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ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 90 · Março-Maio/2025
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13/03/2019 (Nº 67) AVIFAUNA DO PARQUE DA RUA DO PORTO, PIRACICABA-SP, COMO FERRAMENTA PARA ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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AVIFAUNA DO PARQUE DA RUA DO PORTO, PIRACICABA-SP, COMO FERRAMENTA PARA ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Liliane Cristina Trevisan1, Maria Eliana C. Navega-Gonçalves2, Elizabeth da Silveira Nunes Salles3



1Graduada em Ciências Biológicas - Licenciatura e Bacharelado pela Universidade Metodista de Piracicaba, São Paulo (lictrevisan@gmail.com).

2Faculdade de Ciências e Saúde, Universidade Metodista de Piracicaba, São Paulo (eliana.navega@gmail.com).

3Especialista em Educação Ambiental e Práticas Educacionais pela Universidade Estadual Paulista, São Paulo (bettynunes@gmail.com).



Resumo

Este estudo realizou um levantamento preliminar das espécies de aves do Parque da Rua do Porto, em conjunto com a elaboração de propostas de atividades de Educação Ambiental, envolvendo a avifauna local. Dentre as sete propostas de atividades para serem realizadas no interior do parque estão: um espaço interativo sobre as aves e o uso do parque, intitulado Ninho do saber; um guia ilustrado das aves catalogadas; informações e incentivo à prática da observação de aves no local; oficinas participativas abordando a temática das aves e suas interações com o ambiente e a população. O Parque da Rua Porto possibilita a inserção de atividades de Educação Ambiental no local, devido à estrutura física que já possui para a recepção de visitantes, turistas, escolas e a população em geral. Os resultados obtidos mostram-se como uma ferramenta educativa importante, que alia informações sobre a diversidade da avifauna local com o papel deste espaço como refúgio para as aves urbanas, devido aos recursos que disponibiliza. Visto isso, as propostas geradas de Educação Ambiental no parque, em relação às aves presentes, tornam-se aplicáveis e de grande valia para a promoção da divulgação da ciência em conjunto com atividades de turismo e preservação do parque e sua avifauna.

Palavras chaves: aves urbanas, birdwatching, ecoturismo.

Abstract

This study carried out a preliminary survey of the bird species of Porto street Park, together with the elaboration of proposals for Environmental Education activities, involving the local birdlife. Among the seven proposals of activities to be carried out inside the park we have: an interactive space about the birds and the use of the park, entitled “Ninho do Saber” an illustrated guide to cataloged the birds; information and encouragement of on-site bird watching; participatory workshops addressing the issue of birds and their interactions with the environment and population. The Porto Street Park allows the inclusion of Environmental Education activities in the place, due to the physical structure that already has for the reception of visitors, tourists, schools and the population in general. The results obtained proved an important educational tool that combines information on the diversity of the local birdlife with the role of this space as a refuge for urban birds, due to the resources it offers. Given this, the proposals generated Environmental Education in the park, in relation to the birds, it became applicable and of great value for the promotion of the dissemination of science in conjunction with tourism activities and preservation of the park and its birdlife.

Key words: urban birds, birdwatching, ecotourism.

INTRODUÇÃO

A beleza, diversidade e valor ecológico das aves possibilitam o uso destas como ferramenta educativa em ações de educação ambiental, de forma a estimular práticas de conservação da natureza por intermédio da observação e estudo da biologia das aves (COSTA; NASCIMENTO, 2002; DEVELEY; ENDRIGO, 2011).

A educação ambiental está diretamente associada com a busca do homem por uma relação harmônica com o meio ambiente, sendo este natural ou artificial, por meio da apropriação de conhecimentos sobre o ambiente em seu entorno a fim de transformá-lo (MERGULHÃO, 1998). Na busca dessa integração, as populações urbanas aspiram cada vez mais uma aproximação com espaços de área verde em meio à malha urbana e, uma possibilidade dessa interação, é a visita e o uso dos parques urbanos (MERGULHÃO, 1997).

