Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
04/09/2012 (Nº 41) SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE, ENSINO E CIDADANIA: A LITERATURA DE CORDEL E AS NOVAS INICIATIVAS DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS PARA TRABALHAR A QUESTÃO AMBIENTAL NO UNIVERSO ESCOLAR
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1297 
  

SOCIEDADE, MEIO AMBIENTE, ENSINO E CIDADANIA: A LITERATURA DE CORDEL E AS NOVAS INICIATIVAS DIDÁTICO-PEDAGÓGICAS PARA TRABALHAR A QUESTÃO AMBIENTAL NO UNIVERSO ESCOLAR¹

 

 

 

 

 

Silvio Profirio da Silva²

Graduando em Letras pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.

E-mail: silvio_profirio@yahoo.com.br

 

 

Jacineide Gabriel Arcanjo (Orientadora)³

Mestre em Ensino das Ciências pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE.

Monitora do Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a universidade e comunidades populares - PRAE/ UFRPE

Professora da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco - SEDUC/ PE

E-mail: gabrielarcanjo2006@gmail.com

 

 

 

 

RESUMO: Durante décadas, o ensino de Ciências, no Brasil, foi orientado por princípios puramente tradicionais, concedendo primazia à abordagem de conceitos e definições. Com isso, ocorria um ensino desvinculado da dimensão social e, por conseguinte, da reflexão socioambiental. Contudo, a partir da década de 1980, o ensino tem passado por inúmeras mudanças didáticas e pedagógicas. Uma dessas modificações diz respeito à utilização de Novas Didáticas e Iniciativas Pedagógicas no ensino,  mais especificamente, o uso de Múltiplas Linguagens no ensino de Ciências. Este trabalho tem como objetivo abordar os subsídios da Literatura de Cordel,  para trabalhar a temática/ problemática ambiental no universo escolar. Em outras palavras, a utilização dessa linguagem alternativa como estratégia pedagógica,  para promover uma reflexão socioambiental.

Palavras-chave: Ensino; temática ambiental; novas didáticas; literatura de cordel.

 

 

1.  Introdução

 

            O ensino de Ciências foi, durante muito tempo, orientado por princípios puramente tradicionais, o que culminava em uma abordagem que dava ênfase aos conceitos a às definições dessa area. Tais conceitos deveriam ser reproduzidos pelos alunos, com o propósito de evidenciar a “aprendizagem”. Segundo Becker (2001, p. 16), "o professor fala, e o aluno escuta. O professor dita, e o aluno copia. O professor decide o que fazer, e o aluno executa. O professor ensina, e o aluno aprende" Desse modo, o aluno abdicava de seu posicionamento, em detrimento da fala do professor, alçando, assim, o ensino à condição de reprodução. Partindo desse pressuposto, o ensino de Ciências, nos estabelecimentos escolares, adotou como objeto de ensino uma perspectiva puramente tradicional, priorizando uma abordagem teórica e conceitual. Nessa ótica, ocorria um ensino desvinculado do contexto social, o que, por sua vez, extinguia a possibilidade da reflexão socioambiental e do desenvolvimento de uma consciência ecológico-preventiva. Com base nessa linha metodológica, destaca-se o fato de a escola restringir-se à utilização dos Livros de Ciências como único recurso didático nos processos de ensino e de aprendizagem, o que extinguia a utilização de múltiplas linguagens.

            Todavia, nas últimas décadas, diversos estudos foram desenvolvidos em prol da temática ambiental com o propósito de levar o homem a refletir acerca de suas ações em face dos recursos da natureza. Aliado a isso, na década de 1980, ocorreu uma intensa produção, divulgação e disseminação de estudos na Area da Educação. Estudos estes de diversos âmbitos, tais como, das Ciências da Educação [Pedagogia], das Ciências da Linguagem [Linguística], das Ciências Psicológicas [Psicologia, Psicologia Cognitiva e Psicolinguística] e de outras Areas do Saber [Filosofia e Sociologia], conforme sinalizam Albuquerque (2006) e Albuquerque et al (2008).

 

“A busca de uma nova prática pedagógica, fundamentada numa visão sociointeracionista, iniciou-se já na década de 80, quando começaram a surgir no país, nas Secretarias de Educação dos Estados, propostas curriculares, planos ou programas bastante inovadores, de certa forma como uma resposta ao trabalho pioneiro de alguns pesquisadores e especialistas de algumas universidades do país” (CARDOSO, 2003, p. 27).

