Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2012 (Nº 41) O PENSAMENTO “SUSTENTÁVEL” DOS UNIVERSITÁRIOS: A PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ADMINISTRAÇÃO SOBRE RESPONSABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL
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O PENSAMENTO “SUSTENTÁVEL” DOS UNIVERSITÁRIOS: A PERCEPÇÃO DE ACADÊMICOS DE ADMINISTRAÇÃO SOBRE RESPONSABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL

 

Márcia Zampieri Grohmann

Universidade Federal de Santa Maria – marciazg@ufsm.br

 

Luciana Flores Battistella

Universidade Federal de Santa Maria – luttibttistella@ufsm.br

 

Daiane Lindner Randos

Universidade Federal de Santa Maria – daialindner@yahoo.com.br

 

 

 

 

 

Resumo

 

Este estudo tem como objetivos: a identificação da importância atribuída à responsabilidade sócio-ambiental (RSA) empresarial; a mensuração da propensão dos respondentes em recompensar empresas responsáveis; e identificar se o perfil dos respondentes interferiria nas percepções sobre RSA. Foi realizada uma pesquisa empírica, com o modelo de Garcia, et al. (2008), junto a alunos de administração de uma Instituição de Ensino Superior Pública. Os resultados apontaram que os respondentes consideram que é importante que as empresas tenham RSA. Com relação a recompensar estas empresas, descobriu-se que existe propensão a recompensar. Por fim, foi identificado que o perfil do respondente afeta em suas percepções sobre RSA.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

A sustentabilidade é entendida através do tripé econômico, social e ambiental (Elkington, 1999). Neste estudo o foco recai sobre os dois últimos, ou seja, o aspecto sócio-ambiental que compreende questões de responsabilidade social e questões ligadas à preservação do meio ambiente.

Fisher (2005) argumenta que a sociedade civil começa a cobrar atitudes empresariais éticas em suas diferentes áreas de atuação e a pressionar por mudanças efetivas na relação das empresas com seu entorno ambiental. Frente a esse cenário, os impactos ambientais tornaram-se responsabilidade legal e os princípios éticos começaram a redefinir o relacionamento com os consumidores.

Estudos também comprovaram que o consumidor tende a recompensar empresas com responsabilidade ambiental, no Brasil, alguns dos estudos que comprovaram esta tendência são: Melo (2003); Abrantes, Ávila e Dias (2010); Belizário (2008); Velter, Battistella, Grohmann, Castro, Costa e Hermann (2009); Ribas e Smith (2009).

Ou seja, as questões de responsabilidade sócio-ambiental (RSA) são fundamentais para o crescimento sustentável e como os universitários são os principais formadores de opinião do futuro, é fundamental que se conheça qual a compreensão dos mesmos sobre este tema.

Desta forma, a questão central deste estudo é compreender qual a percepção dos universitários sobre RSA. Para tanto, será utilizado para a mensuração, na pesquisa empírica, o modelo de Garcia, et al (2008) que, por sua vez, baseou-se no trabalho de Creyer e Ross (1997).

Os objetivos do estudo são: i) identificar qual a importância atribuída pelos universitários à RSA empresarial; ii) mensurar a propensão dos respondentes em recompensar empresas com RSA; iii) identificar se o perfil dos respondentes, através das variáveis sócio-demográficas, interferiria nas percepções sobre RSA.

Segundo Elkington (1999), a questão central por traz da RSC é o entendimento da ampliação da missão das organizações que não devem preocupar-se apenas com as questões econômicas, incluindo preocupações sociais e ambientais (triple bottom line), atuando desta maneira as organizações tornam-se sustentáveis.   

A definição mais utilizada no Brasil para responsabilidade social corporativa é a de Ashley (2001, p.6-7) que entende o tema como “um compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade... é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade”. 

Este artigo une os dois temas – social e ambiental e resgata o modelo de Creyer e Ross (1997) e sua posterior adaptação para o contexto nacional, feita Garcia et al (2008) que amplia a visão de responsabilidade social, dando maior enfoque para as questões ambientais. O modelo completo dos autores é apresentado na Figura 1.