Em Piracicaba, município do estado de São Paulo, existem vários parques urbanos arborizados de uso público, destacando-se o Parque da Rua do Porto “João Herrmann Neto” que possui em sua composição um parque infantil, uma estrutura em formato de arena, banheiros, bebedouros, equipamentos para atividades motoras, pista de caminhada e um lago central, de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo de Piracicaba (SETUR, 2016), que atualmente, denomina-se Secretaria Municipal da Ação Cultural e Turismo (SEMACTUR).

O Parque da Rua do Porto, que já é utilizado há tempos para práticas esportivas como remo, canoagem, corridas, caminhadas, ações culturais e lazer da população, vem sendo visitado por escolas da cidade e região para atividades de educação ambiental. Algumas dessas atividades são realizadas por meio da equipe do Núcleo de Educação Ambiental (NEA), da Secretaria de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba (SEDEMA). O parque conta com materiais de orientação, uma placa com mapa na entrada do parque e um folder para realização de uma trilha auto interpretativa denominada “Trilha no Parque”, onde estão descritas as principais espécies arbóreas, acompanhado de sua ficha técnica, foto e algumas poucas descrições de interação entre as árvores e as espécies de aves facilmente observadas ali (SEDEMA, 2016).

A vegetação característica do parque e o lago central, bem como a sua proximidade com fragmentos de mata, como o da Chácara Nazareth, do Engenho Central, da Área de lazer e da mata ciliar do rio Piracicaba, são elementos atrativos para as aves, que frequentam o parque em busca dos recursos oferecidos tais como: alimento, água e locais para nidificação; sendo possível avistar em um curto período de permanência diversas espécies de aves.

Segundo Argel-de-Oliveira (1996) as aves urbanas, por despertarem interesse e empatia, são um tema adequado para o trabalho em Educação Ambiental, além de estarem presentes no próprio ambiente em que os alunos vivem. Estudos que se utilizam das aves como ferramentas para Educação Ambiental foram realizados por Costa (2007), Fieker et al. (2011), Santos e Praça (2015), Tomazelli e Franz (2017) entre outros.

Dessa forma, pelo potencial de atração de aves e espaço educador que vem a ser o Parque da Rua do Porto, um guia ilustrado das aves do parque, bem como demais informações sobre as espécies ali presentes e sugestões de como e onde observá-las, representariam materiais de apoio aos frequentadores, turistas e principalmente às escolas e instituições, que se utilizam desse espaço para atividades educativas.

Em vista disso, este estudo teve como objetivo principal realizar um levantamento das espécies de aves do Parque da Rua do Porto, com o intuito de gerar propostas de atividades de Educação Ambiental, para serem desenvolvidas no local.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado no Parque da Rua do Porto “João Herrmann Neto” situado no bairro Chácara Nazareth, na área urbana do município de Piracicaba - SP interior paulista, estando a uma latitude 22°43’35.86”S e longitude de 47°39’32.32” (GOOGLE MAPS, 2016). Estende-se numa região parcialmente plana de 250 mil m², tratando-se de um vale do Rio Piracicaba, configurando uma região de várzea que é ocupada pelas águas do rio em períodos de cheia e transbordamentos (IPPLAP, 2011) (Figura 1).

Figura 1 - Área do Parque da Rua do Porto (Fonte: Modificada de Google Maps disponível em: https://goo.gl/9MdpqV).

O Parque da Rua do Porto tem ainda, como características, além da proximidade com o Rio Piracicaba, espaços em seu entorno que contribuem para a atração de aves, como as matas ciliares presentes ao longo da Rua do Porto, do Engenho Central, da Área de Lazer do Trabalhador e o fragmento de mata da Chácara Nazareth, próximo à prefeitura.

O fragmento de mata ciliar da Chácara Nazareth pode ser avistado do parque, formando um maciço de árvores preservadas. Desde a década de 50, é corrente a informação da existência de um rico pomar no local, fato esse, que sempre despertou a atenção da vizinhança, pelas frutas que possuía como: manga, jabuticaba, laranja, limão, caju, romã, abacate entre outras (ELIAS, 2014).

O parque tem por elemento central um lago de 28.439 m2 de área conforme mostra a figura 2 sendo este, muito utilizado para treinos de remo e canoagem da Associação de Canoagem de Piracicaba - ASCAPI (IPPLAP, 2011).