 

            Esses estudos, a partir dos seus pressupostos teóricos, contribuíram substancialmente para o surgimento de novos caminhos e horizontes para o ensino. Teorias estas "que proporcionaram novos modelos explicativos do desenvolvimento cognitivo infantil e do processo de aprendizagem" (FUMAGALLI, 1998, p. 14). Dito de outra forma, a eclosão desses pressupostos teóricos propiciaram novas práticas pedagógicas de ensino, isto é, um ensino inovador. Tendo como pano de fundo esse cenário, se inicia o redimensionamento de ensino a que se assiste nos dias atuais.

            No dizer de Fumagalli (1998, p. 14), "pedagogos dedicados ao ensino das Ciências tomaram as contribuições provenientes da Psicologia", o que culminou na difusão de diversos aspectos referentes à construção/ produção do conhecimento. E, a partir do desenvolvimento desses estudos, "o ensino de Ciências passou a ser objeto de reflexão do campo teórico educacional" (FUMAGALLI, 1998, p. 13). É nesse contexto que surgem propostas metodológicas para os de ensino e de aprendizagem, que não se limitam ao uso dos manuais didáticos, mas, sobretudo, abrangem o uso de diversos recursos didáticos [Novas Didáticas]. Ou seja, múltiplas linguagens aplicadas ao ensino de Ciências. Com isso, diversas linguagens alternativas, ou melhor, as inúmeras formas de expor conteúdos das mais diversas disciplinas, como, por exemplo, Jogos, Revistas, Charges, Quadrinhos, Jornais etc., passam a ser utilizadas como suportes didáticos nos processos de ensino e de aprendizagem (GOMES & NASCIMENTO NETO, 2009). Dentre essas linguagens que podem ser usadas com o propósito de apresentar/ expor conteúdos, destaca-se, neste trabalho, a Literatura de Cordel.

            Essa literatura consiste em uma poesia de cunho/ teor popular que retrata e, em especial, dissemina/ propaga a cultura nordestina. Ao fazer isso, contudo, ela não se limita à cultura material, mas também abrange a cultura imaterial [a ideologia e as mais diversas visões de mundo dos sujeitos dessa região]. Diante dessa acepção, a utilização desse tipo de literatura como suporte didático nas práticas de ensino possibilita a inserção de temáticas de cunho social com o propósito de levar o educando a refletir acerca da realidade social. À luz das contribuições teóricas de Astolfi & Develay (1991), Bizzo (2002), Branco (1998), Caniato (1987), Colinvaux (1998), Dias (1994), Franca Lanza (1986), Fumagalli (1998),  Jacobi & Luzzi (2204), Mello (2007), Motimer (2000), Reigota (2006), Soffiati (2002), Viel (2008), Weissmann (1998), entre outros, este trabalho tem como objetivo abordar os subsídios da Literatura de Cordel para trabalhar a temática/ problemática ambiental no universo escolar. Em outras palavras, a utilização dessa linguagem alternativa como estratégia pedagógica, para promover uma reflexão socioambiental, rumo ao desenvolvimento de uma consciência ecológico-preventiva, formando, assim, ecocidadãos.

 

2. Mudanças Didáticas e Pedagógicas na Construção Social do Conhecimento

 

            Conforme mencionado anteriormente, durante décadas, o modelo educacional  adotado pelo processo de escolarização brasileiro seguiu, veementemente, parâmetros norteadores puramente tradicionais. Em função de os processos de ensino e de aprendizagem presente, nas unidades escolares brasileiras, estarem diretamente vinculados  a concepções e a modelos teóricos tradicionais, o ensino assumia, nessa perspectiva, uma postura de reprodução, ocasionando, assim, práticas de escolarização mecanicistas, tecnicistas e com um fim em si próprias. O ensino de Ciências presente no processo de escolarização brasileiro, diante desse contexto, concedia primazia a práticas tradicionais de escolarização, que preconizavam a tradicional ênfase dada aos conceitos e definições provenientes dos manuais didáticos desse componente curricular. Dentro dessa visão tradicional de ensino, a  “aprendizagem”, consistia em reproduzir [na integra] as palavras dos renomados autores dessa area. O ensino assumia, nessa perspectiva, uma postura de reprodução mecânica de conteúdos. O que, por sua vez, alçava a construção do conhecimento à condição de reprodução, excluindo, assim, a produção de sentidos e de significados.

