Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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10/09/2018 (Nº 43) METODOLOGIAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
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METODOLOGIAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Karem Susan Hansen*

 

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – POSEAD/FGF

 

*Especialista em Metodologias de Ensino  

em Educação ambiental

 

RESUMO

 

Atualmente, os educadores ainda se deparam com dificuldades e desafios que a Educação Ambiental tem que enfrentar no dia-a-dia escolar. Por isso, pergunta-se: de que maneira a temática ambiental tem sido trabalhada pelos professores que a desenvolvem nas escolas? E ainda, como ela está sendo conduzida no ensino da educação infantil? Sabe-se, portanto, que a Educação Ambiental é um processo permanente e contínuo, que não se limita à educação escolar, mas, introduzi-la na escola, inclusive na educação infantil é uma das estratégias para o seu desenvolvimento. Visando expectativas relacionadas à educação ambiental no ensino, faz-se presente este trabalho, que tem como objetivos refletir sobre as práticas de ensino de educação ambiental, no cenário da educação infantil, determinar seus princípios e finalidades, bem como conhecer as propostas de ensino de educação ambiental na educação infantil de uma escola em estudo. Este trabalho foi desenvolvido em duas etapas: a primeira realizada em uma abordagem qualitativa, caracterizada pela análise da bibliografia existente no cenário da educação ambiental e a segunda etapa, realizada de forma quantitativa, onde foi desenvolvida uma sondagem na escola em estudo, caracterizando os métodos utilizados para conduzir o ensino de educação ambiental com as crianças da educação infantil.

Palavras-chave: educação ambiental, educação infantil, prática docente.

 

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, observa-se se uma expansão da educação ambiental no ensino formal, ocorrendo sua universalização nas escolas. A LDB sancionada em 1997 relaciona a Educação Ambiental como tema transversal, os PCNs, e deixa claro que a mesma deve ser trabalhada de forma interdisciplinar e em consonância com o contexto social. Porém, mesmo que a inserção desta temática seja atualmente uma realidade no ensino formal, sabe-se das dificuldades e desafios que a educação ambiental ainda tem que enfrentar no dia-a-dia escolar. Devido ao próprio dinamismo da sociedade, o despertar para a questão ambiental no processo educativo deve começar desde a infância.

 

Diante deste aspecto, questiona-se: como os professores da educação infantil estão desenvolvendo suas práticas de ensino de educação ambiental nas escolas?  A determinação para que a educação Ambiental seja integrada, contínua e permanente implica o início do seu desenvolvimento na educação infantil sem futura interrupção. Por isso, tomar conhecimento da realidade em que as crianças estão inseridas é fundamental para formarem valores relacionados às questões ambientais.

A Lei 9.795/99 estabelece que a Educação Ambiental deva estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, respeitando em suas diretrizes nacionais. O princípio citado no artigo 4º, inciso VII da Lei 9.795/99, valoriza a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais e nacionais, e o artigo 8º, incisos IV e V incentivam a busca de alternativas curriculares e metodológicas na capacitação da área ambiental e as iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo (BRASIL, 1999).

 

1.    A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A PRÁTICA DOCENTE

A Educação Ambiental surgiu como um processo educativo, de formação da cidadania, com princípios que rompem com a ideia de que as causas dos impactos ambientais residem apenas, entre outros fatores, na expansão demográfica, na agricultura intensiva e na crescente urbanização e industrialização.

No entanto, Educação Ambiental está cada vez mais consolidada como política pública no ensino formal decorrente de exigência e mobilização da sociedade. Para Marcos Reigota (1998), é na prática pedagógica cotidiana que a educação ambiental poderá oferecer uma possibilidade de reflexão sobre alternativas e intervenções sociais, nas quais a vida seja constantemente valorizada e os atos de deslealdade, injustiça e crueldade possam ser repudiados. Face essas constatações, a escola, como uma das principais agências formadoras do ser humano, vê-se questionada e desafiada pelas pressões que o mundo contemporâneo vivencia.

Neste contexto, a escola brasileira, inseriu em seu currículo os chamados “temas transversais” (BRASIL, 1998), com o intuito de promover um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. Os temas transversais dizem respeito a conteúdos de caráter social, que devem ser incluídos no currículo do ensino fundamental, de forma transversal, ou seja: não como uma área de conhecimento específica, mas como conteúdo a ser ministrado no interior das várias áreas estabelecidas.

