Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
04/06/2011 (Nº 36) Ações ambientais com pessoas que convivem com depressão - oficina terapêutica de leitura de um centro de atenção psicossocial
Link permanente: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1024 
  
Revista Educação Ambiental em Ação 36

AÇÕES AMBIENTAIS COM PESSOAS QUE CONVIVEM COM DEPRESSÃO - OFICINA TERAPÊUTICA DE LEITURA DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL¹

Marcelo Nunes da Silva Fernandes²

Paulo Edelvar Corrêa Peres³

RESUMO

Trabalho de caráter não-formal, desenvolvido junto à oficina terapêutica de leitura do Centro de Atenção Psicossocial 1 (CAPS 1) de São Sepé/RS, objetivando buscar por meio de debates e dinâmicas de grupo a eleição de valores acerca do meio ambiente  e uma conscientização da realidade do nosso planeta. Ao abordar a situação do meio ambiente, pode-se observar que através de atitudes simples como uso da água de forma consciente, cuidados com o lixo doméstico, separação e destino correto dos resíduos, entre outras, podem contribuir para o equilíbrio entre o homem e o ambiente, respeito e cuidado à vida nas diferentes formas.

 

PALAVRAS CHAVES: Educação Ambiental, saúde, vida.

ABSTRACT

Monograph, on a non-formal, was developed by the therapeutic workshop reading of Psychosocial Care Center 1 (CAPS 1) Sao Sepe / RS, aiming to get through debates and group dynamics of the election of values about the environment and an awareness of the reality of our planet. In addressing the situation of the environment, we can see that through simple actions such as use of water in a conscious way, taking care of household waste separation and the correct destination of the waste, among others, can contribute to the balance between man and environment, respect and care for life in different ways.

KEY WORDS: environmental education, health, life.

 

¹ Parte da Monografia de Especialização “Ações ambientais com pessoas que convivem com depressão em um Centro de Atenção Psicossocial”, desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

² Autor. Enfermeiro, Especialista em Gestão Educacional (UFSM). Especialista em Saúde Coletiva (UNIFRA). Especialista em Educação Ambiental (UFSM). Especialista em Tecnologias da Informação e da Comunicação Aplicadas à Educação (UFSM).

³ Orientador. Doutor em Biologia Patologia Buco Dental (UNICAMP). Prof. Associado do Departamento de Microbiologia e Parasitologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Docente do Curso de Pós Graduação em Educação Ambiental, do Centro de Ciências Rurais, na Área de Educação e Saúde (UFSM).

Este artigo faz um recorte da monografia do Curso de Especialização à distância em Educação Ambiental intitulada “Ações ambientais com pessoas que convivem com depressão em um Centro de Atenção Psicossocial”. Em 2007 foi criada a oficina terapêutica de leitura do Cetro de Atenção Psicossocial 1 (CAPS 1 ) do município de São Sepé/RS com a intenção de proporcionar aos usuários do serviço de Saúde Mental um espaço de reflexão a cerca das nuances que a doença traz ao indivíduo portador de depressão. É um momento de reflexão a cerca do tratamento, de situações vivenciadas como o preconceito, e a não aceitação da doença. Estímulo ao autocuidado, e troca de experiências entre os usuários, por meio da leitura de livros e textos de auto-ajuda.

A oficina terapêutica de leitura é um espaço de discussão e aconselhamento aos usuários, que tem finalidades diversas que começam pela adesão ao tratamento, aceitação da doença a assuntos diversos. Os critérios de seleção são o diagnóstico de depressão e o interesse por parte das pessoas, até mesmo para conviver e trocar experiências com pessoas que possuem e enfrentam problemas semelhantes.

As reuniões da oficina têm participação do enfermeiro que tem a função de facilitador e coordenador, profissionais do CAPS 1 e de outros profissionais dos serviços de saúde do município de São Sepé/RS que são convidados a participar da oficina conforme a necessidade e desejo dos usuários. Nestes encontros são discutidos assuntos diversos visando uma melhor aceitação e melhorias na adesão ao tratamento medicamentoso e no psicológico com a troca de experiências entre os participantes buscando sanar dúvidas e buscar melhorias na qualidade de vida aos usuários.

