Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2011 (Nº 37) Educação ambiental nas salas de aula: uma maneira diferente de introduzir a temática ambiental
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Educação Ambiental em Ação 37

Educação ambiental nas salas de aula: uma maneira diferente de introduzir a temática ambiental

 

 

Michelle Barbosa Mateus1

Lorena Cristina Lana Pinto2

Hildeberto Caldas de Sousa3

 

1-Graduanda em Ciências Biológicas - Universidade Federal de Ouro Preto

Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente- DEBIO-UFOP

mi_bio03@yahoo.com.br

2-Mestranda em Ecologia pelo programa de pós-graduação em Ecologia de Biomas Tropicais, Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais

lorena_clp@yahoo.com.br

3-Laboratório de Anatomia Vegetal, Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente, Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais. hcdsousa@iceb.ufop.br

 

 

Resumo

 

Considerando que EA é interdisciplinar e envolve a responsabilidade de todos, foi desenvolvida uma atividade de Educação Ambiental intitulada “Concurso de Cartilha Ambiental”, em parceria com professores das disciplinas de geografia, ciências, química, inglês e português promovendo uma maior mobilização dos alunos. O objetivo geral do trabalho foi propiciar aos estudantes de uma escola da rede pública de Ouro Preto, Minas Gerais, uma sensibilização para as questões ambientais. Seis turmas de alunos participaram do projeto, sendo três de primeiro ano do ensino médio e três de nono ano do ensino fundamental. Os alunos participantes elaboraram individualmente uma cartilha com o tema “Meio Ambiente”, mostrando problemas causados pelo homem e soluções para estes. Esta atividade além de ter proporcionado uma excelente oportunidade para os alunos exercerem a criatividade e reflexão sobre o meio ambiente, instigou também a pesquisa sobre os impactos humanos na natureza, sobretudo a destruição que temos causado na natureza, desenvolvendo o senso crítico e fazendo com que busquem e pensem em atitudes que possam minimizar os problemas em questão.

 

Palavras chave: meio ambiente, educação, interdisciplinaridade, estudantes

 

Introdução

 

O homem e o meio ambiente estão intimamente relacionados, sendo fundamental uma abordagem ampla e transversal da Educação Ambiental nas escolas, em casa, e na sua comunidade. A consciência dessa íntima inter-relação poderá minimizar os impactos provocados pelo ser humano, a partir de uma relação mais cuidadosa deste com todas as coisas que o cercam, incluindo o próprio homem.

Acompanhando a atuação da Educação Ambiental (EA) em suas amplas dimensões: social, econômica e ambiental, escolas e universidades têm se preocupado e agido mais em função da EA, a fim de proporcionar a formação de cidadãos conscientizados sobre a preservação natural (TELLES et al. 2002).

As atuais exigências sociais têm desencadeado a necessidade de uma visão de mundo que permita ao ser humano agir em sociedade minimizando os efeitos danosos ao ambiente natural. Uma visão de mundo construída a partir de uma nova concepção de educação alinhada às questões ambientais, capaz de promover a formação de personalidades ambientalmente solidárias, mediante a aproximação da prática pedagógica ao processo de construção do conhecimento (ARAÚJO, 2004)

A educação deve ser capaz de levar a valores ambientais, neste contexto, destaca-se que o processo educativo não ocorre apenas pela aquisição de informações, mas também, e principalmente, pela aprendizagem ativa, entendida como construção de novos sentidos e nexos para a vida. Este processo envolve transformações no sujeito que aprende e incide sobre sua identidade e posturas diante do mundo (CARVALHO, 2001).

A dimensão ambiental é configurada como uma questão que envolve um conjunto de atores do universo educativo, melhorando a participação dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar (JACOBI, 2003).

A universidade, como promotora da educação superior nos seus diferentes conhecimentos, busca colaborar com ações coordenadas que incrementem as iniciativas de EA existentes no município. Neste contexto, atividades voltadas para as escolas buscam resgatar o seu papel social, o seu papel de integração da comunidade bem como auxiliar e fomentar a produção de insumos para a melhoria da qualidade do ensino básico, sobretudo no que diz respeito a promoção da EA de maneira transversal (Prado et al. 2009).

Em 27 de abril de 1999, a aprovação da Lei N° 9.795 institui a Política Nacional de Educação Ambiental no Brasil. Esta lei entende que a Educação Ambiental (EA) é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo. Apesar dos dez anos de existência da lei, a maioria das escolas ainda não consegue implementá-la, sobretudo nas escolas de Ouro Preto, conforme diagnóstico realizado em algumas delas (PRADO et al., 2009).

Acreditando que de fato a Educação Ambiental é interdisciplinar e envolve a responsabilidade de todos viram na atividade “Concurso de Cartilha Ambiental” uma oportunidade para ser trabalhada esta interdisciplinaridade dentro da escola, envolvendo professores de diversas disciplinas que participaram do trabalho, conscientes de seu papel na conservação do meio ambiente. 