A Educação Ambiental está enfocada no sentido de transversalidade, não sendo objeto de preocupação de uma única disciplina, mas, numa perspectiva inter e multidisciplinar, onde busca desenvolver o ser humano por meio de estratégias que instiguem sua percepção, raciocínio e expressão produzindo comparações, análises e sínteses, novos conhecimentos a partir de sua realidade, da sua vivência. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs):

 

A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, superando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaços para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas de significados construídos na realidade dos alunos (MEC, 1997).

 

         A escola é um local imprescindível de se promover a consciência ambiental a partir da conjugação das questões ambientais com as questões sócio-culturais. As aulas são o espaço ideal de trabalho com os conhecimentos dos alunos e onde se desencadeiam experiências e vivências formadoras de consciências mais vigorosas porque alimentadas no saber (PENTEADO, 1994). Dentro desta perspectiva, pode-se considerar que este milênio está exigindo dos educadores o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes voltadas ao pensar, reformular e transformar a prática pedagógica com vistas a mudanças significativas no contexto escolar.   

 

É preciso que a educação esteja em seu conteúdo, em seus programas e em seus métodos, adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e historia (FREIRE, 1980).

 

            Identifica-se como educador ambiental, aquele ser que desperte a consciência na defesa do meio ambiente. Segundo Manucci (2004), o educador ambiental percebe a dificuldade da comunidade em se dispor a mudar seus costumes e empreende-se em ações que promovam a alteração dos valores da sociedade para com a natureza, estimulando a mudança de hábitos com vistas à melhoria da qualidade de vida no ambiente próximo. Frente a estas considerações, pode-se constatar que a função social do educador ambiental deve ser a de um agente multiplicador do processo de conscientização de sua comunidade, atuando na transformação e melhoria de seu ambiente próximo, por processos dialógicos com os diversos setores da sociedade e respeitando suas respectivas competências, a semelhança da educação para a cidadania, defendida por Paulo Freire.

Manucci (2004) defende que este agente multiplicador pode auxiliar a promover e melhorar a compreensão sobre a inter-relação entre água, energia, produção de alimentos, conservação dos recursos naturais, resíduos e suas relações socioeconômicas, políticas e ecológicas.

Mas, como colocar em prática estas questões pertinentes? Berna (2004) considera que o educador ambiental deve procurar colocar os alunos em situações que sejam formadoras, como por exemplo, diante de uma agressão ambiental ou conservação ambiental, apresentando os meios de compreensão do meio ambiente. Em termos ambientais isso não constitui dificuldade, uma vez que o meio ambiente está em toda a nossa volta. Entretanto, mais importante que dominar informações sobre um rio ou ecossistema da região é usar o meio ambiente local como motivador.

Se as propostas pedagógicas escolares estão comprometidas com a formação do cidadão como ser individual, social, político, cultural e produtivo, com participação ativa nos processos sociais, a educação sócio-ambiental deve ser plenamente compatível com os fins, objetivos e organização do sistema educacional (SILVA, 2004).

 

2. A ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

2.1 -  O que consta na legislação

A Lei 9.795/99 estabelece que a Educação Ambiental deva estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, respeitando em suas diretrizes nacionais. O princípio citado no artigo 4º, inciso VII da Lei 9.795/99, valoriza a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais e nacionais, e o artigo 8º, incisos IV e V incentivam a busca de alternativas curriculares e metodológicas na capacitação da área ambiental e as iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo (BRASIL, 1999).

A Lei ainda identifica a Educação Ambiental como um processo, ou seja, uma vez iniciado prossegue indefinidamente por toda a vida, aprimorando-se e incorporando novos significados sociais e científicos. Devido ao próprio dinamismo da sociedade, o despertar para a questão ambiental no processo educativo deve começar desde a infância. A determinação para que a educação Ambiental seja integrada, contínua e permanente implica o início do seu desenvolvimento na educação infantil sem futura interrupção.

Na Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, a questão ambiental aparece nos objetivos gerais do RCNEI, os quais ressaltam que a criança precisa: “Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação” (BRASIL, 1998, vol. 1, p.63).

As Propostas Pedagógicas das Instituições de Educação Infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual devem buscar (...) a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã (DCN, 1999).

