Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Relatos de Experiências
16/09/2018 (Nº 65) ABORDAGEM AMBIENTAL NAS ATIVIDADES EDUCATIVO-PREVENTIVAS DESENVOLVIDAS PELO PROJETO DE EXTENSÃO “APRENDER BRINCANDO”: RELATO DE EXPERIÊNCIA
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ABORDAGEM AMBIENTAL NAS ATIVIDADES EDUCATIVO-PREVENTIVAS DESENVOLVIDAS PELO PROJETO DE EXTENSÃO “APRENDER BRINCANDO”: RELATO DE EXPERIÊNCIA



Ana Lídia Soares Cota - Doutorado em Ciências Odontológicas Aplicadas; Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL); e-mail: ana.cota@uol.com.br;

Bárbara Jessica de Assunção Costa2 Discentes do Curso de Odontologia do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL); e-mail: barbara_jessik@hotmail.com

Leylane Ramos Houly - Discente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL); e-mail: leylaneramos@hotmail.com

Raphaela Lins de Lessa Cavalcanti - Discente do Curso de Odontologia do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL); e-mail: rllc12@hotmail.com

Valter Silva - Educação física – Doutor em medicina interna e terapêutica – UNIFESP; Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL); e-mail: v.silva@ymail.com;

Ronaldo Gomes Alvim – Biólogo, Doutor em Meio Ambiente Natural e Humano em Ciências Humanas; Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL); e-mail: alvimrg@yahoo.com.br.

RESUMO:

O objetivo do presente trabalho é, por meio de um relato de experiência, apresentar as atividades desenvolvidas pelo Projeto de Extensão: Aprender Brincando. Descrevemos a experiência com crianças que aguardam atendimento odontológico na Clínica de Odontologia do Centro Universitário Tiradentes a partir da realização de atividades educativo-preventivas para transmitir aos pacientes ensinamentos relacionados à saúde bucal, com foco na responsabilidade socioambiental. Ao longo do semestre letivo de 2017, foram beneficiadas aproximadamente 200 crianças de 4 a 12 anos de idade, as quais participaram ativamente de atividades como jogos, oficinas e teatro. Os resultados impactaram tanto no processo ensino-aprendizagem quanto na melhora da cooperação dos pacientes durante o tratamento odontológico, devido a diminuição da ansiedade e do medo infantil. Desta forma, conclui-se que, durante a formação acadêmica do cirurgião-dentista, a realização de atividades de educação em saúde deve ser incentivada, principalmente por meio da extensão universitária, destacando sua atuação profissional pautada em princípios éticos, legais e com compreensão da realidade social, cultural e econômica meio em que vive.

ABSTRACT:

The aim of this study is to report the experience developed in the extension project: “Learn to Play”. We describe the experience with children waiting for dental care in a dentistry school clinic. The project was based on educational-preventive activities to teach patients about oral health, focusing on socio-environmental responsibility. During the academic semester of 2017, around 200 children with 4 to 12 years of age were engaged in activities such as games, workshops and theater. The engagement influenced both the teaching-learning process and the improvement of patient cooperation during dental treatment due to the reduction of anxiety and child fear. Thus, we concluded that during the academic training of the dental surgeon, health education activities should be encouraged, mainly through university extension. Professional behavior should be based on ethical principles, legal and with understanding of the social, cultural and economic reality in which children live.

INTRODUÇÃO:

A Educação Ambiental tem sido considerada uma estratégia viável para a Atenção Primária à Saúde com alcance comunitário ao trabalhar questões socioambientais que interferem na condição de saúde das pessoas (PEREIRA; MELO; FERNANDES, 2012). Considerando que o aprendizado para a vida é parte integrante de seus princípios, utilizar espaços acadêmicos, ainda que sejam laboratórios ou clínicas de serviço ao público em geral, apresentam um caráter popular por considerar que se trata da construção do sujeito coletivo, isto é, aquele que luta pelos seus direitos sociais (VIEIRA; OLIVEIRA, 2011).

Nesse contexto, a educação popular, que envolve a saúde coletiva, representa uma atividade do campo de aprendizagem de natureza interdisciplinar cujo conceito é oferecer ao aprendiz técnicas sobre epidemiologia, profilaxia e bem-estar em todas as atividades ligadas ao bem-estar do indivíduo (PAIM, ALMEIDA FILHO, 2000; OSMO, SCHRAIBER, 2015).

