Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) POLÍTICAS PÚBLICAS E PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A COLETA SELETIVA
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Revista Educação Ambiental em Ação 38

Políticas públicas e processos de comunicação na educação ambiental para a coleta seletiva

 

 

Alessandra Marlice de Brito Farias, Drª Jane Márcia Mazzarino, Drª. Eniz Conceição Oliveira

 

 

Alessandra Marlice de Brito Farias - Bacharel em Comunicação Social- habilitação em Publicidade e Propaganda – UFSM, Bacharel em Comunicação Social – habilitação em Relações Públicas – UNICRUZ, Mestranda em Ambiente e Desenvolvimento – UNIVATES. E-mail: alebfarias@yahoo.com.br

 

Drª Jane Márcia Mazzarino - Professora do Programa de Pós-Graduação Ambiente e Desenvolvimento do Centro Universitário UNIVATES. Doutora e Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale dos Sinos. E-mail: Jane Márcia Mazzarino

 

Drª. Eniz Conceição Oliveira - Professora do Programa de Pós-Graduação Ambiente e Desenvolvimento do Centro Universitário UNIVATES. Doutora e Mestre em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: eniz28@yahoo.com.br

 

Endereço para correspondência:

 

Drª Jane Márcia Mazzarino

PPG Ambiente e Desenvolvimento

Avenida Avelino Talini, 171

Bairro Universitário

Lajeado RS

Cep 95900 000

Telefone 51 3714 7000 Ramal 5592

Celular 51 9903 1677

E-mail: Jane Márcia Mazzarino

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

A mudança de hábitos e as necessidades da sociedade moderna provocaram um aumento significativo na quantidade de resíduos sólidos produzidos diariamente, gerando um problema ambiental e social. Portanto, ações e políticas públicas voltadas para a educação ambiental se tornam possibilidades para a minimização da problemática relacionada ao consumo e descarte de resíduos. Partindo deste pressuposto, o presente trabalho tem como objetivo investigar a percepção e a participação de moradoras de Lajeado RS na política municipal de coleta seletiva dos resíduos sólidos domésticos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, baseada na pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Como técnicas de coleta de dados, foram realizadas entrevistas do tipo semi-estruturada individuais e grupais com as moradoras/consumidoras dos bairros de Lajeado. Os dados foram tratados por meio da análise de conteúdo qualitativa. Como resultado verificou-se que as moradoras/consumidoras possuem a preocupação com os impactos ambientais causados pelos descartes dos resíduos, procurando separar de forma correta os resíduos gerados em suas residências. Em relação às campanhas de informação a respeito da coleta seletiva, as moradoras/consumidoras relataram que falta divulgação nos meios de comunicação, enquanto que para a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) de Lajeado as campanhas que são realizadas são suficientes.

Palavras-chave: Comunicação. Educação ambiental. Políticas públicas. Resíduos sólidos.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

Com o crescimento demográfico, a urbanização e a industrialização em larga escala, aumenta a utilização dos recursos naturais para produção de bens de consumo e, conseqüentemente, aumenta o volume de resíduos. Diante desta problemática algumas propostas se apresentam como ponto de convergência entre ambientalistas e atores de outros campos sociais: é a necessidade de ações de educação ambiental. A educação ambiental para a sensibilização dos impactos que os hábitos de consumo e descarte produzem no meio ambiente pode desencadear mudanças significativas na relação do indivíduo com a natureza, minimizando os problemas ambientais que já fazem parte do cotidiano de todos.

A comunicação ambiental torna-se relevante quando se percebe que a sociedade e a natureza estão em um momento flagrante de contradição. De um lado observam-se avanços tecnológicos e desenvolvimento econômico, e por outro o desemprego, a poluição, o desmatamento e outros problemas ambientais gerados pela relação do homem com a natureza. Por isso, entende-se que é importante discutir a comunicação no seu potencial para iniciativas na área da educação ambiental, como uma possibilidade da construção de novos valores em relação à sociedade, especialmente em relação ao consumo e ao descarte de resíduos.

Esse estudo tem como objetivo investigar a percepção e a participação de moradoras de Lajeado RS na política municipal de coleta seletiva dos resíduos sólidos domésticos. Questiona-se qual tem sido o papel do Poder Público no processo de sensibilização da sociedade para com os problemas ambientais. Considera-se como fundamental o desenvolvimento de ações e estratégias que fortaleçam as possibilidades de soluções sustentáveis nos municípios e, para isso, é necessário que as políticas ambientais sejam compatíveis com a realidade local. Diante desse contexto, interessa saber como as estratégias e discursos de educação ambiental da Prefeitura Municipal em relação à coleta seletiva dos resíduos sólidos domésticos estão sendo apropriados pelos moradores de Lajeado? As estratégias de comunicação utilizadas pela Prefeitura Municipal de Lajeado, para sensibilizar os moradores/consumidores, está sendo adequada aos receptores? Os moradores estão sendo sensibilizados a participarem desta política pública com estas estratégias?  

