Educação Ambiental em Ação 37
COLETIVO EDUCADOR:
UM PERFIL DO SUJEITO SOCIOAMBIENTAL.
Fujihara, J. R. P
& Spazziani, M. L / Departamento de Educação – UNESP/Botucatu
jrp_fujihara@yahoo.com.br
spazziani@ibb.unesp.br
INTRODUÇÃO
No Brasil a
educação ambiental surge muito antes da sua institucionalização federalista no
governo, iniciando em 1973, com a criação, no Poder Executivo, da Secretaria
Especial do Meio Ambiente (SEMA), a qual foi extinta, mas deixando projetos de
inserção da temática ambiental nos currículos escolares e seis cursos de
especialização em educação ambiental. Outro passo na institucionalização da
Educação Ambiental foi dado com a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), que
se estabeleceu em 1981. Em 1988, inicia-se o processo de institucionalização de
uma prática de comunicação e organização social em rede, com os primeiros passos
da Rede Paulista de Educação Ambiental (REPEA) e da Rede Capixaba de Educação
Ambiental. Mais tarde, em 1992, no II Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, é
lançada a idéia de uma Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA), onde se
adotou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global como carta de princípios (BRASIL, 2005a).
Partindo do
pressuposto de que educação ambiental é parte constitutiva de uma política
pública e que o educador ambiental está por fazer parte como colocam (GONÇALVES,
2007; DIAS, 2000; SORRENTINO ET AL., 2005), a Diretoria de Educação do
Ministério do Meio Ambiente propôs a formação de Educador (es) Ambientais, os
quais se pautam na idéia de que cada grupo, cada coletivo, é responsável pela
sua constante formação, por ser conhecedor de suas dificuldades e
potencialidades e, dessa maneira, ser capaz de diagnosticar e interpretar a
realidade, sonhar sua transformação, planejar intervenções educadoras,
implementá-las e avaliá-las (BRASIL, 2005a). Considerando essa perspectiva, a
proposta de política pública, segundo Ferraro Jr. & Sorrentino (2005), é
apresentada pelo programa dos Coletivos Educadores (CE), que são grupos formados
por pessoas de instituições localizadas em determinado território e que precisam
se constituir como grupos de pesquisa-ação-participativa, trabalhando em um
processo permanente de ação-reflexão, de pesquisa e intervenção, de análise, de
delineamento participativo de estratégias, implicando também em procedimentos
democráticos não hierarquizados e transparentes. Os primeiros CE se articularam
em 2004, sob apoio institucional de parceiros do DEA/MMA, nos estados do Paraná,
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (BRASIL, 2008), consequentemente foi lançado o
edital público para a seleção de projetos de Coletivos Educadores para
Territórios Sustentáveis, em 2005, via Fundo Nacional do Meio Ambiente
(FNMA), idealizado pela DEA/MMA em parceria com Ministérios da Educação (MEC),
da Integração Nacional (MI) e do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Neste sentido, o
objetivo deste trabalho é identificar e analisar o perfil dos participantes
enquanto sujeitos no que se refere aos interesses e os motivos que os levaram a
se interessar pela questão ambiental e os direcionamentos a educação ambiental e
seus desdobramentos.
O
projeto foi realizado entre os anos de 2009 e 2010. Nas etapas iniciais
realizou-se a revisão de literatura, o contato com os participantes do Coletivo
Cuesta Educador (CCE) e as suas identificações. A seguir, durante o ano de 2009,
foram aplicadas as entrevistas propostas, a priori, pelo questionário
elaborado. À medida que os dados foram sendo obtidos, sistematizados e análises
descritivas preliminares.
I – EDUCAÇÃO
AMBIENTAL – PRESSUPOSTOS E SENTIDOS DE UMA CONSTITUIÇÃO SOCIOAMBIENTAL
Em 2005 inicia-se a caminhada do CCE, com algumas
poucas pessoas provenientes de diferentes instituições, contudo, em 2007 quando
o número de entidades foi ampliado é que se deu sua formação oficial. O grupo
tem como Instituição âncora ao longo do processo de formação, a Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho- UNESP/Rubião Jr – Departamento de
Educação, e demais instituições, tanto de Botucatu quanto dos outros municípios
participantes.
O processo
educativo, adotado pelo grupo formador do Coletivo Cuesta Educador teve por
objetivo desenvolver um curso de Formação de Educadores Socioambientais com
atividades práticas, bem como uma maior integração e participação entre os
grupos regionais e os grupos dos Coletivos Educadores do Estado de São Paulo e
até outros estados na área socioambiental através de eventos, favorecendo a
troca de conhecimento, e através das experiências e dificuldades buscar juntos
soluções de melhorias da qualidade de vida de todo um grupo e do meio ambiente.