Em sua estrutura geral para o lazer, dispõe de uma pista de caminhada demarcada de 2 km de extensão, rodeadas por diversas espécies arbóreas introduzidas no local no momento de sua implantação, possuindo no decorrer da pista, bebedouros e bancos. Além disso, possui também quiosques, uma academia ao ar livre, playground, um teatro em formato de arena, uma guarita da guarda civil e sanitários masculino e feminino (SOUZA, 2016).

Figura 2 - Vista aérea do Lago do Parque da Rua do Porto

Levantamento da avifauna do Parque da Rua do Porto em Piracicaba

Para o levantamento das aves do Parque da Rua do Porto foi utilizado o método dos transectos lineares (DEVELEY, 2006). Foram delimitados trechos do parque seguindo a pista de caminhada já existente e os registros visuais e auditivos foram coletados durante as caminhadas ao longo dos transectos utilizando binóculo de alcance 12x32 (230FT/1000YDS–76M/1000M), um gravador (SONY, IC recorder, ICD-BX112) e anotações de dados em ficha de campo.

Foram realizadas no total 50 horas de esforço amostral em campo, as observações ocorreram quatro vezes no mês, sendo duas observações diurnas (no período das 6 às 8 horas) e duas observações vespertinas (no período das 16 às 18 horas), em dias distintos. Foi realizada também uma observação noturna de 2 horas (no período das 21 às 23 horas). As observações foram realizadas durante o mês de abril a outubro de 2016 (exceto no mês de julho), sendo este, portanto, um levantamento preliminar, pois ocorreu no período de seis meses, não avaliando todas as estações do ano.

A identificação das espécies observadas foi realizada através dos guias de campo para avifauna de Develey e Endrigo (2011) e Sigrist (2014). Para a classificação das mesmas nas categorias taxonômicas, utilizou-se a lista publicada pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (PIACENTINI, 2015), bem como o guia de campo de Sigrist (2014).

Na classificação das aves quanto às suas guildas tróficas e hábitats seguiu-se a forma de classificação utilizada em Alexandrino et al. (2013) e Alexandrino (2015).

Identificação das espécies arbóreas do parque e dos peixes do lago

Com o intuito de identificar os possíveis recursos alimentares de origem vegetal atrativos às aves do parque, foi utilizado o guia das espécies arbóreas relacionadas no material “Trilha no Parque” (ANEXO A) e, as espécies não catalogadas foram identificadas com o auxílio da bióloga Giseli Lambertucci Barion, funcionária que atuou na SEDEMA.

Para complementar informações sobre as espécies como: nome popular, nome científico, período de floração, frutificação e endemismo foram utilizados os guias de árvores de Lorenzi (2002, 2003 e 2004).

As informações sobre as espécies de peixes presentes no lago foram obtidas de modo informal, através de conversas com pescadores locais e com o ecólogo Sebastião Amaral Campos, funcionário da SEDEMA que participou ativamente dos trabalhos de introdução dos peixes do lago.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Levantamento e classificação das aves do parque

Foram identificadas 69 espécies de aves pertencentes a 31 famílias de 15 ordens distintas, sendo a ordem Passeriformes a mais representativa, com 16 famílias (Quadro 1).

Quadro 1 - Lista das aves observadas no Parque da Rua do Porto

Ordem

Família

Nome científico

Nome popular

G.T.

H.O.