O município de Lajeado está localizado na região do Vale do Taquari, Rio Grande do Sul, a 117 km de Porto Alegre. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), a área do município de Lajeado é de 90 km² e conta com uma população de 67.476 habitantes, sendo mais de 99% urbana.

Em relação aos resíduos sólidos domésticos, atualmente, é a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) que responsabiliza-se pelo seu recolhimento. A coleta é realizada tanto na área urbana como na rural. O recolhimento dos resíduos orgânicos na zona urbana é realizado diariamente e do lixo seco uma vez por semana em cada bairro.

De acordo com a SEMA (2009) a coleta seletiva iniciou no ano de 1993. A prefeitura terceiriza o serviço através da empresa pavimentadora RENAN, a qual faz o recolhimento dos resíduos urbanos domiciliares secos e orgânicos da cidade de Lajeado. A prefeitura também possui parceria com a Cooperativa de Catadores do Vale do Taquari (COCAVAT), a qual é licenciada pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (FEPAM). A COCAVAT realiza a triagem dos resíduos secos junto ao aterro sanitário de Lajeado. Os resíduos orgânicos são destinados ao aterro sanitário e os resíduos secos triados são vendidos para empresas recicladoras.

Desde 2004 o município conta com as instalações do aterro sanitário municipal. Antes disto era utilizado um lixão. O aterro é constituído por uma usina de triagem, na qual é feita a separação dos tipos de materiais recicláveis, e por uma célula revestida com geomembrana e filtros de gás, no qual ocorre a deposição de resíduos orgânicos e rejeitos. Também possui sistema de drenagem de chorume e estação de tratamento de efluentes. No aterro trabalham um funcionário da prefeitura, responsável pelo seu funcionamento, cooperados da COCAVAT que fazem a triagem dos resíduos e a pavimentadora Renan, que faz a coleta do lixo. Todo o material coletado é encaminhado para o aterro sanitário, onde 30 cooperativados fazem a triagem, enfardamento e venda dos materiais recicláveis. A renda proveniente da comercialização do material reciclável é distribuída entre os membros da cooperativa (SEMA, 2009).

Atualmente são recolhidos, diariamente, no município 40 toneladas de resíduos. Destes apenas 5% pode ser aproveitado como resíduo seco. (SEMA, 2009). Portanto, os dados apontam que a coleta seletiva tem problemas, já que grande parte dos materiais chegam ao aterro misturados.

A SEMA (2009) de Lajeado estimula a população a separar os resíduos secos e orgânicos através do Centro de Educação Ambiental (CEA), que promove e executa ações voltadas para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais.

 

 

2  consumo, comunicação e educação ambiental

 

Muito se tem discutido sobre as questões em torno da relação sociedade-natureza. Até a década de 70 os problemas ambientais eram atribuídos apenas ao descontrolado crescimento demográfico a exploração e a degradação decorrente dos recursos naturais para fins produtivos, os quais ocasionariam uma rápida redução dos recursos naturais do planeta.

Estudos realizados sobre a degradação ambiental e suas conseqüências trouxeram novas questões e formas de interpretar as causas dos problemas ambientais. Assim, o crescimento da população deixou de ser visto como a principal problemática ambiental dando lugar aos modos de produção. Segundo Portilho (2005, p. 48), “o debate crescimento populacional versus crescimento industrial na definição da crise estava sendo superado, com a ênfase recaindo sobre o segundo.”

Os problemas relacionados ao estilo de vida dos indivíduos começaram a ser discutidos de forma mais aprofundada na Rio 92 com a Agenda 21, quando organizações não governamentais (ONGs) passam a responsabilizar os consumidores tanto dos países em desenvolvimento como os desenvolvidos pelos problemas ambientais, surgindo paralelamente, estratégias como o consumo verde e consumo sustentável. Inaugura-se assim, nas palavras de Portilho, um segundo deslocamento discursivo: “dos problemas ambientais causados pela produção para os problemas ambientais causados pelo consumo” (Portilho, 2005, p. 51).

            Quando se analisa o consumo é preciso refletir sobre as formas de descarte. Segundo Ortigoza (2007), o aumento do consumo atualmente é o grande responsável pelo crescimento do volume de resíduos, representando um problema na qualidade ambiental das cidades. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2000), no Brasil, dos 5.475 municípios existentes somente 451 realizavam a coleta seletiva. Dados demonstram que, 63,6% utilizam lixões e 32,2%, aterros (13,8% sanitários, 18,4% aterros controlados), sendo que 5% não informaram para onde vão seus resíduos.

O grande desafio para gestores públicos e sociedade é a redução dos resíduos produzidos, para isso é necessário conhecer em profundidade as lógicas de consumo. Nesse processo, produtores, comerciantes, consumidores e os poderes públicos, colocam-se como os principais agentes envolvidos para estabelecerem critérios para a redução de resíduos. Uma das soluções pode ser o consumo responsável. Sua essência é criar nos consumidores uma consciência ecologicamente seletiva, desenvolvendo hábitos de consumo mais responsáveis, evitando o desperdício. Trata-se de um projeto preventivo centrado na educação ambiental.

