIO DE ARARAS – SP
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RELATO DE ATIVIDADES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA DA ZONA RURAL NO MUNICIPIO DE ARARAS-SP

ATIVIDADES EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM UMA ESCOLA DA ZONA RURAL NO MUNICIPIO DE ARARAS - SP

 

Analucia Cerri Arruda1, Carla Fernanda Batista2, Izabel Cristina Battistuzzi Barbosa3, Natália Seneda Martarello4, Márcia Aparecida Cardoso da Cunha Fischer5, Simone dos Santos Costa6, Rodolfo Antônio Figueiredo7

 

1 Bióloga e Mestre em Biologia Comparada, Servidora Técnico-Administrativa do Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), analucia@cca.ufscar.br

2 Licencianda em Física do CCA/UFSCar, caarlotinha@hotmail.com

3 Bacharelanda em Biotecnologia do CCA/UFSCar, belcb.b@hotmail.com

4 Licencianda em Ciências Biológicas do CCA/UFSCar, natalia_seneda@hotmail.com

5 Professora do Ensino Fundamental I da EMEIF Fazenda Pinhalzinho, marcia_fischer@hotmail.com

6 Professora do Ensino Infantil da EMEIF Fazenda Pinhalzinho, si.moninha.84@hotmail.com

7 Professor Adjunto do Departamento de Agroecologia do CCA/UFSCar, raf@cca.ufscar.br

 

 

RESUMO

 

Este texto apresenta o relato de uma prática em Educação Ambiental (EA) desenvolvida na Escola Rural EMEIF Pinhalzinho do município de Araras-SP. O objetivo principal das atividades foi desenvolver com as crianças noções de cuidado com o ambiente onde vivem. Através de conversas, colagens e brincadeiras, as crianças construíram conhecimentos sobre o ambiente, sendo incentivadas a reconhecer e refletir, dentro da sua capacidade de abstração, sobre a importância do cuidado com o ambiente ao redor. Para tanto, as crianças elaboraram um painel com colagens de figuras sobre o ambiente onde elas e outros animais vivem. Verificamos que na montagem do painel houve uma separação dos elementos do ambiente natural e social rural. O segundo momento deu-se através de atividade lúdica, cujo objetivo foi possibilitar que as crianças percebessem que a destruição desses habitats apresenta implicações negativas para a fauna e flora. Desta forma, os recursos lúdicos utilizados mostraram-se uma boa forma para o estabelecimento de diálogos com alunos e alunas das salas multisseriadas desta escola.

 

Palavras-chave: escola rural; ensino infantil; ensino fundamental.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A questão ambiental introduz a possibilidade de se redirecionar os rumos do desenvolvimento socioambiental em benefício das gerações futuras, bem como se constitui em fonte de inquietações das/os cidadãs/aos  com os paradoxos do desenvolvimento econômico. Já o desequilíbrio ambiental é resultado de ações que resultam em agressões contra a flora e fauna, pela produção de lixos (REIGADA & REIS, 2004), o que também gera injustiças e desigualdades sociais.

Neste contexto a educação exerce um importante papel enquanto questionadora e modificadora de realidades. A EA, segundo Reigada & Reis (2004), assume uma “forma de educação que visa a formação de cidadãos éticos na sua relação com a sociedade e o ambiente.

Trabalhar essas questões com crianças de 3 a 10 anos envolve respeitar a capacidade de abstração pertinente a cada faixa etária (BRASIL, 1997). Esta aprendizagem deve possibilitar a construção, desconstrução e reconstrução dos conhecimentos e informações e, neste contexto, a atividade lúdica pode ser assumida como um método alternativo do processo ensino-aprendizagem (COSCRATO et al., 2010).

Desta forma, propusemo-nos a desenvolver atividades lúdicas com crianças da escola EMEIF Fazenda Pinhalzinho localizada na zona rural da cidade de Araras, estado de São Paulo, que abordassem questões ambientais.