 Accipitriformes

Accipitridae

Rupornis magnirostris

Gavião-carijó

CAR

F

 Anseriformes

Anatidae

Cairina moschata

Pato-do-mato

ONI

F-A

 Apodiformes

Trochilidae

Eupetomena macroura

Beija-flor-tesoura

NEC

F-NF

 Cathartiformes

Cathartidae

Coragyps atratus

Urubu-de-cabeça-preta

ONI

F-NF

 Charadriiformes

Charadriidae

Vanellus chilensis

Quero-quero

INS

NF-A

 Columbiformes

Columbidae

Columbina talpacoti

Rolinha

GRA

NF

Patagioenas picazuro

Pombão

ONI

F-NF

Zenaida auriculata

Pomba-de-bando

GRA

NF

 Coraciiformes

Alcedinidae

Chloroceryle amazona

Martim-pescador-verde

PIS

F-A

Chloroceryle americana

Martim-pescador-pequeno

PIS

F-A

 Cuculiformes

Cuculidae

Crotophaga ani

Anu-preto

ONI

NF

Guira guira

Anu-branco

INS

F-NF

Piaya cayana

Alma-de-gato

INS

NF

 Gruiformes

Rallidae

Gallinula galeata

Frango-d'água

ONI

A

 Passeriformes

Dendrocolaptidae

Lepidocolaptes angustirostris

Arapaçu-de-cerrado

INS

F-NF

Fringillidae

Euphonia chlorotica

Fim-fim

FRU

F

Euphonia violacea

Gaturamo-verdadeiro

FRU

F

Passeridae

Passer domesticus

Pardal

GRA

F-NF

Furnariidae

Certhiaxis cinnamomeus

Curutié

INS

F-A

Cranioleuca vulpina

Arredio-do-rio

INS

F-NF

Furnarius rufus

João-de-barro

INS

NF

Hirundinidae

Pygochelidon cyanoleuca

Andorinha-pequena-de-casa

INS

NF

Tachycineta albiventer

Andorinha-do-rio

INS

NF

Icteridae

Chrysomus ruficapillus

Garibaldi

GRA

NF-A

Icterus pyrrhopterus

Encontro

INS

F

Molothrus bonariensis

Chupim

INS

F-NF

Mimidae

Mimus saturninus

Sabiá-do-campo

INS

NF

Coerebidae

Coereba flaveola

Cambacica

NEC

F-NF

Passerellidae

Zonotrichia capensis

Tico-tico

GRA

F-NF

Troglodytidae

Troglodytes musculus

Corruíra-de-casa

INS

NF

Turdidae

Turdus amaurochalinus

Sabiá-poca

FRU

F

Turdus leucomelas

Sabiá-barranco

INS

F

Tyrannidae

Camptostoma obsoletum

Risadinha

INS

F-NF

Fluvicola nengeta

Lavadeira-mascarada

INS

NF

Machetornis rixosa

Suiriri-cavaleiro

INS

NF

Megarynchus pitangua

Neinei

ONI

F

Myiarchus ferox

Maria-cavaleira

INS

F

Myiodynastes maculatus

Bem-te-vi-rajado

INS

F

Myiozetetes similis

Bentevizinho-de-penacho-vermelho

INS

F

Pitangus sulphuratus

Bem-te-vi

ONI

F-NF

Pyrocephalus rubinus

Príncipe

INS

F-NF

Tyrannus melancholicus

Suiriri

INS

NF

Tyrannus savana

Tesourinha

INS

NF

Vireonidae

Cyclarhis gujanensis

Pitiguari

INS

F

Rhynchocyclidae

Todirostrum cinereum

Ferreirinho-relógio

INS

F

Thamnophilidae

Taraba major

Choró-boi

INS

F-NF

Thamnophilus doliatus

Choca-barrada

INS

F-NF

Thraupidae

Dacnis cayana

Saí-azul

ONI

F

Nemosia pileata

Saíra-de-chapéu-preto

INS

F

Sporophila lineola

Bigodinho

GRA

NF

Tachyphonus coronatus

Tiê-preto

ONI

F

Tangara cayana

Saíra-amarela

FRU

F-NF

Tangara palmarum

Sanhaçu-do-coqueiro

ONI

F

Tangara sayaca

Sanhaçu-cinzento

ONI

F-NF

 Pelecaniformes

Ardeidae

Ardea alba

Garça-branca-grande

PIS

A

Ardea cocoi

Garça-moura

ONI

A

Butorides striata

Socozinho

PIS

F-A

Egretta thula

Garça-branca-pequena

INS

A

Nycticorax nycticorax

Savacu

PIS

F-A

Threskiornithidae

Mesembrinibis cayennensis

Coró-coró

INS

F-A

 Piciformes

Picidae

Colaptes campestris

Pica-pau-do-campo

INS

NF

Dryocopus lineatus

Pica-pau-de-banda-branca

INS

F

Picumnus albosquamatus

Pica-pau-anão-escamado

INS

F-NF

Picumnus cirratus

Picapauzinho-barrado

INS

F

Veniliornis passerinus

Pica-pau-pequeno

INS

F

 Psittaciformes

Psittacidae

Brotogeris chiriri

Periquito-de-encontro-amarelo

FRU

F

Psittacara leucophthalmus