            Na defesa de um modelo sociointeracionista de ensino, em meados da década de 1980, uma vasta quantidade de investigações são produzidas por estudiosos brasileiros provenientes de distintas areas. Albuquerque (2006) e Albuquerque et al (2008) ressaltam o fato de as Ciências Educativas [Pedagogia], Ciências Linguísticas [Linguística], Ciências Psicológicas [Psicologia, Psicologia Cognitiva, Psicologia do Desenvolvimento e Psicolinguística] e outros Campos de Investigação [Filosofia e Sociologia] terem contribuído de forma significativa para ocasionar mudanças didáticas nos processos de ensino e de aprendizagem e, conseguintemente, na construção social do conhecimento.

 

"Nas duas últimas décadas, tem sido observado um deslocamento dos princípios orientadores do ensino em diferentes áreas de saber. Deflagra-se um vigoroso processo de questionamento e revisão do ensino vigente. É a gênese de um movimento que se propõe a reconceitualizar não só os objetivos do ensino, mas, sobretudo, os objetos de ensino, juntamente com os pressupostos e procedimentos didáticos" (SANTOS, 2007, p. 787).

 

            Em face dos pressupostos produzidos por esses postulados, o ensino, em uma perspectiva geral,  passou a ser repensado e, por conseguinte, redimensionado, vivenciando, assim, um intenso processo de reestruturação (CARDOSO, 2003). Tendo como pano de fundo esse contexto sócio-histórico, eclode uma nova perspectiva de ensino sociointeracionista, rompendo, assim, com a tradição e com práticas diretamente vinculadas  a concepções e a modelos teóricos tradicionais. Esse novo ensino assume, assim, uma perspectiva dialógica, respaldando novas práticas docentes que, primam pela construção/ produção de sentido (KOCH & ELIAS, 2006) e elaboração de significação. Difundem-se, também, novas funções e papeis sociais para os atores sociais que fazem parte da construção do conhecimento.

            O docente é, nesse novo contexto paradigmático, aquele que propicia articulação no encontro entre o aluno e o saber [a forma em que se dá sentido às informações recebidas, elaborando significação a partir de tais informações]. Nessa ótica, o professor é alçado à condição de mediador, deixando de lado a postura de transmissor de conteúdo, assumindo, dessa forma, o papel de orientador e de estimulador na construção social do conhecimento do discente. Este, por sua vez, assume um papel ativo, que transcende a perspectiva da reprodução. Ambos, nessa nova perspectiva de ensino, são concebidos como atores sociais, envolvidos em práticas pedagógicas sociointeracionistas pautadas em perspectivas interativas e dialógicas, conforme sinalizam Koch & Elias (2006).

            Esses paradigmas incorporados ao âmbito do ensino de Ciências, propiciam a eclosão de novas metodologias que têm por objetivo levar o aluno não só a reproduzir conceitos e definições, mas, sobretudo, a aplicar os conteúdos desse componente curricular no campo social [em específico, no meio ambiente]. O que, por sua vez, culmina na questão da reflexão socioambiental, articulando ensino, meio ambiente e cidadania. 

 

3. A Educação Ambiental aplicada aos processos educacionais e a autonomia do aluno no novo milênio

 

            De acordo com Jacobi & Luzzi (2004, p. 1), "a Educação Ambiental oferece alternativas para a formação de sujeitos que construam um futuro sustentável. A relação entre meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes". Entretanto, nem sempre tal percepção esteve presente nas propostas curriculares que nortearam o ensino ministrado em nas escolas brasileiras. Pelo contrário, por um longo tempo, o ensino de Ciências voltou-se para uma abordagem tradicional, que preconizava uma ênfase aos padrões de conceituação e definição, alçando o ensino dessa disciplina ao ato de reproduzir palavras difíceis, conforme ressalta Bizzo (2002). Com base nessa postura metodológica, não havia a abordagem de questões de cunho social, formando-se, assim, um aluno acrítico, que não refletia criticamente e, consequentemente, não atuava no campo social. Seu papel, nessa escola tradicional, se resumia ao ato de repetir as falas dos autores renomados e dos professores [ambos concebidos como os únicos detentores do conhecimento]. Nessa direção, o aluno era concebido como “um sujeito passivo, que recebe as instruções de um professor que supostamente sabe o conteúdo a ser ensinado e como num passe de mágica transfere-lhe esse saber” (XAVIER, 2007, p. 4).