 

 

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

A pesquisa realizada caracteriza-se por ser uma pesquisa descritiva. De acordo com Hair et al (2005, p. 86), “os planos de pesquisa descritiva em geral são estruturados e especificamente criados para medir as características descritas em uma questão de pesquisa” e, neste caso, utilizou-se como instrumento de coleta de dados um modelo pronto e validado, neste caso, o modelo de Garcia et al (2008) apresentado na Figura 1.

Este estudo buscou compreender a percepção dos alunos de graduação em administração e, desta forma, a população era a de cerca de 400 alunos regularmente matriculados nos dois cursos de administração (diurno e noturno) de uma Instituição de Ensino Superior Pública.

Ao final do processo de coleta de dados 167 questionários haviam sido preenchidos, o que representa uma amostra de cerca de 50% da população pesquisada. Apesar de este número ter sido bem menor do que o esperado, o mesmo foi representativo, pois englobou parcelas semelhantes de alunos dos diferentes semestres dos dois cursos pesquisados.

Os dados foram tabulados e analisados estatisticamente através do software SPSS. Tais análises foram elaboradas de modo que pudessem abranger de maneira correta todas as questões presentes na pesquisa. Dessa forma, a caracterização da amostra englobou análises de freqüência e cruzamentos utilizando-se testes Qui-quadrado. Posteriormente, para a identificação do grau de importância e recompensa efetuou-se o cálculo das médias e dos desvios padrões. Para a identificação da influência das variáveis demográficas na percepção da cultura organizacional, foram realizados Teste T e ANOVA.

 

Figura 1 – Modelo de mensuração utilizado

Fonte: adaptado de Garcia et al (2008)

 

 

3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

 

A amostra foi composta de 85 pessoas do sexo masculino e 81 do sexo feminino, ou seja, não houve predomínio de nenhum dos dois sexos. Quanto ao estado civil dos respondentes, a maioria absoluta dos alunos é solteiro (92,8%), 6% são casados, 0,6% divorciados e 0,6% se enquadram em outros.

Em relação à idade, a maioria dos respondentes encontra-se na faixa de 21 a 24 anos e uma parcela insignificante dos respondentes (2,4%) tem mais de 30 anos. Dessa forma, afirma-se que a amostra é composta essencialmente de pessoas jovens. E, destes, 39,2% trabalham e 17,5% realizam estágios.

Quanto ao curso de graduação, 50,6% pertencem ao curso de administração noturno e 49,6% ao curso de administração diurno. E em relação ao semestres, os dados são: primeiro semestres – 11,4%; segundo semestre – 24,7%; terceiro semestre – 7,2%; quarto semestre – 12,7%; quinto semestre – 6,0%; sexto semestre – 10,8%; sétimo semestre – 10,8%; oitavo semestre – 3,6% e nono semestre – 10,8%. Dessa forma, observa-se que tanto quanto ao turno, quanto ao semestre, a amostra está muito bem distribuída.

No que se refere às ações socioambientais, identificou-se que 49 respondentes (29,5%) já participaram de algum projeto sócio-ambiental e que 46 respondentes (27,7%) já prestaram algum tipo de trabalho voluntário.

Quanto ao grau de instrução dos pais, os resultados encontrados foram: até 4ª Série Fundamental – 7,2%; 5ª a 8ª Série Fundamental ou Médio Incompleto – 13,9%;  Médio Completo – 36,1%; e Superior completo – 42,8%. Estes dados demonstram que ainda predomina no ensino superior filhos de pessoas formadas. Por fim, utilizando-se o critério Brasil, o comportamento de amostra no que se refere à classe social demonstrou que a maioria dos respondentes é da classe B2 (43%) ou B1 (32,7%). A seqüência a seguir é: C1 (17%), A2 (6,7%) e A1 (0,6%).

A importância da RSA foi medida através de doze itens. A Tabela 1 apresenta as médias para cada um destes itens, em ordem decrescente. Ressalta-se que, quanto mais próximo de 5 é o valor da média obtido, maior é a concordância com a afirmativa realizada, visto que o 5 representava a opção “concordo totalmente” no instrumento de coleta dos dados.