            Para Sorrentino, et al. (2005, p. 287), “a educação ambiental, em especifico, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade da ação política, no sentido de contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita.” Pensar no consumo como parte do processo de construção do sujeito e de agentes na sociedade contemporânea remete à necessidade de investir em educação ambiental, de modo a sensibilizar e instigar os indivíduos a participarem na minimização dos problemas causados ao meio ambiente em função do atendimento das necessidades humanas, muitas delas artificializadas pela sociedade de consumo.

            Quando se aborda a problemática da sociedade de consumo a partir dos resíduos sólidos domésticos, requer que se compreenda minimamente o funcionamento do mercado e seus mecanismos de marketing. O mercado é movimentado por compradores com necessidades variadas, que vão sendo redistribuídas continuamente. De acordo com Daft (2006), as pessoas possuem necessidades a qualquer hora, tais como, necessidades de alimentação, realização ou de recompensa monetária. Essas necessidades se traduzem em um critério interno que motiva atitudes e comportamentos específicos na tentativa de preenchê-las.

De acordo com Carvalho (2008) as atitudes são predisposições para que o indivíduo se comporte de tal ou qual maneira, e assim podem ser preditivas de comportamento. O comportamento são as ações observáveis, efetivamente realizadas, e podem estar ou não de acordo com as atitudes do sujeito. Assim os sujeitos podem se comportar freqüentemente em dissonância total ou parcial em relação a suas atitudes. Determinada pessoa pode cultivar uma atitude ecológica, mas, por vários motivos, seguir mantendo hábitos e comportamentos nem sempre em conformidade com esses ideais.

Assim, as atitudes podem ser consideradas a intenção de se comportar de uma determinada maneira que pode ser desempenhada ou não dependendo da situação, e comportamento é a realização da ação. Mudanças de atitudes dos indivíduos podem demorar algum tempo para causar mudanças no comportamento. Para Carvalho deve-se 

 

[...] considerar o comportamento uma totalidade capaz de expressar as motivações dos indivíduos e acreditar que é possível submeter a vontade deles e produzir transformações destas motivações mediante um processo racional, o qual se passa no plano do esclarecimento, do acesso a informações coerentes e da tomada de decisões racionais, baseadas em uma relação de custo-benefício para o sujeito (Carvalho, 2008, p.183).

 

É preciso ter em mente que o ambiente em que o indivíduo está inserido impacta suas atitudes. Conforme Bock; Furtado e Teixeira (2002) o comportamento não pode ser entendido como uma ação isolada de um sujeito, mas, sim, como uma interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu fazer acontece.

De acordo com Bock; Furtado e Teixeira (2002, p. 137), “nós não tomamos atitudes (comportamentos, ação), nós desenvolvemos atitudes (crenças, valores, opiniões) em relação aos objetos do meio social.” As atitudes sendo influenciadas pelas crenças, valores, sentimentos positivos ou negativos, podem ser modificadas a partir de novos conhecimentos adquiridos pelos sujeitos.

No caso dos profissionais de marketing, eles levam em consideração as atitudes e comportamentos ao desenvolverem um produto e procuram criar ou salientar um conjunto de benefícios presentes nos produtos para satisfazer os consumidores. Diante das ofertas disponíveis, o consumidor estabelece uma escala de preferências entre os bens e os serviços que deseja adquirir, buscando escolher os produtos que lhe dão a máxima satisfação.

Para Bauman (2008) o consumo é uma condição e um aspecto permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos. Assim, o fenômeno do consumo tem raízes tão antigas quanto os seres vivos, sendo parte integrante de todas as formas de vida. A sociedade de consumo tem como base de suas alegações a promessa de satisfazer os desejos humanos, mas a promessa de satisfação só permanece sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito, mais importante ainda, quando o cliente não está plenamente satisfeito, ou seja, enquanto os desejos não tenham sido verdadeiramente e totalmente realizados.

O consumismo, para este autor, é um tipo de arranjo social resultante da vontade, desejos e anseios humanos rotineiros e permanentes, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais. Enquanto o consumo, além da formação de indivíduos humanos, desempenha papel importante no processo de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais.

            No entanto, para Garcia Canclini (1999, p.76), que faz uma análise a partir dos estudos culturais, o consumo é um conjunto de processos socioambientais em que se realizam a apropriação e o uso dos produtos. Quando o autor refere-se à apropriação relaciona-a não apenas a seu modo material, mas também simbólico. Assim, por exemplo, ao dar reconhecimento a uma mensagem midiática publicitária, mesmo que não se adquira o produto, se tomarmos o sentido ofertado como válido ao nosso modo, haverá aí seu processo de apropriação.

