Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2011 (Nº 37) DESENCONTRO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA DOCENTE E AS CONSEQUÊNCIAS NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA
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DESENCONTRO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA DOCENTE E AS CONSEQUÊNCIAS NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA

DESENCONTRO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÁTICA DOCENTE E AS CONSEQUÊNCIAS NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA

 

Gorete Alves de Moura1; Vanda Maria de Lira2

 

1 Licenciada em Pedagoga. Professora Municipal 1º e 2º ciclos. Taquaritinga do Norte-PE; e-mail: goreteam@hotmail.com

2 Doutora em Engenharia Agrícola. Universidade Federal de Campina Grande, UFCG, Campina Grande-PB; e-mail: vandalira@yahoo.com.br

 

RESUMO: A Educação Ambiental é uma ação educativa permanente pela qual a sociedade deve tomar consciência da realidade global e refletir sobre as relações dos indivíduos com o Meio Ambiente. Trata-se de uma temática interdisciplinar importante e necessária, dentro do contexto sala de aula, por proporcionar o desenvolvimento de uma postura crítica e participativa, contribuindo para uma melhor compreensão de suas ações e alternativas de proteção a natureza. A Educação Ambiental na Formação de Professores é vista como um passo para o desenvolvimento de novas atitudes e possíveis mudanças no perfil de uma sociedade em que o sentimento de bem-estar está diretamente relacionado aos padrões de consumo. O presente trabalho foi realizado em uma Escola Pública da Cidade de Santa Cruz do Capibaribe – PE e objetivou analisar as práticas docentes e sua aplicação na formação inicial do curso Normal Médio. Para coleta dos dados foram aplicados questionários entre professores e alunos e os resultados demonstram que há certa preocupação quanto às questões ambientais; mas tais questões não estão sendo devidamente trabalhadas em sala de aula que é uma das metas propostas pela Educação Ambiental.

Palavras-chave: Educação sustentável, formação inicial, construção da cidadania.

 

DISAGREEMENT OF ENVIRONMENTAL EDUCATION IN TEACHING PRACTICE AND THE CONSEQUENCES ON CITIZENSHIP EDUCATION

 

ABSTRACT: Environmental education is a permanent educational action for that the society must understand the global reality and to reflect about the relationships of mankind with the environment. It is an important and necessary interdisciplinary thematic in the classroom context, providing the development of a critical and participative attitude which contributes to a better understanding of its actions and alternatives for nature protection. The environmental education for teacher’s education is seen as a step towards development of attitudes and possible changes on behavior of a society that the welfare sense is based in the consumption patterns only. This work was realized in a Public School in Santa Cruz do Capibaribe City, Pernambuco State and had as objective to analyze the teaching practice and its application in the elementary education of the apprentice course. For the data collect it was applied questionnaires amongst teachers and students and the results showed that there is an awareness of teachers and students in relation to environmental questions, but such questions are not being worked properly in classroom, which it is one of the goals proposed by environmental education.

Keywords: Sustainability education, elementary education, citizenship building.

 

 

INTRODUÇÃO

 

As discussões sobre o Meio Ambiente tiveram início logo após a segunda guerra mundial diante da devastação por ela provocada e do intenso processo industrial. Mas foi a partir da década de 60 que ambientalistas e ecologistas despertaram para a necessidade de recuperar os recursos naturais já degradados, como também encontrar meios para preservar àqueles que ainda não sofreram intensa ação antrópica. A partir daquele despertar surgiram algumas conferências que ocorreram ao longo dos anos, unindo vários países e ONGs (Organizações Não Governamentais) em busca de soluções para amenizar os impactos causados ao Meio Ambiente.