Como podem ser visualizadas na Tabela 1, as variáveis sobre importância que apresentaram as maiores médias são: Quando compro privilegio produtos de empresas que utilizam recursos renováveis (média 3,43) e Na compra de produtos com matéria prima sujeita a controle ecológico, certifico-me se a empresa é ecologicamente correta (média 3,13).

Na sequência, aparecem dois itens referentes ao preço, a terceira maior média foi para uma afirmativa inversa - Dou preferência a uma empresa com o menor preço do que a uma empresa ambientalmente responsável (média 3,06) – que identifica os consumidores optam pelo preço em detrimento do ambiente. Em seguida, aparece uma afirmativa completamente antagônica a primeira - Pagaria mais para comprar produtos de uma empresa que promova a proteção ambiental (média 3,02) – que afirma que o respondente pagaria mais pela proteção ambiental.

As próximas médias mais elevadas são: É fundamental para minha decisão de compra, que as empresas possuam programas de incentivo à preservação ambiental (média 2,98); Pago mais por produtos orgânicos que respeitam o meio ambiente (média 2,87), Sempre busco comprar apenas produtos de empresas que reciclam os descartes da sua produção (média 2,85) e Ando mais para comprar produtos em uma loja que tenha uma conduta ambientalmente responsável (média 2,70).

Todos estes itens apresentaram médias acima do meio da escala, ou seja, demonstrando uma maior concordância dos respondentes com os itens mencionados. As médias mais baixas, em torno da média da escala, foram:  Ao comprar, busco informações sobre o comportamento ambiental da empresa (média 2,57); Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro (média 2,55) e Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa (média 2,52). Uma única variável apresentou média inferior ao meio da escala. O item com menor média foi “Na compra não é importante que a empresa seja ambientalmente responsável” (média 2,40), porém esta é uma afirmativa inversa e, desta forma, sua analise significa que os respondentes acham importante que a empresa seja ambientalmente responsável.

 

Tabela 1: Média das variáveis que mensuram importância da responsabilidade socioambiental

 

Variável

Média

σ

V23

Quando compro privilegio produtos de empresas que utilizam recursos renováveis

3,43

0,950

V22

Na compra de produtos com matéria prima sujeita a controle ecológico, certifico-me se a empresa é ecologicamente correta

3,13

1,053

V19

Dou preferência a uma empresa com o menor preço do que a uma empresa ambientalmente responsável

3,06

1,174

V16

Pagaria mais para comprar produtos de uma empresa que promova a proteção ambiental

3,02

1,178

V08

É fundamental para minha decisão de compra, que as empresas possuam programas de incentivo à preservação ambiental

2,98

1,044

V14

Pago mais por produtos orgânicos que respeitam o meio ambiente

2,87

1,275

V26

Sempre busco comprar apenas produtos de empresas que reciclam os descartes da sua produção (lixo)

2,85

1,036

V15

Ando mais para comprar produtos em uma loja que tenha uma conduta ambientalmente responsável

2,70

1,162

V12

Ao comprar, busco informações sobre o comportamento ambiental da empresa

2,57

1,064

V01

Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro

2,55

1,204

V10

Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa

2,52

1,127

V17

Na compra não é importante que a empresa seja ambientalmente responsável

2,40

1,144

 

Em suma, os resultados apontaram que os respondentes consideram que é importante que as empresas tenham RSA, porém, o grau de importância encontrado não é muito elevado. Em uma escala de 1 a 5 a maior média foi de 3,43 e a maioria das médias ficou em torno de 3, o que na escala utilizava representava uma localização entre indiferente e concordo parcialmente.           

Na Tabela 2 apresentam-se os resultados referentes à propensão de recompensar empresas com RSA. As médias, em geral, foram mais elevadas do que as obtidas nas variáveis que mediam a importância.

As maiores médias são das seguintes variáveis: É importante que as lojas onde compro tenham reputação ética (média 4,03); Empresa ambientalmente irresponsável não merece o apoio do consumidor (média 3,93); A diferença de preço nem sempre é suficiente para privilegiar a empresa ecologicamente correta (média 3,70); Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor (média3,68); Empresas que praticam responsabilidade ambiental, certamente, terão seu sucesso assegurado no mercado (média 3,67).

