Educação Ambiental e Restauração de mata ciliar:
remanescentes de Mata Atlântica em Bandeirante, Santa Catarina
Eliandra Gomes Marques
Pós-graduanda dos Cursos de Especialização em Educação Ambiental e de Mídias na Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
E-mail: fuberti@terra.com.br
Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal aprofundar os debates sobre os problemas encontrados no ecossistema Mata Atlântica e expor a situação que se encontra o extremo oeste catarinense onde havia cobertura total de floresta nativa. Nesse sentido, busca-se analisar as características do ecossistema em estudo e verificar problemas ambientais existentes, buscando soluções por meio da Educação Ambiental (EA).
Palavras-Chaves: Ecossistema; Mata Ciliar; Educação Ambiental.
INTRODUÇÃO
O município de Bandeirante ocupa faixa de fronteira e está situado na microrregião de São Miguel do Oeste, na mesorregião do Oeste Catarinense, limitando-se a oeste com a República Federativa da Argentina, pela Província de Missiones. Sua população é de um pouco mais de 3 mil habitantes, sendo que a grande maioria, cerca de 70%, vive no meio rural. Dista 700Km de Florianópolis, capital do Estado, tendo uma área rural de um pouco mais de 143km2.
Cabe especial destaque, o fato de localizar-se sobre o Aqüífero Guarani, uma das mais importantes reservas subterrâneas de água doce do Planeta. Os principais rios do município são: Rio Peperi Guaçu, Rio das Flores, Rio Bandeirante, Rio Índio e Rio Lajeado dos Porcos. O clima preponderante é o Temperado Úmido. Sua economia é essencialmente agrícola, baseada na suinocultura, avicultura, produção de grãos, gado de corte e leiteiro. Todas de grande potencial poluidor de mananciais. A renda mensal da maioria das famílias é de certo modo baixa devido ao cultivo de culturas tradicionais desenvolvidas com níveis tecnológicos restritos, limitada por áreas agrícolas não mecanizáveis, com isso o êxodo rural e urbano são elevados.
A problemática apontada está no Arroio Bandeirante, município de Bandeirante/SC, que abastece a cidade e está assoreado por não mais ter sua proteção ciliar. Propomos, após análises, soluções de curto a longo prazos para o restabelecimento das formações ciliares e revitalização do curso hídrico, evitando o racionamento de água periodicamente, bem como ações educativas permanentes.
1 MATA ATLÂNTICA: REMANESCENTES
Há quase 500 anos atrás a Mata Atlântica abrangia 17 estados brasileiros em uma faixa de 3.500 Km de extensão que acompanha o litoral brasileiro do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, penetrando até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina em sua porção sul. O estado de Santa Catarina era coberto por 99% de mata atlântica e hoje resta muito pouco.
Com a invasão dos colonizadores portugueses, em 1500, de suas caravelas puderam ver uma paisagem diferente. Como narrou o escrivão Pero Vaz de Caminha em uma carta que fez para o rei de Portugal,
... a hora de vésperas, avistamos terra! Primeiramente um grande monte, muito alto e redondo; depois, outras serras mais baixas, da parte sul em relação ao monte e, mais, terra chã. Com grandes arvoredos. (CAMINHA, 1500, p. 9 ).
O que Caminha e seus companheiros de tripulação viram dos navios é o ambiente que hoje denominamos Mata Atlântica. Ela recebeu este nome justamente porque está próxima ao oceano Atlântico. Os montes arredondados, a terra chã e os grandes arvoredos caracterizam este bioma, que hoje se reduz a apenas 7% do que era na época da chegada dos portugueses.
Diante da imagem que surge sobre o exposto acima, é possível observar na em mapas comparativos da abrangência de Mata Atlântica antes e pós-descobrimento.
A natureza exuberante que se estendia cerca de 1,3 milhão de quilômetros quadrados de Mata Atlântica na época do descobrimento marcou profundamente a imaginação dos europeus. Mais do que isso, contribuiu para criar uma imagem paradisíaca que ainda hoje faz parte da cultura brasileira, embora a realidade seja outra. A exploração predatória a que fomos submetidos destruiu mais de 93% deste “paraíso”. Uma extraordinária biodiversidade, em boa parte peculiar somente a essa região, seriamente ameaçada.