Dentre as principais conferências pode-se destacar a de 1968, organizada pela UNESCO, que reuniu 79 países para a formulação de proposições que definia o ambiente não apenas como meio físico, mas como meio também social, cultural, econômico e político. Em 1972 em Estocolmo na Suécia, houve a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, gerando o primeiro Programa Internacional de Educação Ambiental, que foi consolidado em 1975 pela Conferência de Belgrado. Dois anos depois foi realizada a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi na Geórgia, na qual foram definidos os objetivos da Educação Ambiental e o ensino formal foi indicado como um dos eixos fundamentais para conseguir atingir tais objetivos. Na década seguinte, 1987, realizou-se a Conferência Internacional sobre a Educação e Formação Ambiental em Moscou, em que foi verificada a necessidade de introduzir a Educação Ambiental nos sistemas educativos do país como também foram feitas sugestões para sua introdução. No Brasil foi realizada a Conferência Rio 92, na cidade do Rio de Janeiro, que reuniu o Fórum Global com a participação de 170 países, e naquela ocasião foram propostos alguns tratados, entre eles o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que até o presente não se verificou efeitos relevantes.

O Meio Ambiente é um dos requisitos indispensáveis no currículo escolar por se tratar de uma questão cada vez mais freqüente na vida dos cidadãos; de modo que surge a importância de se abordar esta temática no contexto sala de aula com vistas a proporcionar uma maior reflexão das inter-relações do homem com a natureza, de suas ações diretas e indiretas e das conseqüências retratadas na qualidade de vida ambiental, individual e coletiva de todos os seres.

Tomando como princípio básico o ensino das Ciências Naturais, a Educação Ambiental além de tratar das questões ambientais, contribui para a formação de uma sociedade mais preocupada com a vida e sustentabilidade do planeta, apresentando, no entanto, complexidade ao ser trabalhada no cotidiano escolar devido a preparação insipiente dos docentes, a falta de recursos e informações ou até mesmo do interesse de alguns profissionais para trabalhar este tema. Para Segura (2001), apesar da dificuldade de produzir um conhecimento integrado numa sociedade que radicalizou a divisão dos saberes em especialidades, a Educação Ambiental resgata a importância de trabalhar com as diversas áreas do conhecimento na leitura do ambiente, que, por definição é complexo e não está segmentado. A Educação Ambiental é uma temática interdisciplinar, importante e necessária dentro do contexto sala de aula por proporcionar o desenvolvimento de uma postura crítica e participativa nos educandos em relação ao Meio Ambiente, contribuindo para uma melhor compreensão de suas ações e alternativas de proteção a natureza.

A necessidade de introduzir e implementar a Educação Ambiental nas escolas conduz a outros fatores ou seja; como o tema está sendo vivenciado junto aos educandos, bem como a disponibilidade dos subsídios necessários e informações utilizadas pelos educadores diante de muitas dificuldades encontradas para a prática da mesma, e outro fator é se os educadores estão sendo formados para este fim.  Desse modo, além de considerar a questão interdisciplinar da Educação Ambiental, se faz necessário avaliar o papel da escola na construção da cidadania, a responsabilidade com a formação dos educadores e a co-participação dos gestores públicos.

Este trabalho teve como principal objetivo analisar as práticas docentes em Educação Ambiental e sua aplicação na formação inicial de futuros professores do curso Normal Médio.

 

A formação do professor em educação ambiental

 

A Educação Ambiental é um processo educativo que consiste no desenvolvimento de atividades e idéias voltadas para o conhecimento do Meio Ambiente e a utilização de maneira racional dos recursos naturais (Medina, 2006). Mais que um processo educativo, as questões ambientais estão diretamente ligadas às questões culturais, da organização do homem no espaço e as adaptações no seu modo de vida. A importância de se introduzir a Educação Ambiental em diferentes esferas do conhecimento dá-se a partir desses conceitos como uma forma de sobrevivência, porém, observa-se que o presente termo se distancia da realidade vivida. De acordo com Martins et al. (2000) a Educação Ambiental nas escolas tem o compromisso com a construção do sujeito crítico, ético, autônomo, solidário e responsável; além de competente, hábil e criativo para a resolução adequada dos problemas impostos por uma sociedade em constante transformação.

A educação ambiental é uma prática originalmente extrema ao ensino formal, cujos contornos estão mais marcados pela ação e pela intervenção nas realidades encontradas. Uma vez introduzida no ambiente escolar formal, a Educação Ambiental deverá se adequar em parte à natureza deste, mais voltado à reflexão, como elemento essencial da formação intelectual do aluno (Oliva, 2000).

