Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2011 (Nº 37) ATITUDES ECOLÓGICAS E PRESERVAÇÃO À AMBIÊNCIA: UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DE DISCENTES DE UM CURSO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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Educação Ambiental em Ação 37

ATITUDES ECOLÓGICAS E preservação à ambiência: uma análise da percepção de discentes de um curso de educação ambiental

 

Daniele Franco Martins Machadoa*, Luciana Aparecida Barbieri da Rosab,

Daiane Pinheiroc, Clandia Maffini Gomesd Jorge Orlando Cuellar Noguerae

 

aBióloga, Especialista em Educação Ambiental, Mestranda em Agrobiologia, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail danifmartins@gmail.com

 

bAdministradora, Especialista em Educação Ambiental, Mestranda em Administração de empresas, Universidade Federal de Santa Maria.

E-mail lucianaaparecidabarbieri@yahoo.com.br

 

cEducadora Especial, Especialista em Educação Ambiental, Mestranda em Educação, Universidade Federal de Santa Maria.

E-mail daianepinh@yahoo.com.br

 

dAdministradora, Doutora em Administração de empresas, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail clandiamg@msn.com

 

eEngenheiro Químico, Doutor em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: jocunoguera@hotmail.com

 

 

a*Autor para Correspondência: Daniele Franco Martins Machado. Av. Roraima, n° 1000, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Prédio 16, Sala 3119 - Santa Maria/RS. E-mail danifmartins@gmail.com Fone: 55 9936 7298

 

 

RESUMO

O padrão de civilização construído pela sociedade moderna tem consolidado a tendência ao desequilíbrio ambiental. Para satisfazer suas necessidades, o homem impõe uma pressão cada vez maior sobre o meio ambiente. Durante muito tempo, a sociedade conviveu com as conseqüências da degradação ambiental, no entanto, com o passar dos anos esse comportamento tem sido discutido por defensores ambientais e por diversos setores da sociedade. A educação ambiental, tratada em diferentes espaços, busca construir, independente do público alvo, uma racionalidade ambiental que implique num processo de conscientização. Ela vem se institucionalizando e pressionando a sociedade para desenvolver ações de proteção ao meio ambiente. Assim, a busca por qualificação nessa área vem tomando espaço nos meios acadêmicos, revelando uma demanda profissional articulada com as necessidades sociais. Nessa direção, essa pesquisa buscou analisar atitudes ecológicas de alunos do curso de especialização em educação ambiental a distância da Universidade Federal de Santa Maria. Partindo dos conhecimentos construídos e articulados nesse contexto acadêmico os quais se inserem, foi problematizado se as constituições teóricas desses sujeitos estão sendo articuladas com suas práticas pessoais. Para a coleta dos dados utilizou-se um questionário com questões fechadas. A análise das respostas possibilitou verificar que, de uma maneira geral, os alunos buscam preservar a ambiência, optaram pelo curso por estarem preocupados com o futuro das próximas gerações e desenvolvem projetos de educação ambiental com diferentes grupos de pessoas. Embora exista uma parte que não demonstrou esta preocupação, conclui-se que, mesmo a educação ambiental sendo um processo lento, os alunos, futuros especialistas em educação ambiental, articulam teoria e prática, na tentativa de vencer valores e barreiras construídas.

 

Palavra-chaves: Meio ambiente; práticas educativas; educadores ambientais.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O planeta Terra enfrenta sérias ameaças, como poluição, destruição da camada de ozônio, aumento da temperatura global, esgotamento de recursos naturais, extinção de espécies, acúmulo de resíduos sólidos, entre outras. Isso é conseqüência, principalmente, do desenvolvimento da sociedade industrial e do crescimento explosivo da população humana que têm causado impactos ambientais sem precedentes, em busca do progresso científico, do conforto e da lucratividade.

Durante os últimos séculos o ser humano foi considerado o centro do universo, tendo a natureza à sua disposição, apropriando-se de seus processos e alterando seus ciclos. A crise ambiental em que se vive coloca em risco os recursos naturais e a própria vida, tornando necessária a procura por métodos para reverter essa situação.

