Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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A ÁGUA COM FOCO INTERDISCIPLINAR NA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL PARA O ENSINO FORMAL
Olivia B. Marques Engenheira
Civil pelo CEULP/ULBRA, acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental na UFT -
Universidade Federal do Tocantins, e secretária da GAIA - Associação de
Conservação do Meio Ambiente e Produção Integrada de Alimentos da Amazônia. Contatos: 63 3225.6036 (olivia_marques@hotmail.com) Daniel Lima Graduando em Engenharia
Ambiental pela Universidade Federal do Tocantins. Contato:
(daniel_baxista@hotmail.com) Paula
Benevides de Morais Bióloga,
Doutora em Ciências (Microbiologia), professora do curso de Engenharia
Ambiental da UFT. Contatos: 63 3232.8007 (moraispb@uft.edu.br) RESUMO
O
trabalho a seguir relata uma proposta de educação ambiental para a educação
formal com o objetivo de introduzir o debate aos alunos sobre a sustentabilidade
do tema água. Tal proposta se baseia na utilização do diálogo
interdisciplinar em conjunto com o uso de recursos audiovisuais e debates,
trazendo para o contexto situações cotidianas e reflexões sobre o tema. O
texto expõe de maneira sintética a importância de se trabalhar tal
perspectiva, sendo apresentado na forma da atividade, de relativa curta duração,
com aproximadamente três horas, utilizando-se de recursos abundantes e de baixo
custo na cadeia do ensino formal. 1.
Justificativa
pela escolha do tema A
água é um recurso natural essencial para a sobrevivência de todas as espécies
que habitam a Terra. No organismo humano a água atua, entre outras funções,
como veículo para a troca de substancias e para a manutenção da temperatura,
representando cerca de 70 % da massa corpórea. Além disso, é considerada
solvente universal, e é umas das poucas substancias que encontramos nos três
estados físicos: gasoso, líquido e sólido. É impossível imaginar como seria
nosso dia-a-dia sem ela (WWF-BRASIL, 2006). A
ameaça da falta de água, em níveis que podem até mesmo inviabilizar nossa
existência, pode parecer exagero, mas não é. Os efeitos na quantidade da água
disponível (relacionados com os hábitos de consumo em escala “industrial”
pelas populações aglomeradas em megalópoles, irrigação da agricultura que
cada vez mais expande suas fronteiras agrícolas, indústrias como a de papel
que utiliza água na sua linha de produção e que cada vez mais é incentivada
a produzir pela sociedade de consumo, e as formas inadequadas de consumo das
populações que geram imenso desperdício), nos levam a requerer um maior
controle nas formas de gastos do nosso bem mais precioso. Em Palmas, capital do estado do Tocantins, conforme o Relatório
Parcial 02 (RP-02): Plano de Recursos hídricos das Bacias (Tocantins, 2004), a
zona urbana é cortada por sete corpos hídricos pertencentes a quatro bacias
hidrográficas de grande beleza cênica, importante para o ecoturismo, harmonia
paisagística e recreação de contato primário com a água, em função da
presença de diversas cascatas, trilhas e balneários. Os usos da água neste
município se traduzem por ser em grande parte de abastecimento populacional e
irrigação (acima de 90%), sendo esta uma área de grande interesse ações de
educação ambiental, em função das grandes intervenções antrópicas
existentes. Segundo
a Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999,
que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, a educação
ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional e
envolve os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à
sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Deste
modo, esta proposta apresenta uma estratégia de mobilização da comunidade
escolar de Ensino Fundamental em torno da conservação da água. A atividade
tem como principal propósito proporcionar aos alunos uma reflexão sobre o uso
da água potável, considerando o fato de que “a água não se fabrica, não
se inventa”, e que se há água saindo de uma torneira, ela teve de ser obtida
em algum lugar. Essa reflexão introduz a questão da redução do consumo de água.
2.