A visão do autor mostra que a realidade do aluno junto ao ensino formal é a fórmula mais adequada de se entender o meio em que se vive e refletir sobre o mesmo. Ele defende a idéia de que, não é apenas o ensino formal que contribui para a prática ambiental, mas também as relações no contexto informal que o aluno está inserido. Ele completa que a prática escolar com base nas disciplinas clássicas, de certo modo congelou-se. Mesmo nos grandes centros e nas principais escolas, o conhecimento escolar está burocratizado e afastado da realidade.

Carvalho e Vianna, (2002), definem dois pressupostos essenciais à formação do professor, o primeiro é que a formação comporta uma dimensão que transcende os objetivos programáticos dos cursos e as metodologias de capacitação; trata-se da formação de uma identidade pessoal e profissional. O outro é que quando se fala de Educação Ambiental, se refere a um projeto pedagógico herdeiro do ecologismo. Percebe-se que a formação do professor vai além dos conteúdos programados e da capacitação dos mesmos para a prática em sala de aula. Dessa forma, o preparo para esta prática depende também de uma formação de identidade que em outras palavras, é a formação de um ser renovado, pronto para qualquer mudança. Em se tratando de mudança, sabe-se que o debate ambiental ainda não chegou como deveria aos cursos de formação de professores; tão pouco tem conseguido estar presente nos momentos chave da organização do trabalho educativo na escola, como por exemplo; na definição dos projetos pedagógicos, dos planos de trabalho, do uso do tempo em sala de aula, do planejamento da escola, da distribuição das atividades no tempo de remuneração dos professores.

Contudo, observa-se que a questão ambiental ainda não é um assunto efetivamente desenvolvido, tanto na formação inicial, quanto na continuada, e como consequência, há certo desinteresse por parte dos educadores ou até mesmo, torna-se um desestímulo para trabalhar com as questões relacionadas ao Meio Ambiente. Isto é muito preocupante pelo fato de que muitos problemas surgem a cada dia e com eles a pergunta: Por onde e com quem começar?

Quando se fala em formação de professores, estamos nos referindo tanto à formação inicial como a formação em serviço. O Plano Nacional de Educação Ambiental (PNEA) chama a formação em serviço de atualização e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de formação continuada em serviço, conforme seu art. 67, inciso II. (Vianna, 2002)

De acordo com a Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999 da Política Nacional de Educação Ambiental em seu artigo 5º trata: Da inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino e recomenda como referências os Parâmetros e as Diretrizes Curriculares Nacionais, observando-se:

I - a integração da Educação Ambiental às disciplinas de modo transversal, contínuo e permanente;

II - a adequação dos programas já vigentes de formação continuada de educadores;

Observa-se que a atualização consta tanto na LDB como no PNEA, Leis 9.394/96 e 9.795/99 respectivamente, que tratam da questão da formação continuada e/ou em serviço do professor. Mas será que isso realmente acontece? Poucas Secretarias de Educação investem na formação continuada na área de Educação Ambiental. E aí surge o conflito: como é que queremos que os nossos alunos lutem como defensores da natureza, se na verdade não fomos formados ou não estamos sendo formados para orientá-los? Daí então, surgem os desafios da implementação da Educação Ambiental nas escolas.

Vianna (2002) enfatiza cinco blocos de desafios: no primeiro ele fala da interdisciplinaridade, mudança de atitudes e valores, acesso a conteúdos do Meio Ambiente, intervenção da realidade por meio de projetos, desenvolvimento de valores éticos. Tudo isso, implica em planejamentos participativos e coletivos. O segundo diz respeito à infra-estrutura organizacional da escola para a implementação dos projetos com o apoio político institucional. O terceiro é que a Educação Ambiental é um tema pouco explorado e ainda não está incorporado a estrutura, as políticas e programas do sistema de ensino. O quarto que chama mais atenção é a falta de motivação dos educadores pela desvalorização profissional em termos de situação salarial, a ausência na carga horária e no calendário escolar, de tempo para formação permanente. O quinto e último, refere-se à ausência do tema Meio Ambiente na formação inicial desses professores. Ainda segundo o autor é imprescindível; incentivar a prática de formação continuada, entender o universo escolar dos docentes como espaço de aprendizagem, vivência, reflexão e discussão de referenciais éticos necessários e constituidores de toda e qualquer ação de cidadania e trocas de experiências a partir de trabalhos coletivos.