Para Martín-Barbero (1995) o consumo é o lugar da diferenciação social. É o lugar da distinção simbólica, por meio não só do que se consome materialmente, mas, sobretudo, pelos modos de consumir. É um lugar de diferenciação social, de demarcação das diferenças, de distinções, de afirmação da distinção simbólica. Como sistema de integração e de comunicação de sentidos e como modo de circulação e popularização de sentido, é o cenário de objetivação de desejos.

Segundo Sennet (2006, p.135 e 136), “o que mobiliza o consumidor é a sua própria mobilidade e imaginação: o movimento e a incompletude energizam a imaginação; da mesma forma, a fixidez e a solidez a embotam”. Desta forma, os consumidores tendem a ver os produtos como um conjunto de benefícios que satisfazem suas necessidades, e isso os leva a obterem cada vez mais produtos.

Assim, surge o desafio de encontrar um equilíbrio entre a demanda do consumo desenfreado da sociedade com os limites que o planeta pode suportar. Nesse sentido, o consumo consciente e responsável é um dos caminhos para a preservação do ambiente. Informar e educar para esta forma de consumo poderá modificar atitudes e comportamentos dos indivíduos em direção à sustentabilidade destas práticas corriqueiras do cotidiano e resultar em menos volumes de resíduos sólidos domésticos destinados aos aterros.

De acordo com Carvalho (2006, p.32), a preocupação ambiental e as práticas de educação ambiental vêm se construindo como um bem na contemporaneidade. Isto é, um sentido valorizado pela sociedade que tende a ser incorporado pela educação, ao mesmo tempo em que se oferece como ideal para os processos de formação identitária.

            Um dos pontos essenciais a serem enfocados em processos de educação ambiental é a relação do homem com a natureza, levando em conta que os recursos do meio ambiente não são finitos. Trata-se de uma forma de transformação dos indivíduos como um todo, nas quais novos estilos de vida podem ser revistos a partir da discussão e reflexão sobre o consumo de produtos valorizados pela sociedade, refletindo-se sobre a dimensão ética na relação entre consumo e limites da natureza. Para Jacobi

 

Existe um desafio essencial a ser enfrentado, e este está centrado na possibilidade de que os sistemas de informações e as instituições sociais se tornem facilitadores de um processo que reforce os argumentos para a construção de uma sociedade sustentável. Para tanto é preciso que se criem todas as condições para facilitar o processo, suprindo dados, desenvolvendo e disseminando indicadores e tornando transparentes os procedimentos por meio de práticas centradas na educação ambiental que garantam os meios de criar novos estilos de vida e promovam uma consciência ética que questione o atual modelo de desenvolvimento, marcado pelo caráter predatório e pelo reforço das desigualdades socioambientais (Jacobi, 2003, p. 195-196).

 

O consumo sustentável incorpora todo o processo que sustenta a relação com determinado produto, o que inclui o descarte. Para que este ato seja sustentável a sociedade precisa transformar seus hábitos diários, bem como sensibilizar-se sobre a necessidade da redução do volume de produtos e/ou serviços, adquirindo o necessário para seu bem-estar e, assim, minimizando a geração de resíduos.

A educação ambiental nesta área deve relacionar questões econômicas, políticas, sociais, éticas e culturais, contribuindo para o exercício da responsabilidade, bem como estimulando a formação de agentes que sejam capazes de compreender e agir de forma crítica, para a transformação da realidade através do conhecimento. Assim, a educação ambiental pode ser utilizada como um instrumento para equacionar e, assim, melhorar o estilo de vida e contribuir para a conservação do ecossistema, despertando os indivíduos para novas relações com o meio ambiente. Em relação aos sentimentos que devem permear os processos de educação ambiental, Guimarães afirma:

 

O sentido de educar ambientalmente vai além de "sensibilizar/informar" a população para o problema. Não basta mais apenas sabermos o que é certo ou errado, ou qual o comportamento adequado de cada indivíduo em relação ao meio ambiente. Precisamos inclusive superar a noção de "sensibilizar", que na maior parte das vezes é entendido como compreender racionalmente. Só a compreensão da importância da natureza não tem levado à sua preservação. Sensibilizar envolve também o sentimento, o amar, o ter prazer em cuidar, como cuidamos dos nossos filhos e aqueles que nos são caros. É promover o sentido de doação, de integração, de pertencer à natureza (Guimarães, 2008, p. 03).

 

Enfim, tendo em vista o agravamento dos problemas ambientais e o distanciamento de soluções para os impactos negativos do meio ambiente, o desafio que se impõe é desenvolver ações para intervir na relação homem-natureza, fazendo com que o sujeito perceba a importância de diminuir os impactos que a vida humana deixa. Hoje a educação ambiental pode se utilizar de inúmeros instrumentos de comunicação na ação transformadora da sociedade. Na sociedade contemporânea as ações planejadas de comunicação para educação ambiental são essenciais para a construção de cidadãos conscientes, responsáveis e atuantes na sociedade que estão inseridos. E neste contexto é imprescindível compreender o papel do receptor de informação ambiental.