            Dentro dessa perspectiva, a metodologia de ensino desenvolvida em nas instituições escolares centrava - se, predominantemente, em um trabalho de leitura fora dos padrões do contexto social. Tal postura, ao excluir o viés social e ambiental da metodologia de ensino de Ciências, extinguia a possibilidade da ampliação da visão de mundo do aluno, da conscientização, da formação de uma consciência crítica e preventiva. Com isso,  o discente não pensava como um ato político, não desenvolvia sua autonomia e, principalmente, não atuava na realidade social na qual estava inserido. Essa concepção mecanicista, tecnicista e tradicional de ensino, durante décadas, se fez presente nas escolas brasileiras, formando alunos que não voltavam seu olhar para a dimensão socioambiental e para o exercício da cidadania. O que está em consonância com Becker (2001, p.18), que diz que “o produto pedagógico acabado dessa escola é alguém que renunciou ao direito de pensar e que, portanto, desistiu de sua cidadania e do seu direito ao exercício da política no seu mais pleno significado”.

            Contudo, "o século XXI inicia-se em meio de uma emergência sócio-ambiental, que promete agravar-se, caso sejam mantidas as tendências atuais de degradação; um problema enraizado na cultura, nos estilos de pensamento e nos valores" (JACOBI & LUZZI, 2004, p. 1-2). Todos sabem que, nas últimas décadas, a espécie humana alcançou um intenso progresso científico e tecnológico, acompanhado de um avanço significativo da globalização da economia e das relações de consumo. É nesse contexto do desenvolvimento capitalista que o homem, visando acúmulo monetário, teceu relações destruidoras e predatórias com a natureza. Ao fazer isso, ele desconsiderava a qualidade de vida, na medida em que não atrelava os aspectos naturais ao econômico. Em função do atual contexto nada animador dos recursos naturais do planeta terra e em vista das ações praticadas pelo homem face da natureza, surgiram, nas últimas três décadas, sobretudo a partir da Conferência Intergovernamental (Tsibilisi, 1977), uma gama de estudos acerca da temática ambiental. Nessa perspectiva, "o ambiente converte-se assim, por um lado, em objeto de estudo em diversas disciplinas" (JACOBI & LUZZI, 2004, p. 10).

            É nesse cenário que se fala em Educação Ambiental com o propósito de levar o homem a refletir sobre a atual calamitosa situação dos recursos naturais, sobre a sua parcela de participação nessa situação desastrosa e, acima de tudo, desenvolver nesse sujeito atitudes de valorização do meio ambiente . O que possibilita o desenvolvimento de uma consciência ecológico-preventiva. Dentro desse contexto, a educação Ambiental pode ser conceituada como "um aprendizado social, baseado no diálogo e interação em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que podem se originar do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno" (JACOBI & LUZZI, 2004, p. 6). É nesse cenário, também, que se fala em educação voltada para a cidadania, com o propósito de levar o educando a atuar na sociedade na qual está inserido. Já se fala, até mesmo, em ecocidadão, como um caminho primordial para a redução das catástrofes naturais e para a transformação social. O que está em sintonia como Jacobi & Luzzi (2004, p. 5), "nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida".

            Nesse sentido, percebe-se que os impactos da crise ambiental refletiram-se nos processos de ensino e de aprendizagem, o que culmina em uma nova abordagem e novo tratamento dado às problemáticas ambientais no universo escolar. Essa temática, durante muito tempo, não esteve presente no âmbito educacional e, quando esteve, reduzia-se a pequenos comentários em algumas partes dos livros didáticos. Todavia, "nos últimos anos, mais especificamente, nas duas últimas décadas, as práticas de ensino têm passado por inúmeras modificações" (SILVA, 2011, p. 1). Uma dessas modificações diz respeito a um ensino inovador que abrange a dimensão social. Mas, destaca-se, principalmente, neste trabalho, a utilização de diversos recursos e suportes didáticos nos processos de ensino e de aprendizagem, o que subdisia novas práticas pedagógicas.

