Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) Diagnóstico do saber ambiental: um estudo de percepção na comunidade ribeirinha em São Gonçalo do Amarante (RN), Brasil.
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SEÇAO: ARTIGOS

Diagnóstico do saber ambiental: um estudo de percepção na comunidade ribeirinha em São Gonçalo do Amarante (RN), Brasil.

 

Aline Rocha de Paiva Costa1; Nilmara de Oliveira Alves2; Richelly da Costa Dantas3 ; Sílvia Regina Batistuzzo de Medeiros4 e Viviane Souza do Amaral5

 

1Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, linerpaiva@hotmail.com

2Mestre em Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, nilmara1@yahoo.com.br.

3Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, richelly@gmail.com

4Doutora em Genética, Professora Titular do Departamento de Biologia Celular e Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Campus Universitário, Lagoa Nova – Natal/RN. CEP 59.072-970, (84) 3211-9209, sbatistu@cb.ufrn.br

5Doutora em Genética, Professora Adjunta do Departamento de Biologia Celular e Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Campus Universitário, Lagoa Nova – Natal/RN. CEP 59.072-970, (84) 3211-9209, vamaral@ufrnet.br

 

RESUMO: A água é essencial para a manutenção da vida. A poluição ambiental causa a perda da qualidade dos recursos hídricos, afetando a saúde humana. Diante disso, torna-se necessário o desenvolvimento de atividades que sensibilizem e promovam a conscientização da população diante dos problemas ambientais.  O presente trabalho teve como objetivo avaliar a percepção ambiental dos moradores da comunidade ribeirinha em São Gonçalo do Amarante/RN.  O questionário aplicado abordou questões relacionadas ao perfil do entrevistado, conhecimentos sobre meio ambiente e do rio Golandim.  A análise dos dados permitiu observar que a maioria dos moradores são adultos e apresentam uma visão global do que faz parte do meio ambiente. Além disso, citam a poluição do rio como um dos problemas do município, considerando-o grave. Dessa forma, espera-se que os resultados obtidos nesta pesquisa possam contribuir com futuros trabalhos de educação ambiental no município e que estas atividades sensibilizem a população para os problemas locais.

 

Palavras-Chaves: Recursos hídricos, Rio Golandim, Educação Ambiental, Percepção ambiental

 

1. INTRODUÇÃO

 

A água é indispensável para a manutenção da biodiversidade assim como é fundamental para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural. São inúmeros os problemas relacionados com os impactos na quantidade e na qualidade da água, tais como: aumento da população, urbanização, produções agrícolas e industriais, uso excessivo de águas subterrâneas e outras atividades (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2009; TUNDISI & TUNDISI, 2005).

No Brasil, mais de 90% dos esgotos domésticos e 70% dos efluentes industriais são lançados diretamente nos corpos aquáticos das regiões brasileiras mais densamente povoadas. Logo, estes recursos hídricos se encontram bastante degradados e sem capacidade de depurarem seus efluentes (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2009).

É importante destacar que esses impactos comprometem a saúde humana, a economia, o abastecimento público e o ambiente. Segundo BRITTO (2008), é fundamental usar racionalmente e economizar a água, conciliando sustentabilidade e qualidade, garantindo assim a sua disponibilidade para as gerações futuras.

Neste contexto, o presente projeto surgiu devido aos sérios problemas ambientais na comunidade ribeirinha em São Gonçalo do Amarante (RN). Estudos relatam que a qualidade das águas do rio Golandim apresentou elevado grau de poluição devido ao grande lançamento de efluentes industriais do Distrito Industrial de Natal, curtumes e de alguns conjuntos habitacionais próximos a área em seu leito, apresentando um comprometimento do seu nível ambiental, principalmente de sua biota e do aproveitamento de sua água (TINÔCO et al., 2008, PRAD, 2002). Atualmente, uma parte da população que vive às margens do rio Golandim utiliza a água extraída de poços subterrâneos, embora alguns já sejam atendidos pelo sistema de abastecimento público do município, através do Sistema de Abastecimento Autônomo de Água e de Esgoto (SAAE) (FALCÃO, 2008).