A educação ambiental que incorpora a perspectiva dos sujeitos sociais permite estabelecer uma prática pedagógica contextualizada e crítica, que explicita os problemas estruturais de nossa sociedade, as causas do baixo padrão qualitativo da vida que levamos e da utilização do patrimônio natural como uma mercadoria e uma externalidade em relação a nós (LOUREIRO, 2004).

A educação é um dos principais meios de atuação pelos quais nos realizamos como seres em sociedade: promovendo vivências de percepção sensível e tomando ciência das condições materiais de existência; exercitando nossa capacidade de traçarmos os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida; e favorecendo a produção de novos conhecimentos que nos façam refletir criticamente sobre nossas ações no cotidiano (DUARTE, 2002).

O Projeto “Concurso: Cartilha Ambiental”, além de proporcionar uma excelente oportunidade para os alunos exercerem a criatividade, instiga também a pesquisa sobre os impactos humanos na natureza, sobre a destruição que temos causado, desenvolvendo o senso crítico e fazendo com que busquem atitudes que possam minimizar ou mesmo resolver os problemas em questão. 

O objetivo geral do trabalho foi propiciar aos indivíduos participantes uma melhor compreensão do meio ambiente, inclusive de sua participação ativa e indissolúvel neste e, portanto, a consciência de sua responsabilidade por alguns dos impactos que a humanidade causa, criando motivação para que possam atuar na minimização dos problemas ambientais. Buscou também, contribuir para a conscientização dos alunos quanto ao senso crítico, reavaliando suas atitudes e propondo soluções para a melhoria do ambiente. Além disso, a elaboração de cartilhas, baseadas na pesquisa, estimula a criatividade e o raciocínio dos alunos.

 

Metodologia

 

A escola

 

A Escola onde foi desenvolvido o presente trabalho localiza-se no bairro Alto da Cruz, em uma região carente do município de Ouro Preto, e que enfrenta problemas tanto com os alunos como em sua estrutura física. A escola conta com 1361 (um mil e trezentos e sessenta e um) alunos que freqüentam as aulas regularmente, uma área total de 3795m2, quatorze salas de aula e quarenta e quatro turmas, distribuídas nos turnos da manhã, tarde e noite.

Apesar de possuir laboratório de informática e alguns equipamentos para aulas práticas de Ciências, Química e Biologia, como muitas vidrarias, estes ou não são usados ou o são com pouca freqüência.

O corpo docente na escola é formado por vinte e cinco professores atuando no ensino médio, e quarenta no ensino fundamental. Destes, apenas quatro possuem licenciatura plena em Ciências Biológicas. Em relação à Educação Ambiental, projetos de reciclagem e coleta seletiva são feitos na escola, além da Semana do Meio Ambiente e Feira de Ciências realizadas anualmente.

A parceria Escola-Universidade é uma oportunidade que ajuda a escola e seus alunos a crescerem, uma vez que estes são inseridos na realidade acadêmica estão sempre motivados, se sentem mais capazes de também entrarem para a faculdade.

 

Desenvolvimento do trabalho

 

Participaram do trabalho as turmas de primeiro ano do ensino médio e nono ano do ensino fundamental de uma escola da rede pública em Ouro Preto, Minas Gerais, totalizando seis turmas participantes, três de primeiro ano e três de nono ano. O trabalho foi feito pelos pesquisadores junto aos professores que lecionam as disciplinas: Geografia, Português, Inglês, Ciências e Química.

Os pesquisadores ficaram encarregados de divulgar o projeto em cada sala e buscar a motivação dos alunos participantes, e cada professor ficou responsável por uma turma, para orientação desta no desenvolvimento e recolhimento das cartilhas. Esta atividade contou com a participação de, aproximadamente, cento e oitenta alunos dos nono ano do Ensino Fundamental e primeiro ano do Ensino Médio.

As instruções passadas aos alunos para a elaboração das cartilhas foram que a cartilha deveria ser desenvolvida individualmente, com o tema principal “Meio Ambiente”; e que a mesma deveria conter uma capa, um problema ambiental escolhido pelo participante para ser exposto, além de propostas de soluções aplicáveis, visando minimizar este problema. Poderia, ainda, conter jogos, como caça-palavras, cruzadas, dentre outros, tornando a cartilha mais dinâmica e interessante, trabalhando ainda mais a criatividade dos alunos.

Os pesquisadores e professores buscaram enfatizar a importância da pesquisa para a elaboração das cartilhas. Os alunos tiveram um período de um mês para a produção destas, sendo que, para isso, poderiam contar com a colaboração dos bolsistas e professores, para esclarecer dúvidas ou auxiliar nas pesquisas dos alunos.