Estratégias de comunicação para a educação ambiental podem ser adotadas como mais uma ferramenta para atuar na redução da degradação ambiental do planeta, buscando aproximar o indivíduo com o meio ambiente, através da reflexão crítica de seu comportamento. Neste sentido, é preciso estar atento às formas de reconhecimento de sentidos dados pelos públicos-alvo aos processos de educação ambiental.

            O processo comunicacional não é somente transferência de informações de um emissor para um receptor. Modos de expressão como fala, escrita, gestos, olhar, até mesmo o silêncio devem ser considerados no processo comunicacional, atuando sobre a forma como os sujeitos selecionam, se apropriam e interpretam os fatos. O sujeito lê, ouve ou assiste algo e vai interpretar de acordo com seus valores, idéias e conhecimentos pré-estabelecidos, enfim sua cultura. O receptor deixa de ser apenas um decodificador da mensagem emitida pelo emissor, para ser também um sujeito ativo, produtor de significados, a partir da suas experiências.

Em relação à produção de sentido, Hall (2003, p.354) afirma que “a recepção não é algo aberto e perfeitamente transparente, que acontece na outra ponta da cadeia de comunicação. E a cadeia comunicativa não opera de forma unilinear”. O receptor utiliza várias maneiras para se apropriar da informação. Essa apropriação está situada histórica e culturalmente (valores, idéias, conhecimentos, grau de instrução, faixa etária, classe social, etc), pelo ambiente dos indivíduos que interagem. De acordo com Fausto Neto, (1995, p. 201), “tanto os sujeitos da emissão como os da recepção estão subordinados, nas características das posições que lhes são peculiares, ao outro (língua, cultura, saberes, instituições, imaginários etc)”. Estas posições sociais medeiam a interação comunicacional.

            As mediações que interferem na recepção da informação não se estabelecem em um ponto de partida, mas por meio de várias fontes que atuam antes, durante e após o processo receptivo, de acordo com as experiências, interesses, necessidades e compreensão, além do próprio conteúdo cultural e da natureza da informação em circulação. Assim, o receptor recebe as mensagens produzidas pelo emissor, mas ele também irá constituir o seu próprio significado de acordo com seu entendimento. O receptor é consumidor e ao mesmo tempo produtor em um processo cultural.

            A partir dos teóricos acima pode-se concluir que estudar processos comunicacionais é observar basicamente elementos culturais, onde a comunicação surge no universo humano como uma necessidade de entendimento essencial ao ser humano para sua sobrevivência. O sentido da mensagem acontece com o receptor. Ele a decodificará através da interpretação do que lhe é colocado com o que ele tem armazenado no seu repertório cultural, onde sua experiência vivida dá origem ao sentido que irá produzir. É essencial que estes pressupostos comunicacionais sejam levados em conta em qualquer processo educativo, especialmente aqueles relativos à interação entre seres humanos e natureza.

 

 

3 MÉTODO

 

            Para o desenvolvimento desta investigação, optou-se por um estudo exploratório e descritivo de viés qualitativo, por meio de pesquisa bibliográfica e de campo. A pesquisa bibliográfica foi realizada por meio de consulta em livros e  artigos científicos.          A pesquisa de campo foi desenvolvida por meio de entrevistas semi-estruturadas. Também foi realizado um grupo de discussão com viés participativo. Estas duas técnicas possibilitam compreender como a política pública de educação ambiental para coleta seletiva está sendo apropriada pelos moradores/consumidores de Lajeado. Os dados obtidos nas entrevistas e no grupo de discussão foram gravados, e após transcritos na íntegra para qualificar a descrição e as análises. Os dados foram tratados por meio da análise de conteúdo qualitativa.

            A partir da transcrição, foi realizado a organização do material a ser analisando com o objetivo de sistematizar as idéias iniciais. Após foi feita uma leitura dos dados coletados com a intenção de conhecer o texto e definir categorias que sintetizassem e destacassem as informações fornecidas para a análise. Em seguida, partimos para a análise  e tratamento dos dados de modo a inferir e interpretar as informações coletadas. 

 

 

4 APROPRIAÇÕES DOS MORADORES SOBRE A POLÍTICA DE COLETA SELETIVA

 

Neste capítulo apresentarmos os dados obtidos na pesquisa de campo, quando entrevistamos três moradores individualmente e outros três em grupo. Para o entendimento das informações estabeleceu-se como forma de análise a criação de um quadro de identificação das informantes envolvidas na pesquisa, contendo os dados coletados no questionário (quadro 1). Os nomes são fictícios.