Diante deste cenário, torna-se necessária a realização de atividades que sensibilizem e promovam a conscientização da população principalmente com relação à água. Uma importante recomendação em nível internacional é a de se investir em uma mudança de mentalidade e valores, sensibilizando as pessoas para a necessidade de se utilizar novas posturas diante da degradação ambiental. Uma comunidade sensibilizada aceita a responsabilidade pela realidade em que vive e assumem a tarefa de transformá-la (FALCÃO, 2008).

Nesse sentido, estudos sobre a percepção ambiental dos indivíduos tem sido uma prática realizada por pesquisadores, pois fornece subsídios para um maior entendimento das interações que as pessoas estabelecem com o meio ambiente. Dessa forma, é possível a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo (FAGGIONATO, 2002; MENDES, 2005).

Neste trabalho, destacam-se os seguintes objetivos: investigar como os moradores da comunidade ribeirinha do rio Golandim no município de São Gonçalo do Amarante (RN) percebe o ambiente em que vivem; avaliar os conhecimentos básicos dos participantes sobre o meio ambiente assim como as fontes de informação e analisar como os habitantes utilizam o rio da sua cidade, o qual vem apresentando problemas de contaminação por dejetos industriais e domésticos, impondo riscos à saúde dessa população. 

 

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Caracterização da área de estudo

 

São Gonçalo do Amarante está localizado no Estado do Rio Grande do Norte (RN), distante 13 km da capital Natal, situado à margem esquerda do rio Potengi, na microrregião de Macaíba. O município ocupa uma área total de 264 km, integra a Grande Natal, fazendo limites ao norte com os municípios de Ceará - Mirim e Extremoz, ao sul com Macaíba, a leste com Natal e a oeste com Ielmo Marinho. Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município possui uma população de 87.668 habitantes. O rio Golandim, localizado próximo a comunidade, possui uma extensão que compreende a nascente, na BR 406, próximo a Ceará - Mirim até o mangue, onde o rio termina. É afluente do rio Potengi, pertencendo então a bacia hidrográfica do Potengi (Figura 1).

 

Slide1.JPG

 

Figura 1. Localização do município de São Gonçalo do Amarante e o rio Golandim

 

2.2. Procedimento metodológico

 

Um questionário previamente elaborado com questões fechadas e abertas foi utilizado para a coleta de dados. Segundo MENDES (2005), a utilização de questões fechadas em um estudo de percepção permite avaliar as experiências, as características individuais e coletivas de determinados grupos, bem como as tomadas de decisões e as perguntas abertas complementam as informações obtidas através das questões estruturadas, fornecendo informações sobre a identidade dos indivíduos e a percepção sensorial dos mesmos.

O protocolo para essa pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN), mediante parecer nº 303/2010 e CAAE 0158.0.051.000-10. Os participantes da comunidade deveriam ter idade igual ou superior a 18 anos, que habitassem no município, de ambos os sexos, de qualquer etnia, grupo ou classe social. A escolha desses indivíduos foi feita de forma aleatória e 100 questionários foram aplicados com os habitantes das imediações do rio Golandim no município de São Gonçalo do Amarante/RN, no período de novembro/2010 a março/2011. Todos os participantes foram voluntários e assinaram um termo de Consentimento Livre e Esclarecido sobre a pesquisa.

A elaboração do questionário baseou-se em pesquisas sobre percepção ambiental, sendo feitas algumas  adaptações visando o direcionamento e o foco de interesse da pesquisa (CALDAS et al, 2005; LIMA, 2003; MENDES, 2005; GARCIA et al, 2011; BEZERRA et al, 2007;FERNANDES et al, 2005).

          O questionário está dividido em três avaliações: perfil do entrevistado, conhecimento sobre meio ambiente e sobre o rio Golandim. Para análise e interpretação dos dados foi usado o programa SPSS Statistics 15.0 (Statistical Package for the Social Science) e técnicas estatísticas descritivas, como distribuição de freqüência e tabulação cruzada (ou crosstabs).

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

3.1. Perfil do entrevistado

 

Neste trabalho, analisaram-se informações do perfil pessoal dos moradores da comunidade ribeirinha do rio Golandim em São Gonçalo do Amarante (RN), tais como: gênero, idade, tempo de moradia e escolaridade.

