Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2011 (Nº 37) CONEXÃO
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Educação Ambiental em Ação 37

CONEXÃO

 

 

Eduardo Cardoso Teixeira

 

Biólogo, Mestre em biologia animal. Estudante de Medicina Veterinária-UFRGS

VIDA SILVESTRE – Grupo de Pesquisas em Ecologia e Conservação da Vida Silvestre

E-mail: teixeiracedu@gmail.com

 

 

 

Resumo:

Somos vida em essência e estamos conectados uns aos outros: seres humanos, animais, plantas e meio-ambiente em geral. Apesar disso, vivemos desconectados, ignorantes dessa verdade que está presente em cada um de nós. Reconhecer que somos vida é perceber a conexão e sentir a natureza dentro e fora de nós.

 

Palavras-chave: conexão, vida, energia, natureza, meio-ambiente.

 

 

... Qual é a nossa essência? ...

            Seja um pássaro, seja um rio, seja um gato ou uma flor, todos nós somos iguais em essência. Todos nós carregamos em nosso interior mais profundo a essência da vida, que nos conecta, que nos liga, que nos une e nos integra... (CAPRA, 2006; LAMA, 2006). Todos nós temos a chama, a luz, a chispa que nos faz únicos...

Estar e se sentir conectado “é viver na dimensão do sagrado e da re-ligação nossa com a Terra, em cordialidade com todos os seres. É transbordar de alegria ao contemplar uma flor, é experimentar estranho e incompreendido amor pelas aves, o boi, o asno, os animais das florestas e pelos pobres.  É  descobrir a fraternidade cósmica... (DIAS, 2010a)”.

            Basta olharmos para dentro de nós, basta nos desligarmos das coisas exteriores, do nosso mundo de cada dia, das nossas buscas por nada... Basta abrirmos mão de nossa correria... Ao fecharmos os nossos olhos para o mundo físico e os abrirmos para o mundo da energia, da luz e da paz universal, sentimos que estamos conectados... Escutamos a voz das matas, a voz das cachoeiras, a voz dos animais e das plantas... Sentimos a vida em cada um desses seres... Sentimos a natureza em todo o seu esplendor, dentro e fora de nós...

Por que, então, tanta crueldade e tanta violência conosco e com o outro? Por que matamos milhares de animais, destruímos as matas, derrubamos as árvores? Por que tanto descaso com a natureza que nos rodeia e com a nossa natureza interior? Tais atitudes são reflexos da ignorância e da falta de conhecimento em que vivemos... Não da ignorância do saber, mas do não conhecer quem somos...

Tudo isso é consequência do vazio existencial que há dentro de cada um de nós... (TEIXEIRA, 2008). Ainda não percebemos o que realmente somos em essência. Estamos desconectados, desligados, não nos percebemos parte do todo e nem sentimos que o todo faz parte de nós... Por isso, tanta dor e tanta guerra...

            Nós mesmos somos responsáveis pelas nossas escolhas... Não adianta colocar a culpa no outro. Temos o discernimento e a capacidade de escolher... Se, de repente, não temos conhecimento para tanto, temos que buscá-lo... O fato é que não podemos continuar do jeito em que estamos... Vivemos como se fôssemos os únicos e morremos como se nunca estivéssemos passado por aqui, nesse lugar, nesse planeta maravilhoso... Construímos muros ao invés de pontes, fechamos as janelas ao invés de abrirmos as portas...

            Queremos a natureza, o mar, a lagoa, o rio, as matas, mas não o compromisso de cuidar e de zelar por ela... (BOFF, 2008). Somos conexão homem-natureza, natureza-homem, natureza exterior-natureza interior. Somos natureza por dentro e por fora, por cima e por baixo... Se não sabemos cuidar do que está ao nosso redor, no exterior, que podemos tocar e ver, imagina do que está dentro de nós...

            Façamos desta oportunidade, da nossa própria vida, uma chance de crescimento e de aprendizado para nós e para o mundo... Toda vez que deixamos de lado a nossa comodidade e a nossa “mesmice de cada dia” e passamos a fazer algo pelo outro, seja uma criança ou um animalzinho indefeso, uma planta ou o mar, estamos nos re-ligando outra vez, nos conectando com o nosso próprio Eu, a vida como um todo. Ressalta ALLENDORF (1997) que “precisamos perceber que somos vida buscando salvar a si mesma.”

            Sábio não é aquele que sabe tudo, mas aquele que sabe que nada sabe, e, por isso, se sente incapaz de julgar-se o dono da verdade absoluta... (KOHAN, 2003). Sábio é aquele que usa o seu conhecimento e aplica-o consigo e com o próximo, sempre tendo o cuidado de junto colocar o sentimento... Quando misturamos conhecimento com sentimento, temos a sabedoria... E, com certeza, a maior sabedoria é o amor...

            Precisamos sair do tridimensional... Necessitamos nos libertar da forma e da fôrma em que vivemos para conseguirmos enxergar o que realmente somos: energia e luz! Precisamos nos conhecer mais, entender o nosso Eu... E isso só ocorrerá ao longo das nossas vivências e experiências... E isso só acontecerá quando nos permitirmos sentir o amor que existe dentro de cada um de nós. E isso só será possível quando nos deixarmos levar pelo olhar de um animalzinho ou o vôo de uma borboleta, o balançar das folhas de uma árvore ou o cair das águas de uma cachoeira...

            E, quando já possuirmos melhor conhecimento de nós mesmos, com certeza, não teremos mais coragem de “levantar a mão” para qualquer ser, de qualquer espécie... Com certeza, nos sentiremos tão parte do outro, que quando esse outro sofrer, sofreremos com ele, e quando esse outro estiver bem, estaremos bem também... Com certeza, perceberemos tão clara a presença da vida em tudo e em todos, que quando sentirmos amor por um ser, animal, planta ou humano, estaremos amando a vida sob todas as formas...

Escreve DIAS (2010b): “A nossa luta deve ter como prioridades o combate à pobreza, à ignorância, às doenças, a injustiça, a violência e a degradação do Planeta em que vivemos. Eu [a autora citada] espero que neste século nossa vida e nosso trabalho se transformem em uma prece diária de reverência e gratidão por nossa Terra. E que nossas ações e inspirações sejam devotadas à elevação, à determinação e ao amor, para resgatar nossos erros passados, para que na Terra as famílias humana e a não humana possam viver em paz. Que a paz seja o sustentáculo das rochas, das águas, das flores e dos homens sábios.”

 

Referências bibliográficas e leituras sugeridas:

ALLENDORF, F. W. 1997. The conservation biologist as zen student. Conservation biology 11(5): 1045-1046.

BOFF, L. 2008. Saber cuidar. Ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes.

CAPRA, F. 2006. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 10ª edição. São Paulo: Cultrix.

DIAS, E. C. 2010a. Conservacionista, preservacionista ou ecologista? Disponível em: . Acesso em: 16 maio 2010.

DIAS, E. C. 2010b. Paz na Terra para todos os vulneráveis.  Disponível em:

. Acesso em: 16 maio 2010.

KOHAN, W. O. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

LAMA, D. 2006. O universo em um átomo. Rio de Janeiro: Ediouro.

TEIXEIRA, E. C. 2008. Crise ambiental: o futuro do mundo depende de nós. Revista Mundo Jovem 388: 15.

Ilustrações: Silvana Santos