 

4. Meio Ambiente, Ensino, Literatura e Cidadania: a Literatura de Cordel em uma perspectiva interdisciplinar, articulando competências em prol da temática ambiental

 

            Todos esses postulados das Ciências da Educação e da Temática Ambiental refletiram-se no contexto educacional de tal maneira que foram aplicados aos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs e, posteriormente, às Orientações Curriculares Nacionais - OCNs.  Tendo como base as orientações desses documentos oficiais,  o ensino, em uma perspectiva geral, passa a ser norteado por um enfoque interdisciplinar. Tal enfoque faz com que as diversas areas de estudos não se limitem em si próprias, ocorrendo, assim, uma articulação entre ambas. Além disso, a partir dos PCNs, ocorre o surgimento e a adoção das Temáticas Transversais [ou também Temas Transversais]. Eles podem ser definidos como questões de cunho/ teor social, que propiciam não só a reflexão acerca da realidade social, como também promovem o engajamento do sujeito com a realidade circundante. Podem ser apontados como exemplos que ilustram essas temáticas, a Ética, a Política, a Diversidade [em suas múltiplas formas], a Pluralidade Cultural, a Saúde, a Orientação Sexual, o Consumo, o Trabalho e, acima de tudo, o Meio Ambiente. Esses novos paradigmas educativos estão sendo adotados pelo ensino e pelos diversos manuais  didáticos de Ciências, com a pretensão de levar os alunos a compreender sua relação com o meio ambiente e, acima de tudo, levá – los a refletir acerca dos efeitos de suas atitudes em face da natureza. Mas, destaca-se, acima de tudo, neste trabalho, o fato de essas novas propostas curriculares orientarem um trabalho pautado em uma perspectiva de diversidade de recursos didáticos, transcendendo, assim, a limitação aos livros didáticos. Essa nova postura insere, nos processos de ensino e aprendizagem de Ciências, novas didáticas que representam novas formas de aquisição e de construção de saberes. Com isso, o ensino de Ciências passa a lançar mão de diversificadas e múltiplas linguagens, que refletem as novas possibilidades de cunho metodológico.

            Uma dessas novas possibilidades de cunho metodológico é a Literatura de Cordel. Ela pode ser definida como uma poesia de cunho popular que tece reflexões acerca da realidade social do Nordeste, retratando seus múltiplos aspectos e visões de mundo, isto é, suas produções materiais e imateriais (FONSÊCA & FONSÊCA, 2008). A Literatura de Cordel, em geral, é conceituada como um viés que aborda historias fantasiosa e fictícias, retratando as lendas, as fábulas, os costumes e histórias contadas de geração para geração do sujeito nordestino. Todavia, ela não se restringe apenas a essas temáticas, mas também abrange diversos temas de teor social, voltando seu olhar para as  questões que envolvem a realidade, como é o caso da problemática ambiental. Em outras palavras, seus versos abrangem temáticas de extrema relevância para a coletividade, não apenas textos fictícios e distanciados da realidade como muitos dizem. É nesse cenário que o trabalho com essa literatura, no contexto escolar, é extremamente valioso, na medida em que leva para os bancos escolares temas pertinentes que estão diretamente associados à formação dos discentes e  associados à coletividade, como é o caso dos temas transversais [a Cidadania, a Diversidade (étnica, linguística, religiosa, sexual etc.), os Direitos Humanos, a  Ética, a Política e, acima de tudo, a Questão Ambiental]. E, ao realizar essa faceta, esse tipo de literatura lança mão de uma linguagem atraente, lúdica e motivacional, por meio de seus versos e rimas. Partindo desse pressuposto, ela consiste em um recurso valiosíssimo para trabalhar a Educação Ambiental no âmbito educativo, a partir de diversas estratégias didático-metodológias, tais como:

 

Novas Práticas de Ensino da Leitura. Por um longo tempo, o ensino da leitura, nas escolas brasileiras, voltou-se para uma perspectiva de decodificação. Dito de outra forma, a leitura como representação de grafemas, morfemas, signos e símbolos (SANTOS, 2002 & SANTOS, 2007). Essa prática de leitura se voltava para a reprodução, levando, assim, o aluno a tornasse acrítico, na medida em que ele não refletia criticamente e não construía/ produzia sentidos a partir do texto (KOCH & ELIAS, 2006). Contudo, a Literatura de cordel consiste em um viés social que aborda diversos temas de teor social, ocasionando, assim, uma prática de ensino da leitura que se volta para a formação da consciência crítica e que leva o aluno a refletir sobre o dizer do outro. O que, por sua vez, propicia uma postura crítica, reflexiva e, sobretudo, atuante na sociedade. Tal postura põe em xeque a postura de decodificação e, por conseguinte, de reprodução que norteou o ensino da leitura durante décadas no Brasil.