          Para o total da entrevista, observou-se que 54% dos entrevistados são do sexo feminino e 46% do masculino, mostrando um equilíbrio na amostra.

          Com relação à idade dos entrevistados foram determinadas as categorias segundo classificação do IBGE e Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo considerados jovens de 18 – 24 anos, adultos de 25 – 59 anos e idoso acima de 60 anos. Nesta pesquisa, a maioria dos entrevistados são adultos (65%), seguidos dos jovens (25%) e idosos (10%).

          Quanto ao tempo de moradia, 60% dos entrevistados residem na cidade há mais de 10 anos. Este é um dado importante, pois mostra que a maioria dos participantes conhece a realidade do município e possuem uma relação mais afetiva. De acordo com LIMA (2003), quando as pessoas vivem muitos anos em um determinado lugar, a familiaridade permite uma maior sensibilização para as questões ambientais de sua cidade e também estão mais disponíveis para a participação de ações que sejam para o bem comum.

          Os dados sobre escolaridade indicaram que há o predomínio do 1° grau incompleto (38%) e do 2º grau completo (20%), conforme mostra o gráfico abaixo (Figura 2). Resultados similares, também foram encontrados nos trabalhos de LIMA (2003) e CALDAS et al. (2005).

Figura 2. Escolaridade dos entrevistados

 

3.2. Conhecimento sobre o meio ambiente

A questão ambiental vem sendo discutida de maneira interdisciplinar e essa perspectiva contribui para evidenciar a necessidade de um trabalho vinculado com a participação, co-responsabilidade e solidariedade dos seres humanos (LOCATELLI et al., 2009). Nesse sentido, investigou-se o conhecimento dos participantes em relação ao meio ambiente em que vivem, contribuindo para o diagnóstico do saber/agir ambiental dessa comunidade.   

           Segundo REIGOTA (1991), o meio ambiente é definido como o lugar onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Dentro dessa análise, os elementos que constituem o meio ambiente podem ser definidos como naturais e artificiais. Nesse estudo, constatou-se que 80% dos entrevistados têm essa visão global, mostrando que os moradores dessa comunidade ribeirinha possuem um entendimento de que tanto os elementos naturais como os antrópicos são parte constituinte do meio.

Ainda nesta perspectiva, questionou-se a preocupação que os moradores possuem em relação ao meio ambiente. Do total dos entrevistados, 78% responderam que se preocupam com o meio ambiente, 21% responderam às vezes e apenas 1% afirmou que não se preocupam (Figura 3). Diante desse resultado, percebeu-se que a maioria dos participantes se preocupa com o meio em que vivem, sendo um ponto de partida para a sensibilização e soluções dos problemas.

 

 

Figura 3. Preocupação dos entrevistados com o meio ambiente

 

Ao cruzar os dados em relação ao gênero e a preocupação dos entrevistados com o meio ambiente, observa-se que o sexo feminino tem maior preocupação, correspondendo a 55,12% (Figura 4). Estudos mostram que homens e mulheres têm visões diferenciadas em relação à prioridade e uso da água, porém o importante é garantir que haja a interação desses pensamentos, permitindo que a gestão dos recursos hídricos caminhe para a sustentabilidade (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA, 2009).

Figura 4. Relação entre a preocupação dos entrevistados e o sexo

 

Dentre os meios de informações mais utilizados em relação às questões ambientais, os entrevistados citaram a televisão (52%) e a escola (15%). Estes resultados corroboram com os trabalhos de LIMA (2003) e MENDES (2005), indicando que os veículos de massa e a escola têm influência na comunicação junto à comunidade e podem ser utilizados para sensibilizar a população quanto às questões ambientais.

 Outras fontes também foram citadas, tais como: rádio (12%), jornais (9%), livros (5%), revistas (4%) e internet (3%). Um dado que chamou atenção, foi o pequeno percentual de pessoas que citaram a internet, demonstrando que mesmo nos dias atuais onde se fala muito em inclusão digital ainda existem pessoas que não tem acesso a mesma. Segundo JACOBI (2003), são necessários os meios de informação e o acesso a eles, bem como o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais, para alterar a situação atual de degradação sócio-ambiental.