Sob esta perspectiva, iniciaram-se as primeiras preocupações com a degradação da ambiência. Segundo Carvalho et al. (2005), a partir da década de 60 assiste-se então a uma crescente busca da sociedade por qualidade de vida, questão que envolve a preocupação ambiental. Realizaram-se então diversas conferências e congressos nacionais e internacionais e então se consolidou a educação ambiental. No entanto, somente em 27 de abril de 1999 foi sancionada a Lei Federal n° 9.795 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) cuja principal meta é garantir a prática educacional ambiental “em todos os níveis de modalidade do ensino formal” (Cap. II, art.10). Segundo esse documento legal

 

Entendem-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para o meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (LEI n° 9795/99, Art. 1°).

 

No âmbito político, observa-se que é dever da escola garantir o acesso dos alunos a práticas educacionais ambientais, destacando aspectos qualitativos, os quais irão influenciar no desenvolvimento ecológico dos alunos. Nesse sentido, a educação ambiental busca construir, independente do público alvo, uma racionalidade ambiental que implique na formação de um novo saber e a integração interdisciplinar do conhecimento para explicar o comportamento de sistemas socioambientais complexos. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 2000, p. 33) “o ser humano faz parte do meio ambiente e as relações que são estabelecidas - relações sociais, econômicas e culturais - também fazem parte desde meio e, portanto, são objetos da área ambiental (...)”.

Segundo Guimarães (2004), a institucionalização da educação ambiental que vem se processando reflete a demanda da sociedade e, reciprocamente, pressiona as escolas e a sociedade a desenvolver ações que denominam de educação ambiental. Nesse sentido, surge uma questão bastante pertinente de ser levantada: a formação do profissional educador ambiental. Embora a educação ambiental seja um tema interdisciplinar que deve estar presente em todos os níveis e modalidades do ensino formal e não formal, existe o profissional especializado nesta área. No Brasil, há universidades que oferecem essa formação.

Com o notável aumento da procura por essa formação inicial ou continuada e considerando a grande demanda para esses profissionais no mercado de trabalho, surgem as problemáticas que conduziram essa pesquisa: A procura por esse curso é de importância pessoal, profissional e social? Quais os valores ambientais constituídos por esses futuros profissionais? Qual a predominância do interesse por essa qualificação? Assim, o objetivo desse trabalho foi o de analisar a capacidade de articulação teórica e prática de alunos do curso de Especialização em Educação Ambiental à distância da Universidade Federal de Santa Maria.

Conforme Tomazello e Ferreira (2001, p. 201), "a educação ambiental deve ser capaz de gerar propostas adequadas, baseadas em valores e condutas sociais ambientalmente favoráveis para um mundo em rápida evolução". O papel da educação ambiental no âmbito profissional é promover a formação de pessoas comprometidas com as dimensões sócio ambientais.

A crescente demanda social em torno das questões ambientais vem exigindo um tipo de tratamento melhor elaborado no âmbito da educação. O educador ambiental é atualmente um profissional que necessita de um amparo político e social além de constantes atualizações em sua formação, para que assim consiga desempenhar a sua função de forma construtiva. É preciso que ele se sinta motivado e que esteja sensibilizado para a crise ambiental em que se vive.

 

 

2. REFERENCIAL TEÓRICO

 

2.1 A importância da sustentabilidade na sociedade moderna

 

As mudanças pelas quais o mundo tem passado são cada vez mais rápidas e impactantes no modo de vida das populações e no comportamento das organizações empresariais. Aos poucos, a sociedade vem percebendo que a intervenção excessiva do ser humano e das empresas no planeta compromete de maneira irrecuperável os recursos naturais e, consequentemente, a sobrevivência dos sistemas sociais, ambientais e econômicos (ETHOS, 2011).

Pensando nessa problemática é que foi inserida a questão do desenvolvimento sustentável. A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental (WWF, 2011).

Segundo Menon (2002), alguns dizem que foi o avanço da ciência e da tecnologia que provocou os problemas ambientais com que o mundo se depara. Ao contrário, segundo o autor, os problemas atuais advêm do modo pelo qual estes avanços foram utilizados. E não há retorno. A esperança por um futuro melhor reside em desenvolvimento adicional da ciência e da tecnologia, que possa concentrar os grandes poderes que elas conferem à humanidade para delinear novos caminhos de desenvolvimento, os quais podem, e devem, ser seguros e sustentáveis do ponto de vista ambiental. Tais caminhos clamariam pela redução do uso de recursos, particularmente de energia, para produzir os mesmos resultados. Eles ainda deveriam conduzir à eliminação da pobreza, e isto, junto com a educação e outros aspectos do desenvolvimento de recursos humanos, resultariam na redução da taxa de crescimento populacional. E somente então se poderiam manter sob controle as forças matrizes que levam ao desequilíbrio ambiental.

