Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 38) Contabilidade e Sustentabilidade: Diferenças entre discurso e prática
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Revista Educação Ambiental em Ação 38

Contabilidade e Sustentabilidade: Diferenças entre discurso e prática

 

 

Luciano Gomes dos Reis

Doutor em Controladoria e Contabilidade (FEA-USP)

Docente do Curso de Ciências Contábeis (UEL e UNOPAR)

Rod. Celso Garcia Cid-Km 377 - PR 445 - CEP: 86047-500
Londrina-PR

(43) 9915-5898

lucianoreis@uel.br

 

Daniel Ramos Nogueira

Doutorando em Controladoria e Contabilidade (FEA-USP)

Docente do Curso de Ciências Contábeis (UEL e UNOPAR)

Rod. Celso Garcia Cid-Km 377 - PR 445 - CEP: 86047-500
Londrina-PR

(43) 9966-7861

danielrnog@hotmail.com

 

Marcelo Resquetti Tarifa

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (UNIOESTE)

Docente do Curso de Ciências Contábeis (UEL e UNOPAR)

Rod. Celso Garcia Cid-Km 377 - PR 445 - CEP: 86047-500
Londrina-PR

(43) 9993-7484

marcelotarifa@hotmail.com

 

Esmael Almeida Machado

Doutorando em Controladoria e Contabilidade (FEA-USP)

Docente da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC/UFRJ)

Av. Pasteur, 250, Palácio Universitário – sala 239, CEP 22290-902
Rio de Janeiro - RJ

(21) 3873-5109

esmael@facc.ufrj.br 

 

 

Maria Augusta Baptistão Pessan

Discente do Curso de Ciências Contábeis (UNOPAR)

Rod. Celso Garcia Cid-Km 377 - PR 445 - CEP: 86047-500
Londrina - PR

(43) 8823-5829

m_augusta_pess@yahoo.com.br

 

 

 

 

 

 

Resumo

Desde o início da década de 1970, temas como conservação ambiental, meio-ambiente e sustentabilidade permeiam os meios de comunicação e a agenda de discussões em diversas partes do mundo. Por esta via, até hoje a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro é considerada um ponto de inflexão, a partir de quando o desenvolvimento sob o prisma da sustentabilidade passou a pautar decisões de investimento. Sob esse aspecto, o gestor tomador de decisões nas organizações deve estar atento às questões de natureza ambiental, pautando-se pelas informações econômicas e financeiras extraídas da contabilidade. Assim, o Contador está entre os atores que participam em ações voltadas ao desenvolvimento econômico. Deste modo, objetivo desta pesquisa foi verificar junto aos discentes do curso de Ciências Contábeis sua percepção e conhecimentos sobre Contabilidade Ambiental. A pesquisa foi realizada com 306 alunos do curso de Ciências Contábeis de duas instituições, por intermédio de questionário impresso. Os resultados indicam que conteúdos relativos a Contabilidade Ambiental praticamente não foram proporcionados. Contudo, os alunos apresentaram grande interesse em aprofundar seus conhecimentos nessa temática e até mesmo cursar uma disciplina optativa. Em complemento, constatou-se que a Contabilidade Ambiental reserva possibilidades de uma carreira promissora entre aqueles alunos que receberam de seus professores informações sobre o tema. Tal percepção não é compartilhada por alunos que desconhecem totalmente o assunto.

 

Palavras-chave: Contabilidade Ambiental. Sustentabilidade. Estudantes.

 

Área Temática: Sensibilização e Educação Ambiental

 

1    Introdução

            Desde o início da década de 1970, temas como conservação ambiental, meio-ambiente e sustentabilidade permeiam os meios de comunicação e a agenda de discussões em diversas partes do mundo, sendo que a partir da Eco-92, no Rio de Janeiro, o assunto foi alçado à condição de primordial pelos países e seus governantes.

            Esse processo de considerar outras variáveis, além do lucro puro e simples, na visão governamental e, por extensão, da sociedade como um todo, provocou uma mudança de paradigma social, mudança essa considerada uma evolução da sociedade capitalista, que passa a se preocupar não só com o resultado direto das organizações, mas com o impacto indireto que essa organização pode provocar no meio ambiente no qual está inserida.

