A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS ALUNOS DO NONO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM DUAS ESCOLAS DA CIDADE DE FORMOSA-GO

 

 

Jaqueline Moreira Magalhães[1]

 

 

 

RESUMO

 

 

O presente trabalho procurou entender a percepção ambiental de alunos do nono ano de Ensino Fundamental de duas escolas da cidade de Formosa - GO. Este estudo é caracterizado como pesquisa de campo, através do levantamento de informações com base em um questionário aplicado aos alunos de uma turma de cada escola. Cada uma das escolas pesquisadas possui um tipo de abordagem particular para a Educação Ambiental (EA). Uma escola aborda a EA como Tema Transversal, como sugere os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Já a outra escola aborda a EA como disciplina. Os resultados da pesquisa indicam que os conhecimentos apresentados pelos alunos, em ambas as escolas, estão abaixo do esperado para turmas em conclusão do Ensino Fundamental, demonstrando, dessa forma, que as atividades desenvolvidas são pouco consistentes e que EA ainda não está inserida, em sua totalidade, na vivência do ambiente escolar. 

 

Palavras-Chave: Percepção Ambiental; Educação Ambiental; Ambiente Escolar.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

A Educação Ambiental visa fundamentar o conhecimento a respeito do ambiente, formando uma participação e atuação consciente dos indivíduos em ações de preservação e conservação da Biosfera. Sendo assim, é de grande importância que as premissas da Educação Ambiental (EA) estejam presentes nas primeiras fases da vida do ser humano.  A temática ambiental torna-se essencial a cada dia, especialmente no espaço escolar, mas o direcionamento desse tema na prática pedagógica do docente ainda é bastante limitado. Sendo assim é relevante que o sistema educacional brasileiro reavalie o modo como a EA está sendo abordada dentro das escolas. A abordagem deve ser melhor direcionada atingindo, não somente, expectativas conceituais, mas também refinamento da percepção crítica do aluno como um sujeito com poder de escolha e decisão na sociedade e cultura científica, com aplicabilidade em seu cotidiano. Portanto, torna-se evidente que a aprendizagem ainda não acontece de forma significativa, pois ainda não foi incorporada ao cotidiano escolar de modo definitivo, seja como tema transversal ou como disciplina. A EA envolve uma diversidade de possibilidades de atividades e o aprendizado resultante pode produzir excelentes frutos nas atitudes de cada indivíduo.

A implantação da educação ambiental no Brasil começou em meados da década de 70, após a realização de movimentos sociais que ocorriam por todo o mundo e, também, das Conferências de Estocolmo (1972) e Belgrado (1975) que tinham como o foco o meio ambiente e seus problemas.

BASSANI (2004) afirma que os problemas ambientais e a discussão de soluções têm ocupado cada vez mais espaço em nosso cotidiano, seja por meio de catástrofes naturais, seja pelas provocadas pelo próprio homem.

De acordo com QUINTINO (2006), para o Brasil o efeito das deliberações da conferência de Belgrado voltadas à educação ambiental não tiveram relevância pelos órgãos educacionais federais e estaduais por causa do sistema político do país naquela época. E mesmo depois, quando órgãos estaduais brasileiros, com ações para ao meio ambiente, iniciaram programas de educação ambiental, o conceito de educação ambiental não levava em conta a pobreza, o analfabetismo, ou as injustiças sociais, temas centrais da Conferência de Belgrado. 

Somente após a implantação do Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA), em 1994, pelos Ministérios da Educação e Cultura, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia e a promulgação da Lei 9.975, de 24 de abril de 1999, foi criada a Política Nacional de Educação Ambiental.

Além disso, o Ministério da Educação (MEC) incluiu o Meio Ambiente como conteúdo do 2º ao 5º ano, e como tema transversal do 6º ao 9º ano, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o que expande as possibilidades de ensino da EA aos educadores.

Segundo ALMEIDA (2012) a escola é um espaço muito propício para abordar a temática ambiental, principalmente, porque é um cenário no qual, espera-se que as futuras gerações estejam atuando e porque é a porta de acesso ao conhecimento, de maneira organizada, propiciando a construção das ideias daqueles que, logo, atuarão de forma consciente ou não, no ambiente em que vivem.