A conservação do meio ambiente deve ser estar inserida em uma política de desenvolvimento do país, mas é importante enfatizar que ela não pode ser de apenas uma pessoa ou um governo. O meio ambiente deve ser um cuidado de todos com tudo. Os cidadãos devem estar permanentemente alertas para os perigos das ações mais inocentes que são realizadas no meio ambiente. A implementação de ações sustentáveis envolve atos e ações simples como ir a um supermercado, o uso racional de água nas residências, a manipulação adequada do lixo (TORRESI et al., 2010).

Sob esta perspectiva, o desenvolvimento sustentável não deve ser visto como uma revolução, como uma medida brusca que exige rápida adaptação e sim uma medida evolutiva que progride de forma mais lenta a fim de integrar o progresso ao meio ambiente para que se consiga em parceria desenvolver sem degradar. Isso será possível por meio da educação.

 

 

2.2 Educação para o desenvolvimento sustentável

 

O movimento para o desenvolvimento sustentável começou e cresceu a partir das preocupações expressas nas décadas de 1970 e 1980. De acordo com o movimento, os padrões de produção e consumo como evidenciados nas sociedades industrializadas não poderiam ser mantidos, levando-se em consideração os recursos do planeta.

Em dezembro de 2002, as nações do mundo, por meio da Assembléia Geral das Nações Unidas, adotaram por unanimidade a resolução que proclama a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável para o período 2005- 2014, com o objetivo de enfatizar a importância de ações combinadas para assegurar que os padrões do desenvolvimento sustentável ofereçam qualidade de vida para todos, tanto para as gerações presentes quanto para as futuras. A resolução foi adotada porque as Nações Unidas viram a educação como a chave para o desenvolvimento sustentável. A UNESCO foi escolhida para liderar a Década e elaborar um plano internacional de implementação (UNESCO, 2005).

O Plano Internacional de Implementação constitui um marco geral para que todos os parceiros possam contribuir para a Década. O Plano não é prescritivo, mas fornece de modo global orientações e conselhos e mostra por que, como, quando e onde um grande número de parceiros pode desenvolver suas contribuições com base em seus próprios contextos. A estrutura apresenta resumidamente o desafio do programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável e descreve o tipo de educação que, coletivamente, os parceiros consideram essencial para facilitar o desenvolvimento sustentável. A educação para o desenvolvimento sustentável é um esforço vital e eterno que desafia indivíduos, instituições e sociedades a olhar para o dia de amanhã como um dia que pertence a todos ou não pertencerá a ninguém (UNESCO, 2005).

Assim, tratar da educação em relação ao ambiente não se limita ao impacto mútuo entre ambos, nem mesmo em apenas considerar as modificações ambientais. A questão é bem mais complexa, exigindo inclusive o conhecimento das doutrinas filosóficas que implicam as mudanças. A literatura tem enfatizado a importância da redefinição da educação ambiental, conduzindo os diversos profissionais, de diferentes áreas, a interagirem, centralizando as discussões da mesma dentro de uma perspectiva interdisciplinar (SATO, 2004).

É preciso pensar na natureza por outro ângulo, além do biológico, o socioambiental. Em que a natureza e os humanos, bem como a sociedade e o ambiente, estabelecem uma relação de mútua interação, formando um único mundo. Para Carvalho (2004), a visão socioambiental orienta-se por uma racionalidade complexa e interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo de natureza intocada, mas como um campo de interações entre a cultura, a sociedade e a base física e biológica dos processos vitais, no qual todos os termos dessa relação se modificam dinâmica e mutuamente.

Assim, a educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios físicos(SATO, 2004).

O programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável deve fornecer uma compreensão científica do que seja sustentabilidade, junto com a compreensão dos valores, princípios e estilos de vida que conduzirão ao processo de transição para o desenvolvimento sustentável. A ciência deve ser considerada de uma maneira ampla, de modo que inclua as ciências sociais, as ciências naturais, além das abordagens tradicionais de aprendizagem e compreensão e a ciência formal.

 

 

3. METODOLOGIA

 

Para Gil (1994), a pesquisa científica tem como objetivo o conhecimento da realidade ou o descobrimento de verdades parciais, encontrando respostas para as questões apresentadas, sendo assim um procedimento formal, que se utiliza de métodos científicos.

Realizou-se esta pesquisa por meio de uma abordagem quantitativa e qualitativa, utilizando como instrumento de coleta de dados um questionário composto por perguntas fechadas (survey). A aplicação da pesquisa possibilitou a análise do comportamento e da percepção de alunos pertencentes a um curso de Especialização em Educação Ambiental em relação as suas ações de preservação à ambiência.

O questionário, composto por cinco questões fechadas, foi enviado via e-mail a 122 alunos de quatro pólos (municípios) de educação à distância da Universidade Federal de Santa Maria – RS/ Brasil, conforme TABELA1.

 

TABELA 1 – Distribuição de alunos nos respectivos pólos.

 

Pólo

Número de alunos

Número de alunos participantes

I

25

10

II

34

12

III

31

13

IV

32

8

Total de alunos

122

43

 

Os alunos tiveram o prazo de três dias para responder o questionário e reenviá-lo pelo mesmo método recebido. Foram respondidos 43 questionários no total dos quatro pólos pesquisados, obtendo-se um percentual de resposta de 35%.

O instrumento utilizado para a coleta dos dados teve como principal enfoque o motivo pelo qual os alunos escolheram o curso, suas atitudes relacionadas à economia de água, suas atitudes em relação à separação dos resíduos sólidos, suas atitudes relacionadas à poluição do ar e o desenvolvimento de práticas educativas de educação ambiental com diferentes públicos alvos.

Segundo Cervo et al. (2007), a solução de um problema ocorrerá quando fatos levantados forem trabalhados com processos e instrumentos científicos adequados, instrumentos estes que servem de conhecimento para o pesquisador que poderá concluir sua pesquisa reorganizando as ideias propostas pelos autores que foram por ele consultados.

 

 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

A partir da análise das respostas, obteve-se a interpretação dos dados apresentada a seguir.

 

 

4.1 Análise da motivação de ingresso no curso

 

A primeira pergunta questionava sobre o propósito do aluno ao ingressar em um curso de educação ambiental. A TABELA 2 mostra estes resultados.

 

 

 

TABELA 2 – Razão por escolher o curso de Educação Ambiental.

 

Opções de resposta

Percentual (%)

 

(a) Preocupação com o planeta que deixaremos para as futuras gerações

 

74,10

 

(b) Para obter um título acadêmico

 

14,00

 

(c) Por não ter outra opção de curso

 

2,38

 

(d) Por me sentir ameaçado à falta de recursos naturais para a minha sobrevivência e sobre as conseqüências que os impactos negativos ao meio ambiente podem ter sobre mim

 

9,52

 

Esses resultados evidenciam a preocupação dos alunos com as questões ambientais, direcionando isso à sua formação acadêmica. No entanto, é preciso lembrar que há a necessidade do educador, em sua prática de ensino, de reestruturar o seu ato educativo em um enfoque sócio-político, potencializando os conhecimentos do educando e dando subsídios para uma aprendizagem significativa. Nesse sentido, a atuação docente vinculada à educação ambiental é comentada e observada por Tomazello e Ferreira (2001, p, 206).

Do ponto de vista dos professores, algumas competências novas devem ser reconhecidas e avaliadas, tais como a capacidade de elaborar, concluir e participar de um projeto interdisciplinar e/ou transdisciplinar; capacidade de integrar os objetivos da educação ambiental nas diferentes disciplinas e determinar um marco conceitual comum; capacidade de apreciar e responder as necessidades da comunidade local com a perspectiva de um desenvolvimento sustentável e a capacidade de introduzir uma dimensão mais global da Educação Ambiental.