            Na visão de Donaire (1999, p.37), esse processo de evolução levou algumas organizações a integrar o controle ambiental em sua gestão administrativa, projetando tais decisões ao nível estratégico de decisão. Para Barbieri (2007, p. 25) essa preocupação com questões ambientais, no meio empresarial, recebeu o nome de gestão ambiental, entendida como uma diretriz empresarial, que deve abranger o planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras atividades, com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente.

            Considerando-se essa questão, pela qual o gestor tomador de decisões nas organizações deve estar atento às questões de natureza ambiental, uma vez que elas trarão impacto na sociedade que se localiza no seu entorno, os contadores, responsáveis pelo fornecimento de informações econômicas e financeiras sobre as organizações, buscando auxiliar os gestores no processo de tomada de decisão, também devem ter conhecimento deste assunto, haja vista a relevância social que, atualmente, ele representa.

            Neste contexto, surgiu a seguinte questão de pesquisa: o processo de formação de futuros contadores, atualmente, está contemplando disciplinas e temáticas de natureza ambiental, no processo de formação acadêmica dos alunos, despertando interesse e alterando a percepção que os discentes tem sobre essa área?

            Visando responder a essa questão, a presente pesquisa foi realizada, visando detectar, junto aos discentes do curso de Ciências Contábeis, qual a visão que eles possuem a respeito da temática ambiental, no decorrer do curso de graduação. A relevância para tal pesquisa se deve ao crescimento da preocupação ambiental nos últimos anos e tornando-se esse um fator imprescindível na formação dos contadores que servirão as empresas nas próximas décadas.

            O artigo está elaborado em cinco partes: esta introdução, seguida dos aspectos metodológicos da pesquisa, sendo que posteriormente, são apresentadas a revisão teórica sobre os conteúdos abordados no trabalho, os resultados da pesquisa empírica e a discussão dos resultados. Finalizando, a última seção trata das conclusões do artigo.

 

2    Procedimentos Metodológicos

            Para responder à questão de pesquisa formulada, bem como para analisar os resultados provenientes das informações coletadas, foram aplicados procedimentos metodológicos específicos. Raupp e Beuren (2004, p. 79) abordam que, considerando as particularidades da Contabilidade, as tipologias de delineamentos de pesquisas podem ser agrupadas em três categorias: “pesquisa quanto aos objetivos, pesquisa quanto aos procedimentos e pesquisa quanto à abordagem do problema”. Considerando essa abordagem, a presente pesquisa pode ser caracterizada quanto aos objetivos como uma pesquisa exploratória.

            As pesquisas exploratórias, na visão de Gil (1999, p. 43), “têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos”.

            Quanto aos procedimentos, a pesquisa utilizou das técnicas de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica compreendeu o estudo aprofundado sobre os temas Meio-Ambiente, Sustentabilidade e Contabilidade Ambiental, que estivessem relacionados com o problema de pesquisa levantado. Foram consultados livros, teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos de revistas especializadas internacionais e nacionais, bem como trabalhos publicados em anais de congressos nacionais e internacionais, tendo como objetivo situar o tema de acordo com as necessidades do estudo. A partir dessas fontes de pesquisa, foi possível assegurar o embasamento teórico sobre os assuntos relacionados, bem como avaliar possíveis contribuições a esta pesquisa.

            Após terminada essa etapa, foi realizada a pesquisa de campo, com o objetivo de coletar dados junto aos estudantes do curso de graduação em Ciências Contábeis, que são os principais participantes da realidade observada. Oliveira (2003, p. 66) observa que “A grande vantagem da pesquisa de campo á obtenção de dados diretamente na realidade”.

            Para a coleta de dados foi utilizado questionário impresso dividido em duas partes, sendo a primeira com questões que caracterizavam o respondente (sexo, idade, atividade profissional, se aluno de instituição pública ou privada, etc). e a segunda parte onde eram dispostas 15 questões sobre contabilidade ambiental, que deveriam ser respondidos em uma escala do tipo Likert com 4 pontos, indo desde concordo totalmente até discordo totalmente.

A pesquisa foi realizada com discentes do curso de ciências contábeis de uma universidade pública e uma universidade privada, situadas no estado do Paraná, que atuam na modalidade de ensino presencial. Os dados foram coletados em junho de 2011, e totalizaram 345 questionários recebidos. Destes, 39 foram excluídos por erros de preenchimento ou por estarem incompletos.