Portanto, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, sobre a Educação Ambiental, a prática da mesma, com essa perspectiva, exige que o educando possua além de um amplo conhecimento sobre a problemática ambiental, que naturalmente inclui a gestão ambiental, capacidade tanto para desenvolver ações educativas com grupos culturalmente diferenciados, quanto para mediar situações conflituosas que envolvem interesses de vários autores sociais envolvidos na disputa pelo controle e uso dos recursos ambientais. No entanto, o sistema educacional brasileiro ainda não forma um profissional com este perfil. Os cursos de introdução à educação no Processo de Gestão Ambiental, enquanto experiência pioneira no Brasil vem contribuindo para preencher esta lacuna.

 

A educação ambiental na formação da cidadania

 

A principal função do trabalho com a temática ambiental é a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental, comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade como um todo (Brasil, 2001). Diante disso, o educador tem um papel fundamental nessa formação para a cidadania, pois dará o subsídio para que os educandos formem a capacidade de decidirem e atuarem sobre o Meio Ambiente de forma consciente, de modo que perceba as limitações da natureza, colocando como principal ponto o direito à vida e a conservação da mesma ao passo que contribua para o bem- estar coletivo.

O objetivo principal da questão ambiental é desenvolver nos alunos uma postura crítica sobre a realidade, sobre os fatos que ocorrem a sua volta e aqueles trazidos pela mídia e outras fontes de informações como a Internet. Por isso, faz-se necessário um estudo dos fatos para que se entenda a relação de causa e conseqüência, através de uma investigação aprofundada que busque sempre soluções desejáveis. Para tanto, o professor deve conhecer o assunto, buscar junto com seus alunos informações atualizadas.

Para que se entenda a realidade vivida hoje, é necessário um conhecimento sobre os espaços; tanto o urbano como o rural e é importante que o educando conheça as relações sócio-econômicas, culturais, políticas com a questão da degradação e preservação, do consumismo e da conservação do Meio Ambiente; e, para os professores é importante conhecer o significado mais preciso desses termos e as Leis de proteção ambiental que incidem sobre a região em que a escola está inserida.

A sensibilização quanto a preservação da natureza só acontece com sucesso quando o sujeito entra em contato com a mesma. Fica óbvio a importância da relação direta com o Meio Ambiente e cabe a escola desempenhar essa função sem necessidade de se distanciar para entender os problemas que ocorrem com o Meio Ambiente; é só observar o seu entorno e verificar a proximidade da realidade. Além de conhecer os conceitos de; proteção, preservação, conservação, recuperação, degradação, sustentabilidade e diversidade, relativos ao Meio Ambiente há um fator definitivo à prática da Educação Ambiental: a ética. É preciso incorporar elementos éticos à Educação Ambiental, possibilitar a passagem da ética antropocêntrica para a ética biocêntrica e para o exercício da solidariedade intra e intergeracional (Medina, 2006).

Fica evidente que a Educação Ambiental vai além dos conceitos físicos e se complementam com os princípios éticos, antropocêntricos, ou seja, a ética humana que, de um modo geral precisa passar por um processo de reeducação de valores sociais e principalmente biológicos. Para Coimbra et al. (2002), o homem moderno perdeu a visão histórica e transcendental da ética. Ele brinca com éticas de ocasião, com valores relativos, tem seu jogo do faz de conta nas éticas classistas ou corporativas, assim como na chamada “moral de situação”, mas não sabe como encarar o mundo que nasce agora, nem como se inserir nele, desempenhar seu papel e manter a sua dignidade que é fundamental.

O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo e não para um grupo restrito, concretiza-se a partir da possibilidade de cada pessoa de ser portadora de direitos e deveres e de se converter, portanto, em atos co-responsáveis pela defesa da qualidade de vida (Feldmann et al., 2002). Com isso, percebe-se que todos a partir de seus direitos e deveres têm a responsabilidade de contribuir para uma boa qualidade de vida, como também desfrutar da mesma. E para se obter isso, é necessário uma análise dos modelos de desenvolvimento social e econômico, que nos dias atuais se torna uma questão preocupante.