 

2.2 – A criança como sujeito

            A criança é sujeito sócio-histórico-cultural, um ser da natureza que tem especificidades no seu desenvolvimento, determinadas pela interação entre os aspectos biológicos e culturais. Conforme Faria (2007), considerar a criança como sujeito é levar em conta que ela tem desejos, idéias, opiniões, capacidade de decidir, criar, inventar, que se manifestam desde cedo a partir de seus movimentos, expressões, na sua fala.

            É através da curiosidade, que a criança desenvolve cada vez mais a capacidade de agir, observar e explorar tudo o que encontra ao seu redor. Por isso, necessita de orientações para ter uma aprendizagem significativa que contribua para o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, psicomotor e social.

  É na faixa etária de quatro a seis anos que as crianças precisam vivenciar situações concretas para assimilar os conhecimentos. Por isso, tomar conhecimento da realidade em que elas estão inseridas é fundamental para formarem valores relacionados às questões ambientais. Rau (2011) aborda em seus estudos, que os métodos que contemplem a educação ambiental na educação infantil como linguagem adequada aos alunos, recursos lúdicos, fazem parte do cenário que possibilita a construção do conhecimento.

As crianças valorizam a escola, pensam que através dela aprendem coisas novas e podem ter melhores oportunidades na vida. Reproduzem a expectativa dos pais que enxergam na escolaridade um mecanismo de ascensão social (TEIXEIRA, 2010).

 

As escolas devem estimular as crianças a preservarem o meio ambiente, visando a sustentabilidade do planeta. Há um grande número de pessoas preocupadas com o tema e buscando soluções viáveis. Dentro deste contexto, Gírio (2010) defende que, cabe à família e à escola trabalharem com os pequenos no sentido de que todos somos responsáveis pelo meio ambiente e que precisamos rever os nossos hábitos, mesmo os mais inocentes, se quisermos viver num planeta saudável para todos os seres vivos.

 

É fundamental envolver as crianças em questões sobre o meio ambiente, com criatividade e sensibilidade, para que se percebam como elemento importante de transformação onde cada um é responsável e pode fazer a sua parte para que possamos viver num mundo melhor, mais saudável.

Segundo as Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em Pedagogia (2005), o curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, (...) e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais e outras; realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros.

Denota-se então, a importância do trabalho do professor frente à criança e à própria questão ambiental, visto que ele é um dos referenciais que pode ajudar a criança a descobrir respostas e, mais importante ainda, ajudá-las a indagar a si mesmas questões relevantes (RINALDI apud EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p.114). Dessa forma, o professor precisa sair do senso comum evidenciado tanto nas práticas como nos próprios currículos da Educação Infantil e começar a instituir o conhecimento científico-tecnológico, estimulando a própria criança a descobrir os problemas existentes em relação à natureza, à biodiversidade e aos seus porquês.

Gírio (2010) salienta que as crianças precisam de vivências enriquecedoras, a partir da mediação das suas educadoras que os orientam de forma sistemática a observar, experimentar, pesquisar, comparar, relacionar, formular, relatar, enfim, construir conhecimentos significativos despertando o sentido de cuidar para não faltar, interessar-se por ações que preservem o meio ambiente, por meio de experiências. Vivenciar, por meio da prática, experiências que ampliam o conhecimento sobre temas trabalhados em sala de aula, faz com que a criança participe do processo de aprendizagem de uma forma mais dinâmica e prazerosa.

 

É fundamental (...) possibilitar vivências para que a criança sinta a necessidade de cuidar bem do meio ambiente. E não basta que a criança aprenda a importância de preservar o meio ambiente, é necessário que ela tome como exemplo as atitudes dos adultos de seu convívio como educadores e familiares (GÍRIO, 2010).

 

3. A PRÁTICA DOCENTE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO INFANTIL

 

O estudo apresentado neste artigo refere-se a uma pesquisa de campo realizada na educação infantil de uma escola da rede privada, no município de Florianópolis, SC. Este estudo teve como objetivo analisar as metodologias utilizadas pelos professores da educação infantil, para o ensino da educação ambiental.

A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma sondagem realizada na escola, em relação aos métodos utilizados para conduzir o ensino de educação ambiental com as crianças da educação infantil.