Após a coleta dos questionários os dados foram tabulados e analisados com utilização da estatística descritiva e utilizou-se o Independent Sample t-test em um ponto específico onde foi necessário verificar se havia diferença estatística significante entre dois grupos. No próximo tópico é realizado uma revisão teórica sobre o conteúdo que dá embasamento ao tema ora apresentado.

 

3    Revisão Teórica

 

3.1 Ecologia e responsabilidade social

 

            Segundo Lago e Pádua (1988), os estudos sobre ecologia e meio ambiente tiveram início a partir de 1866, quando o biólogo alemão Ernest Haeckel propôs a criação de uma disciplina cuja função seria estudar as relações entre as espécies animais e seu ambiente orgânico e inorgânico. Ainda de acordo com os mesmo autores, a ecologia social, por sua vez, surgiu quando a reflexão ecológica deixou de se ocupar apenas do estudo do mundo natural para abarcar os múltiplos aspectos da relação entre os homens e o meio ambiente, especialmente a forma pela qual a ação humana costuma incidir destrutivamente sobre a natureza.

            Com o advento da Revolução Industrial, a sociedade passou por profundas transformações, que resultaram na busca por maximização dos resultados organizacionais, com a minimização respectiva dos custos e despesas envolvidas no processo de produção e colocação dos produtos acessíveis aos consumidores. A inserção da produção em série, por intermédio das técnicas difundidas por Taylor e Ford, obteve-se um ganho de escala nunca antes visto, mas que, por outro lado, preocupava-se apenas com o retorno aos acionistas.

            Para Gomes et al (2011), nos últimos anos esta situação vem mudando e a sociedade tem cobrado tanto das empresas como do governo um desenvolvimento econômico e sustentável. De acordo documento emitido pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2000), as pressões crescentes exercidas pelas organizações sobre o meio ambiente, aliadas ao aumento da consciência ambiental, tem gerado a necessidade de explicar as diversas interações que ocorrem entre todos os setores da economia e o meio ambiente, sendo que, atualmente, a Contabilidade convencional muitas vezes não consegue reconhecer os impactos provocados pela exploração e degradação do capital natural.

            A gestão ambiental das empresas, dessa forma, vem sendo tratada de forma cada vez mais efetiva por parte das empresas, que buscam com esse tratamento, muitas vezes, formas de melhor visualização de seu posicionamento perante o mercado, por intermédio de ações de natureza social e ambiental.

            Para Brandão et al (2010, p. 83) é importante destacar o potencial que a Contabilidade tem, como uma ciência da informação, para gerar subsídios aos seus usuários, que estejam relacionados com a temática ambiental.  Com a mesma visão, Beckhan e Lima (2010, p. 19) asseveram que a Contabilidade Ambiental é útil para assuntos relacionados à sustentabilidade, uma vez que permite fornecer informações a respeito do patrimônio ambiental, também considerando os efeitos ocasionados pelos danos ao meio ambiente, que possam ser mensurados em moeda.

            Tachizawa (2002, p. 73) enfatiza que uma organização somente é efetiva quando mantém uma postura socialmente responsável. Dentre os fatores que podem influenciar nessa postura, a questão ambiental destaca-se como uma das que apresentam maior representatividade, uma vez que dificilmente uma empresa será considerada com responsabilidade social, se for ambientalmente negligente.

            Na visão de Tinoco (2001, p. 99) a Contabilidade, principal sistema de informações de uma organização, não pode desconhecer as questões de natureza ambiental. Considerando-se essa proximidade existente entre questões de natureza ambiental e a Contabilidade, o próximo tópico trata das interações existentes entre a denominada Contabilidade Ambiental e o processo de formação dos futuros contadores.              

           

3.2 Contabilidade Ambiental e o processo de formação do contador 

 

            Atualmente, existem mais de 600 cursos de Ciências Contábeis autorizados a funcionar, de acordo com dados disponíveis no sítio do Ministério da Educação (MEC). Segundo diretiva para elaboração de um programa de estudos mundiais em contabilidade, oriundo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, no ano de 1998, já havia uma recomendação de que é necessária uma adequação dos conteúdos em relação à atualidade dos temas, conforme novas questões que se apresentem, como é o caso de novos instrumentos financeiros e da contabilidade ambiental (ONU, 1998).