O que preocupa ainda mais, além da desinformação é a omissão das pessoas quanto às questões ambientais. Mesmo as que têm acesso às informações, ainda continuam contribuindo para o agravamento dos problemas que ocorrem com o Meio Ambiente. Atribui-se a essa atitude a falta de consciência geral. Para isso, é necessário todo um investimento das Políticas Públicas em ações e projetos que mobilizem a população ao conhecimento dos principais problemas e fatores que causam a destruição do Meio Ambiente, como também, buscar as possíveis soluções para os mesmos. A população deve ser orientada e conscientizada de que os problemas que ocorrem não são apenas do outro, mas de si próprio e que juntos torna-se um problema de todos. Além do investimento em Políticas Públicas, o investimento na Educação Ambiental pode ser um fator determinante para a mudança de comportamento. E como se relaciona Educação Ambiental com a cidadania? A cidadania está relacionada com um pertencimento e a identidade em uma coletividade. A Educação Ambiental, como formação e exercício da cidadania, está relacionada com uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada em uma nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens (Feldmann et al., 2002).

Daqui a alguns anos, a questão ambiental não será mais a de degradação, será a de sobrevivência. Portanto, cabe a nós como cidadãos fazer algo agora para que a nossa qualidade de vida não seja comprometida no futuro e através da educação formar novos indivíduos.

 

MATERIAL E MÉTODOS

           

O estudo foi conduzido em uma Escola Pública da rede pernambucana de ensino da cidade de Santa Cruz do Capibaribe, situada no agreste setentrional do Estado entre as coordenadas geográficas; Latitude  07°57’27” S, Longitude 36°12’17” e altitude de 438 m. A cidade foi fundada em 1953 e possui uma área de 369,6 km², população de aproximadamente 90.000 habitantes e conta com um desenvolvido e crescente pólo comercial da indústria têxtil.

A escola foi fundada em 11/12/1972 e está localizada no centro da cidade, na Avenida 29 de dezembro. Aberta a um público de 1400 alunos distribuídos nos turnos manhã, tarde e noite, oferecendo os cursos do Ensino Fundamental II e Médio, incluso a modalidade Normal Médio que é o curso de Formação Inicial de Professores, objeto deste estudo, o qual foi iniciado em 1982 e já formou 23 turmas de professores.

Atualmente o curso de Formação Inicial de Professores conta com um total de 104 (cento e quatro) alunos, divididos entre os turnos manhã e tarde, este com o maior número de alunos. A faixa etária dos alunos varia entre 14 e 61 anos e o gênero predominante é o feminino. A escola possui um corpo docente constituído de 35 (trinta e cinco) profissionais. Em termos de infra-estrutura a escola tem 12 salas de aula, 10 sanitários, cozinha, biblioteca, laboratório de informática, laboratório científico, auditório, quadra coberta, almoxarifado, depósito para merenda, sala de professores, sala de diretor, sala do grêmio e uma sala para a coordenação.

No referido estudo utilizou-se de pesquisa bibliográfica, de observação e de campo. Na pesquisa bibliográfica foram utilizados livros, revistas, informações eletrônicas para melhor embasamento teórico a respeito da temática abordada. Na pesquisa de observação foi identificado, em termos qualitativos, o espaço físico, como sala de aula e/ou outros ambientes da escola, bem como uma análise ética na formação de atitudes e comportamentos relacionados ao Meio Ambiente. Por fim a pesquisa de campo através de registro de opiniões.