 

3.1 Procedimentos metodológicos

 

Para coleta de dados da escola em estudo, foram utilizados três procedimentos de coleta de dados para a presente pesquisa: observação, questionário e análise documental (ALVESMAZZOTTI & GEWANDSZAJDER, 1998; LÜDKE E NDRÉ, 1986), referentes às metodologias de ensino de educação ambiental aplicadas na educação infantil. A análise documental pode se tornar uma técnica valiosa para a coleta de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outros métodos, seja revelando aspectos novos de um problema (LÜDKE & ANDRÉ, 1986). Os documentos utilizados foram: Projeto Pedagógico; projetos voltados à educação ambiental, planejamentos pedagógicos dos professores; os recursos didáticos utilizados por eles (como vídeos e livros de literatura infantil); bem como materiais produzidos pelos mesmos.

O questionário foi elaborado a partir do problema da pesquisa, onde a análise das respostas foi feita a partir da descrição das estratégias de ensino de educação ambiental elaboradas pelos entrevistados.

 

3.2 Considerações acerca dos resultados

 

A pesquisa foi realizada com professoras do 3°, 4° e 5° ano da educação infantil de uma escola, no intuito de conhecer suas estratégias de ensino, relacionadas à educação ambiental. Segundo Rau (2011), é na faixa etária de quatro a seis anos que as crianças precisam vivenciar situações concretas para assimilar os conhecimentos.

            Primeiramente, foram questionados às professoras, quais são suas concepções de educação ambiental. As respostas obtidas baseiam-se em uma concepção de formação de valores sociais, voltados para a conservação do meio ambiente, “uma educação que deve acontecer desde nosso consumo diário, na separação dos nossos lixos, cuidados com os animais e respeito com o meio ambiente”.    

Também foram questionados os motivos que levam os professores a trabalharem com educação ambiental. A conscientização e a preservação foram os termos mais citados nesta resposta. Também foi relatado nos questionários, que o trabalho de educação ambiental com as crianças é diário.

Outra questão pertinente é a preocupação com a formação continuada em educação ambiental. Na escola em estudo, nenhuma professora dos grupos da educação infantil participou de algum curso de formação em educação ambiental.

            Os professores da educação infantil, na maioria das vezes, não possuem orientação nem material para este trabalho. A temática ambiental dificilmente está presente nos cursos de formação de professores de educação infantil. Os cursos de formação continuada, geralmente são destinados aos professores de Ensino Fundamental e Médio, bem como os materiais produzidos e disponibilizados. A escola e os professores de educação infantil não possuem recursos financeiros para a aquisição de livros e, ao mesmo tempo, possuem dificuldades técnicas para a produção de seus próprios materiais (RUFFINO, 2003).

            Foi questionado também, se a escola possui algum projeto voltado para a educação ambiental. Segundo as professoras, existe na escola, uma parceria firmada com uma empresa que desenvolve projetos de sustentabilidade, visando incorporar diversas ações na escola que servem de apoio ao seu sistema de ensino para aprimorar sua educação ambiental.

O principal objetivo desta parceria é transformar a educação ambiental que é empregada hoje nas instituições de ensino, onde somente são realizados trabalhos em hortas, separação de lixo e visitação a zoológicos. A educação ambiental vai muito mais além: reduzir o consumo e buscar produtos mais ecológicos para evitar a produção de resíduos, entender realmente o que é ser sustentável e aplicar ferramentas na vida cotidiana, entender as relações do ser humano com o meio ambiente e como podemos impactar menos, entre outras ações. Segundo uma das professoras, “a comunidade escolar estará diretamente envolvida, trazendo suas problemáticas e soluções possíveis para uma qualidade de vida com sustentabilidade”. As atividades propostas pela empresa são: oficinas de papietagem, horta escolar, criação de um viveiro de mudas, entre outras.

 

Os procedimentos pedagógicos mais utilizados pelas educadoras, para trabalhar educação ambiental com as crianças, segundo seus planejamentos, são: a roda da conversa, as saídas a campo no entorno da escola, aula vivência, dramatizações com o uso de fantoches, livros infantis voltados à educação ambiental, filmes e a realização de produções artísticas (desenhos, pinturas, maquetes).

Todas as professoras utilizam a roda da conversa como o procedimento pedagógico inicial nas atividades consideradas como de educação ambiental, com o intuito de introduzir a temática e o conteúdo a ser abordado, além da apresentação da atividade a ser realizada no dia. Segundo Leite (2004), a roda da conversa é positiva, pois possibilita momentos de interação entre os colegas e o professor, e também incorporar discussões acerca das atividades a serem desenvolvidas e vivenciadas na escola.