           

Quadro 1 - Identificação das entrevistadas

Nome

 

Idade (anos)

Estado Civil

Escolaridade

Profissão

Bairro

Entrevista

Andréia

26

Solteira

Especialista

Bióloga

Hidráulica

Individual

Eva

40

Casada

Ensino médio completo

Cabeleireira

São Cristóvão

Individual

Neusa

53

Casada

Ensino fundamental incompleto

Serviços gerais

Santo André

Individual

Diana

31

Separada

Ensino médio completo

Massoterapeuta

Jardim do Cedro

Grupal

Íris

 

46

Viúva

Mestre

Professora

Alto do Parque

Grupal

Rosa

 

52

Casada

Ensino superior

Aposentada

Moinhos

Grupal

 

A análise dos dados se refere a quatro categorias de análise: relação com os resíduos. Representações sobre a coleta seletiva; Práticas de consumo; e Educação ambiental. Vamos analisar conjuntamente suas apropriações em relação às categorias de análise.

            O grupo de discussão e as entrevistas individuais realizadas deixaram transparecer as apropriações e os tipos de mediações que os moradores fazem sobre os discursos da coleta seletiva de resíduos sólidos domésticos, quando foi possível identificar convergências e diferenças nas opiniões das entrevistadas.

Pode-se observar que a técnica utilizada na coleta de dados (entrevista grupal ou individual) não afetou a tendência das respostas, o que nos permite uma análise conjunta das falas das seis informantes em relação às categorias, buscando-se tendências gerais nas respostas.

            Em relação às categorias de análise, quando as questões referiam-se à categoria resíduos, percebe-se que todas as informantes fazem a separação dos resíduos em secos e orgânicos, sendo que uma entrevistada individual e duas integrantes do grupo de discussão possuem composteira. Também os familiares separam os resíduos. Os hábitos de separação dos resíduos divergem entre algumas das informantes, já que detectamos que apenas Diana e Iris fazem a separação desde crianças, incentivadas pelos seus pais. Eva começou a separar os resíduos a partir da implantação da coleta seletiva em Lajeado, Neusa e Rosa começaram a separar há pouco tempo, em torno de dois ou três anos, e Andréia começou a separar os resíduos quando ingressou da Universidade.

No que tange às percepções sobre a coleta seletiva, verificou-se que, das seis entrevistadas, apenas Iris e Neusa sabem diferenciar o caminhão da coleta seletiva. Em relação à representação de como é a coleta seletiva de resíduos Andréia não soube opinar, mostrando desconhecimento. Eva salientou que está adequada. As demais consideram que existem problemas como falta de campanhas informativas e poucas ações educativas, falta de divulgação pelos meios de comunicação e pouca freqüência de recolhimento. Constatou-se que as opiniões convergem quanto à falta de informação sobre destino e tratamento dos resíduos já que cinco informantes comentaram que desconhecem como é o trabalho no aterro sanitário. Apenas uma sabia o destino final dos resíduos.

          Sobre as práticas de consumo as opiniões convergem no grupo de discussão. As informantes do grupo focal estão mais preocupadas com produtos que possuem menos embalagens que sejam de qualidade e que sejam comercializados por meio de um bom atendimento, além de terem menor preço, enquanto as entrevistadas individualmente estão preocupadas em consumir produtos de menor preço. Em relação às compras supérfluas somente Andréia e Eva comentaram que quando vão ao supermercado adquirem mais produtos que o necessário. As outras moradoras afirmam consumir somente o necessário. Apesar de todas informantes se considerarem consumidoras conscientes, percebeu-se que no grupo de discussão existe uma preocupação maior com as questões ambientais na hora de consumir, enquanto entre as entrevistadas individuais o consumo é definido predominantemente  por questões econômicas.

          Verificou-se que todas as informantes possuem a preocupação com a preservação do meio ambiente, bem como se preocupam em consumir produtos mais ecológicos. Somente Neusa salientou que não sabe distinguir se um produto é ecológico, dessa forma não utiliza estes produtos conscientemente. Todas as outras informantes afirmam consumir produtos que são ecológicos. E todas as informantes concordam que existe relação do consumo com os problemas ambientais.

          No que se refere às ações de educação ambiental nio município as entrevistadas individualmente mostraram desconhecer,  já entre as entrevistadas do grupo de discussão, apenas uma das participantes tem conhecimento que a SEMA realiza ações de educação ambiental nas escolas, clubes de mães e visitas ao aterro sanitário, e isto se deve ao fato de participar de projetos de educação ambiental no município.

          No que se refere à busca de informações, tanto no grupo de discussão como nas entrevistas individuais, apenas uma das participantes procura informações sobre as questões ambientais.  Todas as informantes salientam que o principal problema da coleta seletiva é o comportamento das pessoas, porque não possuem o costume de separar ou não tem interesse, pois não relacionam os problemas ambientais com seus hábitos cotidianos.

          As opiniões das informantes do grupo de discussão e das entrevistadas individuais convergem no que diz respeito aos meios de comunicação mais adequados para deixar os moradores informados sobre os resíduos sólidos: são jornais, rádios e televisão. Em relação aos catadores, somente uma participante do grupo de discussão possui contato direto com um catador.