 

Inserção da Diversidade/ Seleção Textual. Durante muito tempo, escola limitou-se ao uso da livro didáticos como único suporte didático, que priorizavam a abordagem de textos expositivos [textos teóricos com função didática] pautado na escrita argumentativa. Tal posição extinguia a possibilidade da seleção textual, ou melhor, da inserção de diversos gêneros textuais nas práticas de ensino. Porém, esse tipo de literatura possibilita a inserção da diversidade textual nos processos de ensino e de aprendizagem, levando para o universo escolar um novo gênero textual pautado em diversos suportes [impresso ou digital] e em outras formas de escrita [versos].

 

Inserção/ Abordagem de novas temáticas. Durante décadas, a metodologia de ensino da leitura desenvolvidas nas escolas brasileiras concedeu primazia ao uso de textos fictícios [desvinculados e distanciados da realidade social]. Destaca-se, ainda, nessa linha metodológica, o uso de pequenos fragmentos e trechos de outros textos (SANTOS, 2002). No tocante às temáticas abordadas pela Literatura de Cordel, elas abrangem desde histórias fictícias [histórias que abordam as fábulas, as lendas, os costumes, as vivências e as memórias do povo nordestino contadas de geração para geração] até temas de cunho e teor social, isto é, temáticas que se voltam para as dimensão social, visando levar o homem a compreender as contradições da atual sociedade do novo milênio. Pelo fato de a Literatura de Cordel trabalhar diversas temáticas de teor social, ela consiste em um recurso didático valiosíssimo para trabalhar os temas transversais no universo escolar.

 

Desenvolvimento da oralidade. Durante muito tempo, o ensino, em uma perspectiva geral, desconsiderou a prática do ensino da oralidade, centrando-se, exclusivamente, na leitura e na escrita [únicos objetos de ensino]. Entretanto, a partir da eclosão dos postulados das investigações linguísticas e, mais recentemente, dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (1997), a abordagem do utilização da linguagem oral [seja ela formal e/ou informal] passa a ganhar evidência e, por conseguinte, lugar no currículo escolar. Tal inserção se dá com o propósito de levar o aluno ao desenvolvimento da competência comunicativa. Pelo fato de a Literatura de Cordel estar diretamente relacionada às performances orais, propõe-se, neste trabalho, o uso dessa literatura como meio didático para trabalhar aspectos concernentes à oralidade. Para realizar essa faceta, o professor (a) pode lançar mão de diversas estratégias que envolvem gêneros orais, tais como, entrevistas, júri simulado, debates etc., abordando, por intermédio desses gêneros que se utilizam da oralidade, problemáticas/ temáticas relacionadas à questão ambiental.

 

FONTE: http://barretocordel.files.wordpress.com/2010/02/antonio-barreto-e-a-consciencia-ecologica.jpg

 

 

FONTE: http://barretocordel.files.wordpress.com/2010/02/antonio-barreto-e-o-meio-ambiente-com-poluicao.jpg

 

 

FONTE: oficinadecordel.blogspot.com

http://4.bp.blogspot.com/_K3Vrcf86Sq4/S3v0VExGniI/AAAAAAAAATI/zymB8IyD9s4/s400/CAPA+CORDEL+AMBIENTAL.jpg

 

 

FONTE: pardalcordel.blogspot.com

http://3.bp.blogspot.com/-w5zLOgoCUnk/TkmqE5TCujI/AAAAAAAAAEI/hQa93yPnPCw/s1600/digitalizar0008.jpg

 

 

FONTE: quintal-do-lobisomem.blogspot.com

http://4.bp.blogspot.com/-KFmJHqiU9k0/TXpehl71gqI/AAAAAAAAAvE/EAKnPtEN6GY/s400/ERAUMAVEZ-CORDEL.jpg

 

            Diante desses aspectos, o trabalho com a Literatura de Cordel propicia a inserção de uma didática inovadora no âmbito escolar. Didática esta que se volta para um enfoque interdisciplinar, na medida em que articula as mais diversas formas de conhecimento na construção conjunta do conhecimento [junção de componentes e conteúdos curriculares ou, até mesmo, areas de conhecimento distintas] em prol da temática ambiental.