Vale ressaltar que 83% dos participantes desse trabalho consideram graves os problemas ambientais do município (Figura 5).

Slide1

Figura 5. Avaliação dos problemas ambientais do município de São Gonçalo do Amarante.

 

Dentro desse contexto, foram especificados os principais problemas ambientais existentes na comunidade ribeirinha conforme mostra a tabela 1. Nessa análise, o rio Golandim foi o mais citado (42%), evidenciando que os moradores estão cientes das dificuldades ambientais do município.

 

Tabela 1. Percentual dos problemas ambientais no município de São Gonçalo do Amarante.

 Problemas ambientais

%

Poluição do rio

Lixo

Esgoto

Desmatamento

Queimadas

Falta de saneamento

Outros

42

17

15

08

05

06

07

 

Além disso, observou-se que 42% dos entrevistados afirmaram que não causam prejuízo ao meio ambiente. Em contrapartida, mais da metade dos participantes disseram que já causaram algum prejuízo (poucos (33%) e muitos (24%)) e 1% não souberam responder (Figura 6). É importante destacar que GARCIA et al. (2011) encontraram resultados semelhantes, demonstrando que apesar da preocupação com o meio em que vivem, os moradores contribuem, de alguma forma, para o crescimento dessa problemática. Segundo JACOBI (2003), a postura de dependência e a falta de responsabilidade da população decorrem principalmente da desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de práticas comunitárias baseadas na participação e no envolvimento dos cidadãos. Dessa forma, é urgente a necessidade de projetos de educação ambiental, ampliando as relações que essas pessoas estabelecem com o ambiente da sua localidade.

 

Figura 6. Avaliação dos entrevistados em relação aos prejuízos causados ao meio ambiente.

 

 

3.3. Conhecimento sobre o rio Golandim

 

Nesta pesquisa, procurou-se investigar se a população aproveita a água do rio Golandim para atender as suas necessidades básicas. Os dados obtidos indicam que a maioria dos entrevistados não utiliza (80%) e 63% consideram a água do rio como péssima, fato este que justifica a insegurança no uso desse recurso hídrico. A percepção dos entrevistados concorda com os trabalhos já citados anteriormente que ressaltam que o rio está impactado pelo despejo de efluentes industriais e domésticas e com isso a população não se sente segura em utilizá-lo (TINÔCO et al., 2008, PRAD, 2002).

Dentre aqueles que usufruem do rio Golandim (19%), a maioria consideram a qualidade da água como péssima. Esta informação ressalta a necessidade de se trabalhar com esta parcela da comunidade, uma vez que reconhecem o risco, mas não deixam de utilizá-lo.

Ao relacionar a qualidade da água do rio com o tempo de residência do entrevistado no município, observa-se que 58,73% dos que consideram a qualidade da água péssima, residem há mais de 10 anos no município, constatando que quanto maior o tempo de residência na cidade maior o conhecimento deles em relação aos problemas encontrados (Tabela 2).

 

Tabela 2. Relação entre o tempo de residência e avaliação da qualidade da água do rio

 

Tempo de residência

Boa

Qualidade da Água do rio          Regular

Péssima

Não sabe

Menos de 01 ano

0%

3%

4%

1%

Entre 1 - 5 anos

1%

2%

15%

1%

Entre 6 - 10 anos

1%

4%

7%

1%

Acima de 10 anos

5%

11%

37%

7%

 

Tendo como foco o estudo da percepção sobre o rio Golandim, questionaram-se os prejuízos que essa água pode trazer para a saúde humana. Em geral, notou-se que 88% dos moradores supõem que o rio pode trazer sérios riscos ao bem-estar da população exposta (Figura 7). Curiosamente, ao analisar os dados dos entrevistados que afirmaram utilizar o rio, percebeu-se que a maioria (84,21%) acredita que a água do rio pode prejudicar a saúde (Tabela 3).

 

Figura 7. Percentual das respostas dos entrevistados com relação aos prejuízos que a água pode causar à saúde.