O convívio social é importante para as pessoas que convivem com depressão, aumentando sua auto-estima e devem ser incentivados. Ao descobrir ser portadora de depressão percebe-se que as pessoas reagem de diferentes formas. Algumas pessoas que convivem com depressão ocultam e não aceitam o diagnóstico, não se tratando, quando começam a ter alguma manifestação séria que as obrigue a procurar o serviço especializado, é que muitas vezes procuram ajuda. Outras após passar pela fase de negação resolvem procurar ajuda, orientação sobre a doença, fazendo o tratamento, cuidando e valorizando sua saúde e vida, acima de qualquer coisa, buscando sempre o seu bem-estar e qualidade de vida e cuidados para evitar recaídas.

Aliado a isso, a Educação Ambiental pode proporcionar uma maior interação do ser humano em questão, de forma a promover ações de valorização da vida, nas diferentes formas. Este trabalho se justifica devido à necessidade cada vez maior das pessoas desenvolverem uma consciência ecológica e preocupação com as causas ambientais, buscando um mundo mais “sustentável”.

O trabalho no primeiro momento iniciou com discussões e conhecimento da realidade de cada um, vendo suas dificuldades e problemas enfrentados dentro da sua comunidade relacionada às questões ambientais, para depois desse levantamento prévio, realizações de ações que virão a tentar melhorar ou amenizar essas questões a começar por cada um, nos seus dia-a-dia, cuidados com os resíduos produzidos diariamente, forma adequada de armazená-los para posteriormente descartá-los, uso responsável dos recursos naturais e problemas ambientais.

            Buscou-se trabalhar isso de uma forma agradável, por meio de dinâmicas e leituras de materiais, para que esses momentos tornassem agradáveis, de discussão, sensibilização e argumentação a todos os usuários.

            O principal objetivo foi fazer com que mudanças, mesmo que pequenas fossem adotadas, a começar pela eleição de valores de preservação de recursos naturais e utilização de forma sustentável e sem desperdício.

            Utilizando de termos como o “cuidado” nas diferentes formas, falava-se da questão da importância do cuidado com o Planeta, até o cuidado com si próprio com comportamentos de “preservação e conservação” da saúde de cada um.

            A preocupação e reflexão se direcionaram para que através de discussões fizesse-se perceber que a Terra e os seres humanos são algo único e que se deve trabalhar no sentido de preservações indissociáveis, buscando no sentido geral a preservação da vida.

Essa pesquisa-ação teve como objetivo inicial aproximar e levar esclarecimentos possibilitados pela Educação Ambiental de forma a melhorar a vida e a convivência dos usuários da oficina em questão, à influência dos fatores ambientais na vida de qualquer indivíduo. Ressalto que a oficina possui encontros semanais nas segundas-feiras à tarde nas dependências do referido serviço. Com objetivos de esclarecer dúvidas relacionadas à Educação Ambiental no cotidiano dessas pessoas, e levar isso até o meio onde eles vivem e promover mudanças referentes aos cuidados com o lixo, cuidados com alimentos, água, diminuição de resíduos, entre outros.

Preservando o ambiente em que vivemos, estaremos preservando a nossa vida e de futuras gerações e no caso da oficina, que esses saberes e aprendizados possam contribuir para melhorias na vida e no cotidiano desse grupo e contribuir para um pensar que é nas pequenas ações que começa a caminhada por um mundo melhor, onde possa existir mais harmonia homem-natureza.

Promovendo uma melhor consciência critica e fazendo com essas pessoas sintam-se capazes de se empenhar em uma causa para ajudar seus semelhantes e até mesmo diminuir essa visão de preconceito que muitos ainda têm sobre pessoas que convivem com depressão, como se fossem incapazes de lutar por causas, vistas apenas como pessoas “doentes”.