Periquitão maracanã

ONI

F

 Strigiformes

Strigidae

Athene cunicularia

Coruja-buraqueira

CAR

NF

 Suliformes

Phalacrocoracidae

Nannopterum brasilianus

Biguá

PIS

A



Legenda: G.T. = Guildas tróficas: CAR - carnívoro, FRU - frugívoro, GRA - granívoro, INS - insetívoro, NEC - nectarívoro, ONI - onívoro, PIS – piscívoro. H.O.= Habitat de ocorrência: A - exclusivamente aquáticos, F - exclusivamente florestais, F-A - hábitos mistos “florestais e aquáticos”, NF - não florestais, NF-A - hábitos mistos “não-florestais e aquáticas”. (Classificação feita com base em Alexandrino et al., 2013 e Alexandrino, 2015).

Distribuição das aves nas respectivas famílias e guildas

Na figura 3 são apresentados o número de espécies por família, entre as quais destacam-se as famílias Tyrannidae, com 11 espécies e Traupidae, com 7, corroborando alguns estudos recentes realizados com avifauna em áreas urbanas (ALEXANDRINO et al. 2013; BICA et al., 2014; DÜPONT; MOHR; ALCAYAGA, 2017; PINHEIRO et al., 2009). Em vários outros estudos semelhantes, a família Tyrannidae também foi a mais diversa (BONANÇA; BEIG, 2010; PONÇO; TAVARES; GIMENES, 2013; ROSA; BLAMIRES, 2011; SACCO; BERGMANN; RUI, 2013; SANTOS; CADEMARTORI, 2010; SCHERER; SCHERER; PETRY, 2010; SILVA; MARTINELLI, 2011; SILVA; CARREGARO, 2012), o que pode ser explicado pelo fato desses pássaros ocuparem todos os tipos de paisagem encontradas no Brasil (SICK, 1988). Entre os tiranídeos incluem-se as conhecidas espécies bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), suiriri (Tyrannus melancholicus) e lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), que são facilmente avistadas no parque e reconhecidas pela população.

Figura 3 - Número de espécies de aves por família.

O levantamento realizado categorizou cada espécie por sua guilda, conforme apresentado no quadro 1, totalizando 7 guildas distintas. A figura 4 demonstra em porcentagem, o número de espécies distribuídas por tipo de guilda, sendo: 35 insetívoras, 13 onívoras, 6 piscívoras, 6 granívoras, 5 frugívoras, 2 nectarívoras e 2 carnívoras.

Figura 4 - Porcentagem de espécies de aves de acordo com suas guildas tróficas.

Os dados obtidos mostram que 51% das aves (35 espécies) observadas no parque são preferencialmente insetívoras e 19% (13 espécies) possuem hábito onívoro. Diversos estudos recentes realizados sobre aves em ambientes urbanos revelam essa predominância de espécies insetívoras e onívoras em relação à outras guildas (ALEXANDRINO et al. 2013; ESSY; TRECO, 2015; PINHEIRO et al.; 2009; PONÇO; TAVARES; GIMENES, 2013; ROSA; BLAMIRES, 2011; SILVA; MARTINELLI, 2011).

A maior ocorrência de espécies de hábitos insetívoros e onívoros deve-se à disponibilidade de alimento durante o ano todo, para as espécies insetívoras e ao uso de recursos alimentares mais variados disponíveis em ambientes antropizados, para as espécies onívoras (SCHERER et al.; 2005; SCHERER, SHERER; PETRY, 2010).

A presença do lago no parque pode favorecer a ocorrência de espécies insetívoras, uma vez que as mesmas têm o hábito de se alimentar ao longo do espelho d´água, como as andorinhas (NEGRI; DESMONTS; LONGO, 2009).

Recursos disponíveis para as aves no parque

O Parque da Rua do Porto possui 18 espécies arbóreas descritas e catalogadas pela SEDEMA no folder Trilha no parque (ANEXO A). A fim de complementar as informações sobre os recursos alimentares disponíveis, foi realizado durante essa pesquisa, um levantamento de outras espécies arbóreas ainda não catalogadas, que são existentes no parque. Esse levantamento resultou em 11 espécies adicionais.