 

 

Tabela 3. Relação entre a utilização do rio e se a água causa prejuízo a saúde

 

 

Prejudica a Saúde

 

 

Utiliza

    Utilização do rio

 

Não utiliza

Evita usar

Sim

16%

71%

1%

Não

3%

3%

0%

Não Sabe

0%

6%

0%

 

 

 

 

 

 

Uma grande parte dos entrevistados não utilizam o rio Golandim e acreditam que o mesmo pode prejudicar a saúde. Além disso, 63% dos moradores consideram a qualidade da água como péssima. Entretanto, 52% dos entrevistados afirmaram que não imaginam o município sem o rio, considerando-o como elemento indispensável ao ambiente e às suas vidas.

 

3.4. O Rio Golandim para o entrevistado

 

Com o objetivo de esclarecer a relação entre os moradores e o rio Golandim, foi feita uma pergunta aberta sobre o que o rio representava para os entrevistados. Para facilitar a análise, as respostas foram separadas em positivas, quando foi possível observar que tinham algum grau de importância benéfica do rio para o entrevistado e negativas, quando apresentava algum aspecto maléfico.

 Dos 100 questionários analisados, 47% deles apresentaram respostas positivas e 33% como negativas. Algumas respostas haviam sido respondidas como “nada” o que correspondeu a 11% e 9% foram consideradas respostas invalidas por não terem sido respondidas.

            Em seguida, destacam-se algumas respostas positivas dadas pelos entrevistados com relação ao rio Golandim:

 

“Faz parte da natureza”

“Sobrevivência para natureza, pesca, ajuda financeira a comunidade”

“O rio é uma importante fonte de água para irrigação, utilizado por comunidades vizinhas”

“Eu pesco e muitas pessoas sobrevivem desse rio”

“Fonte de sustento da população ribeirinha”

           

            Como respostas negativas:

 

“Muito poluído e causa mau cheiro aos moradores”

“Era bom quando era limpo”

“Problema sério por causa da poluição”

“Pra mim é muito importante, mais o rio é muito poluído, vai causar muitas doenças para todos do município”

 

Para que a educação ambiental colabore com a construção de uma nova concepção de ambiente e de um novo cidadão, seus princípios devem ser sempre a base para qualquer ação ambiental educativa. Estes princípios são: participação, pensamento crítico-reflexivo, sustentabilidade, ecologia de saberes, responsabilidade, continuidade, igualdade, conscientização, coletividade, emancipação e transformação social (GONZALEZ et al, 2007). Segundo CARVALHO (2001), uma forma seria através da educação popular, a qual compreende o processo educativo como um ato político no sentido amplo, isto é, como prática social de formação de cidadania, que compartilha com essa visão a idéia de que a vocação da educação é a formação de sujeitos políticos, capazes de agir criticamente na sociedade, buscando estar inserida dentro do contexto dos grupos sociais, trabalhando de acordo com a realidade em que vivem.

  

4. CONCLUSÕES

 

De acordo com os dados obtidos, pode-se concluir que:

  • O perfil dos entrevistados mostrou que a maioria são adultos e que vivem há mais de 10 anos na comunidade ribeirinha de São Gonçalo do Amarante (RN);
  • Os moradores do município reconhecem os elementos que compõem o meio ambiente, tendo uma visão global;
  • A maioria dos entrevistados se preocupa com o meio ambiente, sendo a maior parte mulheres;
  • O problema ambiental mais citado pelos entrevistados foi a poluição do rio Golandim e eles consideram os problemas do município como graves;
  • Maior percentual dos entrevistados diz não utilizar o rio e consideram a qualidade da sua água como péssima e que esta pode causar prejuízo a saúde;
  • Quando questionados se imaginavam o município de São Gonçalo do Amarante sem o rio, a maioria não imaginava mesmo considerando que sua poluição é um grave problema ambiental, isso indica que a comunidade está aberta a trabalhos e políticas de educação ambiental que possibilitem melhorias à qualidade de vida.

A demanda por água de boa qualidade é um dos maiores desafios atuais. Dessa forma, espera-se que os dados obtidos nesta pesquisa possam contribuir com trabalhos futuros de educação ambiental no município de São Gonçalo do Amarante (RN), principalmente com a comunidade que vive no entorno do rio Golandim. Com base nesse estudo, as atividades podem ser dirigidas com foco nos principais problemas, para que se possa atingir a sensibilização da população para os problemas locais.