Procedimentos
adotados para a construção da proposta Essa
proposta foi construída com uma preocupação interdisciplinar, especialmente
entre as disciplinas matemática, ciências e comunicação e expressão. Teve
como foco o uso de atividades fora do cotidiano escolar, como o vídeo, a
construção do guia do consumo sustentável da água e o debate estruturado em
sala, que são atividades acessíveis aos professores, de baixo custo e de rápida
elaboração e execução. A atividade é
direcionada ao público da rede de ensino formal, com faixa etária entre 11-12
anos, freqüentando o Ensino Fundamental (7ª série), devido à necessidade de
conhecimentos acerca de matemática. A proposta foi baseada para uma turma com
um total de 40 alunos, mais pode ser adaptada, condicionada ao aumento do número
de profissionais participantes para assessorar os alunos. Os materiais e
equipamentos necessários para a palestra são: data-show, quadro branco ou
flip-chart, papel manilha, canetas para quadro branco ou papel, fita adesiva e
barbante. Para a atividade prática:
papel reciclado, lápis e borrachas. Para a elaboração dos guias: cartolinas, tesouras, tubos de cola
branca, revistas e jornais velhos (maior numero possível), e pincéis
multicores. A equipe responsável
pela aplicação da atividade deverá compor um palestrante e monitores de
acordo com o numero de alunos, não ultrapassando oito alunos por monitor,
visando manter a atividade com monitoramento por grupos pequenos. O palestrante
deverá atuar na área ambiental, podendo ser engenheiro ambiental, biólogo ou
área afim aos estudos de conservação e uso sustentável de recursos naturais
e com afinidade ao trabalho em dinâmicas com o público infantil. Este
profissional deverá ser o responsável por ministrar a palestra, conduzir os
trabalhos da atividade prática e orientá-los para os resultados desejados. Os monitores podem ser
estudantes do ensino superior em Engenharia Ambiental ou área afim aos estudos
de conservação e uso sustentável de recursos naturais, e serão responsáveis
por acompanhar o grupo de alunos em todas as atividades, e realizar a orientação
individual em dúvidas e questionamentos. O
foco deste projeto foi dar subsídios para que os alunos compreendam a importância
da água para a sobrevivência de todas as espécies que habitam o planeta,
induzindo a procurar soluções, em nível pessoal e comunitário para o consumo
sustentável da água, e, que sejam multiplicadoras desta idéia. 3.
Atividade
de Educação Ambiental No dia anterior ao
trabalho deve ser solicitado pelos professores que os estudantes tragam de casa
uma conta de água da companhia de saneamento, revistas e jornais velhos. A atividade é
planejada para ter a duração total de 3 horas, com o roteiro abaixo: Parte
1: Uma palestra interativa, usando conceitos de ciências, envolvendo o público
alvo em reflexões pontuais ao longo da apresentação e finalizando com uma
reflexão geral acerca do tema (±1 hora). Parte 2: Uma atividade
prática com aproximadamente 1 hora, envolvendo o emprego de habilidades matemáticas
e interpretação de uma conta de água, com o objetivo de mobilizar o público
para monitorar seu consumo; Parte 3: Uma
atividade-reflexão com o vídeo “A seca no nordeste” de 2 minutos de duração
e uma pequena redação, com duração total 20 minutos, e elaboração de
cartazes com uma síntese do que foi aprendido ao longo da programação, com
cerca de 30 minutos. Esta atividade irá praticar a comunicação e expressão
dos alunos. A
seguir é explicitado o desenvolvimento da atividade: 3.1 Palestra (1
hora) Primeiro
passo: A atividade
se inicia com uma introdução acerca do tema, suscitando a todos os alunos que
participem e tornem a palestra interativa, buscando o dinamismo e a troca de
informação entre o grupo. Para isso o professor estimula uma conversa com os
alunos a respeito: ·
Da necessidade de
água doce para a vida; ·
Do percentual de
água doce no mundo; ·
Da crescente
demanda por esse recurso; ·
Do processo de
degradação do mesmo; ·
Do custo do
tratamento e o desperdício de água nas residências; ·
Como e o que
fazer para reduzir o consumo de água; e sobre ·
A multiplicação
dessas informações. A palestra interativa poderá ser conduzida
utilizando-se de um retroprojetor ou datashow,
em uma seqüência em que um palestrante apresenta questionamentos induzindo o
grupo a respostas e perguntas. Segundo Faria (2004), na sala de aula o uso do
computador melhorou a qualidade da apresentação das lâminas do retroprojetor,
através do aplicativo PowerPoint, que tanto pode ser utilizado para fazer lâminas
para utilização no retroprojetor como para ser apresentado, de forma mais dinâmica,
com o uso da multimídia (datashow,
também conhecido como canhão). Uma sugestão de palestra é apresentada em
anexo e a tabela 1 abaixo demonstra algumas perguntas de acordo com a programação
dos slides. Tabela 1 – Roteiro de
questionamentos de acordo com a programação de slides da Palestra “Água,
fonte de vida”
O
palestrante também deverá repassar informações acerca do consumo da água,
como as apresentadas a seguir, com o intuito de provocar a reflexão dos alunos.