Segundo ambientalista do WWF-Brasil:
Séculos de exploração madeireira predatória, queimadas, exploração agrícola, pecuária e urbana, destruíram 93% da Mata, a área com maior densidade de vida do mundo – em apenas um hectare foram encontrados 450 espécies de árvores. O pouco que resta continua sofrendo todo tipo de pressão imaginável. Cada agressor tem sua desculpa particular para continuar a estúpida destruição.
Dias (2002) destaca que a perda maciça de floresta, na atualidade, provoca a maior crise de extinções que a Terra já testemunhou em 65 milhões de anos. E completa: “estamos destramando os fios de uma complexa rede de segurança ecológica; a maior parte dos seres humanos ainda não reconhece o valor dessa rede.” (DIAS, 2002, p. 25).
Do que ainda resta, é possível verificar o quanto esse ecossistema é rico em biodiversidade. A biodiversidade da Mata Atlântica é maior mesmo que a da Amazônia. Há subdivisões da mata, devidas a variações de latitude e altitude. Há ainda formações pioneiras, seja por condições climáticas, seja por recuperação, zonas de campos de altitude e enclaves de tensão por contato. A interface com estas áreas cria condições particulares de fauna e flora.
A Mata Atlântica é composta por uma série de ecossistemas cujos processos ecológicos se interligam, acompanhando as características climáticas das regiões onde ocorrem e tendo como elemento comum a exposição aos ventos úmidos que sopram do oceano. Isso abre caminho para o trânsito de animais, o fluxo gênico das espécies e as áreas de tensão ecológica, onde os ecossistemas se encontram e se transformam.
No que se refere à fauna, já foram encontradas cerca de 260 espécies de mamíferos, 620 de aves, e 260 de anfíbios, além de muitos répteis e insetos. Ela abriga 383 dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil.
Quanto ao relevo, a Mata Atlântica se estende por toda a planície costeira, alcançando a cadeia de montanhas que acompanha a costa brasileira. Esta cadeia recebe nomes diferentes de acordo com a região pela qual passa. No sudeste, por exemplo, um pedaço dela recebe o nome de Serra do Mar.
O solo desta mata é em geral bastante raso, pouco ventilado, sempre úmido e recebe pouca luz, pois a maior parte da luminosidade é absorvida pelas folhas das árvores mais altas.
A vegetação da Mata Atlântica é conhecida principalmente por sua exuberância e diversidade, é uma das mais ricas do planeta. A Serra do Mar (SP) contém mais de 800 espécies de árvores, sem falar nas plantas não arbóreas, como as trepadeiras, ervas e gramíneas.
Como está espalhada por todo litoral brasileiro, a Mata Atlântica está submetida a climas diferentes, de acordo com cada região. Sendo assim existem pedaços da mata marcadas pelo clima subtropical úmido no sul; outros marcados pelo clima tropical e outros ainda que ocorrem muito próximas à caatinga semiárida nordestina. Entretanto, existe um fenômeno que marca todas as regiões de floresta atlântica, de norte a sul do país: a grande quantidade de chuvas, resultado da proximidade do mar e dos ventos que sopram do oceano em direção ao continente. Esses ventos levam massas de ar muito úmidas, as quais, quando encontram as montanhas que cercam a Mata Atlântica, se condensam e se transformam em chuva.
Mas é na relação complementar entre a floresta e a água que a importância desse bioma pode ser melhor compreendida. Os remanescentes regulam a vazão dos rios, atenuando as enchentes, e após as chuvas permitem que a água escoe gradativamente.
É comum pensarmos na complexidade de um bioma por aspectos de sua fauna e flora, mas um elemento fundamental para a existência da biodiversidade é a água. E se a água é essencial para dar vida a um bioma como a Mata Atlântica, suas florestas têm um papel vital para a manutenção dos processos hidrológicos que garantem a qualidade e volume dos cursos d'água. Além disso, as atividades humanas desenvolvidas dentro do bioma também dependem da água para a manutenção da agricultura, da pesca, da indústria, do comércio, do turismo, da geração de energia, das atividades recreativas e de saneamento.
Hoje a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e agricultura. Porém, ainda restam manchas da floresta. As conseqüências geradas pela destruição das florestas é uma das maiores demonstrações da inconsciência humana e uma das mais graves alterações que se impõe a Terra, através dos tempos.