 

O desenvolvimento de uma educação ambiental crítico-reflexiva e transformadora não depende apenas de profissionais disponíveis, mas também capacitados, incluindo ainda boas condições de trabalho. Sem essas medidas, não será possível implementar uma educação ambiental que promova a formação de um sujeito ecológico atuante e participativo.

Todavia, convém destacar que, 14% dos alunos questionados, escolheram o curso de especialização em educação ambiental somente para obter um título acadêmico. Esse é um dado preocupante e que merece atenção, pois não somente esses profissionais terão acesso a um título acadêmico, mas também poderão atuar em instituições de ensino. A questão preocupante é: qual o empenho desses profissinais em formar cidadãos críticos e participativos perante a sociedade?

 

 

4.2 Análise das atitudes diárias dos alunos em relação à economia de água

 

Segundo a Organização das Nações Unidas, cada pessoa necessita cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene. No entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros por dia (SABESP, 2011). Baseado nestes dados alarmantes, no segundo questionamento abordou-se a questão das atitudes diárias dos alunos em relação à economia de água.

 

TABELA 3 – Atitudes diárias para economizar água.

 

Opções de resposta

Percentual (%)

 

(a) Não poupo, afinal o Brasil é um país rico nesse recurso

 

0

 

(b) Poupo na medida do possível, mas não tenho uma preocupação profunda sobre esta questão

 

13,95

 

(c) Economizo ao máximo em cada atitude diária

 

76,75

 

(d) Sou consciente sobre a importância de economizar água, mas não economizo

 

9,30

 

Ao analisar estas respostas percebe-se que a maioria dos alunos além de ter consciência sobre a importância de economizar esse recurso importante para a sobrevivência é também sensível a esta questão e economiza esse recurso natural no seu dia-a-dia.

Esse resultado oposto às pesquisas da ONU pode ser devido ao alto consumo de algumas regiões. O jornal Diário do Grande ABC (2011) publicou uma reportagem em relação a um mapa elaborado pela Companhia de Saneamento Básico do estado de São Paulo em relação às regiões que mais consomem água na capital, por média de domicílio. Segundo a pesquisa, para satisfazer desejos de consumo como mansões com vários cômodos, com quadras de esporte e piscina, os bairros nobres acabam sendo também os maiores consumidores de água na cidade de São Paulo.

Entretanto, vale destacar, que nos resultados obtidos nesta pesquisa com os alunos, 13,95% dizem não ter uma forte preocupação com a economia da água e 9,30% sabem da importância em economizar esse recurso natural, mas não economizam. Esse resultado vai ao encontro das pesquisas realizadas pela ONU em relação ao gasto desnecessário.

 

 

4.3 Análise das atitudes diárias dos alunos sobre os resíduos sólidos

 

Embora a grande maioria das cidades brasileiras não possua um sistema de coleta seletiva, é indispensável que a população tenha consciência da importância da separação dos resíduos sólidos em seus domicílios, em função dos catadores informais de lixo. Esses catadores sempre ajudaram a promover a limpeza das cidades e a proteção do meio ambiente, sem nenhum tipo de reconhecimento da sociedade. Hoje são conhecidos como agentes de limpeza pública e estima-se que existam mais de 200.000 catadores de rua e mais de 40.000 pessoas vivendo diretamente da catação em lixões (ALMANAQUE BRASIL SOCIOAMBIENTAL, 2007). Sabe-se que os lixões ou os aterros sanitários não é a forma indicada para a destinação final dos resíduos, mas infelizmente esta é uma realidade em muitas localidades. Portanto, a separação dos resíduos domiciliares é uma forma de pelo menos parte destes resíduos terem outros destinos, como a reutilização. A TABELA 4 mostra os resultados em relação à separação dos resíduos sólidos pelos alunos em suas residências.

 

TABELA 4 – Separação dos resíduos sólidos pelos alunos.