Partindo desta premissa, espera-se ultrapassar os conceitos escolares através de uma educação formal para a informal (COSTA, 2014). Este é um ponto extremamente importante, pois uma educação social fora das fronteiras escolares e oferecida a população de baixa renda em que, para muitos, restringe-se a aquisição de conhecimentos por meio de material didático, certamente irá repercutir de forma positiva para a sua construção cidadã.

A Odontologia, sem dúvidas, enquadra-se nesta condição, uma vez que por meio de atividades que facilitem a aprendizagem e a construção do conhecimento, tendem a propiciar uma melhoria na qualidade de vida da população. Assim, a educação em saúde tem sido constantemente relacionada como uma prática viabilizadora da saúde bucal (FADEL; BORDIN; LANGOSKI, 2013).

Durante o processo de ensino-aprendizagem, a motivação do paciente é um fator imprescindível, visando a promoção da saúde bucal e a prevenção de doenças, como a cárie dentária, particularmente no público infantil. Sua essência implica no conhecimento e na conscientização dos indivíduos, aliada ao desenvolvimento de habilidades físicas, focada em oportunidades de aprendizagem, podendo ser desenvolvida em uma enorme diversidade de espaços sociais, grupos populacionais e diferentes atividades.

A literatura aponta para a possibilidade da utilização de diversas atividades lúdicas no espaço odontológico (COTA; COSTA, 2017), como facilitadoras de uma dinâmica de interações que (re)significam o modelo tradicional de intervenção e cuidados no âmbito de atuação da odontologia (OLIVEIRA, 2014 p.106).

Moraes et al. (2011) enfatizam que todo processo educativo pode ser iniciado por meio de brincadeiras, ressaltando que a aplicação de tais atividades unidas às técnicas convencionais de educação transforma o processo de ensino-aprendizagem em um processo ativo, no qual a informação transmitida é colocada em prática com o auxílio de divertimento, motivação e reforço do aprendizado. Um exemplo de trabalho voltado para a promoção da saúde bucal infantil é o Projeto de Extensão desenvolvido pelo curso de Odontologia do Centro Universitário Tiradentes (UNIT/AL), intitulado: Aprender Brincando. O projeto tem como público-alvo as crianças que aguardam atendimento odontológico na sala de espera da Clínica de Odontologia da instituição e ocorre a partir da realização de diversas atividades educativo-preventivas com o intuito de transmitir aos pacientes ensinamentos relacionados à saúde bucal, com foco na responsabilidade socioambiental.

METODOLOGIA:

Todas as atividades foram planejadas, elaboradas e executadas quinzenalmente por acadêmicos do curso de Odontologia, sob supervisão docente,

A população beneficiada constou de aproximadamente 200 crianças de 4 a 12 anos de idade, em sua grande maioria, moradoras de comunidades carentes próximas à UNIT/AL.

As principais atividades desenvolvidas pelo projeto, ao longo do semestre letivo de 2017, foram:

- Jogo da caixa mágica: Visa debater e orientar de forma lúdica sobre os vários aspectos que envolvem a cárie dentária e sua prevenção. Trata-se de uma caixa de papelão decorada que contém alguns objetos relacionados com a boa alimentação e a higienização bucal. Cada criança retirava um objeto de dentro da caixa, tentava identificá-lo e juntamente com os mediares da atividade discutia sobre sua relação com a doença (Figura 1).

- Oficina para confecção de porta-escovas e de fio dental: Durante esta atividade os participantes aprenderam a fabricar seu próprio porta-escovas (Figura 2) e fio dental (Figura 3) utilizando garrafas e sacolas plásticas descartáveis, respectivamente

- Dinâmica do passa fio: Por meio do uso de uma corda, foi ensinada a forma correta de uso do fio dental e sua importância como auxiliar da higiene bucal. Esta atividade estimulou o trabalho em grupo e despertou tanto habilidades cognitivas quanto motoras (Figura 4).

- Oficina com massinha de modelar: As próprias crianças foram orientadas a confeccionarem objetos com temas relacionados à saúde bucal e dissertarem sobre seu papel na epidemiologia da cárie dentária (Figura 5).

- Teatro com fantoches: As crianças assistiram e interagiram com personagens em formato de macromodelos que contaram uma estória infantil com enredo odontológico, de forma divertida e lúdica (Figura 6).

- Jogos de tabuleiro: Tanto o jogo da memória (Figura 7) quanto o da Corrida dos Dentes (Figura 8) foram construídos pelas acadêmicas e aplicados com o objetivo de reforçar todos os ensinamentos transmitidos durante as demais atividades propostas pelo projeto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como a proposta do projeto relaciona-se ao alcance da aprendizagem de forma lúdica, dinâmica e capaz de motivar os pacientes no âmbito da educação em saúde bucal, a opção de envolver as crianças que aguardam o serviço ofertado pela Clínica de Odontologia foi uma forma de retirá-las da ociosidade e minimizar o estresse na sala de espera.