A amostra da pesquisa foi composta por um grupo de alunos e professores do curso Normal Médio das séries compreendidas entre o 1º e 4º ano do turno da tarde, sendo 20 (vinte) dos 71 (Setenta e um) alunos, escolhidos aleatoriamente em cada ano; ou seja: 4 sub-amostras de 5 (cinco) alunos; 6 professores, com a função também de secretário e vice-diretor, totalizando 26 pesquisados que foram selecionados utilizando-se da ética e respeito quanto a disposição de cada um em contribuir com o estudo. Para efetivação deste utilizou-se como instrumento de coleta de dados, questionários diferenciados para alunos e professores, com questões objetivas e subjetivas relacionadas à prática da Educação Ambiental na sala de aula e sua influência na Formação Inicial de Professores.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Após tabulação e análise dos dados contidos nos questionários aplicados com os docentes, observa-se que os mesmos encontram-se na faixa etária entre 25 e 50 anos, sendo cinco deles natural do Estado de Pernambuco e um do Estado da Paraíba. Todos têm curso superior com pós-graduação, sendo um em nível de Mestrado, predominando o sexo feminino sobre o masculino. Dentre os pesquisados quatro afirmaram ter mais de 10 anos de experiência em sala de aula, um entre 5 e 10 anos e o outro menos de 5 anos de experiência e lecionam disciplinas que variam de acordo com a formação de cada um tais como: Língua Portuguesa, Prática Pedagógica, Matemática, Física, EJA, Política Educacional, Educação Infantil, Filosofia, Psicologia, Sociologia da Educação, Didática da Linguagem, Didática da Matemática e História da Educação.

Quando foram questionados sobre o nível de conhecimento que trata a Educação Ambiental todos responderam ter conhecimento; três disseram trabalhá-la em sala de aula, dois afirmaram trabalhar junto à comunidade e através de projetos e somente um dos professores não respondeu.  Souza (2007) em trabalho realizado sobre Educação Ambiental em municípios do Cariri Paraibano junto com educadores da região; questionou sobre o desenvolvimento das atividades de Educação Ambiental no ensino fundamental de modo que 90% dos educadores entrevistados responderam que desenvolvem as suas atividades pedagógicas sobre Meio Ambiente de modo individual, enquanto os demais responderam que desenvolvem atividades de forma interdisciplinar, de forma coletiva e também de outra forma. Para a autora isto revela que há uma grande dificuldade por parte dos educadores em trabalhar as suas atividades pedagógicas de modo coletivo e interdisciplinar, envolvendo toda a escola, criando, desse modo, enormes obstáculos ao desenvolvimento da temática de Educação Ambiental na escola, sendo contrária ao que é proposto na Lei 9.795 de 1999.

Em relação aos projetos voltados para a Educação Ambiental, metade dos professores informou não existir na escola, dois deles afirmaram existir e um não opinou. E as fontes de informações por eles utilizadas para trabalhar a temática ambiental são através de revistas, mas tendo a internet como a fonte mais utilizada.

Foi questionado quanto ao incentivo da formação continuada para atuação na Educação Ambiental, 50% dos entrevistados afirmaram que não existe, enquanto dos outros 50%; dois afirmaram existir e um não respondeu. O grupo pesquisado ainda acrescentou ter dificuldades em trabalhar esta temática. Foi solicitado para que estes enumerasse as questões mais relevantes no trabalho com a questão ambiental, pontuando de 1 a 5 em nível de relevância, sendo 1 a de maior relevância e 5 a de menor relevância. De acordo com a opinião dos mesmos, os pontos mais relevantes são a preservação ambiental seguida da qualidade de vida e investimento governamental e os menos relevantes são a instrução e capacitação dos professores e a cidadania e respeito a vida. De acordo com os níveis de relevância por eles pontuados verifica-se que não é dada a devida importância a capacitação dos professores para elevar a capacidade cognitiva destes em busca de uma cidadania consciente e ambientalmente correta.

Dos alunos pesquisados, observa-se uma variação de faixa etária entre 14 e 61 anos, todos são do sexo feminino. Quando foram questionadas a respeito de como vêm o Meio Ambiente, que de acordo com a Figura 1 a seguir; 55% das alunas afirmam ser importante, mas esquecido, 30% acreditam que é pouco explorado, é preocupante para 10% e 5% delas não opinou.

 

Figura 1. Visão sobre o Meio Ambiente.