Perante essas questões é que se desenvolveu este trabalho, com o objetivo de verificar a percepção ambiental de alunos do nono ano do Ensino fundamental, em duas escolas da cidade de Formosa, no Estado de Goiás, com abordagens distintas, pois uma aborda a EA como disciplina e a outra aborda a EA como tema transversal. Dessa forma é imprescindível que esteja claro que o objetivo deste trabalho é compreender a percepção ambiental dos alunos inseridos em abordagens distintas, e não o de analisar qual das abordagens é a melhor.

Para o desenvolvimento da referida pesquisa, foi realizada uma pesquisa de campo, através da aplicação de um questionário contendo 11 questões de múltipla escolha. O questionário apresentava questões como o significado de meio ambiente, o reconhecimento de práticas e atitudes que prejudicam o ambiente, sobre a qualidade de vida na cidade, bem como acerca de conhecimentos relacionados à temática ambiental, como o significado de efeito estufa e as causas da chuva ácida. O questionário foi aplicado, em cada escola, a uma das turmas do nono ano do Ensino Fundamental, totalizando 51 indivíduos, o qual foi realizado e recolhido no mesmo dia. Em respeito à ética envolvida no trabalho, a identificação dos alunos bem como das escolas será preservada, não sendo divulgadas. Para tanto as escolas serão denominadas por códigos, sendo a escola com a disciplina EA denominada de X, e a escola que tem a EA como tema transversal denominada de Y.

A justificativa para este trabalho se baseia no que afirma ALMEIDA (2012) a respeito da percepção ambiental. Para este autor a assimilação da percepção ambiental dos alunos mostra o êxito ou não das práticas de Educação Ambiental realizadas nas escolas. Além disso, pode despertar os educadores e gestores da educação para a valorização e exploração do potencial proporcionado pela EA. Sendo assim, este trabalho colabora para que essas práticas sejam revistas e avaliadas, com o intuito de realizar um trabalho apropriado à temática ambiental.

 

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DE GOIÁS

 

A secretaria estadual de educação de Goiás possui o Núcleo de Educação Ambiental que tem como objetivo implantar e programar a Educação Ambiental nas escolas do estado de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Política Nacional de Educação Ambiental. O núcleo é composto pelos professores da rede estadual, e a educação ambiental é trabalhada como tema transversal.

O planejamento prevê que as atividades ocorram dentro da escola, fazendo parte do currículo ou através de projetos denominados Praec’s (Projetos de atividades educacionais complementares).

O Projeto "Educando com a Horta Escolar" parte do entendimento de que, por meio da promoção da ação escolar e de uma educação integral dos educandos, é possível gerar mudanças na cultura da comunidade no que se refere à alimentação, à nutrição, à saúde e à qualidade de vida de todos, sobretudo, tendo a horta escolar como o eixo gerador de tais mudanças. (Disponível em: http://educacao.go.gov.br/programas/ambiental/).

 

Não são todas as escolas da rede estadual de Goiás que têm capacidade física para trabalhar com a horta, entretanto a secretaria de educação de Goiás garante que se não há possibilidade da escola participar do Projeto Educando com a Horta, há outras possibilidades do professor abordar a educação ambiental dentro da sala de aula ou do ambiente escolar.

A Educação Ambiental é realidade nas escolas do Estado de Goiás e vem sendo desenvolvida em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Lei 9.795/99, e de acordo com a recente Lei Estadual 16.586/16/06/09, que instituiu a Política Estadual de Educação Ambiental em Goiás. (Disponível em: http://educacao.go.gov.br/programas/ambiental/).

 

 

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O AMBIENTE ESCOLAR

 

De acordo com os PCNs é certo que por si só, a educação não é capaz de alterar o destino da Terra, entretanto, é condição essencial para que isso ocorra. A partir daí fica clara a relevância de formar os brasileiros para o desenvolvimento de atitudes conscientes e sensíveis ao ambiente no qual estão inseridos, refletindo acerca de suas próprias necessidades e das necessidades do meio, levando em conta o presente e o futuro. (BRASIL a, 1998)

De um modo mais específico, a respeito das práticas de EA dentro do ambiente escolar a lei nº 9.795/99, entende em seu Artigo 9º, que esta precisa se fazer presente e seja desenvolvida nos currículos das escolas públicas e particulares. Já em relação à formação dos educadores, dispõe-se no Artigo 11 que “A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas” (BRASIL b, 1999, p. 4). O mesmo artigo ainda se refere aqueles que não tiveram oportunidade durante a formação: “(...) devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional da Educação Ambiental” (BRASIL b, 1999, p. 4).