 

Tabela 2: Média das variáveis que mensuram recompensa da responsabilidade socioambiental

 

Variável

Média

σ

V09

É importante que as lojas onde compro tenham reputação ética

4,03

1,064

V20

Empresa ambientalmente irresponsável não merece o apoio do consumidor

3,93

1,217

V28

A diferença de preço nem sempre é suficiente para privilegiar a empresa ecologicamente correta

3,70

1,053

V18

Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor

3,68

1,176

V13

Empresas que praticam responsabilidade ambiental, certamente, terão seu sucesso assegurado no mercado

3,67

1,119

V02

Deixo de comprar de um fabricante, quando tomo conhecimento de que no processo produtivo há desrespeito ao meio ambiente

3,57

1,930

V11

Dou preferência às empresas que promovem ações de preservação do meio ambiente junto à comunidade

3,42

1,124

V04

Preocupo-me se as empresas das quais eu compro produtos respeitam as leis ambientais

3,33

1,075

V06

As práticas de preservação do meio ambiente influenciam em minha decisão de compra

3,31

1,099

V05

Na minha decisão de compra observo se a loja tem uma postura ambientalmente correta

3,25

1,103

V07

Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente

3,24

1,494

V27

Sempre recomendo e indico aos meus conhecidos a compra de produtos de empresas que respeitam o meio ambiente

3,15

1,184

V24

Deixo de comprar produtos de empresas, quando fico sabendo que elas não promovem a preservação do meio ambiente

2,93

1,224

V03

A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra

2,81

1,258

V21

Empresas que não evitam a poluição de rios e lagos têm seus produtos preteridos pelo cidadão

2,81

1,073

V25

Sempre busco comprar apenas de empresas que têm controle das suas emissões de CO2 (gás carbônico) na atmosfera

2,60

0,991

 

No outro extremo, com as menores médias apareceram os seguintes itens: Deixo de comprar produtos de empresas, quando fico sabendo que elas não promovem a preservação do meio ambiente (média 2,93); A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra (média 2,81); Empresas que não evitam a poluição de rios e lagos têm seus produtos preteridos pelo cidadão (média 2,81); Sempre busco comprar apenas de empresas que têm controle das suas emissões de CO2 (gás carbônico) na atmosfera (média2,60).

Desta forma, observou-se que os acadêmicos de administração têm bastante propensão à recompensar o comportamento sócio-ambiental responsável. As médias ficaram em torno de 3,50, sendo que a maior média obteve valor próximo a 4 (concordo parcialmente). Assim, constatou-se que os respondentes concordam mais com as variáveis de recompensa do que com as variáveis de importância.

Conforme já mencionado, um dos objetivos deste trabalho é o de identificar como o perfil do entrevistado afeta a percepção de responsabilidade social. Desta forma, foram realizados cruzamentos entre as variáveis que buscaram identificar o perfil destes entrevistados e o modelo proposto por Garcia et al (2008).

A Tabela 3 apresenta o teste estatístico para diferenças de médias denominado de Teste T e sua análise é feita através do grau de significância encontrado. Desta forma, nas variáveis que apresentarem teste com significância inferior a 0,005 (p < 0,005) pode-se concluir que a diferença das médias é estatisticamente significativa e, portanto, não se encontra no intervalo de erro.

 

Tabela 3: Testes t para diferenças de percepção

 

Construto Importância

 

Descrição

Variável

Média

σ

F

Sig.

V10

Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa

Homens

2,60

1,236

 

 

 

Mulheres

2,43

0,999

6,084

0,015

 

Construto Recompensa

 

Descrição

Variável

Média

σ

F

Sig.