 

No que diz respeito ao papel da escola na conscientização sobre as questões ambientais 70% afirma que a escola cumpre seu papel, 25% que a escola cumpre este papel algumas vezes, em atividade momentânea elaborada em forma de projetos que duram cerca de uma semana e depois é esquecido e outras vezes são propostas tarefas simples em sala de aula como jogar o lixo no lixeiro. Para 5% a escola não cumpre o papel de conscientização,

Quanto a preocupação e responsabilidade com o meio ambiente 90% respondeu que esta é de responsabilidade da sociedade, demonstrando o quanto o ser humano não se ver fazendo parte do meio ambiente; pois somente 10% acredita que esta responsabilidade seja de si próprio. Questionou-se quanto às informações sobre Educação Ambiental; se deveriam ser mais exploradas e em quais aspectos. Conforme apresentado na Figura 2, 85% dos educandos responderam que deveria melhorar o desempenho da escola em atividades voltadas para a preservação do Meio Ambiente, 5% optaram pela interdisciplinaridade, outros 5% por recursos materiais e 5% não opinou.

 

Figura 2. Informações sobre Educação Ambiental.

 

Para os educandos as questões mais urgentes em nível de prioridade a serem trabalhadas no contexto Educação Ambiental de acordo com o nível de relevância são I) as queimadas e o desmatamento; II) a preservação da Fauna e da Flora; III) preservação dos recursos hídricos e IV) a coleta seletiva dos resíduos sólidos.

Oliveira et al. (2010) avaliando as experiências de aprendizagem da Educação Ambiental e Patrimonial dos estudantes do Ensino Médio de escola pública de Goiânia-Go observaram que o conceito de Educação Ambiental parece ainda não ter sido bem assimilado na escola, reduzindo-se ao conservacionismo ou a reciclagem de materiais, onde predomina o pensamento unidirecional, que está longe do ideal, porque a Educação Ambiental se desdobra em diversas outras situações que devem ser promovidas e fomentadas a fim de desenvolver nos estudantes e em toda a comunidade escolar o real sentido que este termo carrega consigo.

Quando foi questionado se os educandos estavam preparados para ser futuro educador e trabalhar com a Educação Ambiental, 70% responderam que sim e estes afirmaram que estudam, pesquisam e que aprendem muito com os professores na escola, têm consciência sobre a importância de preservar o Meio Ambiente e de repassar esses conhecimentos para os futuros alunos, promovendo assim a melhoria da qualidade de vida e esperança de um futuro melhor. Pádua (2001) relata que todo indivíduo tem a capacidade de desempenhar papéis importantes na melhoria do planeta. Aos educadores, cabe a responsabilidade de despertar no aprendiz o senso de auto-estima e confiança indispensáveis para que acredite o suficiente em seus potenciais e passe a exercer plenamente sua cidadania. Essa crença em si próprio pode desencadear um maior engajamento e posturas ativas diante dos problemas sócio-ambientais, resultando em processos de mudança.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Através dessa pesquisa, percebe-se que a maioria dos educadores tem conhecimento sobre o Meio Ambiente e trabalham de uma forma geral em sala de aula, através de projetos e de explanação com o livro, buscando desenvolver pesquisas, debates e reflexões. São experientes, porém, pelo excessivo número de disciplinas que cada educador leciona, torna-se mais difícil se trabalhar com a interdisciplinaridade em termos de Educação Ambiental. As fontes de informações mais utilizadas são livros, revistas e a Internet, e a maioria diz não ter Formação Continuada na área de Educação Ambiental o que torna o trabalho mais difícil.

Constata-se também que há necessidade de medidas mais precisas quanto ao trabalho com a Educação Ambiental, diante da percepção de que os docentes não estão sendo preparados de forma qualitativa e não têm um apoio pedagógico e de recursos específicos para a execução da Educação Ambiental, resultando em formas de trabalho precários e insuficientes, o que torna o tema um tanto esquecido ou pouco explorado.

De outro modo, os trabalhos de Educação Ambiental desenvolvidos na escola restringem-se em jogar o papel no lixeiro e isto não contribui para a formação crítica da realidade sem que haja o devido entendimento da importância nas tomadas de decisões sobre a preservação do Meio Ambiente.  

Para que a Educação Ambiental realmente seja posta em prática necessita da reestruturação de alguns pontos relevantes como; tempo, espaço, investimentos governamentais em nível estadual e municipal para a elaboração e implementação de projetos de práticas de Educação Ambiental com objetivos mais amplos, envolvendo não só a escola, mas a comunidade ao seu redor, promovendo assim a troca de conhecimento e a adoção de novas atitudes culturais.

 

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Ilustrações: Silvana Santos