Em relação a troca de informações sobre resíduos sólidos com outras pessoas todas as informantes relataram que isto acontece, e somente uma das entrevistas salientou que esse tipo de assunto é raro, porque não é de interesse das pessoas.

As práticas de consumo entre as entrevistadas remetem ao pensamento de Portilho (2005) quando afirma que as ações individuais relativas às escolhas de consumo, quando motivadas por preocupação ética pelo meio ambiente, são capazes de transformar o mundo. Dessa forma as informantes acreditam que suas ações, por menores que sejam, podem contribuir para a redução dos impactos ambientais causados pelo consumo e descarte acentuado. De acordo com Portilho (2005, p.34), “se considerarmos as mudanças nas formas e estilos de pensar e fazer política pode-se valorizar novas formas de participação através de ações tanto de consumidores individuais quanto organizados”.

Para Martín-Barbero (1995) o consumo é o lugar da diferenciação social e o lugar da distinção simbólica, por meio do que se consome e como se consome. Assim sendo os produtos oferecem aos consumidores a utilidade, como também demonstram a classe social, personalidade e o grupo a qual pertencem.

O estudo de campo apontou que a maioria das informantes não são motivadas pelo consumismo, procurando adquirir produtos com características funcionais, não se deixando levar por apelos da mídia, marketing e publicidade. Portanto as consumidoras possuem liberdade para as escolhas, quando vêem os produtos como benefícios que satisfaçam suas reais necessidades.

Em relação aos hábitos de separação dos resíduos algumas das informantes relataram que começaram a fazer a separação há pouco tempo. Esta mudança de hábito ocorreu por meio das informações da campanha da coleta seletiva, por incentivo de conhecidos e através do convívio na Universidade. Assim, as atitudes das informantes foram sendo modificadas e influenciadas através das relações sociais. Portanto, como bem menciona Bock, Furtado e Teixeira (2002) as atitudes se desenvolvem em relação aos objetos do meio social e estas atitudes podem ser modificadas a partir de novos conhecimentos adquiridos pelos sujeitos. Nesse sentido os autores explicam que o comportamento não pode ser isolado e sim uma interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu fazer acontece.

O estudo mostrou que as informantes desenvolveram novos comportamentos, influenciadas por sentimentos de preservação ambiental. A referida situação é identificada na fala de Carvalho (2007) quando afirma que há uma permanente negociação em torno das decisões do dia a dia. Pode-se perceber esse pensamento quando algumas das informantes relataram que são consumidoras conscientes e procuram adquirir somente o necessário, mas, às vezes, acabam adquirindo produtos que não são necessários.

Para Guimarães (2008) não é suficiente saber o que é certo ou errado e que o comportamento adequado de cada indivíduo deve ter em relação ao meio ambiente. Só a compreensão da importância da natureza não tem levado a sua preservação, é preciso envolver o sentimento de ter prazer em cuidar, promovendo o sentido de integração de pertencer a natureza.  Nota-se que há necessidade de educar a sociedade para a preservação do meio ambiente, mas é preciso mudar primeiramente a maneira de pensar e reconhecer as situações ambientais, de forma que os indivíduos possam se sensibilizar de que a natureza é parte do homem e não sua propriedade. O autor entende que o sentido de educar vai além de sensibilizar e informar as pessoas para os problemas

          A mudança de atitude e comportamento dos atores sociais é fundamental para as ações de educação ambiental que visem estimular a mudança de valores individuais e coletivos. Para Sorrentino, et al (p. 287, 2005) “a educação ambiental pode contribuir para formar a coletividade”. Mas para isso precisa pensar não somente em ações isoladas, mas no coletivo. Este pensamento é parte da lógica da complexidade exposta por Morin (2003, p. 37) quando afirma que “o todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo.”

          Portanto, somente a reciclagem não resolverá os problemas dos resíduos. É preciso uma mudança nos hábitos das moradoras/consumidoras de Lajeado para que desenvolvam um comportamento de maior participação para a coleta seletiva, bem como reduzam a quantidade de resíduos produzidos, consumindo menos embalagens e reutilizando mais. De acordo com Carvalho (2006) as práticas de educação ambiental vêm se construindo como um bem para a contemporaneidade e como ideal para os processos de formação identitária. A educação precisa ser pensada como portadora de um ideal ético que entende o ambiente como um bem coletivo, trabalhado pelos diferentes atores que participam do campo ambiental. Deste modo a educação ambiental pode ser uma importante estratégia de mobilização das moradoras/consumidoras para a mudança de hábitos voltados à coleta seletiva, desembocando na construção da cidadania de cada um.