V13

Empresas que praticam responsabilidade ambiental, certamente, terão seu sucesso assegurado no mercado

Homens

3,42

1,138

 

 

 

Mulheres

3,93

1,046

4,630

0,033

V25

Sempre busco comprar apenas de empresas que têm controle das suas emissões de CO2 (gás carbônico) na atmosfera

Homens

2,54

1,097

 

 

 

Mulheres

2,65

0,868

6,864

0,010

V03

A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra

Trabalha

3,08

1,395

 

 

 

Não trabalha

2,64

1,137

6,493

0,012

V18

Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor

Trabalha

3,38

1,234

 

 

 

Não trabalha

3,87

1,101

4,455

0,036

V28

A diferença de preço nem sempre é suficiente para privilegiar a empresa ecologicamente correta

Estágio

3,52

1,353

 

 

 

Não faz estágio

3,75

0,953

10,582

0,001

V03

A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra

Diurno

2,76

1,158

 

 

 

Noturno

2,87

1,359

4.417

0,037

V07

Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente

Participa projeto

3,12

1,996

 

 

 

Não participa

3,32

1,199

11,861

0,001

V18

Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor

Participa projeto

3,94

1,088

 

 

 

Não participa

3,59

1,195

4,384

0,038

V28

A diferença de preço nem sempre é suficiente para privilegiar a empresa ecologicamente correta

Participa projeto

3,71

1,208

 

 

 

Não participa

3,68

0,983

4,229

0,041

 

O gênero afetou na percepção dos acadêmicos em três variáveis. Na variável 10 (Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa) os homens apresentaram maior concordância (média de 2,60) do que as mulheres (média de 2,43) e, assim, conclui-se que os homens buscam mais informações sobre o processo produtivo do que as mulheres. A variável 13 (Empresas que praticam responsabilidade ambiental, certamente, terão seu sucesso assegurado no mercado) também foi afetada pelo gênero e encontraram-se médias mais elevadas entre as mulheres (média de 3,93) do que entre os homens (média de 3,42). Por fim, encontrou-se um comportamento semelhante na variável 25 (Sempre busco comprar apenas de empresas que têm controle das suas emissões de CO2 (gás carbônico) na atmosfera) onde as mulheres obtiveram média de 2,65 e os homens, média de 2,54.

O fato de o respondente trabalhar gerou diferenças estatisticamente significativas em dois itens. Na variável 03 (A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra) os acadêmicos que trabalham obtiveram média de 3,08 e os que não trabalham de 2,64. E na variável 18 (Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor) os que trabalham obtiveram média de 3,38 e os que não trabalham de 3,87. Em ambos os casos, a percepção dos que trabalham foi menor do que a dos que não trabalham. E os alunos do curso noturno (média 2,87) apresentaram maiores médias do que os do diurno (2,76) na variável 03 (A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra).

Por fim, os últimos dados do teste T referem-se às diferenças encontradas entre os acadêmicos que já participaram de projetos ambientais ou sociais e os que nunca participaram. A variável 07 (Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente) obteve maior concordância dos acadêmicos que não participam de projetos (média 3,32) do que daqueles que participam (média 3,12). Já na variável 18 (Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor) o comportamento encontrado foi inverso, os que participam de projetos deram maiores médias (3,94) do que os que não participam (3,59). Esse comportamento também ocorreu na variável 28 (A diferença de preço nem sempre é suficiente para privilegiar a empresa ecologicamente correta).

Os próximos dados (Tabela 4) também dizem respeito as diferenças de percepções, porém realizadas com o teste ANOVA. Nas variáveis que apresentarem teste com significância inferior a 0,005 (p < 0,005) pode-se concluir que a diferença das médias é estatisticamente significativa.

 

Tabela 4: Teste ANOVA para diferença de percepção

 

Construto Importância

 

Descrição

Maior média

Menor Média

F

Sig.

V01

Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro

Outro – 4,00

solteiro – 2,49

2,864

0,038

V15

Ando mais para comprar produtos em uma loja que tenha uma conduta ambientalmente responsável

Casado – 3,70

solteiro – 2,64

3,952

0,009

V01

Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro

30 a 35 – 4,00

Até 20 – 2,35

2,493

0,045

V10

Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa

30 a 35 – 4,00

Até 20 – 2,26

3,731

0,006

V12

Ao comprar, busco informações sobre o comportamento ambiental da empresa

30 a 35 – 3,67

21 a 25 – 2,71

2,535

0,042

V14

Pago mais por produtos orgânicos que respeitam o meio ambiente

Primeiro – 3,58

Sétimo – 2,17

2,094

0,033

 

Construto Recompensa

 

Descrição

Maior Média

Menor Média

F

Sig.