Em um ano de implementação das atividades, os resultados foram extremamente relevantes uma vez que foi observado pela equipe executora e pelos docentes da instituição, uma diminuição da ansiedade e do medo infantil, refletindo em uma melhora na cooperação durante o tratamento odontológico.

O projeto também impactou tanto na socialização das crianças, desde que trabalharam habilidades individuais e coletivas na aprendizagem, quanto no despertar da responsabilidade socioambiental ao utilizar materiais recicláveis na confecção de instrumentos para uso próprio do paciente, como o porta-escovas e o fio dental. Neste sentido, cabe ressaltar que a prática odontológica abrange uma gama de atividades e de interfaces que interagem não somente com o processo saúde-doença bucal, como também com os aspectos e impactos ambientais (ANCELES et al., 2012). Os cirurgiões-dentistas têm discutido amplamente a questão ambiental com vistas à implementação de estratégias de sustentabilidade na prática odontológica. É inaceitável o exercício da Odontologia como tão somente a solução de problemas bucais. O profissional tem a responsabilidade social de incorporar em seu cotidiano atitudes concretas que reduzam o impacto de seu processo produtivo (ALVES-REZENDE; BERTOZ, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento de atividades lúdicas como ferramenta para promoção da saúde bucal infantil conseguiu atrair a atenção das crianças, gerando motivação no processo de ensino-aprendizagem. A associação de diferentes recursos empregados de forma racional e considerando a idade do público-alvo favoreceu que as informações repassadas fossem absorvidas de forma natural e envolvente. Assim, conclui-se que, durante a formação acadêmica do cirurgião-dentista, a realização de atividades de educação em saúde deve ser incentivada, principalmente por meio da extensão universitária, destacando sua atuação profissional pautada em princípios éticos, legais e com compreensão da realidade social, cultural e econômica meio em que vive.

REFERÊNCIAS:

COSTA, R. H. Notas sobre a Educação formal, não-formal e informal. In: Anais do III SIMPOM. P.435-444. 2014. Acessado em< http://www.seer.unirio.br/index.php/simpom/article/viewFile/4578/4100> Obtido em 27/mai/2018.

COTA, A. L. S.; COSTA, B. J. A. Atividades lúdicas como estratégia para a promoção da saúde bucal infantil. In: Revista Saúde e Pesquisa, v. 10, p. 365-371, 2017.

PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. A crise da saúde pública e a utopia da saúde coletiva. Salvador: Casa da Qualidade, 2000.

OSMO, A.; SCHRAIBER, L. B. O campo da Saúde Coletiva: definições e debates na sua constituição. IN: Saúde Soc. São Paulo, v.24, supl.1, p.205-218, 2015

OLIVEIRA, J. C. C. Atividades lúdicas na Odontopediatria: uma breve revisão da literatura. In: Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro, v. 71, n. 1, p. 103-7, jan./jun. 2014

MORAES, K.R et al. Motivação de higiene dental utilizando brinquedos com temas odontológicos. In: Revista ConScientia e Saúde, São Paulo, v.10, n. 4, p.723-728. 2011

PEREIRA, CARLOS A. R.; MELO, JULIANA V. DE.; FERNANDES, ANDRÉ L. T. A educação ambiental como estratégia da Atenção Primária à Saúde. In: Rev. Bras. Med. e Fam. Comunidade. Florianópolis, v.7, n.23, p. 108-16, Abr-Jun, 2012.

VIEIRA, A. C. P.; OLIVEIRA, S. S. Educação ambiental e saúde pública: uma análise crítica da literatura. In: Ambiente & Educação, v. 16, n. 1, p. 37-44, 2011.

FADEL C. B; BORDIN D.; LANGOSKI J. E., A educação como prática viabilizadora da saúde bucal. In: J Health Sci Inst. 31(2):136-40. 2013

ANCELES J. de F. S. F., et. al. Importância da odontologia sustentável na interface saúde/ambiente. In: Ver. Pesq. Saúde, 13(2): 60-66, maio-agosto, 2012

ALVES-REZENDE, M. C. R.; BERTOZ A. P. M. Estratégias de sustentabilidade na prática odontológica. In: Revista Odontológica de Araçatuba, v.32, n.1, p. 37-39, Janeiro/Junho, 2011.





Ilustrações: Silvana Santos