O campo da EA, que presume enredar uma relação de harmonia com o meio ambiente, é amplo e formado por vários atores, correntes, concepções e práticas educativas. Muitos estudiosos sugerem definições, outros a melhor forma de caminhar, mas todos são unânimes ao afirmar que o caminho é incerto, pois não é possível falar em uma fórmula preparada, estável, no qual podemos agir de tal modo para se obter um produto desejado e que é necessária urgência no agir.

Sobre esse aspecto da Educação Ambiental, Ferraro Junior (2007), explica:

Educação ambiental e ecologia política não formaram e provavelmente não formarão, um corpo científico claramente delineado como as ciências biológicas, matemáticas, químicas e físicas. Os praticantes destas ciências sabem o que ler para enveredar por um de seus ramos e desdobrá-lo, aprofundá-lo, sem uma definição fechada do escopo de princípios e conceitos. Quem busca conhecimentos para educação ambiental está em mar aberto, navegando nas incertezas. Felizmente, competentes navegantes têm sinalizado suas rotas de viagem, e com sua solidariedade tornado esta incerta viagem menos solitária e potencialmente mais significativa (2007, p. 352).

 

Trabalhar esse tema com crianças e adolescentes é sempre muito positivo, principalmente ao enfrentar situações cotidianas na própria sala de aula, onde geralmente persiste um ambiente que ao final das aulas está cheio de papéis de bala e goma de mascar espalhados pelo chão. Enquanto aprendizes os alunos reproduzem aquilo que conhecem e a partir do momento em que outra realidade é apresentada, há a possibilidade de reflexão das ações. Dessa forma pode-se esperar um resultado positivo na vida desses indivíduos, e muito provavelmente eles poderão interferir na realidade refletindo, aprendendo e ensinando.

Uma boa parte do tempo da vida de crianças e adolescentes é vivida dentro da escola. Com exceção do ambiente familiar, não existe espaço melhor para tratar os temas que vão de encontro com o cotidiano dos alunos e com suas práticas, práticas estas que influenciam as respostas do meio no qual estão inseridos.

 

METODOLOGIA

 

Esta pesquisa foi realizada com alunos do nono ano do Ensino Fundamental, em duas escolas da cidade de Formosa, no Estado de Goiás, sendo uma escola com a disciplina EA, a escola X, e a outra com abordagem da EA como tema transversal, a escola Y. A denominação através de códigos justifica-se pela ética envolvida em pesquisas com pessoas, sendo mantida em caráter sigiloso, tanto a identidade dos alunos quanto das escolas.

Para realizar o levantamento das informações foi aplicado um questionário composto por 11 questões objetivas. O objeto de avaliação foi aplicado aos alunos em cada uma das escolas, totalizando um número de 51 indivíduos. O mesmo foi recolhido no dia de sua realização, sendo que foi utilizado um dia para aplicação em cada uma das escolas.

A partir dos resultados foram produzidos gráficos com o intuito de analisar e comparar as informações entre as escolas, bem como apresentar os resultados relacionados à percepção ambiental dos indivíduos investigados.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

·        Perfil das escolas e das amostras

 

As duas escolas envolvidas possuem disparidades quanto à abordagem da Educação Ambiental. A Escola X aborda a EA como disciplina e a Escola Y trata a mesma como tema transversal, inserida em diversas disciplinas.

Dos alunos participantes na Escola X, 60% eram meninos, sendo que na Escola Y ocorreu o inverso da situação, na qual 65% dos alunos eram meninas. A faixa etária dos alunos participantes, em ambas as escolas, está entre 13 e 15 anos de idade.

 

·        Discussão dos resultados

 

Questão 1 – O que é Meio Ambiente?

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Fig. 1: Questão 1 (fonte: dados da pesquisa)

 

Quando questionados a respeito da definição de Meio Ambiente a maioria dos alunos, em ambas as escolas, consideram a Natureza como a definição de Meio Ambiente. Apenas 30% dos alunos da Escola X e somente 10% dos alunos da Escola Y têm a visão de que o Meio Ambiente abrange as coisas vivas e não vivas de um determinado local. Embora, à primeira vista, pode-se pensar que todas as opções estejam corretas, o Meio Ambiente é considerado um Ecossistema, pois reuni os componentes bióticos (seres vivos) e os fatores abióticos (coisas não vivas) que interagem entre si e que, ao sofrerem desequilíbrio gera prejuízo para ambos.