Na Tabela 1, foram compiladas as informações do folder Trilha no parque, do levantamento realizado nessa pesquisa e acrescentadas informações tais como; nome popular, nome científico, período de floração, frutificação e endemismo, totalizando 29 espécies arbóreas.

Algumas destas espécies de árvores são frutíferas e foram plantadas circundando o lago, fornecendo alimento tanto para as aves quanto para os peixes. Das 29 espécies apresentadas na tabela 1, sete são citadas por Dalgas-Frisch, (2005) como árvores atrativas para as aves. Conforme salientado por Nishida, Naide e Pagnin (2014), as aves se utilizam de diversas partes das plantas, não apenas dos frutos, alimentam-se também das sementes, pétalas e do néctar.

Além do fornecimento de alimento, como pode ser visto na figura 5, o parque também proporciona às aves, abrigo, água e local para nidificação. Essas informações corroboram Dalgas-Frisch (2005) que afirma a necessidade de “plantar” aves, ou seja, no planejamento da arborização urbana de uma cidade, nos parques, jardins e avenidas é preciso que arquitetos, urbanistas, prefeitos e governadores deem importância às espécies vegetais que as atraem.

Outro fator relevante observado nesse estudo é a proximidade do parque com o Rio Piracicaba e sua mata ciliar, bem como os fragmentos de mata do entorno, como o da Chácara Nazareth e da Área de Lazer do Trabalhador, que também proporcionam recursos para a avifauna local.

Tabela 1 - Árvores do parque com alto potencial de atração à avifauna.

Nome científico

Nome popular

Período floração

Período frutificação

Ocorrência

(--) Fraxinus americana

Fraxinus

jun a jul

-

Exótica – EUA e CAN

Erythrina dominguezii Hassl

Eritrina

-

-

Centro Oeste e Sudeste

Clitoria fairchildiana

Sombreiro

abr/mai

mai/jul

Norte do Brasil

Caesalpinia férrea

Pau-ferro

nov/fev

jul/set

PI até SP

(*) Inga vera Willd.

Ingá-do-brejo

ago/nov

dez/fev

SP até RS

Albizia niopoides

Farinha-Seca

out/jan

set/out

Centro Oeste e SP

Chloroleucon tortum

Jurema

out/nov

ago/set

RJ

(*) Erythrina falcata

Corticeira

jun/nov

set/nov

MG, MS até RS

Samanea tubulosa

Samaneiro

ago/nov

mai/jul

Centro Oeste, Norte e Nordeste

Anadenanthera macrocarpa

Angico

set/nov

-

Nordeste, até SP, MG e MS

(*) Genipa americana

Jenipapo

out/dez

nov/dez

Brasil em várzeas úmidas

Triplaris americana

Pau-formiga

ago/out

nov/jan

MG, MS, Oeste de SP

(--) Tabebuia pentaphylla

Ipê-rosa-de-el salvador

ago/out

-

Exótica - América Central

(--) Syzygium cumini

Jambolão

set/nov

-

Índia e Sri Lanka

(--) Sabal marítima

Sabal

-

-

Cuba e Jamaica

Ceiba speciosa

Paineira-Rosa

dez/abr

ago/set

Sudeste, MS e Norte PR

(*) Pseudobombax grandiflorum

Imbiriçu

jun/set

set/out

SP, RJ, MG, MS

Schinus molle L

Aroeira-Salsa

ago/nov

dez/mar

MG até RS

(*) Erythrina speciosa

Eritrina candelabro

jun/set

out/nov

ES e MG até SC

Eugenia uniflora L.

Pitanga

ago/nov

out/jan

MG até RS

(--) Mangifera indica L.

Manga

jul/ago

-

Índia e Sri Lanka

Caryota urens L.

Rabo de peixe

-

-

Índia até sudeste Asiático

(*) Talauma ovata

Pinheirinho do brejo

out/dez

ago/set

Sudeste, MG até Norte RS

Cytharexyllum myrianthum

Pau viola

out/dez

jan/mar

BA ao RS

(--) Tipuana tipu

Tipuana

set/dez

-

Bolívia e Argentina

Cordia superba Cham.