 

5. Considerações Finais

 

            Segundo Abilio et al (2010, p. 172-173), “a incorporação da questão ambiental no cotidiano das pessoas pode propiciar uma nova percepção das relações entre o ser humano, a sociedade e a natureza e promover uma reavaliação de valores e atitudes na convivência coletiva e individual, assim como reforçar a necessidade de ser e agir como cidadão na busca de soluções para problemas ambientais locais e nacionais que prejudiquem a qualidade de vida". Diante dessa perspectiva, a abordagem da temática/ problemática ambiental é algo de fundamental importância, na medida em que está diretamente relacionada à qualidade de vida e, sobretudo, à  perspectiva de futuro da espécie humana. Além disso, a inserção dessa temática no âmbito educacional possibilita a ampliação da visão de mundo, a conscientização, a reflexão socioambiental e o desenvolvimento da consciência ecológico-preventiva. Aspectos estes que traçam/ trilham caminhos para a transformação social. Com isso, o ensino se volta  para a promoção do engajamento do sujeito com a realidade circundante, objetivando que ele a compreenda, a fim de modificá-la. Em outras palavras, o ensino passa a ter como propósito desenvolver nesse sujeito o sentimento de comprometimento com as práticas sociais e, sobretudo, com a transformação social.

            Contudo, ao realizar essa faceta, a escola pode lançar mão de múltiplas linguagens, de novas práticas metodológicas e de novas formas de  construção do conhecimento [a forma em que se dá sentido às informações recebidas]. Ou seja, com o propósito de promover reflexões socioambientais e, sobretudo, mudanças de atitudes/ práticas em face da natureza, podem ser utilizados diversos recursos lúdicos, inovadores e que se distanciam dos padrões convencionais/ tradicionais de ensino. Essa postura está em sintonia como Fonseca & Fonseca (2008, p. 127) que dizem "alternativas pedagógicas, no sentido de encontrar soluções para a melhoria da qualidade das aulas, são inúmeras e o esforço do professor no sentido de adaptar metodologias de ensino com conteúdos específicos é grande". O que, por sua vez, ocasiona uma intensa alteração nas relações tradicionais de ensino, na medida em que traz à tona novas práticas metodológicas e perspectivas inovadoras que se distanciam das práticas obsoletas de ensino, rumo ao  redimensionamento do ensino dessa disciplina.

 

6. Referências bibliográficas

 

ABÍLIO, Francisco José Pegado; FLORENTINO, Hugo da Silva; RUFFO, Thiago Leite de Melo. Educação Ambiental no Bioma Caatinga: formação continuada de professores de escolas públicas de São João do Cariri, Paraíba. Revista Pesquisa em Educação Ambiental, São Carlos, vol. 5, n. 1, pp. 171-193, 2010.

ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia. Mudanças didáticas e pedagógicas no ensino da língua portuguesa: apropriações de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correia; MORAIS, Arthur Gomes; FERREIRA, Andreia Tereza Brito. As práticas cotidianas de alfabetização: o que fazem as professoras? Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 13, p. 252-264, 2008.

ASTOLFI, Jean Pierre; DEVELAY, Michael. A didática das ciências. Campinas: Papirus, 1991.

BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001.

BIZZO, Nélio. Ciência: Fácil ou difícil? São Paulo: Atica, 2002.

BRANCO, Samuel Murgel. O meio ambiente em debate. São Paulo: Moderna, 1998.

CANIATO, Rodolpho. Com ciência na educação. Campinas: Papirus, 1987.

CARDOSO, Silvia Helena Barbi. Discurso e Ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

CARVALHO, Anna Maria Pessoa. Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 1998.

COLINVAUX, Dominique. Modelos e educação em ciências. Rio de janeiro: Ravil, 1998.

DELIZOICOV, Demetrio; ANGOTTI José André. Metodologia do Ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 1994.

DIAS, Genebaldo. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 2003.

_____. Atividades interdisciplinares de educação ambiental. São Paulo: Global, 1994.

FONSÊCA, Alexandre Victor de Lima. ; FONSÊCA, Karen. Sheron Bezerra. Contribuições da literatura de cordel para o ensino da cartografia. Revista Geografia, v. 17, n. 2, Londrina, 2008.