Os livros de literatura infantil também são instrumentos utilizados por todas as professoras dos grupos analisados da educação infantil, como forma de levantar questões de conscientização ambiental. Segundo uma das professoras, “é possível despertar a consciência dos alunos, a partir do conto de historinhas que envolvem a natureza, os animais, e o meio ambiente e suas relações”. Leite (2004) afirma que a escola deve incentivar a leitura, uma vez que esta é uma forma de estimular a criatividade e imaginação das crianças, além do contato com a linguagem escrita.

Coelho e Santana (1996) e Figueira (2001) consideram que os livros de literatura infantil podem se tornar instrumentos importantes para a educação ambiental, uma vez que são recursos muito utilizados na educação infantil, que podem estimular a criatividade e imaginação, podendo, inclusive, conscientizar os leitores acerca de questões ambientais.

As saídas de campo, ou aula-vivência, também são estratégias utilizadas pelas professoras desta escola. Em um dos momentos de saída de campo, as professoras organizaram um passeio com as crianças para visitar o Projeto Tamar, localizado na Barra da Lagoa, em Florianópolis. Lá, as crianças tiveram a oportunidade de conhecer algumas espécies de tartarugas marinhas, como se alimentam e como vivem em seu habitat. Também foram abordados os problemas causados pela poluição dos oceanos e sua conseqüência na vida marinha.

Outro evento considerado importante para a escola foi a Semana do Meio Ambiente, onde as crianças desenvolveram atividades diárias relacionadas ao tema como: plantio de mudas e sementes, separação de lixo, oficinas de reciclagem, sessão cinema com filmes voltados para a proteção do meio ambiente, confecção de cartazes de conscientização, entre outras.

Girio (2010) salienta em suas análises, que essas vivências possibilitam as crianças o sentimento da necessidade de cuidar do meio ambiente. E não basta que a criança aprenda a importância de preservar o meio ambiente, é necessário que ela tome como exemplo as atitudes dos adultos de seu convívio como educadores e familiares.

            CONSEIDERAÇÕES FINAIS

 

Frente aos dados obtidos neste trabalho, pode-se afirmar que a educação ambiental não é uma área de conhecimento e atuação isolada. Ao contrário, o contexto em que surgiu deixa claro seu propósito de formar agentes capazes de compreender a interdependência dos vários elementos que compõem a cadeia de sustentação da vida, as relações de causa e efeito da intervenção humana nessa cadeia.

A educação ambiental está inserida no ensino infantil de maneira informal e é trabalhada diariamente com as crianças.  Isso é fundamental, pois envolve as crianças em questões sobre as problemáticas do meio ambiente e assim, elas sentem-se elemento importante de transformação onde cada um é responsável e pode fazer a sua parte para que possamos viver num mundo melhor.

Frente ao estudo realizado em uma escola, evidencia-se a necessidade de haver cursos de capacitação e formação continuada sobre a temática ambiental para professores de educação infantil. De modo geral, professores desta modalidade de ensino, na maioria das vezes, não possuem orientação nem material para este trabalho. A temática ambiental dificilmente está presente nos cursos de formação destes professores. Os cursos de formação continuada, geralmente são destinados aos professores de Ensino Fundamental e Médio, bem como os materiais produzidos e disponibilizados.

 Em relação aos procedimentos pedagógicos realizados nesta escola, sobre como conduzir a temática ambiental, vale ressaltar que um trabalho que alia diversos recursos e procedimentos pedagógicos torna-se interessante para a criança, na medida em que a envolve em diversas atividades que incitam sua curiosidade e atenção. O educador deve procurar colocar os alunos em situações que sejam formadoras, no intuito de apresentar os meios de compreensão do meio ambiente.

Salienta-se também a importância do papel da escola em inserir a temática ambiental no cotidiano escolar. Projetos voltados à educação ambiental são de suma importância para o desenvolvimento da formação da consciência do aluno em preservar o meio ambiente.

Enfim, frente às características específicas da educação infantil, considera-se que a educação ambiental deve estar sempre inserida nesta fase tão importante do ensino. Pode-se demonstrar que a temática ambiental não deve ser discutida e desenvolvida de uma mesma forma em todos os níveis do ensino formal, devendo considerar as características diferenciadas de cada fase, como os recursos didáticos e procedimentos pedagógicos comumente utilizados, a fim de constituir-se em um trabalho coerente e bem-sucedido.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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Ilustrações: Silvana Santos