Além das questões ambientais, esses momentos junto à oficina funcionavam também como um instrumento no processo terapêutico buscando através de um ambiente humanizador uma maior interação entre paciente-paciente, paciente-profissionais, pois todos tinham abertura a falar da sua realidade, o que poderia ser feito para mudar, ampliando seus horizontes. Assim essas trocas e a preocupação com o meio tornaram-se uma forma de amenizar as preocupações voltadas apenas para a doença e sim, para a vida.

Estabelecendo um ambiente de observação e escuta, compartilhando estes momentos vivenciados pela realidade na busca de soluções para os desafios em que são deparados, verifica-se a importância de cada vez mais ações de conscientização nas comunidades, escolas e diferentes ambientes se fazem necessárias para que não esperamos o fracasso ou grandes catástrofes como as que tem ocorrido para que algo seja feito. Podemos mudar a realidade dos problemas ambientais se cada um fizer sua parte e exigir dos governantes mais ações para essa temática.

A questão dos esgotos e lixos nas cidades é um exemplo de que o governo não se preocupa como deveria com as questões ambientais, pois no município de São Sepé/RS não tem estação de tratamento de esgoto.

As práticas de Educação Ambiental no grupo deram aos integrantes uma oportunidade de reflexão, abrindo aos sujeitos novas possibilidades de problemática ambientais e novas compreensões das relações sujeito-mundo, construindo sensibilizações, posturas éticas e valores. Para que ao sair dos encontros eles passem esses valores à diante ou ajam criticamente frente a situações de degradação ambiental, até mesmo denunciando a órgãos competentes.

Transformar-se em um sujeito ecologicamente correto é um processo longo e que exigiria mudanças bruscas no modo de agir e viver ao qual estamos acostumados, porém se cada vez mais ações na busca de conscientização e busca por um modo de vida mais sustentável forem tomadas, estaremos no caminho certo por um mundo mais saudável agora e para nossas futuras gerações.

Os resultados desse processo eram notados ao longo das semanas, por meio dos questionamentos e falas diversificadas, desde a diminuição de água em lavagens de roupas, caixas de descarga, separação do lixo, conscientizações nas comunidades em que residem, até mesmo no preparo em alimentos em casa de forma a não desperdiçar, a questão do pensar nos resíduos na hora da compra e o destino aos mesmos.

Estabelecendo um ambiente de observação e escuta, compartilhando estes momentos vivenciados pela realidade na busca de soluções para os desafios em que são deparados, verifica-se a importância de cada vez mais ações de conscientização nas comunidades, escolas e diferentes ambientes se fazem necessárias para que não esperemos o fracasso ou grandes catástrofes como as que têm ocorrido para que algo seja feito. Podemos mudar a realidade dos problemas ambientais se cada um fizer sua parte e exija dos governantes mais ações para essa temática.

Através de ações simples pode-se perceber que muito foi feito, apesar do projeto ter tido duração de tempo curto, o resultado foi positivo e conclui-se que mesmo em um grupo com as mais diversas preocupações, desde o manter-se saudável, pessoas podem ser conscientizadas e mudam atitudes, então vamos trabalhar por um mundo mais sustentável e de melhorias, muito ainda, pode e deve ser feito.

REFERÊNCIAIS

BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em Ciências humanas e sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

CURY, A. Superando o cárcere da emoção. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.

_______. Nunca desista de seus sonhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2005.

BRASIL. Diretrizes para operacionalização do Programa Nacional de Educação. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 1996.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

GUATTARI, F. As Três Ecologias. Campinas: Papirus Editora, 1990.

LEEF, H. Saber ambiental sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

MINAYO, M. C.S; MIRANDA, A. C. Saúde e ambiente sustentável: Estreitando nós. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002.

MORIN, E. A cabeça bem-feita: Repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

_______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

SCHMITZ, E. F. O homem e sua educação: fundamentos da filosofia da educação.

Porto Alegre: Sagra, 1984.

PERES, P.E.C. Cadernos de microbiologia: Manual de Biossegurança para a odontologia. Santa Maria: UFSM, Centro de Ciências da Saúde, 2002.

VASCONCELOS, E. M. Educação popular nos serviços de saúde. 2 ed., São Paulo: Hucitec, 1991.

 

Ilustrações: Silvana Santos