Baba de boi

out/fev

set/nov

RJ, MG, e SP

Schizolobium parahyba (Vell.)

Guapuruvu

ago/out

abr/jul

BA até SC

(*) Psidium cattleianum Sabine

Araça

jun/dez

set/mar

BA até RS

Cedrela fissilis Vell.

Cedro rosa

ago/set

jun/ago

RS até MG



Legenda: (*) = Espécies citadas na obra de Dalgas-Frisch (2005). (--) = para estas espécies exóticas, não foram encontradas informações sobre floração, frutificação e ocorrência).

Figura 5 - Periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri) se alimentando na Eritrina-candelabro (Erythrina speciosa).

Um recurso importante para as aves neste local é o lago, cujas margens apresentam touceiras de gramíneas e de outras espécies vegetais (figura 6), utilizadas para variados fins, como substrato para empoleiramento, abrigo e local para nidificação de algumas espécies, além de alimento abundante, devido à presença de peixes e de outros animais, que são atraídos pela água, como alguns insetos.

Figura 6 – Touceira de várias espécies vegetais dentro do lago.

Sobre o lago e seus peixes, existe uma estimativa da existência de 14 espécies de peixes, conforme informação verbal dos pescadores locais e do ecólogo Sebastião Amaral Campos, que participou dos trabalhos de introdução dos peixes do lago como funcionário da SEDEMA, sendo que as mais comuns citadas foram: Pintado, Pacu, Lambari, Guaru e Curimbatá.

Embora não se tenha conhecimento de levantamentos realizados sobre outras espécies da fauna local, é notável a presença de vertebrados como roedores e lagartos e, de invertebrados, como insetos e aracnídeos, que podem ser utilizados como fonte de alimento para as aves.

Outro recurso alimentar disponível para as aves do parque são os restos de alimentos deixados pelos frequentadores tais como: bolachas, salgadinhos, pipocas entre outros alimentos observados, muito embora estes não sejam adequados para o consumo das aves. Também existe entre os frequentadores, o costume de alimentar aves como os pombos, jogando alimentos para que estes se aproximem e, entre os pescadores, existem aqueles que alimentam as garças com peixes.

De acordo com Matarazzo-Neuberger (1995), grandes praças e parques com vegetação variada e que ainda conservem parte da vegetação natural, são favoráveis para a manutenção de uma avifauna variada, abrigando também espécies que já convivem com o homem.

Propostas de atividades de Educação Ambiental utilizando as aves do parque como ferramenta educativa

Nessa última década, muitas práticas e intervenções em relação à Educação Ambiental vêm ocorrendo em locais como Zoológicos, Unidades de Conservação e Parques Urbanos. Estes locais muitas vezes possuem espaços determinados para trabalhar atividades com seus visitantes, podendo então transmitir conhecimentos sobre a flora e fauna local, visando a sua conservação de maneira atrativa e dinâmica (TELLES et al., 2002).

Para o Parque da Rua do Porto, foram elaboradas sete propostas de atividades utilizando as aves como ferramenta para Educação Ambiental, com indicação do público alvo para cada uma delas.

Proposta 1 - Ninho do saber

Espaços educativos mostram-se uma importante ferramenta de educação não formal como descrevem Bomfim, Silva, Tinoco (2014), proporcionando aos visitantes a oportunidade de interação e aprendizado de maneira acessível e dinâmica.

Dessa forma a proposta 1 intitulada Ninho do saber, foi desenvolvida como base para um futuro projeto onde uma estrutura dentro do parque, como um quiosque por exemplo, possibilitaria a interação dos visitantes com jogos, imagens, painéis digitais, folders ou cartazes com informações básicas de algumas espécies da avifauna do parque (Figura 7).

O intuito do espaço Ninho do saber seria de interação com essas informações e figuras das aves do parque, através de objetos ou estruturas que necessitem de movimentação ou encaixe, tornando a experiência do visitante menos passiva e contemplativa, proporcionando mais leveza e diversão no processo de aprendizagem. O Ninho do saber poderá ser construído a partir de estruturas já existentes no parque, conforme apresentado nas figuras 8 e 9A e B ou em outro espaço futuramente planejado.

Público alvo: visitantes do parque de todas as idades.