FRACALANZA, Hilário. O ensino de ciências no 1º grau. São Paulo: Atual, 1986.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FRIZZO, Marisa Nunes; MARIN, Eulália Beschorner. O ensino de ciências nas séries iniciais. Ijuí: Unijui, 1998.

FUMAGALLI, Laura. O Ensino de Ciências Naturais no Nível Fundamental da Educação Formal: argumentos a seu favor.  In: WEISSMANN, Hilda. Didática das ciências naturais: contribuições e reflexões. Trad. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

GOMES, Gustavo Manoel da Silva; NASCIMENTO NETO, Luiz Domingo: A Cultura Afro-Brasileira no Saber Escolar Contemporâneo: articulando histórias, linguagens, memórias e identidades.  Revista Encontros de Vista, v. 02, p. 13-24, Recife, 2009.

HISSA, Cássio Eduardo Viana (org.). Saberes Ambientais: desafios para o conhecimento disciplinar. Ed. UFMG. Belo Horizonte, 2008.

JACOBI, Pedro Roberto; LUZZI, Daniel Angel. Educação e Meio Ambiente – um diálogo em ação. In: Anais do 27º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - Anped, Caxambu, Rio de Janeiro/ RJ, 2004.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

LAYRARGUES, Philippe Pomier. Educação ambiental com compromisso social: o desafio da superação das desigualdades. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo; LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronaldo Souza (Org.). Repensar a Educação Ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009.

_____. A crise ambiental e suas implicações na educação. In: QUINTAS, José da Silva. (Org.). Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente. Brasília: IBAMA, 2002.

LEFF, Enrique. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis: Vozes, 2001.

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Sociedade e Meio Ambiente: a educação ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2008.

_____. Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2005.

MELLO, Soraia da Silva (Org.). Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação / Unesco, 2007.

MORTIMER, Eduardo Fleury. Linguagem e formação de conceitos no ensino de ciências. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.

OLIVEIRA, Renato José. A escola e o ensino de ciências. São Leopoldo: Unisinos, 2000.

PENTEADO, Heloísa. Meio Ambiente e Formação de Professores. São Paulo: Cortez, 2000.

REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2006.

SATO, Michele Tomoko; CARVALHO, Isabel (Org.). Educação Ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SANTOS, Carmi Ferraz. O ensino da leitura e a formação em serviço do professor.  Revista Teias,  ano 3, v. 05, n. jan/jun, p. 29-34, Rio de Janeiro/ RJ, 2002.

_____. Letramento e ensino de História: os gêneros textuais no livro didático de História. In: Anais do 4º Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais da Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, Santa Catarina/ SC, 2007.

SILVA, Silvio Profirio. O espaço dado à Educação Ambiental nos Livros Didáticos e as Mudanças Didáticas no Ensino de Ciências: perspectivas inovadoras rumo ao desenvolvimento da reflexão socioambiental e da consciência ecológico-preventiva. Revista P@rtes, v. Dez, p. 00-00, São Paulo/ SP, 2011.

_____. A informática aplicada aos processos educacionais e a autonomia do aluno no novo milênio. Revista Educação Pública: Revista Digital da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Rio de Janeiro - RJ, v. Set., p. 01-02, Rio de Janeiro/ RJ, 2011.

SILVA, Silvio Profirio; SILVA, André. Almeida; DIAS, Wilka; ARCANJO, Jacineide Gabriel. Sociedade, Meio Ambiente, Ensino e Cidadania. Revista DAE, v. Set, p. 00-00, São Paulo, 2011.

 SILVA, Tomaz Tadeu da. O que produz e o que reproduz em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

SOFFIATI, Arthur. Fundamentos filosóficos e históricos para o exercício da ecocidadania e da educação. In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo (Org.). Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez Editora, 2002.

VIEL, Vitoria Regina. A educação ambiental no Brasil: o que cabe à escola? Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental,  vol. 21, p. 200-216. Rio Grande, 2008.

XAVIER, Antonio Carlos. As Tecnologias e a Aprendizagem (re)Construcionista no Século XXI. Revista Hipertextus Revista Digital, v. 1, Recife, 2007.

 

Ilustrações: Silvana Santos