 

Opções de resposta

Percentual (%)

 

(a) Faço a separação dos resíduos sólidos em duas lixeiras, uma para restos alimentares e outra para restos não-alimentares

 

53,48

 

(b) Coloco todos os resíduos sólidos numa mesma lixeira

 

6,97

 

(c) Faço a separação dos resíduos sólidos mesmo que em minha cidade não exista coleta seletiva

 

39,55

 

(d) Penso que a separação dos resíduos sólidos não é necessária, pois a destinação final é o lixão

 

0

 

A degradação ambiental causada pelos resíduos sólidos representa mais do que a poluição, significa também o desperdício dos recursos naturais e energéticos. O resultado disso é um planeta com menos recursos naturais e com mais resíduos sólidos, que além da quantidade, aumenta a variedade, contendo materiais cada vez mais estranhos no ambiente natural (ABREU, 2001). Segundo Besen (2007, p. 398), “reduzir as milhões de toneladas de lixo que a civilização produz todos os dias é um dos maiores desafios da atualidade. No Brasil, dar uma destinação correta a esse lixo é meta distante”. Contudo, mesmo que os problemas ambientais sejam graves e a solução em longo prazo, é preciso acreditar na transformação para um mundo melhor através da educação.

 

 

4.4 Análise das atitudes diárias dos alunos em relação à poluição do ar

 

Baseado em que a poluição atmosférica é consequência, principalmente, das atividades antrópicas, a quarta pergunta do questionário referiu-se às atitudes diárias dos alunos em contribuição a redução na emissão de gases que geram a poluição do ar. A TABELA 5 refere-se a estes resultados.

 

TABELA 5 – Atitudes diárias dos alunos para reduzir a poluição do ar.

 

Opções de resposta

Percentual (%)

 

(a) Ao adquirir produtos no supermercado, cuido para que não possuam embalagens poluentes

 

15,40

 

(b) Procuro utilizar menos o automóvel, e sim outras formas de transportes

 

17,30

 

(c) Tenho atitudes diárias que economizam energia, como: cuidado com a porta da geladeira, com o chuveiro, com eletrônicos e utilizo lâmpadas fluorescentes

 

67,30

 

(d) Não me preocupo em economizar energia

 

0

 

Percebe-se que os alunos procuram economizar energia em suas atividades domésticas, mas pouco se preocupam com a aquisição de embalagens poluentes, como o isopor, por exemplo, que gera poluição no ar atmosférico tanto para a sua produção quanto na sua decomposição. Também não procuram reduzir o uso do automóvel que é um grande emissor de gases poluentes.

A poluição do ar afeta diretamente a saúde humana, além de modificar o equilíbrio dos ecossistemas naturais. As principais fontes geradoras da poluição atmosférica são os motores de veículos; as indústrias, como siderurgias, fábricas de cimento e papel, refinarias de papel; a incineração de lixo doméstico e as queimadas de campos e florestas. As consequências da poluição atmosférica são variadas. Ao ser humano pode causar diversas doenças, como problemas respiratórios, cardíacos e câncer. Ao meio ambiente provoca chuvas ácidas, inversão térmica, aumento do efeito estufa, destruição da camada de ozônio, dentre outros (AMABIS; MARTHO, 2006). O controle da poluição e a preservação do ambiente dependem do esclarecimento e da educação da população.

 

 

3.5 Análise das ações em relação às obrigações de educadores ambientais

 

A quinta e última pergunta questionava se os alunos já estavam pondo em prática as suas obrigações de especialistas em educação ambiental. Esses resultados estão expressos na TABELA 6.

 

TABELA 6 – Realização de práticas educativas de preservação ao meio ambiente pelos alunos.

 

Opções de resposta

Percentual (%)

 

(a) Sim, já realizei práticas de educação ambiental com diferentes públicos alvos

 

51,16

 

(b) Sim, já realizei algumas práticas de sensibilização com pessoas de meu convívio social diário

 

48,84

 

(c) Não, ainda não realizei nenhuma prática de sensibilização ambiental com a sociedade em geral e não tenho nada planejado

 

0

 

(d) Não, mas já estou pensando em um projeto de educação ambiental

 

0

 

As respostas obtidas nesse questionamento mostram que os alunos estão engajados nas suas obrigações de cidadão consciente e profissional especializado em educação ambiental. Todos os alunos questionados já realizaram algum tipo de prática educativa de preservação à ambiência.

Conforme Carvalho (2004), a busca por modelos de ações realizadas pelos setores sociais, com o objetivo de minimizar, corrigir ou reverter situações de impacto ambiental ou por possíveis transformações radicais dos padrões de relação ser humano-sociedade-natureza tem mostrado caminhos diversificados em termos de propostas de ações.