 

 


Questão 2 – Você acha que prejudica o meio ambiente?

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Fig. 2: Questão 2 (fonte: dados da pesquisa)

 

 

 

Ao refletirem sobre suas atitudes relacionadas ao meio, mais da metade dos alunos participantes, em ambas as escolas, confirmaram ter conhecimento sobre os danos causados ao ambiente ao reconhecerem que, no dia a dia, causam algum dano ao meio.

Realça-se o fato de que, aproximadamente, 25% do total de alunos participantes, dizem que não sabem se suas práticas prejudicam ou não o meio. Com destaque para a Escola X, que possui a disciplina EA, na qual a porcentagem de alunos que afirmam não saber se causam dano ao ambiente é maior do que na Escola Y, na qual a EA é abordada como tema transversal.

 

Questão 3 – Caso a resposta seja sim, de que forma?

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Fig. 3: Questão 3 (fonte: dados da pesquisa)

 

 

Em relação às práticas que causam dano ao ambiente, percebe-se que, em ambas as escolas, houve um grande destaque para as opções “jogar lixo no chão” e “desperdício de água”, que no caso da Escola Y dividiu a turma, onde do total da amostra, apenas 10% dos alunos não escolheram nenhuma destas opções como sendo a que mais pratica, causando prejuízo ao ambiente. Já na Escola X o destaque é ainda maior, pois mais da metade da turma afirma que “jogar lixo no chão” é a ação mais praticada no dia a dia, ficando o “desperdício de água” em segundo lugar (25%). Além disso, a opção “poluição sonora” aparece como prática, mesmo que da minoria (5% para cada escola), nas duas escolas, algo preocupante visto ser muito prejudicial e irreversível ao organismo do ser humano. O “consumo exagerado” somente apareceu como opção de 5% dos alunos da Escola Y.

 

Questão 4 – Você se sente incomodado com algum problema ambiental?

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Fig. 4: Questão 4 (fonte: dados da pesquisa)

 

Quando indagados sobre a percepção dos problemas ambientais, a grande maioria dos alunos (90%), tanto na Escola X como na Escola Y, afirmou se sentir incomodada com algum problema. A partir dessa realidade, verifica-se certa contradição por parte dos alunos, visto que o percentual que afirma sentir incômodo em relação a alguma questão ambiental, também afirma que, de alguma maneira, prejudicam o ambiente, conforme o gráfico da Fig. 2.

 

Questão 5 – Pensou em fazer algo, em relação ao incomodo?

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Fig. 5: Questão 5 (fonte: dados da pesquisa)

 

Para os alunos que se sentem incomodados com algum aspecto dos prejuízos ambientais, foi lançado outro questionamento. Ao responderem, mais da metade dos alunos, nas duas escolas, responderam já ter pensando em fazer algo para mudar a situação. Entretanto uma boa parte dos alunos, 30 % na Escola X e 25% na Escola Y, nunca pensaram em modificar suas atitudes. Diante desta situação, verifica-se na Escola X, escola que possui a EA como disciplina, um número elevado de alunos “alienados”, pois 70% dos alunos que dizem se sentirem incomodados com algum problema ambiental, também afirma não ter pensado em uma mudança de hábitos ou atitudes.

 

Questão 6 – Como é qualidade de vida da sua cidade?

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Fig. 6: Questão 6 (fonte: dados da pesquisa)

 

 

Ao responderem esta questão, houve muita divisão entre as opiniões dos alunos. Do total de indivíduos, nenhum considera a qualidade de vida, na cidade de Formosa, como sendo “ótima”. Na Escola X os alunos dividiram suas opiniões entre as opções “boa” (10%), “regular” (50%) e “péssima” (40%). Já na Escola Y os alunos foram mais homogêneos em suas análises, pois dentre 60% dos alunos, 30% classificaram a qualidade de vida como sendo “boa” e 30% classificaram como sendo “ruim”. Dos 40% restantes, 35% julgam a qualidade como “regular” e apenas 5% como “péssima”. Observa-se que na Escola X os alunos possuem uma atitude mais radical ou polarizada, típica de adolescente, enquanto que na Escola Y há maior diversidade de opiniões, e não muita polarização. As representações positivas são maiores na Escola Y, fato este que pode estar relacionado a uma tendência à contemporização, ou também, por uma questão de maior maturidade por parte dos alunos da Escola Y.

 

Questão 7 – Com que freqüência o tema meio ambiente é tratado pelos professores?

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Fig. 7: Questão 7 (fonte: dados da pesquisa)

 

 

 

Considera-se esta questão, bem como suas respostas, como sendo de grande relevância para este estudo, visto que foi neste momento que os alunos demonstraram ter conhecimentos dos temas tratados em sala, bem como aqueles que têm relação direta ou não com a temática ambiental.

Dessa forma, o resultado para esta questão foi surpreendente, tanto para uma escola quanto para a outra. Na Escola X, a metade, ou seja, 50% dos alunos dizem que as discussões sobre a temática ambiental ocorrem “muitas vezes”. Dentre a metade restante, 10% afirmam que essas discussões ocorrem “quase todos os dias”, 35% dizem que ocorrem “poucas vezes”. Apenas 5% dizem que as discussões sobre o meio ambiente “nunca” acontecem, o que, infere-se, pode estar relacionado com a falta de atenção, por parte deste percentual, durante as aulas.

Para a Escola Y percebe-se um problema mais acentuado, visto que a escola aborda o Meio Ambiente como tema transversal, portanto devendo estar inserido em várias disciplinas. Do total de alunos, participantes, desta escola, mais da metade, 65%, afirmam que o tema Meio Ambiente é abordado “poucas vezes” pelos seus professores. Já dentre os restantes, apenas 10% dizem discutir o tema “quase todos os dias”. Um terço dos alunos afirma que os professores abordam o tema “muitas vezes”, o que deve ser considerado uma disparidade relevante, pois enquanto uma parte afirma não ter familiaridade com as discussões ambientais a outra parte, um pouco menor, porém na mesma condição, diz exatamente o contrário.

Esta situação pode estar relacionada ao fato destes alunos, 35% da Escola X e 65% da Escola Y, não estar prestando atenção às aulas, ou até mesmo que estes alunos não saibam identificar quais assuntos integram a temática ambiental. Para tanto seria necessário um estudo mais profundo deste caso, talvez para um próximo projeto.

Infere-se que os alunos, ao se disponibilizarem a responder o questionário com seriedade, possuem, ao menos, interesse pela temática ambiental, o que é muito satisfatório, pois a aprendizagem só é significativa quando o aluno percebe a importância e a relação desta com a sua vida. Isso é um grande passo para que a EA produza bons resultados, tanto na vida dos alunos quanto nas comunidades nas quais estão inseridos. A Educação Ambiental apóia-se no que diz Morin:

A missão da educação para a era planetária é fortalecer as condições e possibilidades de emergência de uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, consciente e criticamente comprometidos com a construção de uma civilização planetária [...] É preciso promover as ações conservadoras para fortalecer a capacidade de sobrevivência da humanidade e, ao mesmo tempo, é preciso promover as ações revolucionantes inscritas na continuação e no progresso da hominificação. [...] o desenvolvimento deveria ter como finalidades: viver com compreensão, solidariedade e compaixão. Viver melhor, sem ser explorado, insultado ou desprezado. Isso pressupõe que no prosseguimento da hominização, exista necessariamente uma ética do desenvolvimento, sobretudo porque já não há uma promessa e uma certeza absoluta de uma lei do progresso. (MORIN, 2007, p. 98-100-105).

 

Teste de Conhecimentos

Como parte integrante do questionário, haviam quatro questões de conhecimentos específicos acerca dos assuntos ambientais, com o intuito de apontar o grau de conhecimento e familiaridade dos alunos com relação a temas relevantes e que, espera-se que sejam tratados pelos educadores, sejam eles educadores ambientais, professores de biologia, química, geografia, história, entre outros.

 

Fig. 8: Resultados do Teste da Escola X (fonte: dados da pesquisa)

 

 

Fig. 9: Resultados do Teste da Escola Y (fonte: dados da pesquisa)

 

 

Questão 1O que é efeito estufa?

Uma questão crucial dentro da temática ambiental é a poluição atmosférica. Para tanto, torna-se relevante saber o significado da expressão efeito estufa, para que sejam feitas considerações sobre o problema. Sendo assim verificou-se que mais da metade dos alunos da Escola Y (60%) não estão familiarizados com este conceito. Da mesma maneira, porém em maior grau, está a falta de familiaridade dos alunos da Escola X com o mesmo tema, já que 95% dos alunos desta escola erraram a questão, demonstrando pouco ou nenhum conhecimento sobre o assunto.  

 

Questão 2 – O significado de reciclar.

Sustentabilidade é um tema muito abordado na atualidade, e suas práticas, como o principio dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar), têm sido divulgadas amplamente de maneira constante, com o intuito de promover a conscientização das sociedades.

As respostas dos alunos, em ambas as escolas, mostrou o conhecimento a respeito da reciclagem, pois, do total de alunos participantes da pesquisa, a maioria acertou a questão. Entretanto, a atenção fica voltada para a Escola X, na qual a metade dos alunos acertou a questão e a outra metade errou.

 

Questão 3 – Quando o ambiente está equilibrado?

Para que o indivíduo possa julgar os problemas ambientais, bem como realizar ações de proteção e conservação, considera-se primordial o conhecimento sobre equilíbrio ambiental.

Como ocorreu na questão 2, a maioria dos alunos participantes, cerca de 60% do total, acertou esta questão, revelando uma boa familiaridade dos alunos, com o assunto que é considerado peça chave para a compreensão dos problemas ambientais.

 

Questão 4 – Qual o principal fator de causa da chuva ácida?

Muito se ouve falar a respeito da chuva ácida, porém é importante conhecer seu principal fator de causa, com a finalidade de se evitar equívocos, principalmente com relação às ações de natureza antrópica.

As repostas para esta questão indicam que a grande maioria dos alunos, tanto na Escola X (80% de erro) quanto na Escola Y (95% de erro), possui pouco ou nenhum conhecimento a respeito deste assunto.

Em relação ao teste de conhecimentos, os alunos da Escola Y se saíram melhor que os alunos da Escola X, pois a maioria de acertos da Escola Y apareceu em três questões, já na Escola X em apenas uma questão. Considera-se este resultado no mínimo curioso, visto que os alunos da escola que possui a EA como disciplina, a Escola X, erraram muito ao marcarem suas respostas. Essa diferença entre as escolas pode ser atribuída a inúmeros fatores associados, dentre eles estão a própria estrutura das escolas: espaço físico, recursos pedagógicos e recursos humanos, que podem interferir nos resultados, bem como a classe social dos alunos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A partir dos resultados obtidos na pesquisa, infere-se que a percepção ambiental dos alunos é pouco satisfatória, indicando que as abordagens de Educação Ambiental, tanto na Escola X quanto na Escola Y, são pouco eficientes. Percebe-se ainda, que há uma diferença nas repostas entre as escolas, denotando certa vantagem para a Escola Y, escola na qual a EA é abordada como tema transversal, principalmente no que diz respeito ao teste de conhecimentos. Entretanto essa vantagem não indica que, nesta escola, os alunos apresentam uma percepção ambiental muito melhor que os alunos da outra escola, visto que o que ocorre são dessemelhanças em relação às respostas da Escola X. Entretanto essas dessemelhanças favorecem a Escola Y, e mostram que a Escola X possui desajustes em sua abordagem, que cooperam com a frágil percepção ambiental de seus alunos.

Com base na percepção dos alunos, pode-se inferir que a EA como tema transversal ainda não possui o devido espaço no cotidiano escolar. Para MININI (2000), a Educação Ambiental é a maneira de propiciar a compreensão crítica e global do ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes e posição consciente e participativa com relação à conservação e adequada utilização dos recursos, para a melhoria da qualidade de vida e eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. Dessa forma, as respostas dos alunos da Escola Y apontam a grande lacuna que precisa ser preenchida para que a EA funcione, não somente como uma ferramenta de conscientização ambiental, mas como um estilo de vida, que promove a reflexão e a ação por parte dos indivíduos.

Como disciplina, a Educação Ambiental mostra pouco efeito na vida dos alunos, visto que as respostas dos alunos da Escola X mostram o quanto esta abordagem deixa a desejar. De acordo com CARVALHO (2001), a EA é exposta como crítica a educação tradicional quando mostra que a narrativa do educador ambiental “partilha em algum nível de um projeto político emancipatório” (CARVALHO, 2001, p. 201). O que fica claro que sendo trabalhada como uma disciplina, como as outras, a EA se transforma num processo mecanicista, não sendo inserida na vivência dos alunos.

Levando em conta todas as transformações derivadas da relação homem-ambiente faze-se necessário uma intensa reflexão sobre as ações do homem na Terra. Pena-Vega (2003) reporta-se a Edgar Morin (1973) para realçar a importância da “reforma do pensamento” no sentido de introduzir uma nova abordagem antropo-social à ciência da ecologia:

Em outras palavras, as ciências do homem e da natureza teriam uma dificuldade maior de se integrarem em seus postulados conceituais, principalmente em termos de unidades de interação vida/natureza/homem/ sociedade, indispensáveis para explicar os procedimentos complexos de adaptação, sobrevivência e desaparecimento que governam a evolução dos ecossistemas. Parece desde logo necessário proceder a uma tentativa de “reforma do pensamento” teórica e conceitual, a fim de incorporar nas ciências do homem o conceito de vida e/ou, inversamente, uma ciência da ecologia capaz de integrar, em seu desenvolvimento reflexivo, uma nova abordagem à dimensão antropo-social (EDGAR MORIN, 1973, citado por PENA-VEGA, 2003, p. 35).

 

Enfim, é importante que a Educação Ambiental também possua seu espaço fora da escola, com a mesma relevância que se deve dar ao espaço dentro da escola. Conforme DIAS (2004), a EA tem a responsabilidade de promover o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e habilidades para a preservação e melhoria da qualidade ambiental e que só se consegue tal intento com a participação da comunidade de forma articulada e consciente para gerar atitudes capazes de afetar os comportamentos. Para tanto a EA precisa que seu espaço dentro da escola seja reconhecido, valorizado e explorado. Dessa maneira poderá refletir no cotidiano dos alunos, fora da escola, mas dentro da sociedade.

 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, R. F. Percepção Ambiental de Alunos do Terceiro ano do Ensino Médio em duas Escolas da cidade de Uberaba-MG. Revista Educação Ambiental em Ação, Rio Grande do Sul, vol. 3, n 40, Julho de 2012. Disponível em: < http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=1255&class=02> Acesso em: 20 de Ago. de 2012.

BASSANI, M. A. Psicologia Ambiental: Contribuições para a Educação Ambiental. In: EMBRAPA. (Org.). Proposta metodológica de macroeducação. 2ª ed. São Paulo: Globo, EMBRAPA, 2004. p. 92.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: 5ª a 8ª séries. Brasília: MEC/SEF, 1998.

_______, a. Secretaria de Educação Fundamental. Meio Ambiente in: Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclo. Brasília: MEC/ SEF, 1998. p. 181.

_______, b Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Instituiu Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil03/Leis/L9795htm>. Acesso em: 20 de Ago. 2012.

 

CARVALHO, I. C. M. A invenção ecológica: Narrativas e trajetórias da educação ambiental no Brasil. Porto alegre: Ed. Da UFRS, 2000, p. 201.

 

DIAS, G. F. A educação ambiental no Brasil é fractal. In: Textos sobre capacitação de professores em Educação Ambiental. MEC-SEF-DPEF- Coordenação de Educação Ambiental, Brasília. P. 65-69, 2000, p. 80.

 

FERRARO JÚNIOR, L. A. (Org.). Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, v. 2, 2007, p. 352.

 

GOIÁS, Secretaria de Estado da Educação. Núcleo de Educação Ambiental. Disponível em: < http://educacao.go.gov.br/programas/ambiental/> Acesso em: 20 de Ago. de 2012.

 

MININI, N. A. A formação dos professores em educação ambiental. In: Textos sobre capacitação em educação ambiental. Oficina Panorama da Educação Ambiental, MEC-SEF-DPEF-Coordenação de educação ambiental, Brasília, 2000, p. 15-22.

 

MORIN, E. Educar na era planetária. Cidade: editora, 2007, p. 98-100-105.

 

MORIN, E. Por Uma reforma do pensamento. Por uma reforma do pensamento. In: PENA-VEGA, A. O despertar ecológico: Edgar Morin e a ecologia complexa. Rio de Janeiro: Garamond, 2003, p. 35.

 

QUINTINO, C. A. A. Um histórico sobre a Educação Ambiental no Brasil e no mundo. Disponível em: <http://www.unifai.edu.br/internet_noticia.asp?cod_conteudo=2806&area=1627>. Acesso em: 20 de Ago. de 2012.

 

 



¹Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília – UnB, Pós-Graduanda em Metodologia do Ensino Fundamental pela Universidade Federal de Goiás – UFG. e-mail: jaqueline.m.magalhaes@gmail.com.