TRANSFORMAÇÃO DO QUILOMBO DE UBATUBA POR MEIO DOS SEUS SABERES ANCESTRAIS
Tamoios News
Foto: João Paulo Biaggi
Desde 2023, a comunidade quilombola do Sertão de Itamambuca, vem presenciando transformações significativas e muito positivas, graças à implantação do projeto Quilombo Sustentável, coordenado pelo Instituto Terroá.
O objetivo do projeto é promover o desenvolvimento territorial sustentável a partir dos saberes ancestrais e práticas tradicionais do quilombo como a roça comunitária com sistema agroflorestal – conhecida também como agricultura de coivara, e a aquacultura natural – criação de pescados.
O resgate da roça comunitária e as vivências abertas ao público
Milho, feijão e outros insumos que foram plantados nos mutirões do último ano já foram colhidos e, em junho, o quilombo terá a colheita da mandioca.
E para celebrar este momento de fartura, a comunidade promoverá em junho uma vivência na roça comunitária, acessível ao público, para a colheita coletiva da mandioca, um momento significativo e de tradição.
A ideia é que a vivência faça parte das ações do Turismo de Base Comunitária e envolva outras atividades interessantes no território por meio de uma experiência completa ao visitante: refeições com pratos tradicionais quilombola, roda de conversa com anciões e possibilidade de hospedagem no Quilombo.
Para mais informações sobre a vivência, os interessados devem acessar o site www.quilombosertaodeitamambuca.com.br e entrar em contato pelo telefone de agendamento.
“Pra gente é motivo de muito orgulho resgatar a tradição. Vi meu pai e os mais antigos plantando milho, feijão, mandioca, cará, etc. Então é muito prazeroso ver o brilho nos olhos dos mais velhos que viveram da colheita da terra onde se tinha de tudo. Hoje queremos viver também do Turismo de Base Comunitária, mostrar pros nossos convidados e pras nossas crianças como se vivia antigamente para que eles tenham a experiência de tirar a mandioca da terra, colocar pra cozinhar e comer uma mandioca assada fresquinha.” explica Adriana Vieira Leite, presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo da Comunidade do Sertão de Itamambuca e agente local do projeto.
Além do plantio dos grãos na roça, as mulheres quilombolas construíram uma espiral de ervas medicinais ao lado da sede da Associação e produziram um livro artesanal contendo um compilado desse conhecimento ancestral.
Inclusive, a vivência de plantas medicinais é uma das atrações turísticas do quilombo, onde o visitante poderá participar de uma roda de conversa para troca dos saberes, conhecer um pouco de cada planta e adquirir o livro.
Educação ambiental e a responsabilidade com o meio ambiente
A educação ambiental é um dos pilares do projeto Quilombo Sustentável e com isso, o quilombo começará a receber visitas de alunos das escolas municipais para atividades em meio a mata e o rio, conhecendo as tecnologias sociais implantadas como o ecosaneamento, a coleta seletiva, o viveiro de mudas e de ervas – em construção – e o sistema de compostagem que deve ser implantado nos próximos meses.
Entre as ações de educação ambiental está a implantação da coleta seletiva de resíduos recicláveis, realizada em parceria com a cooperativa de reciclagem Coco & Cia, resultado do aprendizado e envolvimento da comunidade na responsabilidade em preservar e cuidar do território.
Sustentabilidade
Outras atividades sustentáveis e para autonomia da comunidade também estão em desenvolvimento, como a oficina para se pensar em possibilidades de comercialização dos pescados, a construção e regularização do viveiro de mudas de espécies nativas, frutíferas, exóticas e também medicinais, seja para atividades de reflorestamento, seja para educação ambiental ou venda; e a construção da cozinha e restaurante comunitário que será inaugurado no mês de junho.
A coordenadora do projeto Quilombo Sustentável, Raquel Pagan, comenta sobre a busca pela sustentabilidade na comunidade: “O projeto tem como principal objetivo o desenvolvimento sustentável do território, trabalhando com a implantação de iniciativas piloto, para que os comunitários possam experimentar as diversas frentes e avaliar quais se identificam mais, ampliando as possibilidades de inclusão produtiva e geração de renda no Quilombo, sempre conectadas à identidade e cultura quilombola. Mas nos surpreendemos ao observar que os comunitários estão muito envolvidos e abraçando todas as atividades como grandes oportunidades, o que traz uma potência enorme ao projeto!“