Contudo, embora exista todo um histórico em torno da consolidação da educação ambiental, esta ainda é um processo que se manifesta lentamente na realidade brasileira. O sistema educacional deve ter a preocupação de informar e formar pessoas, sem qualquer modo de discriminação, deve buscar ações e estratégias para que as pessoas entendam as relações atuais de produção e consumo, bem como as suas futuras implicações. Ao referir-se ao sistema educacional, engloba-se tanto a formação do profissional especialista em educação ambiental quanto à formação de sujeitos ecológicos por eles formados.

Dessa forma, acredita-se na educação ambiental como um instrumento na formação de cidadãos críticos perante a sociedade, sendo um processo longo e contínuo de aprendizagem, o qual envolve o educador, a escola, a família e a sociedade em geral.

 

 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A educação ambiental é uma forma abrangente de educação, que visa atingir todos os cidadãos através do processo de ensino, proporcionando a construção de valores e de consciência sobre a problemática ambiental.

Com a realização desta pesquisa foi possível observar que os alunos avaliados, de um modo geral, optaram pelo curso de especialização em educação ambiental por estarem preocupados com o futuro do planeta e o que será deixado para as futuras gerações. Esses alunos praticam em seus cotidianos ações de proteção à ambiência e de um modo geral conseguem, no dia a dia, articular a teoria e a prática.

Entende-se que na trajetória do curso e de vida, eles construíram um saber consciente em torno das questões ambientais e estão sensibilizados para a importância que representa nos dias de hoje, na crise ambiental em que se vive, a preservação dos recursos naturais. Além disso, realizam diferentes projetos de educação ambiental com públicos alvos variados. Esse fato revela à magnitude existente em um curso de educação ambiental e o quanto as experiências vivenciadas contribuem na formação de profissionais qualificados e engajados na luta por mundo melhor ecologicamente.

Entretanto, observou-se que parte da população em estudo não demonstra uma preocupação com a preservação do meio ambiente, talvez esses alunos sejam aqueles que procuraram o curso somente para obter um título acadêmico e aumentar as chances de posicionamento no mercado de trabalho. É por esta razão que a educação ambiental não pode parar. Não é de se esperar que a população mude instantaneamente, pois são muitos anos de condutas equivocadas. O desafio da educação ambiental é justamente o de transformar valores e vencer barreiras em prol do equilíbrio entre o ambiente natural e o desenvolvimento.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ABREU, M. F. Do lixo à cidadania, estratégias para a ação. Brasília: Caixa, 2001. p.11.

 

 

ALMANQUE BRASIL SOCIOAMBIENTAL. Uma nova perspectiva para entender a situação do Brasil e a nossa contribuição para a crise planetária. São Paulo: Instituto Socioambiental (ISA), 2007, p. 552.

 

 

AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da biologia moderna. volume único. 4. ed., São Paulo: Moderna, 2006. p. 86 – 104.

 

BESEN, G. R. Lixo. In: Almanaque Brasil Socioambiental. Uma nova perspectiva para entender a situação do Brasil e a nossa contribuição para a crise planetária. São Paulo: Instituto Socioambiental (ISA), 2007, p. 398.

 

 

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CARVALHO, I. C. M.. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. 256 p.

 

 

CARVALHO, R. M. M. A. et al. Administração e meio ambiente. In: Valverde, S. R. (Coord). Elementos da gestão ambiental empresarial. Viçosa: Editora UFV, 2005, p. 68-69.

 

 

CERVO A. L. et al. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007, 176 p.

 

 

DIÁRIO DO GRANDE ABC. Jardins lidera consumo de água entre os bairros de SP. Diário do Grande ABC, São Paulo, 03 jul 2011. Disponível em: . Acesso em: 09jul 2011.

 

 

ETHOS. Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade na cadeia de valor do varejo. Disponível em:

. Acesso em 10 jul. 2011.

 

 

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1994, p. 207.

 

 

GUIMARÃES, M. A formação de educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004. 120 p.

 

 

SABESP. Uso racional da água. Disponível em:

. Acesso em 09 jul 2011.

 

 

MENOM, M. G. K. O papel da ciência no desenvolvimento sustentável. Estudos Avançados. v. 6, n. 15, 1992.

 

 

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Ilustrações: Silvana Santos