V07

Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente

Fundamental- 3,78

Superior – 2,75

3,345

0,007

V07

Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente

A1 – 2,00

A2 – 3,18

2,594

0,039

 

No que se refere ao estado civil, os acadêmicos solteiros apresentaram as menores médias nas seguintes variáveis: Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro (média 2,49) e Ando mais para comprar produtos em uma loja que tenha uma conduta ambientalmente responsável (média 2,64)

A idade interferiu na percepção de três variáveis. Na variável 01 (Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro) os respondentes de 30 a 35 anos atribuíram notas bem superiores (média 4,00) do que os alunos de 20 a 25 anos (média de 2,35). Este comportamento foi exatamente o mesmo em outras duas variáveis: Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa (30 a 35 anos com média de 4,00 e 20 a 25 anos com média de 2,26); Ao comprar, busco informações sobre o comportamento ambiental da empresa (30 a 35 anos com média de 3,67 e 20 a 25 anos com média de 2,71). Desta forma, ficou evidente que nestes itens, quanto menor a idade do respondente, menor a importância atribuída à RSA.

Quanto ao semestre do respondente foi encontrada diferença das médias apenas na variável 14 (Pago mais por produtos orgânicos que respeitam o meio ambiente) onde os alunos do primeiro semestre atribuíram notas bem superiores (média de 3,58) do que os do sétimo semestre (média de 2,17).

Para concluir estas análises, observou-se que a variável 7 (Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente) foi afetada pelos dois critérios que definem a classe sócio econômica – escolaridade dos pais e renda). Na classe A1 observou-se uma grande rejeição em comprar de empresas que desrespeitam o ambiente (média 2,00) e na classe A2 esta média foi a mais alta (média de 3,18). Quanto ao nível de instrução dos pais, os respondentes cujos pais tem ensino fundamental completo atribuíram notas bem mais elevadas (média 3,78) do que aqueles que tem pais com curso superior completo (média 2,75).

Para encerrar a análise dos dados, observou-se que o perfil dos acadêmicos afetou na percepção de sete variáveis que mensuravam importância atribuída a RSA e em onze variáveis que mediam propensão a recompensar empresas com RSA. Assim, constatou-se que o constructo recompensa é bem mais influenciado pelo perfil do respondente do que o construto importância.

Por fim, dentre as vinte e oito variáveis analisadas a que sofreu maior influência do perfil dos respondentes e, portanto, obteve maior divergência de opiniões foi a variável 07 (Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente), afetada por três variáveis, e na sequência as variáveis 01 (Busco sempre procurar informações sobre as certificações ambientais dos fabricantes de produtos que eu compro); 10 (Antes de comprar, busco informações sobre a reputação do processo produtivo da empresa); 12 (Ao comprar, busco informações sobre o comportamento ambiental da empresa); 3 (A certificação ambiental de uma empresa não influencia na minha decisão de compra); 18 ( Toda empresa ambientalmente responsável tem que ser recompensada pelo consumidor) e 28 (A diferença de preço nem sempre é suficiente para privilegiar a empresa ecologicamente correta), todas afetadas por duas variáveis do perfil do respondente. 

 

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A proposta deste estudo era verificar qual a percepção de universitários sobre a RSA das organizações. Optou-se por utilizar o modelo proposto por Garcia et al (2008) porque ele amplia a visão de responsabilidade social, dando maior enfoque para as questões ambientais.

Para nortear o estudo, foram desenvolvidos objetivos da pesquisa e os resultados encontrados no trabalho permitem responde-los e, assim, tecer algumas conclusões sobre a percepção dos universitários sobre RSA.

Como primeiro objetivo tinha-se identificar qual a importância atribuída pelos universitários à RSA empresarial. Os resultados apontaram que os respondentes consideram que é importante que as empresas tenham RSA, porém, o grau de importância encontrado não é muito elevado. Em uma escala de 1 a 5 a maior média foi de 3,43 e a maioria das médias ficou em torno de 3, o que na escala utilizava representava uma localização entre indiferente e concordo parcialmente.  