Seu início aconteceu em oito de novembro de 2008, e encerrou-se em 20 (vinte) de
junho de 2009, concluindo 28 (vinte e oito) sendo: cinco formandos do município
de Conchas, cinco de Itatinga, cinco de Torre de Pedra e oito de Botucatu,
ficando no meio do caminho os municípios de Pardinho e São Manuel os quais
simplesmente não compareceram nas datas do curso, não justificando suas
desistências.
O interesse pelo
perfil dos educadores socioambientais do CCE manifesta-se no início do processo
de formação dos mesmos. O grupo foi constituído por diferentes personalidades,
com diferentes olhares e histórias, o que nos instigou a compreender como se dá
a inserção dos sujeitos no campo ambiental. Durante o curso foi possivel notar
algumas pessoas mais atuantes que outras, tanto no que diz respeito às
atividades e frequência no curso quanto a outras atividades já iniciadas no
campo ambiental. Diante desta constatação entramos em contato com essas pessoas,
foi um processo meio demorado, haja visto que o curso era aos sábados e
quinzenalmente, e pelo fato das pessoas pertencerem a outros municípios, isso
dificultou um pouco a aproximação. Das 12 (doze) pessoas que contatamos, somente
8 (oito) puderam participar das entrevistas, umas por falta de tempo, e outras
ainda por não se sentirem à vontade. Conseqüentemente, as entrevistas
iniciaram-se no mês de julho.
II- HISTÓRICO DE VIDA – PERFIL E A
RELAÇÃO COM AMBIENTE SOCIOAMBIENTAL
Dos
entrevistados, quatro estão na faixa dos 25 aos 30 anos, dois estão entre os 31
aos 40 anos e dois entre os 41 aos 50 anos. Ou seja, embora todos adultos,
metade são jovens e a outra metade dos sujeitos estão na fase madura da referida
etapa. Entre eles seis são do sexo feminino e dois do sexo masculino. Pode-se
verificar que entre os 8 entrevistados há uma heterogeneidade entre a
escolaridade, sendo que a metade possui nível superior completo. Entre os cursos
superiores, Pedagogia é formação de três, sendo que uma possui, também, Letras e
a outra em Educação Artística. Outro sujeito tem formação em Ciências Biológicas
e outro está estudando Letras. Há três sujeitos que sua escolarização remete à
educação básica, dois em nível técnico e outro ensino fundamental incompleto.
Dos cursos e formação explicitados identificamos que todos de nível superior
relacionam-se a área da educação, sendo que o de Biologia favorece o tema
ambiental. Com relação ao curso técnico, o de Engenharia Florestal também
relaciona o enfoque ambiental. Assim, dos oito sujeitos, seis tiveram na sua
formação aspectos que favorecem o tema educativo e/ou ambiental.
Tomando como
referência o ambiente histórico onde o homem nasce e se desenvolve, a abordagem
de Vygotsky entende que o processo de construção do conhecimento ocorre através
da interação do sujeito historicamente situado com o ambiente sociocultural onde
vive (VYGOTSKY, 1996). O caminhar dentro de uma trajetória ambiental é tomada
pelas experiências de vida de cada sujeito.
Os relatos dos
sujeitos entrevistados nos revelam que todos tiveram uma infância com bastante
liberdade, onde ‘brincar na rua’ era uma das brincadeiras prediletas,
diferentemente dos modos de ser das crianças de hoje, que se atém e se entretém
com eletrônicos, como tv, computadores, internet, celular e vídeo-games. As músicas
infantis quase não existem, agora a moda é o estilo ‘funk’. As meninas, por sua
vez, foram as que mais perderam em termos de brincadeiras, deixaram de lado as
bonecas por estojos de maquiagem, sapatos de salto e baladas. A inocência da
criança, o incentivo à literatura e à imaginação, da forma como foram concebidos
no contexto da sociedade moderna, são raros nos desenhos e jogos dessa nova
infância. No caso dos entrevistados, fica evidente que cada um
relaciona em suas narrativas de vida o contexto socioambiental do
desenvolvimento infantil com suas escolhas profissionais durante o processo de
aprendizagem.
É possível
identificar que o potencial que congrega esses atores no percurso que os levam
em direção à questão ambiental é explicitado em suas narrativas durante as
experiências, positivas ou negativas, ainda na fase da infância, onde eles
conseguem identificar situações e oportunidades que nortearam suas escolhas para
o campo ambiental.
Quando
perguntamos aos entrevistados para lembrar-se de fatos que evidenciam na sua
relação com o meio ambiente socioambiental, surge a educação familiar, como um
fato importante para as ações socioambientais, presente no dia-a-dia. Os
valores, atitudes e mudanças de comportamento no processo para a conscientização
e despertar para as ações socioambientais são marcantes no núcleo primário de
vida social (a família).