            Já as diretrizes curriculares do Ministério da Educação (MEC), para o curso de Ciências Contábeis, de acordo com a Resolução CNE/CES 10, de 16 de Dezembro de 2004, não há qualquer menção específica a respeito de temas da área Ambiental, Sustentabilidade ou termo assemelhado. De forma genérica, as diretrizes estabelecem, em seu artigo 4º, inciso IV, que os egressos devem possuir habilidade para a construção de valores orientados para a cidadania.

            Considerando-se essa situação-problema, na qual as questões ligadas aos temas ambientais e de sustentabilidade, apesar de sua grande importância nos dias atuais, não está presente nas diretrizes obrigatórias para os graduandos em Ciências Contábeis, surgiu a necessidade de se verificar a existência de abordagens ligadas a esses temas, seja por intermédio de atividades independentes, estudos transversais ou ainda, por intermédio de uma abordagem interdisciplinar.

            Utilizando-se dos recursos metodológicos descritos na seção 2, os dados coletados serão analisados e discutidos na próxima seção.

 

4    Análise e Discussão dos Resultados

           

Visando analisar de forma mais apurada os dados coletados, a análise foi segregada em dois tópicos, onde inicialmente evidencia-se as características dos pesquisados e em segundo ponto são aprofundados e discutidos os resultados da pesquisa com os discentes sobre contabilidade ambiental.

 

            4.1 Análise dos respondentes

 

            Inicialmente, conforme descrito na metodologia, os discentes eram pertencentes a duas instituições de ensino superior, sendo uma particular e outra pública. A coleta foi nos 4 anos do curso, sendo que no geral houve uma concentração maior nas turmas de 1º e 2º ano do curso (TABELA 1).

 

Tabela 1 – Respondentes por série e instituição

Série

Pública

Privada

Total

Freq.

%

Freq.

%

Freq.

%

38

26%

83

51%

121

40%

24

17%

44

27%

68

22%

21

15%

35

22%

56

18%

61

42%

0

0%

61

20%

TOTAL

144

100%

162

100%

306

100%

Fonte: Elaborada pelos autores

 

        Tabela 2: Atividade profissional dos respondentes

Atividade Profissional

Freq.

%

 

Tabela 3: Faixa etária

Entidade Privada – Setor Contábil

131

43%

 

Faixa Etária

Freq.

%

Entidade Privada – Outros Setores

99

32%

 

Até 20 anos

78

25%

Entidade Pública – Setor Contábil

6

2%

 

De 20 a 25 anos

154

50%

Entidade Pública – Outros Setores

17

6%

 

De 26 a 30 anos

51

17%

Profissional Autônomo

3

1%

 

acima de 30 anos

23

8%

Estudante

40

13%

 

TOTAL

306

100%

Outros

10

3%

 

 

TOTAL

306

100%

 

 

 

 

Fonte: Elaborada pelos autores

 

            Em relação a atividade profissional nota-se que grande parte dos estudantes atua no setor contábil de entidades privadas, a grande maioria dos estudantes estão na faixa etária de até 25 anos e em relação ao gênero, 51% (157) são do sexo feminino.

           

            4.2 Análise dos Tópicos de Contabilidade Ambiental

 

            Uma vez realizada a exposição das características dos respondentes que forneceram os dados para essa pesquisa, passa-se agora para a análise e discussão das questões sobre contabilidade ambiental. O questionário apresentava itens que avaliavam o interesse sobre o tema, contato anterior que os alunos poderiam já ter com o assunto (como participação em eventos, livros, comentários de professores nas aulas, etc.) e também sobre o conhecimento específico sobre o conteúdo.

            A seguir (TABELA 4) apresentam-se os resultados de todas as questões e as maiores concentrações de resposta ficam destacadas para facilitar a localização. No topo da tabela estão dispostos as respostas que poderiam ser assinaladas pelos alunos, que eram: Concordo Totalmente (CT), Concordo Parcialmente (CP), Discordo Parcialmente (DP) e Discordo Totalmente (DT).

            No tocante ao contato (Q1, Q2, Q8 e Q9) que os alunos já tiveram com Contabilidade Ambiental, pode-se constatar que grande parte dos alunos identificaram que não cursaram disciplina, não participaram de evento e não tiveram contato com material que abordou o assunto de contabilidade ambiental.