·
“Para produzir
um quilograma de papel são necessários 540 litros de água”; ·
“uma pessoa
pode gastar até 300 litros de água por dia”; ·
“Um europeu
consome em média de 140 a 200 litros de água por dia, enquanto um
norte-americano consome entre 200 e 250 litros”; ·
“Em regiões da
África, o consumo é de apenas 15 litros/per capita/dia.”; ·
“Em 2000, o
volume de água distribuído no Brasil foi de 0,24 m³/per capita/dia ou 240
litros”; Segundo
passo: Um monitor
deverá ficar responsável por acompanhar os comentários e as respostas dos
participantes obtidas durante a palestra interativa, anotando-as em um
flip-chart ou quadro-negro, para que depois sejam revistas para construção da
síntese. Terceiro
passo: Ao final da
palestra, o professor deverá dividir a turma em 5 grupos, e conduzirá os
grupos para rever os comentários e respostas anotados, estimulando-os a
elaborarem sugestões práticas e atitudes em relação à diminuição do
consumo, constituindo passos para redução de consumo de água residencial em
uma folha rascunho. Os monitores se encarregarão de anotá-las em flip-chart
para a síntese final (segundo passo da atividade vídeo). 3.2
Atividade Prática
(1 hora) O envolvimento dos
estudantes será buscado pedindo-se que os alunos tragam a conta de água para a
escola, afim de que investiguem sobre seu próprio consumo e de sua família,
possibilitando a aproximação do tema com a realidade concreta dos alunos. Primeiro
passo: Após
esclarecimento das questões básicas relacionadas com o consumo da água na
palestra anterior, deverão ser suscitadas perguntas do tipo “Como medimos o
consumo de água da nossa casa?”, ou “Como descobrimos a quantidade de água
que consumimos?”, assim será explicado o hidrômetro e introduzida a
atividade prática sobre o consumo de cada aluno. Deverá ser utilizado um
cartaz contendo o desenho de um hidrômetro, para esta explicação (Sugestão
de fonte para explicação do funcionamento do hidrômetro:
http://www.saae.sp.gov.br/saae_conheca_seu_hidrometro.htm). Segundo
passo: Com a conta
de água mensal em mãos, os alunos devem ser divididos em grupos de quatro a
oito componentes. O primeiro desafio consiste em ler o consumo de água na conta
e transformar o valor fornecido pela companhia de água que é em metros cúbicos
para litros, apenas multiplicando por 1000, dado que 1m3 = 1000L.
Aqui demonstra-se o cálculo abaixo. Por exemplo:
Terceiro
passo: Para
determinar o consumo diário médio “per capita”, deve ser explicado que é
necessário dividir o valor do consumo mensal fornecido pela conta de água, por
30 (dias). Após essa divisão, o valor encontrado é novamente dividido, pelo número
de pessoas que moram na casa.