          Segundo Jacobi (2003) é preciso que se criem condições para facilitar o processo da construção de uma sociedade sustentável, que garanta novos estilos de vida e que promova uma consciência ética, questionadora do atual modelo de desenvolvimento, marcado pelo caráter predatório e pelo reforço das desigualdades socioambientais. A educação ambiental é um aprendizado social que está baseado no diálogo e interação em constante processo de recriação e interpretação de informações, onde cada um pode assumir uma parte ativa do entendimento de soluções dos problemas. De acordo com Leff:

 

A educação ambiental fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais e novos critérios de tomada de decisões dos governos, guiados pelos princípios de sustentabilidade ecológica e diversidade cultural [...]. Isto implica educar para formar um pensamento crítico, criativo e prospectivo, capaz de analisar as complexas relações entre processos naturais e sociais, para atuar no ambiente com uma perspectiva global, mas diferenciada pelas diversas condições naturais e culturais que o definem (Leff, 2007, p 256).

 

          Portanto, quando algumas das informantes procuram trocar informações com seus amigos e familiares sobre a importância da separação dos resíduos sólidos domésticos, bem como procuram se informar por meio dos meios de comunicação como revistas, rádio e televisão sobre os problemas ambientais, é porque, dessa forma, acreditam que podem contribuir com a minimização dos impactos ambientais atuais.

Entretanto elas salientaram que a falta de campanhas informativas e educativas é um dos principais fatores para que a população de Lajeado não participe da coleta seletiva. De acordo com as informantes, a população acaba não participando mais ativamente devido a falta de conhecimento sobre como fazer a separação, qual o dia e horário para colocar os resíduos na lixeira, bem como desconhecem como é realizado o trabalho na central de triagem. A solução para estes problemas pode se dar através de campanhas mais regulares nos veículos de comunicação, com linguagem simples e acessível a todas as moradoras/consumidoras o que vai de encontro do pensamento de Carvalho (2008), que sustenta que as transformações das motivações se passa no plano do esclarecimento e acesso a informações. O poder público precisa investir em campanhas na mídia para promover a conscientização, mudanças de comportamento, hábitos e costumes das moradoras/consumidoras de Lajeado.

 

         

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

          O estudo mostra que as ações de educação ambiental municipal em relação à coleta seletiva devem levar em conta as diferentes formas de conhecimento da comunidade, ampliar o acesso à informação ambiental, incluir com mais ênfase nas ações de educação ambiental a mensagem da necessidade de se racionalizar o uso de recursos naturais e o controle de atividades poluidoras, interrelacionando as problemáticas ambientais (resíduos domésticos, recursos hídricos, poluição do solo, mudanças climáticas, desmatamento, alimentação ecológica, etc...), e ampliar sua inserção entre os diferentes grupos sociais com propostas mais participativas.

Com base nos dados obtidos, chegou-se as seguintes conclusões: as informantes estão preocupadas em acondicionar adequadamente os resíduos sólidos domésticos; todas as participantes e seus familiares procuram fazer a separação em resíduos orgânicos e secos; algumas das informantes com suas formas para separar e descartar os resíduos, cumprem seu dever como cidadãs, porém não se preocupam com o que acontece depois do descarte dos resíduos, acreditando que apenas separando e consumindo poucas embalagens estarão realizando a sua parte; outras informantes procuram destinar seus resíduos de maneira correta, além de agirem de forma que seu comportamento não prejudique o ambiente. Mas apesar dessa preocupação ainda faltam informações sobre os dias e horários que o caminhão da coleta seletiva passa em seus bairros. Apenas uma pequena parcela das informantes sabem distinguir o caminhão da coleta normal da coleta seletiva, além de que a maioria delas não sabe qual o dia e nem o horário que o caminhão passa em seu bairro.

Portanto as estratégias de informação junto as moradores/consumidores de Lajeado não estão sendo eficientes, pelo fato de que as informantes separam os resíduos, mas na hora do descarte final a maioria delas desconhece o dia e horário em que o caminhão passa em seu bairro. Assim elas acabam descartando os resíduos em dias errados, não ocorrendo um bom reaproveitamento deles para a reciclagem. Em relação às ações de educação ambiental realizadas pela Prefeitura Municipal e como são planejadas, a maioria das informantes não possui conhecimento, dessa forma as estratégias de divulgação que a prefeitura utiliza para informar os moradores/consumidores de Lajeado não estão sendo eficientes.

As ações de educação ambiental podem vir a contribuir para a construção de um sentimento de cidadania mais intenso, além de fortalecer a responsabilidade em relação a separação de resíduos sólidos se os moradores perceberem que as ações de consumo e descarte estão diretamente relacionadas com os problemas ambientais. Porém, somente ações individuais não seriam suficientes para sensibilizar os moradores a participarem da coleta seletiva. Mudanças mais significativas devem ser realizadas através de políticas de comunicação ambiental elaboradas coletivamente, já que os problemas da coleta seletiva não são somente uma responsabilidade do poder público e nem somente dos moradores/consumidores, constituindo-se em um dever coletivo.

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos