Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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16/12/2013 (Nº 46) ARTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA
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INSTRUÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DA VERSÃO FINAL A SER APRESENTADA NO VENPEC DE 27 DE NOVEMBRO A 03 DE DEZEMBRO

ARTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA

 

Suelen Regina Patriarcha-Graciolli

Bióloga, mestre em Ensino de Ciências pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

Professora da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)

Professora da Faculdade Unigran Capital

e-mail: suelenpatriarcha@yahoo.com.br

 

Ângela Maria Zanon

Bióloga, doutora em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

Coordenadora da Educação a Distância, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

e-mail: zanon.ufms@gmail.com.

 

 

RESUMO

A necessidade da implantação da Educação Ambiental (EA) nas escolas brasileiras está presente na Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988. Visando uma maior criticidade em relação aos problemas ambientais e as relações entre os seres vivos, alunos do 9º ano de ensino fundamental de uma escola em Campo Grande-MS, baseado na teoria de Jean Piaget, foram estimulados a identificarem os impactos ambientais causados pelas ações humanas e por meio da arte demonstrar a necessidade de assumir novos valores em relação ao ambiente. Trabalhou-se com a metodologia de pesquisa-ação. Dessa forma, dentre os grupos formados, dois apresentaram teatro e um apresentou duas paródias associadas a um cartaz. Após as apresentações foram feitas reflexões sobre os trabalhos apresentados e sobre a compreensão das questões socioambientais envolvidas. Os alunos mostraram-se muito satisfeitos com o resultado final da proposta, atendendo os objetivos deste trabalho.

Palavras-chave: educação ambiental, educação básica, aprendizagem.

 

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INTRODUÇÃO

Na Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988, o capítulo VI, foi dedicado ao Meio Ambiente e no Artigo 225, Inciso VI, foi determinado ao Poder Público, promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (BRASIL, 1988).

Na década de 1990, reuniram-se chefes de Estados e Organizações não Governamentais para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento denominada Rio 92, com a finalidade de estimular a humanidade a repensar seus hábitos de consumo e atitudes prejudiciais ao conjunto de formas de vida existentes no planeta. A partir deste momento, a Educação Ambiental estabeleceu-se perante a sociedade brasileira o que para Gadotti (2005) “deu grande impulso à globalização da cidadania”.

Em 1996, o Ministério da Educação – MEC no Brasil, incluiu temas ecológicos nos currículos da Educação Básica e nos cursos superiores, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/96, determinando que a Educação Ambiental seja abordada em todos os conteúdos curriculares sem constituir uma disciplina específica (BRASIL, 1996).

Em 1999 é promulgada a Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999 que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental em seu Artigo 2° afirmando: "A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. A Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) define que o objetivo da Educação Ambiental é estimular e fortalecer a consciência crítica sobre a problemática ambiental e social (BRASIL, 2001).

Portanto, é necessário que as pessoas comecem a refletir sobre as consequências de suas ações, sobre as responsabilidades para com o meio. Para Carvalho (1998), no mundo vivido, os aspectos tomados isoladamente pelas disciplinas nas escolas estão permanentemente relacionados, como fios de um só tecido. Isso aponta para a necessidade de uma profunda mudança na forma de pensar o conhecimento e a aprendizagem.

Os problemas ambientais, frutos do modelo de desenvolvimento social e econômico que praticamos, ameaçam não apenas o futuro físico do planeta, mas em igual intensidade questionam o futuro dos valores de nossa sociedade, e apontam para a necessidade de uma profunda reorientação nos modos socialmente construídos de conhecer e se relacionar com a natureza (CARVALHO, 1998).

Nesse sentido, a crise ambiental vem se impondo como um problema que começa a ser levado a sério pelos governos e populações porque está gerando riscos concretos à vida de muitos seres vivos. Para enfrentar essa problemática, Carvalho (1998) sugere que é preciso construir um novo conhecimento e um novo consenso social que, de fato, reconheça a vida e o meio ambiente como um direito de todos. A interdisciplinaridade é um destes novos caminhos que estão se construindo como uma maneira diferente de compreender as relações entre os seres humanos e a natureza. O respeito às diversidades cultural, social e biológica, segundo Tristão (2002), é o fio condutor das relações estabelecidas com o meio.

A Educação Ambiental, conforme Tristão (2002), é entendida como uma prática transformadora, comprometida com a formação de cidadãos críticos e co-responsáveis por um desenvolvimento que respeite as mais diferentes formas de vida.

Para Guimarães (2003), em Educação Ambiental é preciso que o educador trabalhe intensamente a integração entre ser humano e natureza e se conscientize de que o ser humano é natureza e não apenas parte dela. Assim a noção de dominação do ser humano sobre o meio ambiente perde o seu valor, já que estando integrado a uma unidade (ser humano/natureza) inexiste a dominação de alguma coisa sobre a outra, pois já não há mais separação. Em função disso é importante o papel participativo do educando/educador na construção do processo de Educação Ambiental envolvendo integralmente a realidade apresentada, vivenciando-a criticamente para atuar na construção de uma nova realidade.

Contudo, o objetivo dessa pesquisa foi, baseado na teoria de Jean Piaget, estimular alunos do 9º ano do ensino fundamental a identificarem os impactos ambientais causados pelas ações humanas e por meio da arte demonstrar a necessidade de assumir novos valores em relação ao ambiente.

 

METODOLOGIA

Para a realização dessa pesquisa utilizou-se a metodologia de pesquisa-ação que, segundo Alves (2007) e Severino (2007), caracteriza-se por apresentar uma estreita relação com a ação ou problema, sabendo que o pesquisador está diretamente envolvido de modo participativo. Neste caso a professora-pesquisadora participou de todo o processo de formulação do problema e desenvolvimento da atividade.

O trabalho foi desenvolvido com alunos do 9º ano de ensino fundamental de uma escola municipal de Campo Grande-MS Brasil, num total de 12 adolescentes, no ano de 2007.

Para cada aluno foi entregue um texto intitulado “O eu e o mundo” retirado da coleção Pitágoras - Ensino Fundamental – livro 2 de Ciências da 8ª série de 2006. A crônica relata o pensamento de uma pessoa durante o seu dia. Em muitas passagens a pessoa pensa na origem de produtos que consome ou elementos inseridos no seu cotidiano. No entanto suas obrigações diárias não o permitem completar seu pensamento, muitas vezes interrompido por tecnologias inseridas na vida moderna, impedindo-o de pensar nos impactos ambientais causados por elas. A partir da crônica foi proposto aos alunos expressarem-se de uma forma artística, evidenciando o descaso, bastante evidente na crônica, com que o ser humano trata as questões ambientais assim como meio em que vive.

Os alunos foram separados em grupos de quatro alunos, perfazendo um total de três grupos e tiveram duas semanas para a finalização das apresentações, tempo considerado adequado pela professora-pesquisadora para este tipo de trabalho, visto que os mesmos deveriam se reunir fora do horário de aula e criar formas de expressar seus sentimentos frente àquele desafio. Eles deveriam expressar de forma artística a reflexão profunda que o texto permitia. O limite espacial era a própria sala de aula, ambiente já bastante familiarizado por eles. Todos os recursos disponíveis na escola ou trazidos de fora pelos próprios alunos a fim de auxiliá-los na condução dos trabalhos eram permitidos.

Foi marcada uma data específica durante a semana dentro do calendário letivo da escola e reservado o máximo de duas horas/aulas para a apresentação dos trabalhos.

No dia pré-estabelecido para apresentações, os alunos levaram para a escola todo o material que acreditaram ser necessário para a apresentação do trabalho.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos três grupos formados, dois apresentaram suas reflexões na forma de teatro, intitulado aqui como grupo 1 e grupo 2. Para Spolin apud Cardoso (2007), teatros em sala de aula não são meros “passatempos de currículo”; é possível abordar temas específicos de diversas disciplinas. Neste caso, a professora-pesquisadora teve por propósito o estímulo às diferentes formas de expressão de reflexões em relação às atitudes do ser humano para com o meio ambiente. Para Aredes et al. (2004), as práticas teatrais desenvolvem nos alunos a concentração intensiva, o fortalecimento do poder e exatidão da memória, melhora das expressões corporais e faciais, bem como exploração da voz, formação corporal, afetiva e imaginária. Segundo Ayala e Lunardi (2006):

 

O teatro apresenta-se como uma poderosa ferramenta educativa, sendo um atrativo para os alunos que vêem nesta experiência uma oportunidade de sair da rotina da sala de aula e dos métodos tradicionais de ensino. Ao vivenciar os conteúdos, de maneira extrovertida com o teatro, os alunos experimentam um processo de ensino diferenciado, entrando em contato com suas potencialidades pessoais e capacidades de trabalho em grupo (AYALA e LUNARDI, 2006, p.6).

 

Para Piaget, o exercício e a experiência física, adquiridos na ação de execução sobre o objeto, a linguagem e educação, a maturação do sistema nervoso e a equilibração das ações são fatores responsáveis pelo desenvolvimento do intelecto infantil (PALANGANA, 2001).

O outro grupo, denominado grupo 3, apresentou duas paródias associadas a um cartaz. Para Hutcheon (1989), a paródia é repetição do que já existe, mas repetição que inclui diferenças; é imitação com alguma distância crítica.

Os dois teatros tiveram estruturas parecidas entre si. Iniciaram fieis ao que o texto dizia, no entanto se diferenciaram no final, quando a crônica “O eu e o mundo” permitiu uma reflexão mais profunda e gerando diferentes interpretações o que para Guimarães (2003) é uma das funções da Educação Ambiental. Para Aredes et al. (2004) o teatro permite explorar a percepção, criando maneiras que podem mais tarde ajudar na transformação humana, já que os grandes problemas da representação teatral não se distinguem dos grandes problemas da vida. O trabalho em conjunto é que vai dar o direcionamento da peça teatral, criando uma atmosfera criativa e impondo uma disciplina própria a partir do compromisso do grupo. O interesse e a cooperação são fatores essenciais para a evolução deste tipo de trabalho.

Os grupos se organizaram de forma cooperativa e subdividiram funções entre os integrantes a fim de minimizar o esforço para confecção do cenário de apenas um integrante, assim, cada integrante do grupo ficou responsável por uma parte/objeto do cenário montado em sala, para isto foram necessárias a expressão de habilidades, compartilhamento de decisões e trabalho em grupo, que fazem parte do processo educativo. Para Bezelga et al. (2002) o teatro, por se tratar de uma metodologia cooperativa, promove a interdependência e a colaboração dos integrantes do grupo e é susceptível de gerar reflexões sobre valores e atitudes.

Os alunos foram muito criativos na montagem dos cenários, utilizaram elementos presentes na própria escola ou sala de aula como, por exemplo, carteiras escolares, giz, quadro negro, cadeira, tampa do lixo da própria sala de aula, cumbucas usadas na cantina da escola, canecas também usadas na cantina, colheres da cantina. Além também de objetos trazidos de casa. Alguns destes elementos estão presentes nas figuras 1 e 2. Para Oliveira e Zanetic (2005) a atividade teatral também pode ser uma forma de motivação na busca do conhecimento com alegria, isto é, permitir que o momento de aprender seja um momento prazeroso, transformando a sala de aula num lugar onde se deseja estar e participar.

Figura 1: Elementos da própria escola utilizados nas apresentações dos teatros.

 

Os grupos 1 e 2 que utilizaram a dramatização como forma de expressão, utilizaram basicamente o mesmo cenário devido à estrutura ter sido fiel ao texto entregue a eles no início do trabalho proposto. O cenário continha uma mesa com elementos comestíveis para simular uma mesa de café da manhã de uma família, uma cama onde um dos integrantes da família iniciava sua reflexão sobre o meio em que vive, cadeiras e mesas sobrepostas simulando, um carro e um balcão de padaria respectivamente. O carro e a padaria estão inseridos no contexto devido ao texto apresentar referência a estes dois locais como fundamentais para reflexões sobre o meio ambiente e a origem dos elementos que nele existem.

Figura 2: Elementos das casas dos alunos e utilizados nas apresentações.

 

Os grupos 1 e 2 se diferiram no final do teatro. O grupo 1, após toda a encenação, finalizaram a apresentação com algumas perguntas e reflexões levantadas a partir dos problemas/perguntas abordadas no texto, conforme descritos no quadro-1. Guimarães (2003) diz que não bastam apenas atitudes “corretas” se não forem alterados os valores consumistas da nossa sociedade. A Educação Ambiental é um processo de aprendizagem longo e contínuo.

 

Quadro-1: Problemas/Perguntas encontrados pelos alunos do grupo 1 e as suas reflexões.

Problemas/perguntas

A pouca importância em relação ao funcionamento e a construção do ventilador (aparelhos eletrônicos).

De onde vem a água da torneira do banheiro/caixa d´água/chuveiro?

Do que é feito o pão da padaria?

Uso indiscriminado de sacolas de plástico nas compras.

Pra onde vai o caminhão de lixo depois que vira a esquina?

De onde vem o combustível do automóvel?

Aquecimento global: de quem é a culpa?

 

 

Reflexões

A partir do momento em que se conhece a origem do produto, poderá se fazer escolhas mais conscientes em relação ao seu uso e ao seu descarte.

Evitar o uso de sacolas plásticas e materiais não recicláveis desnecessariamente.

O aquecimento global poderá ser minimizado conforme nossas atitudes.

A água pode acabar e o uso racional é prioridade.

 

O grupo 2, após também a encenação das passagens do texto, finaliza com a representação do ser humano totalmente despreocupado com os problemas ambientais levantados no texto, simulando a pouca preocupação que muitas pessoas apresentam em relação ao meio. Segundo Guimarães (2003), com o passar do tempo, a humanidade tem afirmado uma consciência individual e tem deixado de se sentir parte integrante do meio, ou da natureza que para este autor, é um conjunto de elementos vivos e não-vivos que constituem o planeta Terra e todos estes elementos relacionam-se influenciado e sofrendo influência entre si, em um equilíbrio dinâmico.

O grupo 2 foi muito enfático em apresentar o descaso das pessoas com o ambiente em uma das falas durante a apresentação, que dizia: “Não há necessidade de saber de onde vem a água que eu bebo e que cai do chuveiro; se está quente lá fora do carro — tenho ar condicionado; se há plantação de farinha suficiente para todos os pães fabricados no mundo... Eu continuo vivendo a minha vida, tendo o meu trabalho e minha família”.  Segundo Guimarães (2003), a ênfase dada pela humanidade em sua evolução histórica separando homem e natureza, resultou em uma postura antropocêntrica em que o ser humano se coloca no centro, não percebendo que existe uma inter-relação entre os elementos pertencentes ao meio ambiente.

O grupo 3 apresentou duas paródias. A paródia-1 (Figura 3) a partir da música “Sorte Grande (Poeira)” composta por Lourenço Olegário dos Santos Filho e cantada por Ivete Sangalo, intitulada “Sujeira” e a paródia-2 a partir da música “Quando a chuva passar” composta por Ramon Cruz e também cantada por Ivete Sangalo, intitulada pelos alunos de “Ajudando a Natureza”. Este grupo utilizou como recurso o quadro negro, giz e cartaz. Iniciaram a apresentação com a frase “Preste atenção no que você faz!!!” escrita no quadro negro com giz conforme figura 4. Em seguida apresentou um cartaz com algumas figuras de produtos industrializados e consumidos pelos seres humanos. O grupo apresentou o cartaz fazendo uma crítica à falta de informação das pessoas em relação aos produtos que consomem e também à falta de interesse pela origem e conseqüente descarte dos mesmos no meio. Em seguida, o grupo apresentou as paródias cantando-as. Para Cano (2004), a paródia não está presa nem a moldes nem a convenções artísticas, sociais ou morais.

 

 

Figura 3: Paródias escritas pelos alunos do grupo 3.

 

As duas paródias apresentadas pelo grupo 3 faziam críticas ao atual modelo consumista e ao desprezo pelas questões ambientais. Os integrantes deste grupo não se preocuparam em elaborar paródias estruturalmente corretas como define Cano (2004); o objetivo do trabalho era apenas estimular os alunos à elaboração de formas artísticas de expressão e o estímulo à criticidade quanto às questões ambientais.

Figura 4: Frase escrita pelos alunos do grupo 3 no quadro da sala de aula com giz para iniciarem as apresentações das paródias.

 

O trabalho foi finalizado com uma reflexão iniciada pela professora-pesquisadora e depois uma discussão sobre a percepção que o trabalho e as apresentações geraram na turma.

Para Piaget (2006), crianças no estágio operatório-formal, aproximadamente a partir dos 11 a 12 anos, já apresentam o pensamento formal, chamado por ele de “hipotético-dedutivo” e são capazes de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma observação real.

No estágio operatório-formal, o adolescente apresenta grande capacidade de distinguir entre o real e o possível. Ao se deparar com uma situação qualquer, ele se mostra capaz de prever todas as relações que poderiam ser válidas e procura determinar, por experimentação e análise, qual das relações possíveis tem validez real. Ao invés de contentar-se apenas com o que lhe chega por meio dos sentidos, o adolescente tem a capacidade e avaliar o que poderia estar ali. Dessa forma, o pensamento se liberta do concreto, mesmo que gradualmente, e se orienta para o futuro. Essa transformação do pensamento favorece o manejo das hipóteses e o raciocínio sobre proposições que não são concretas ou atuais. Para o adolescente é nesta época que surgem grandes ideias e teorias e isso ocorre porque o passado e o presente são concretos, mas o futuro é abstrato. Só quando isso acontece é que o adolescente se torna capaz de pensar coerentemente de forma operatória sobre as questões não vividas (GOULART, 2008).

Mesmo o número de alunos sendo reduzido, houve um grande empenho na participação de todos. Para Guimarães (2003), no trabalho de conscientização é preciso não apenas transmitir valores “verdes”, é necessário possibilitar ao educando questionamentos críticos em relação aos valores estabelecidos pela sociedade, é necessário também propiciar que o educando confronte diferentes valores em busca de uma síntese pessoal que refletirá em novas atitudes.

Trata-se de ampliar a função da escola de simples transmissão de conhecimento para estabelecimento de uma comunicação crítica, criadora de um sistema imaginativo e transformador da cultura e do ser humano (TRISTÃO, 2002).

É pertinente dizer que a Educação Ambiental deve estar presente em todo o conteúdo curricular em todos os níveis de ensino, conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no Brasil– LDB 9394/96 (BRASIL, 2001).

As reflexões feitas a partir dos problemas enfrentados no ambiente local ou cotidianos podem gerar benefícios imediatos e/ou futuros que contribuirão para uma melhoria da qualidade de vida dos seres vivos. Para Guimarães (2003):

 

A Educação Ambiental centra o seu enfoque no equilíbrio dinâmico do ambiente, em que a vida é percebida em seu sentido pleno de interdependência de todos os elementos da natureza. Os seres humanos e demais seres estão em parcerias que perpetuam a vida. Não é entender que a vida de cada ser é absoluta, pois no sentido pleno de vida a morte está incluída e presente no equilíbrio dinâmico do ambiente. A mudança desse enfoque é uma construção a ser objetivada pela Educação Ambiental (GUIMARÃES, 2003, p.14).

 

Pelas reflexões necessárias à consecução dos trabalhos apresentados, podemos considerar que os objetivos propostos para este trabalho foram atingidos, visto que os alunos obtiveram êxito nas apresentações dos trabalhos. Houve grande empenho e importantes reflexões a partir do texto apresentado. Pôde-se perceber que as duas formas de expressões apresentadas pelos alunos foram satisfatoriamente importantes nas reflexões posteriores. A preocupação em encontrar a resposta correta, a maneira certa de aprender, a melhor metodologia de ensino, reflete muito da ansiedade moderna, fruto de um pensamento extremamente dualista e excludente. Isto muitas vezes tem impedido a busca criativa de respostas plurais (CARVALHO, 1998). Segundo Bezelga et al. (2002), o teatro e as práticas dramáticas são um meio de aprendizagem, porque utilizam a capacidade lúdica inerte em todos os seres humanos. Para uma mudança de postura ou atitude, há a necessidade de constantes trabalhos que envolvam a Educação Ambiental durante toda a execução do currículo escolar, assim como uma interdisciplinaridade entre a comunidade escolar. Segundo Ayala e Lunardi (2006), a Educação Ambiental é imprescindível quando se pretende a assimilação de conceitos e valores, visando uma mudança de atitude diante da realidade.

 

REREFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AYALA, L.; LUNARDI, A.G. Teatro-Educação e Interpretação Ambiental na Baixada do Maciambu, Palhoça, SC. Expressa Extensão (UFPel), v. 11, p.1-10, 2006.

 

AREDES, A.P. et al. O Papel do Teatro na Escola Pública: o Caso da Escola Estadual Nair Palácio de Souza. In: Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte, 2004.

 

BEZELGA, I. et al. Oficina de Teatro 3º Ciclo - Orientações curriculares para 7º, 8º e 9º anos, Lisboa: Ed. Departamento de Educação Básica - Ministério da Educação, 2002.

 

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://wwhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 11 Abr. 2013.

 

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CARVALHO, I. C. de M. Cadernos de Educação Ambiental. Em Direção ao Mundo da Vida: Interdisciplinaridade e Educação Ambiental. Brasília: Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1998.

 

GADOTTI, M. Pedagogia da Práxis. In: Encontros e Caminhos: Formação de Educadoras(es) Ambientais e Coletivos Educadores. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. Secretaria Executiva. Diretoria de Educação Ambiental, 2005.

 

GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

 

GUIMARÃES, M. A Dimensão Ambiental na Educação. Campinas: Papirus, 2003.

 

HUTCHEON, L. Uma teoria da paródia. Lisboa: Edições 70, 1989.

 

OLIVEIRA, N.R. de & ZANETIC, J. O trabalho do físico através do teatro. In: XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física, Rio de Janeiro: Cadernos de Resumos do XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2005.

 

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Ilustrações: Silvana Santos