Em pesquisa realizada por Reis, Nogueira e Tarifa (2011), pode-se constatar que há uma produção concentrada em poucos autores e ainda incipiente de livros em língua portuguesa nesta área, esta constatação pode dar embasamento ao porque do baixo contato dos alunos com esse conteúdo. Pois com a concentração dos números de autores e poucos livros, pode dificultar a expansão dessa disciplina.

            Os docentes também podem ser uma fonte de acesso importante para a contabilidade ambiental chegar aos alunos do curso, uma vez que estes poderiam separar uma aula no semestre para discutir esse conteúdo em específico, ou abordá-lo nos seus exemplos durante os conteúdos ministrados ao longo do semestre, como ao falar de ativo, explicitar que existem também os ativos ambientais, e da mesma forma com os demais conteúdos.

 

Tabela 4: Resultados da parte II do questionário

ITEM

CT

CP

DP

DT

TOTAL

Q1. Já cursei alguma disciplina ou participei de curso sobre contabilidade ambiental ou correlata.

24

18

24

240

306

8%

6%

8%

78%

100%

Q2. Já participei de evento (Congresso, seminário, ciclo de estudos, etc) que abordou o assunto Contabilidade Ambiental.

52

33

37

184

306

17%

11%

12%

60%

100%

Q3. Tenho interesse em aprofundar meus conhecimentos sobre a área de Contabilidade Ambiental.

118

129

31

28

306

39%

42%

10%

9%

100%

Q4. Acredito que a carreira na área de Contabilidade Ambiental seja promissora.

110

132

49

15

306

36%

43%

16%

5%

100%

Q5. Se houvesse uma disciplina optativa de Contabilidade Ambiental, eu realizaria minha matrícula nessa disciplina.

95

104

77

30

306

31%

34%

25%

10%

100%

Q6. Acredito que a Contabilidade Ambiental seja importante na formação do contador.

125

125

46

10

306

41%

41%

15%

3%

100%

Q7. A sociedade (Empresas, associações,Governo,etc) acredita que um contador deva ter formação na área ambiental.

56

115

94

41

306

18%

38%

31%

13%

100%

Q8. Já tive contato com algum material impresso (livro, revista, artigo, etc.) na área de Contabilidade Ambiental.

53

49

50

154

306

17%

16%

16%

50%

100%

Q9. Durante o curso, um ou mais docentes já relataram a existência e a importância da Contabilidade Ambiental nos dias atuais.

47

73

83

103

306

15%

24%

27%

34%

100%

Q10. O tema Contabilidade Ambiental deve ser inserido em todas as disciplinas de Contabilidade do curso de Ciências Contábeis.

73

134

72

27

306

24%

44%

24%

9%

100%

Q11. Gastos realizados para gerenciar os impactos das atividades da empresa, de forma ambientalmente sustentável, devem ser classificados como DESPESA AMBIENTAL de uma empresa.

94

121

64

27

306

31%

40%

21%

9%

100%

Q12. A restauração, descontaminação, tratamento de emissões e depreciações de equipamentos são classificados como custos ambientais de uma empresa.

81

119

74

32

306

26%

39%

24%

10%

100%

Q13. Estoques, provisão para desvalorização, depreciação acelerada e  Goodwill, fazem parte do ATIVO AMBIENTAL de uma empresa.

57

126

63

60

306

19%

41%

21%

20%

100%

Q14. A demonstração do Valor Adicionado faz parte do Balanço Social.

78

117

66

45

306

25%

38%

22%

15%

100%

Q15. O balanço Social possui uma parte dedicada a informações de natureza ambiental.

83

118

53

52

306

27%

39%

17%

17%

100%

Fonte: Dados dos questionários

 

            Quando analisado sob a ótica do interesse (Q3, Q4, Q5 e Q6) dos alunos, verificou-se um grande interesse por parte dos alunos, sendo que 82% dos alunos afirmou concordar que essa disciplina é importante para a formação do contador. Percentual semelhante dos alunos também indicou ter interesse em aprofundar seus conhecimentos nesta área. Uma das formas de aprofundar os conhecimentos nesta área poderia ser a oferta de uma disciplina com esse conteúdo na grade curricular do curso e, desta forma, perguntou-se aos alunos se teriam interesse em cursar uma disciplina optativa com essa ementa, sendo que do total de respondentes 65% confirmaram que cursariam essa disciplina se ela estivesse disponível.