 

A ESCOLA TRABALHADA

 

A escola é pequena e a mais distante da área urbana do município de Araras. Ela fica ao lado de uma fazenda, juntamente com as casas da colônia. O entorno da escola, então, é formado pela colônia, pela fazenda e por uma área de vegetação natural. Este é um espaço privilegiado para o desenvolvimento de atividades educativas relativas à cultura rural e ao ambiente natural e manejado pelo ser humano.

A escola conta com duas salas de aula e uma cozinha, com uma área de refeição no centro. A pintura das paredes da escola foi realizada com auxílio da comunidade, sendo que as professoras e cozinheira tomam conta do paisagismo do jardim da escola. Existe uma pequena horta no local. Em um dos lados da escola existe um parquinho amplo, com areia e alguns brinquedos.

O espaço escolar é muito agradável, embora as salas de aula sejam pequenas. Mas, a presença do parquinho e do paisagismo possibilita atividades ao ar livre e em contato com elementos bióticos.

Assim sendo, a escola Fazenda Pinhalzinho caracteriza-se por ser uma escola com pequeno número de estudantes em classes heterogêneas em níveis e idade, sendo esta uma característica predominante em muitas escolas do meio rural.

 

CONCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DAS/OS ESTUDANTES

 

Segundo Reigota (1994) apud Reigada & Reis (2004), o primeiro passo é identificar as concepções socioambientais dessas crianças. Isto foi realizado através da montagem do painel interativo, onde as professoras juntamente com a equipe de colaboradoras questionaram as crianças sobre o ambiente ao redor, bem como o ambiente de outros animais (Figura 1).

 

 

Figura 1. Construção do painel pelas crianças da EMEIF Fazenda Pinhalzinho, Araras - SP.

 

Este primeiro momento foi de identificação das concepções sobre o ambiente das crianças. Atividade semelhante à nossa foi desenvolvida por Reigada & Reis (2004), onde as crianças tiveram que desenhar em papel o meio ambiente e estas autoras observaram que os desenhos se restringiam aos elementos do mundo natural e estes encontravam-se separados dos elementos do meio urbano.

No presente trabalho, para as/os nossas/os estudantes foram colocadas figuras de animais da fauna brasileira, animais domesticados (cães, gatos, galinhas) recortes coloridos para montagem de árvores, casas e outras benfeitorias que as crianças imaginassem necessárias, figuras humanas de crianças brincando e famílias de diversas etnias. Após as crianças observarem estas figuras, questionamos-as sobre os seus conhecimentos sobre os animais: se conheciam e tinham visto algum dos animais expostos; onde moravam (hábitat); quais animais tinham em casa; relações fauna-flora. Estabelecido o diálogo com as crianças, elas foram convidadas a desenhar e fazer colagens nas folhas de papel kraft sobre os diferentes habitats para abrigar estes animais: lago, floresta, fazenda.

Nesta atividade as professoras e colaboradoras interviram questionando as crianças durante a montagem do painel. Interagimos de forma que o painel tornou-se uma construção coletiva das/os estudantes da educação fundamental ajudando as/os da educação infantil e, desta forma, interagindo com a montagem da/o colega.

Foi possível constatar pela montagem do painel que as crianças separaram o ambiente em: meio sem intervenção humana (florestas e lagos) e com intervenção humana (habitações humanas, lagos e árvores isoladas). Desta forma, elas colocaram no lago os peixes; na floresta a onça, a capivara. Distante da floresta, a fazenda com as vacas, galinhas, horta e as casas com as famílias, cães e gatos ao lado da fazenda. Vale a pena salientar que a fazenda correspondia ao local onde a escola está inserida e montaram a vila onde moram na fazenda identificando na colagem as suas casas e a das/os colegas.

As crianças contaram histórias de animais que apareceram em suas casas e de seus animais de estimação, de animais que haviam morrido. Contaram-nos ainda sobre os seus pais que trabalham e cuidam dos animais da fazenda. Algumas das crianças maiores contaram que nadam no rio e que lá há sapos. Contaram-nos ainda que gostam de brincar junto às árvores principalmente as meninas, pois fazem suas casinhas nelas.