Os relatos também
apontam a necessidade de mudanças de conceitos e de atitudes através da educação
ambiental, tendo a intervenção social como aliada na tentativa de exercer
influência na construção de novos significados, sentidos e novos comportamentos
nas relações entre sociedade e meio ambiente.
III - EDUCAÇÃO AMBIENTAL E
TRAJETÓRIAS: ENCONTRO OU BUSCA?
Para nossos
sujeitos a percepção de mundo vem associada à intensidade e forma de
participação, permitindo determinar qual direção seguir e como agir para a
promoção da participação de todos. Segundo Carvalho (2010) “o campo social é
o universo onde as formulações éticas encontram legitimidade e a partir do qual
podem exercer suas pretensões de universalidade, disputando reconhecimento para
além de seu campo específico” (CARVALHO, p 60).
A importância de
diálogos, de participação e de transformação é sentida por eles e revelada no
envolvimento com as questões ambientais, no acreditar que podem fazer a
diferença. Desse modo é possível dizer que a formação de cidadãos críticos e
atuantes depende da compreensão de problemas ambientais, da difusão de
informações, da assimilação dos conceitos por meio de diferentes espaços, além
de promover formas alternativas de mudanças pessoal e grupal.
É no campo da
ação e da reflexão que vamos delinear os interesses e motivos pelos quais nossos
entrevistados enunciam a educação ambiental. Guimarães (2004) aponta a
importância da ação pela reflexão e revela que é através dessa dinâmica entre a
produção e reprodução das relações sociais que se concretiza a educação. Os
discursos vão ficando cada vez mais marcados pela significância da participação
no curso de Formação de Educadores Socioambientais e pela possibilidade de levar
a educação ambiental para suas áreas de atuação.
Através das
narrativas é possível identificar que os caminhos de acesso para o coletivo
educador se dão a partir do convite ou indicação de pessoas que já estavam na
articulação do grupo gestor do Coletivo Cuesta que viram nessas pessoas um
potencial para atuar coletivamente dentro dos preceitos da educação ambiental
CONCLUSÃO
A riqueza e a
diversidade de histórias que pude ouvir foram muitas, as quais não foram
totalmente contempladas neste momento. A complexidade de vidas e necessidades a
partir da imersão da educação ambiental em seus projetos de vida nos aponta a
necessidade de discussões acerca da perspectiva crítica, transformadora e
emancipatória.
Quando falamos no
sentido que a educação ambiental traz aos nossos entrevistados, é preciso
destacar que a educação ambiental surge como um novo desafio voltado para
sustentabilidade ambiental e da própria sociedade.
É possível
detectar que o caminho de entrada para a área ambiental acontece das mais
variadas maneiras e momentos. Contudo, nesta pesquisa, pode-se identificar o
campo profissional, as experiências pessoais, a conscientização dos problemas
ambientais e a preocupação por uma transformação com equidade, são descritos
como indicadores no processo formativo e reflexivo que os unem para um atuar
coletivamente.
Apesar das
diferentes abordagens que se têm sobre a educação ambiental, todos apontam para
a necessidade da conquista da consciência ambiental, na integração entre
homem-ambiente.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente.Programa
Nacional de Educação Ambiental – ProNEA. Brasília:
MMA, Secretaria Executiva Diretoria de Educação Ambiental. 3ª Ed, 2005a,
p.105.
CARVALHO, I.C.M.
A invenção ecológica – Narrativas e trajetórias da Educação Ambiental no Brasil.
2ª Ed. Porto Alegre: Ed da UFRGS, 2002.
FERRARO JR., L.
A. & SORRENTINO, M. Coletivos Educadores.
In: FERRARO JR, L. A. (Org.)
Encontros
e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores.
Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2000, p.57-70.
GONÇALVES, P. M.
C. Juventude, Meio Ambiente e Educação: da investigação das trajetórias de vida
à discussão de políticas públicas, considerações iniciais para a pesquisa. In:
V ENPEC - Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. UNB. EPEA,
2007.
DIAS, G.F.
Educação Ambiental: princípios e práticas. 6ª Ed. São Paulo: Gaia, 2000.
SORRENTINO, M,
TRAJBER, R. MENDONÇA, P. FERRARO JR, L. A. Educação Ambiental como política
pública. In Revista Educação e Pesquisa. São Paulo. vol. 31, no
2, p.285-299. Maio/Ago, 2005.
VYGOTSKY, L. S. A
formação social da mente. Editora Martins. Rio de Janeiro,
1996.
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