            Quando comparado as análises de interesse entre os alunos da universidade pública e da privada (TABELA 5), houve um ligeiro distanciamento entre as concordâncias em algumas questões, uma vez que na privada 29% dos alunos disseram discordar que contabilidade ambiental seja uma carreira promissora, enquanto na pública esse percentual foi de 12%, essa suave discordância poderia apresentar indícios que justifiquem porque 43% na instituição privada e 25% dos alunos na pública não cursariam essa disciplina caso ela fosse ofertada de maneira optativa. Em ambas as instituições 68% dos alunos concordaram que este conteúdo poderia ser inserido nas disciplinas do curso.

 

Tabela 5: Interesse pelo conteúdo

 Item

PRIVADA

PÚBLICA

CT

CP

DP

DT

CT

CP

DP

DT

3. Tenho interesse em aprofundar meus conhecimentos sobre a área de Contabilidade Ambiental.

58

73

16

15

60

56

15

13

36%

45%

10%

9%

42%

39%

10%

9%

4. Acredito que a carreira na área de Contabilidade Ambiental seja promissora.

47

68

36

11

63

64

13

4

29%

42%

22%

7%

44%

44%

9%

3%

5. Se houvesse uma disciplina optativa de Contabilidade Ambiental, eu realizaria minha matrícula nessa disciplina.

31

61

49

21

64

43

28

9

19%

38%

30%

13%

44%

30%

19%

6%

6. Acredito que a Contabilidade Ambiental seja importante na formação do contador.

57

67

29

9

68

58

17

1

35%

41%

18%

6%

47%

40%

12%

1%

Fonte: Dados dos questionários

 

Visando verificar se essa diferença era estatisticamente significativa, utilizou-se o teste Independent Sample t-test, para verificar a diferença de médias entre os dois grupos (alunos da instituição pública e privada). Ao realizar o teste (TABELA 6) pode-se verificar que para as Q4 e Q5 houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Sendo assim, pode-se verificar que há uma diferença estatística na opinião de alunos das duas instituições no tocante a entender a contabilidade ambiental como uma carreira promissora e quanto a querer cursar essa disciplina.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tabela 6: Teste-t

 

Teste de Levene

Teste-t para igualdade de médias

 

F

sig.

t

df

sig.

(bi-caudal)

Diferença média

Diferença do desvio padrão

 

Q4

Igualdade das variâncias assumida

0,979

0,323

3,814

304

0,000

0,360

0,094

 

Sem igualdade de variâncias

 

 

3,852

303,182

0,000

0,360

0,093

 

            Q5

Igualdade das variâncias assumida

0,200

0,655

4,611

304

0,000

0,495

0,107

 

Sem igualdade de variâncias

 

 

4,611

299,857

0,000

0,495

0,107

 

Q9

Igualdade das variâncias assumida

0,364

0,547

2,355

304

0,019

0,287

0,122

 

Sem igualdade de variâncias

 

 

2,357

300,857

0,019

0,287

0,122

 

Fonte: Dados dos questionários

 

            Em busca de razões que fundamentassem essa diferença, continuou-se a análise dos demais itens, e pode-se verificar que os alunos da universidade pública apresentaram maior concordância quanto a terem durante o curso algum docente que relatou a existência e importância da contabilidade ambiental. Nesse sentido, esse achado pode indicar que talvez os alunos na instituição privada não tenham sido apresentados devidamente ao conteúdo, e por isso essas diferenças podem ter surgido. Isso reforça o argumento que para o apropriado desenvolvimento desse conteúdo e para que ele chegue aos discentes, é imprescindível a participação efetiva do docente.

            Dando sequência a análise, questionou-se os alunos sobre alguns pontos mais específicos sobre contabilidade ambiental (Q11, Q12, Q13, Q14 e Q15), para analisar seu domínio do conteúdo.