Quarto passo:
Após terem realizados os cálculos e obtido seu consumo médio de água, os
participantes deverão ser estimulados a continuar a reflexão com as informações
mostradas em flip-chart ou quadro branco, demonstrando o consumo de água per
capita no mundo, tais como: ·
Informação 1:
“Os valores na conta estão muito diferentes? Porque?” Pode ser um maior
consumo de água, devido à chegada da estação seca, ou pela chegada de mais
um morador na casa, por exemplo. ·
Informação 2: Na grande maioria dos países do Continente Africano, a média de consumo
de água per capita atinge uma média
de 10 a 15 litros por dia, já em Nova York o consumo atinge 2.000 litros per
capita/por dia de água doce e potável. ·
Informação 3: Perdemos por dia em condições normais:
·
Informação 4:
Quanta água precisamos repor por dia:
·
Informação 5: O
homem pode passar até 28 dias sem comer, mas apenas 3 dias sem água. ·
Informação 6: O consumo per capita por dia
do aluno pode ser transformado em número de garrafas PET de 2 litros
(refrigerante), para enfatizar o consumo de água do aluno. Por exemplo:
3.3
Vídeo (50 minutos)
A TV e o vídeo se bem analisados e planejados se constituem
num recurso de enriquecimento e interatividade. Faria (2004), afirma que a técnica
do cine-fórum é uma forma de levar os alunos a refletir e dialogar sobre o
tema do filme, relacionando-o ao conteúdo da disciplina. Os critérios para a
escolha dos vídeos/filmes sugeridos por Torres (1998) apud Faria (2004) são os
de adequação ao assunto, aos alunos, simplicidade, precisão, facilidade de
manuseio, atratividade, validade e pertinência, que também recomenda a utilização
de fichas e guias de avaliação dos filmes para orientar a discussão. Assim,
é sugerido um vídeo, mas outros recursos similares poderão ser aplicados
visando o mesmo objetivo. O vídeo vem com a
intenção de propor aos alunos uma reflexão profunda sobre a água, sua
escassez e sua importância para vida. O vídeo se intitula “A seca no
Nordeste”, uma reportagem do Jornal Nacional que tem a duração de
aproximadamente 2 (dois) minutos. O vídeo deverá ser acompanhado de uma
pequena redação com pelo menos dois parágrafos para fixação do tema. Após a apresentação
do vídeo, para a atividade final, deverá ser solicitado aos alunos que
reflitam acerca das sugestões práticas e atitudes em relação a diminuição
do consumo, elaborados no terceiro passo da atividade palestra, e anotados em
folhas-rascunho, e montem um guia com tais sugestões. O guia deverá ser
elaborado em cartolinas, com duas folhas para cada grupo, com a assistência dos
monitores e palestrante. Os jornais e revistas trazidos pelos alunos servirão
como fonte de ilustrações e colagens. Estes podem ser fixados na parede da
sala de aula ou dos corredores da escola. Considerações Finais Espera-se que esta
atividade de educação ambiental contribua para a mobilização dos alunos
quanto ao consumo de água e sua redução. Também irá estimular as
habilidades orais dos estudantes e sua participação em discussões em grupo
através da palestra interativa e incentivar a criatividade através do mutirão
de idéias para confecção do guia com os passos para redução do consumo de
água. Como atividade interdisciplinar, irá utilizar-se dos conhecimentos de
Matemática, Ciências e Comunicação e Expressão apresentados pelos
respectivos professores em suas disciplinas, e sua aplicação em assuntos
cotidianos. Deverá incentivar a reflexão através do recurso audiovisual e
buscará o comprometimento com a disseminação das atitudes de redução do
consumo na elaboração e divulgação do Guia. É uma atividade
relativamente rápida de ser aplicada, sendo concluída em apenas um período do
dia, com duração de três horas, e demanda recursos materiais e equipamentos
abundantes e de baixo custo em sistemas de ensino. A demanda de vários
profissionais necessários para a execução da atividade, torna-se insipiente
devido a possibilidade de utilização de mão-de-obra em cursos de graduação. Referências Reportagem sobre a seca
no nordeste,
apresentada pelo Jornal Nacional dia 13/12/2007.
Disponível em: <http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM765687-7823-SECA+SE+AGRAVA+NO+NORDESTE,00.html>,
acesso em 26/Junho/2008. FARIA,
E. T. O Professor e as Novas Tecnologias. In: ENRICONE, D. Ser
Professor. 4 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
WWF - Brasil. Cadernos
de Educação Ambiental Água para Vida, Água para Todos: Livro das Águas.
Costa, L. e BARRÊTO, S. R. Brasília, 2006. Disponível em: <http://assets.wwf.org.br/downloads/livro_das_aguas_wwf_brasil.zip>,
acesso em 23 de Maio de 2008. WWF – Brasil. Cadernos
de Educação Ambiental Água para Vida, Água para Todos: Guia de Atividades.
Costa, L. e BARRÊTO, S. R. Brasília, 2006. Disponível em: <http://assets.wwf.org.br/downloads/guia_de_atividades_livro_das_aguas_wwf_brasil.zip>,
acesso em 23 de Maio de 2008. FUNDAÇÃO
ROBERTO MARINHO E AGENCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Caderno do Professor 1: Caminho das Águas. Rio de Janeiro, 2006.
Disponível em: <http://www.ana.gov.br/bibliotecavirtual/arquivos/Caminho%20das%20%E1guas%20-%20caderno%20do%20professor%201.pdf>,
acesso em 20 de Maio de 2008.
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