Chocante é que no estado de Santa Catarina que tinha 99% de cobertura de Mata Atlântica hoje restam apenas o Parque Nacional da Serra do Itajaí (federal), a RPPN Rio das Lontras (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (estadual) que estão amparados. O resto vive descoberto, realizando o trabalho de formiguinhas para restaurar os vestígios.
O enfoque desse estudo, e sua aplicação, será realizado no município de Bandeirante/SC que dentre os rios que cortam o município está o Arroio Bandeirante – rio de grande importância por suas águas abastecerem o perímetro urbano.
2 ARROIO BANDEIRANTE:
RESTAURAÇÃO DE MATA CILIAR E AÇÕES SUSTENTÁVEIS
O Arroio Bandeirante é um importante rio que abastece o município de Bandeirante, entretanto ele está assoreado devido às ações degradantes do Homem como o desmate desenfreado das áreas ciliares, fato que comprometeu sua nascente e modificou seu curso, ocasionando uma supressão da fauna e da flora.
Como soluções para contornar essa situação assoladora estão sendo feitas a indução e a condução de propágulos autóctones presentes na área, assim como o plantio de mudas ou semeadura direta de sementes de árvores nativas, recolhidas de áreas remanescentes, em trechos de floresta a ser reabilitada a fim de que ocorra o processo de frenagem degenerativa de carregamento das partículas sólidas do solo, como silte, argila, areia e matéria orgânica, e o isolamento da área ciliar com cercas com vistas à aceleração do processo de reabilitação (RODRIGUES & LEITÃO FILHO, 2000).
Restaurar as formações ciliares degradadas do Arroio Bandeirante e proteger sua nascente e mata remanescente, para conservar seu manancial melhorando a qualidade e quantidade dos recursos hídricos, restabelecer seus processos ecológicos e acelerar o processo de reabilitação com ações que envolva a comunidade através da Educação Ambiental destaca-se como o objetivo central do projeto.
Pretende-se, diante do objetivo central: Diminuir os processos de erosão e assoreamento, melhorando a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos; Regularizar a vazão das águas superficiais pela redução de velocidade de escoamento; Aumentar a capacidade de infiltração das águas provenientes das chuvas para o abastecimento dos lençóis freáticos; Formar corredores naturais, que sofreram fragmentação, para que fique garantido o fluxo da fauna silvestre evitando o isolamento e a perda total de seus habitats; Garantir o fluxo gênico da flora e a biodiversidade; Dar cumprimento à Legislação Ambiental; Sensibilizar as famílias ribeirinhas sobre a importância da restauração da mata ciliar para a recuperação do Arroio Bandeirante, envolvendo-as nas ações e orientando-as tecnicamente; Capacitar as famílias envolvidas com alternativas sustentáveis; Realizar campanhas educativas sobre a importância da preservação do Arroio para uma qualidade de vida da população do município e cadastramento visando outorga; Promover conscientização para o não lançamento de resíduos sólidos nas margens do Arroio bem como organizar mutirões para a limpeza dessas margens; Incentivar a adoção de sistemas de tratamento de esgoto no município, assim como a construção de fossas, sumidouros e filtros como solução de esgotamento para grupos de moradias que são abrangidas pelo Arroio e adequação de estábulos e sistemas de manejos de dejetos animais de acordo com as legislações ambientais; Implantar programa de educação ambiental nas escolas e na comunidade; Coordenar, monitorar, avaliar e gerenciar as ações; Disseminar informações e experiências permanentemente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a disseminação da Educação Ambiental têm-se os benefícios globais: conservação da biodiversidade; aumento estoques de carbono em florestas e solo redução de pobreza (melhoria de produtividade) e combate à degradação das terras; e os benefícios locais e nacionais: proteção da água e do solo; restauração de serviços e funções dos ecossistemas e geração de oportunidades de trabalho e renda. Tudo com vistas no pleno desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMINHA, Pero Vaz. Carta a Dom João. São Paulo: Abril Educação, 1982.
DIAS, Genebaldo Freire. Iniciação à Temática Ambiental. São Paulo: Gaia, 2002.
RODRIGUES, Ricardo Rodrigues; LEITÃO FILHO, Hermógenes de Freitas. Matas ciliares: Conservação e recuperação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp, 2000.
WWWF-BRASIL. Mata Atlântica. Disponível em: http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/biomas/bioma_mata_atl/agua_mata_atlantica/ Acesso em: 25 abr 2009.