Foi possível constatar várias concepções sobre o meio ambiente: desde que todas/os moram em casas de alvenaria até as que distinguiam os diferentes hábitats.

Refletindo sobre a garantia da participação das crianças na resolução de questões ambientais, Reigada & Reis (2004) afirmam que torna-se necessário em primeiro momento conhecer sua concepção de ambiente para que todas as abordagens posteriores tenham sentidos para elas/es, além de “trabalhar o conceito de ambiente como um espaço natural mas também social, para que as crianças percebessem que o homem faz parte do ambiente e o transforma, podendo esta ação ser benéfica ou não”.

 

ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ESCOLA RURAL FAZENDA PINHALZINHO

 

Um segundo momento para a continuidade dessas atividades foi trabalhar, através da brincadeira, as implicações da destruição dos hábitats para a fauna e flora, ou seja, de uma ação não benéfica da transformação do ambiente natural. Desta forma, realizamos uma adaptação da atividade “O desmatamento” de Mergulhão & Vasaki (1998).

Esta atividade buscou demonstrar de forma lúdica a importância das árvores como fonte de alimento e abrigo para animais. Cada criança representou uma árvore e seguravam um animal. O lenhador (representado por uma das colaboradoras) começa cortar as árvores e cada eestudante/árvore cortado pelo lenhador colocava o “seu animal” para outro estudante/árvore que estivesse mais perto. Durante a brincadeira as/os estudantes foram questionados sobre o que estava acontecendo, se as árvores teriam condições de abrigar toda essa fauna, sobre a existência de alimentos para todas as espécies. A brincadeira terminou com duas árvores superpovoadas. A brincadeira reiniciou-se novamente para que pudéssemos explorar novamente os conceitos.

 

 

 

 

Figura 2. Atividade “o desmatamento” com as crianças da EMEIF Fazenda Pinhalzinho, Araras - SP.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

As atividades realizadas visaram trabalhar a educação ambiental através do lúdico como mediador do tema ambiente, hábitat e intervenções humanas sobre os hábitats. A experiência escolar neste caso foi enriquecida pela heterogeneidade de idades das classes multisseriadas e diferentes níveis de escolaridade dentro da mesma atividade.

A construção do painel possibilitou a observação de algumas concepções desenvolvidas pelas crianças e constituiu-se em um rico material pedagógico a ser explorado em diferentes momentos e com diferentes possibilidades. Nesta primeira atividade exploramos os conceitos de hábitat, mas poderia ser utilizado para explorar de problemas locais da comunidade até para reforçar a valorização do patrimônio ambiental, paisagístico e construído na Fazenda Pinhalzinho onde se insere a escola.

Desta forma, a escola estará utilizando-se de recursos pedagógicos que possibilitem a compreensão do ambiente ao redor, bem como compromete-se com atitudes que visem a melhora deste mesmo ambiente.

 

AGRADECIMENTOS

 

As/o autoras/r agradecem à ProEx – Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de São Carlos por apoio ao projeto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

 

CASELLATO, M. A.; HOLZHACKER, R.; FERNANDEZ, J. M. Redação sem discriminação. Pequeno guia vocabular com dicas para evitar as armadilhas do sexismo na linguagem corrente. São Paulo: Textonovo, 1996.

 

COSCRATO, G.; PINA, J. C.; Mello, D. F. Utilização de atividades lúdicas na educação em saúde: uma revisão integrativa da literatura. Acta Paulista de Enfermagem, v. 23, n. 2, p. 257-63, 2010.

 

MERGULHÃO, M. C.; VASAKI, B. N. G. Educando para a conservação da Natureza - sugestões de atividades em educação ambiental. EDUC-SP, 1998.

 

REIGADA, C.; Reis, M. F. C. Educação ambiental para crianças no ambiente urbano: uma proposta de pesquisa-ação. Ciência & Educação, v. 10, n. 2, p. 149-159, 2004.

Ilustrações: Silvana Santos