 Após o mês para a elaboração cada professor recolheu as cartilhas da turma da qual era responsável. Os pesquisadores numeraram as cartilhas para que estas pudessem ser votadas durante a feira cultural programada da escola.

Durante a feira cultural, uma sala da escola ficou disponível para a exposição das cartilhas, e uma urna foi colocada na porta da sala para que os visitantes e os próprios alunos pudessem votar na cartilha que mais gostaram. Aquelas que foram mais votadas pelos visitantes e alunos foram selecionadas, e em seguida avaliadas pelos professores que participaram do trabalho, que escolheram duas vencedoras: uma em primeiro outra em segundo lugar.

O primeiro e segundo lugares ganharam brindes voltados ao meio ambiente como cartilhas e livros, como uma forma de parabenizá-los e valorizar o esforço de cada um, incentivando os demais alunos.

 

Resultados e discussão

 

No geral as cartilhas trataram predominantemente do aquecimento global e do desmatamento, os quais são temas mais veiculados na mídia. A cartilha premiada com o primeiro lugar apresentou como tema “O Lixo”, tratando da poluição dos rios e propondo soluções como a nossa mudança de hábito e um maior cuidado com o descarte inadequado do lixo que produzimos.  A cartilha contemplada com o segundo lugar focou no tema “Como a natureza vem sendo tratada pelo ser humano e na importância desta ser preservada”, no qual o aluno propôs alternativas simples como coleta seletiva do lixo e a reciclagem.

O Projeto “Concurso: Cartilha Ambiental” proporcionou aos alunos uma excelente oportunidade para exercerem a criatividade. Além disso, instigou a pesquisa sobre o tema proposto e o problema escolhido pelo aluno fazendo com que estes buscassem compreender melhor o ambiente no qual vivem, os impactos que causamos à natureza, desenvolvendo assim o senso crítico e fazendo com que busquem atitudes que possam minimizar os problemas em questão.

De acordo com Jacobi (2004), a educação ambiental tem assumido uma função transformadora cada dia mais, a co-responsabilização e participação de todos são objetivos essenciais para se promover o desenvolvimento sustentável. Neste contexto, o educador é o principal mediador na construção de referenciais ambientais e deve usá-los com sabedoria como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza.

Desta forma, os pesquisadores confirmaram mais uma vez a importância de projetos na escola, que instiguem os alunos a pesquisarem e relacionarem o que estudam na teoria e sua importância na vida cotidiana, compreendendo melhor o ambiente em que vivem, e sua responsabilidade na transformação deste.

 

Considerações finais

 

Grande parte dos conhecimentos gerados a partir do desenvolvimento dessa atividade foi entendida como essencial para a sensibilização dos alunos para alguns dos problemas ambientais da região, como o lixo. Da mesma forma, o momento propiciado aos alunos possibilitou a discussão das questões ambientais, além da construção de novos conceitos e idéias contextualizadas que muitas vezes não são trabalhadas em sala de aula.

Apesar dos problemas sociais existentes na escola pôde-se observar a dedicação de todos envolvidos. Foi evidente a dedicação e a força de vontade de aprender sobre novos assuntos, nos quais o homem está diretamente envolvido. Atitudes simples como a confecção de uma cartilha faz a diferença para o aprendizado dos alunos. Para tanto é preciso que se tenha boa vontade e ainda, buscar mais parcerias entre Universidade e Escolas para o desenvolvimento de outras atividades que também poderão proporcionar melhor qualidade de aprendizado para todos.

 

 

Referências Bibliográficas

 

ARAÚJO, Maria Inêz de Oliveira. A universidade e a formação de professores para a educação ambiental. Revista brasileira de educação ambiental / Rede Brasileira de Educação Ambiental. – n. 0 – Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, 2004.

 

CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Qual educação ambiental? Elementos para um debate sobre educação ambiental e extensão rural. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.2, n.2, abr./jun.2001.

 

DUARTE, R. Adorno/Horkheimer e a dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

JACOBI, Pedro. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cad. Pesqui.  n. 118 São Paulo Mar. 2003.

JACOBI, Pedro. Educação e Meio Ambiente – transformando as práticas. Revista brasileira de educação ambiental / Rede Brasileira de Educação Ambiental. – n. 0 – Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, 2004.

 

 

LOUREIRO, C. F. B. Educar, participar e transformar em educação ambiental. Revista brasileira de educação ambiental / Rede Brasileira de Educação Ambiental. – n. 0 – Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, 2004.

 

PRADO, A. C. et al. TEIA -Tecendo com a Escola a Integração Ambiental. Anais do 4º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Dourados – MS. 2009.

 

TELLES, M. Q. et al. Vivências Integradas com o Meio Ambiente. São Paulo: Sá Editora, 2002.

 

Ilustrações: Silvana Santos