 

5. REFERÊNCIAS

 

BEZERRA, T. M. O.; FELICIANO, A. L. P; ALVES, A. G. C. Percepção ambiental de alunos e professores do entorno da Estação Ecológica de Caetés – Região Metropolitana do Recife-PE. Biotemas, n° 21, 2008, p. 147 – 160.

BRITTO, A.L.; BARRAQUE, B. Discutindo gestão sustentável da água em áreas metropolitanas no Brasil: reflexões a partir da metodologia européia Water 21. Cadernos metrópole 19, 2008, pp. 123-142.

 

CALDAS, A.L.R.; RODRIGUES, N.S. Avaliação da Percepção Ambiental: Estudo de Caso da Comunidade Ribeirinha da Microbacia do Rio Magu. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, Volume 15, julho a dezembro de 2005.

 

CARVALHO, I. C. M. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental e extensão rural. Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.2, abr./jun.2001.

 

FAGGIONATO, S. Percepção ambiental. Disponível em: www.educar.sc.usp.br/textos.  Acessado em 26/ 06/ 2010.

FALCÃO, R.B.M. A Educação Ambiental no Enfrentamento da Despoluição do Rio Golandim, município de São Gonçalo do Amarante e seus desdobramentos no estado do Rio Grande do Norte. Companhia de águas e esgotos do Rio Grande do Norte, 2008.

 

FERNANDES, R.S.; SOUZA, V.J.;PELISSARI,V.B.;FERNANDES, S.T. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental. Rede CEAS. Noticias, 2004. Disponível em: http://www.redeceas.esalq.usp.br/noticias/Percepcao_Ambiental.pdf. Acessado em 28 de junho de 2010.

 

GARCIA, A.C.F.S.; AMARAL, V.S.; MEDEIROS, S.S.R.B. Percepção Ambiental no Sertão do Estado do Rio Grande do Norte: Um estudo de caso. Revista educação ambiental em ação, nº35, 2011.

 

GONZALEZ, L.T.V.; TOZONI-REIS, M.F.C.; DINIZ, R.E.S. Educação ambiental na comunidade: uma proposta de pesquisa–ação. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v.18, janeiro a junho de 2007.

 

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JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,março, 2003.

 

LIMA, R.T.Percepção ambiental e participação pública na gestão dos recursos hídricos: perfil dos moradores da cidade de São Carlos, SP ( Bacia hidrográfica do rio do Monjolinho.Dissertação de mestrado da escola de engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Disponível em: HTTP: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/.../DISSERT_RTLIMA2003. Acessado em 30 de junho de 2011.

 

LOCATELLI, O.C.; HENDGES, C.D.; MALLMANN,E.M.; CATAPAN, A.H. A educação ambiental na região do Alto Uruguai: sustentabilidade e tecnologias de comunicação digital nos currículos da educação básica. V Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Gestão do Conhecimento para a Sustentabilidade, Niterói, RJ, Brasil, ISSN 1984-9354, julho de 2009.  

 

MENDES, R.P.R. Percepção sobre meio ambiente e educação ambiental: o olhar dos graduandos de ciências biológicas da PUC-Betim. Pontifícia universidade católica de Minas Gerais, 2005.

 

MMA - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Água: Manual de uso. Vamos cuidar de nossas águas. Implementando o plano nacional de recursos hídricos. 4ª edição, Brasília-DF, 2009.

 

PRAD. Plano de Recuperação da área degradada do rio Golandim. Companhia de águas e esgotos do Rio Grande do Norte, 2002.

 

REIGOTA, M. Fundamentos teóricos para a realização da educação ambiental popular.  Programa de Educação Popular Ambiental/ICAE.Em Aberto, Brasília, v. 10, n. 49, jan./mar. 1991.

 

TINÔCO, D, J.; ARAÚJO, A. L. C.; CALAZANS, M. A. D.; CUNHA, J. A. E MARQUES JÚNIOR, S. Recuperação da Área Degradada da Bacia do Rio Golandim/RN: Diagnóstico Ambiental, 2008.

 

TUNDISI, J.G., TUNDISI, T. M. A água. Editora: Publifolha, Ed.1, pgs.128, 2005.

 

Ilustrações: Silvana Santos