            Na visão de Ribeiro (2006, p. 50), “consideram-se como despesas ambientais todos os gastos envolvidos com o gerencialmente ambiental, consumido no período e incorridos na área administrativa.”. Visando detectar se os alunos tinham uma razoável noção deste tópico, analisou-se o item Q11, que indicou que 71% dos alunos concordaram (parcial ou totalmente) com essa afirmação.

            No item Q12, 65% dos respondentes concordaram com a afirmação sobre os custos ambientais, sendo assim, eles atribuíram corretamente os custos com gastos ambientais aos custos do período. Em concordância, Ribeiro (2006, p. 52) afirma que “os custos ambientais devem compreender todos aqueles relacionados diretamente ou indiretamente, com a proteção do meio ambiente”.

            Martins e De Luca (1994, p. 26) conceituam ativo ambiental como todos os bens da empresa que visam à preservação, proteção e recuperação ambiental. Com relação à Q13, o objetivo foi apresentar um conceito errôneo aos respondentes, visando detectar se eles saberiam distinguir o conceito de Ativos Ambientais dos demais ativos de uma organização. Dessa forma, foram apresentados termos como Estoques (Ativo Físico), Depreciação Acelerada (redução de ativos) e Goodwill (expectativa de rentabilidade futura adquirida, podendo ser classificada como Ativo Intangível), como sendo integrantes do Ativo Ambiental de uma empresa. Para 61% dos respondentes, essas contas constituíram parte do Ativo Ambiental, demonstrando que há um certo grau de desconhecimento a respeito do que sejam e quais os critérios para classificação de um Ativo como Ativo Ambiental.

            Quando analisado se a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) fazia parte do balanço social (Q14), 64% dos alunos concordaram que aquela era parte integrante deste. E em último ponto, verificou-se o conhecimento dos estudantes sobre as publicações de natureza ambiental no balanço social. Neste sentido, 66% dos alunos concordaram conhecer que no balanço social há esse campo para transmissão dessa informação.

            Em síntese, pode-se dizer que mesmo o contato com a contabilidade ambiental sendo afirmado pelos alunos como pequeno, os mesmos tem conhecimentos medianos do conteúdo. Contudo, para um maior aprofundamento dos conhecimentos deles nesta área poderia ser sugerida a inclusão de uma disciplina com esse conteúdo na grade curricular do curso, ou uma maior inserção desse conteúdo nas disciplinas já existentes no curso.

 

5    Considerações Finais

            Nas últimas décadas, pode-se constatar o aumento da preocupação ambiental na sociedade como um todo, inclusive nos mercados mais capitalistas. Nesse sentido, incluir o tema meio ambiente dentro da contabilidade é uma questão imprescindível, pois só assim ela poderá continuar cumprindo seu papel de fornecer informações úteis aos seus usuários.

            Ao analisar a contabilidade ambiental sob a ótica dos discentes em ciências contábeis, pode-se verificar que os alunos tiveram pouco contato com disciplinas, eventos (congressos, seminários, etc.) ou material didático que retratasse sobre esse assunto. Contudo, notou-se um interesse por parte dos alunos nessa temática, que afirmaram estar dispostos a aprofundarem seu conhecimento nesse conteúdo e até fazer uma disciplina optativa nessa disciplina caso esta fosse oferecida.

            Com relação ao domínio em aspectos básicos da contabilidade ambiental, pode-se verificar que em boa parte dos pesquisados os alunos tem ao menos razoável conhecimento das classificações de custos e despesa ambiental, contudo, ainda é necessário um maior enfoque nesse conteúdo para que os discentes possam expandir seus conhecimentos nesta área.

            Considerando essa necessidade de expansão da disciplina, os docentes parecem ser o caminho mais próspero para facilitar essa difusão, pois segundo os dados da pesquisa os alunos que admitiram ver a contabilidade ambiental como uma carreira promissora são aqueles discentes que afirmaram já ter ouvido relato de algum docente sobre a importância desse novo campo de aplicação da contabilidade.

            Como limitações da pesquisa aponta-se que a investigação foi realizada em apenas duas instituições, sendo uma pública e uma privada, ambas na mesma cidade e em um mesmo estado, o que dificulta a generalização dos resultados. Sugere-se para futuras pesquisas que sejam analisadas a relevância sob a ótica dos discentes dessa disciplina antes e depois dela ser ministrada e qual sua contribuição para os alunos.

 

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Ilustrações: Silvana Santos