O segundo objetivo foi mensurar a propensão dos respondentes em recompensar empresas com RSA e descobriu-se que os acadêmicos de administração têm bastante propensão à recompensar o comportamento sócio-ambiental responsável. As médias ficaram em torno de 3,50, sendo que a maior média obteve valor próximo a 4 (concordo parcialmente). Assim, constatou-se que os respondentes concordam mais com as variáveis de recompensa do que com as variáveis de importância

Por fim, o último objetivo era identificar se o perfil dos respondentes, através das variáveis sócio-demográficas, interferiria nas percepções sobre RSA. Num primeiro momento, destaca-se que a variável mais afetada foi a variável 07 (Aprovo e compro de empresas que rejeitam o desrespeito ao meio ambiente), afetada por três variáveis (instrução dos pais, classe, participação em projeto ambiental).

Conforme demonstra o Quadro 1, o estado civil ensino gerou alterações em 7,14% dos atributos propostos pelo modelo de mensuração; a idade alterou 10,70% das variáveis; o semestre dos respondentes modificou apenas 3,57% das variáveis; a instrução dos pais gerou diferenças estatisticamente significativas também em 3,57%, mesmos percentual obtido por renda familiar;  o gênero interferiu em  10,70% das variáveis; o fato de trabalhar em 7,14%; se realiza estágio e se o curso é diurno ou noturno afetaram em 3,57%; e a participação em projetos ambientais gerou diferença de percepção em 10,70% dos itens. Portanto, conclui-se que as variáveis demográficas que mais afetaram na percepção dos universitários (em três variáveis) foram idade, gênero e participação em projetos ambientais.

 

Quadro 1 – Resumo sobre as influências na percepção de responsabilidade socioambiental

Característica

Importância

Recompensa

Total

Percentual

Estado civil

V01, V15

 

02

07,14%

Idade

V01, V10, V12

 

03

10,70%

Semestre

V12

 

01

03,57%

Instrução pais

 

V07

01

03,57%

Renda

 

V07

01

03,57%

Gênero

V10

V13, V25

03

10,70%

Trabalha

 

V03, V18

02

07,14%

Estágio

 

V28

01

03,57%

Curso

 

V03

01

03,57%

Projeto Ambiental

 

V07, V18, V28

03

10,70%

TOTAL

07

11

 

Percentual

05,38%

07,33%

 

Outra análise interessante é que as diferenças de percepção ocorreram deforma mais significativa nos itens de mensuração de recompensa (11 variáveis foram afetadas) do que nos itens de importância (7 variáveis sofreram alterações).

Desta forma, os dados obtidos permitem responder ao terceiro objetivo do trabalho na medida em que comprovaram que as alterações de percepção foram muito poucas, somente 5,38% dos cruzamentos realizados foram significativos para os itens que mensuravam importância e 7,33% foram significativos para os itens que mediam recompensa.

É importante salientar que os resultados encontrados não podem ser generalizados, pois o estudo refletiu a percepção dos acadêmicos de administração da Universidade Federal de Santa Maria e que não formam uma amostra representativa do universo de estudantes universitários do país.

Conforme se demonstrou no referencial teórico, as questões de sustentabilidade são fundamentais para o crescimento sustentável e como os universitários são os principais formadores de opinião do futuro, é fundamental que se conheça qual a compreensão dos mesmos sobre este tema. Desta forma, como principais contribuições do estudo, identificou-se que tanto a importância quando recompensa, obtiveram valores medianos de importância e, portanto, é necessário que se criem estratégias e mecanismos para promover empresas sócio-ambientalmente responsável e, principalmente, que tais empresas sejam recompensadas por suas ações. 

Sugere-se que mais estudos sejam conduzidos sobre o tema, e que novas variáveis sejam incorporadas ao estudo como, por exemplo, a mensuração de alunos de cursos diferentes, de universidades diferentes e de outros estados. Num segundo momento, sugere-se que a amostra seja ampliada para os estudantes de ensino médio e também para os profissionais que já se encontrem no mercado de trabalho, desta forma, será possível ter um panorama mais amplo e comparar as diferenças de percepção entre gerações.

 

 

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos