Entrevista com André
Luís Soares, para a 31ª Edição da Educação Ambiental em Ação
(www.revistaea. org)
Por Bere Adams (REAEA)
Apresentação: O entrevistado desta edição é André Luís Soares,
que é diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Ecocentro Ipec (Instituto de
Permacultura e Ecovilas do Cerrado). Conforme dados da Rede de Tecnologia
Social (RTS), a organização foi fundada por ele e por sua esposa, a pedagoga
australiana Lucy Legan, em Pirenópolis, Goiás, e foi criado em 1998. Hoje a
instituição é uma referência em sustentabilidade no Brasil. Vamos conhecer
um pouco mais da sua caminhada e dos trabalhos que desenvolve.
REAEA - Como você define a Permacultura?
A - Permacultura é uma metodologia de pensamento em ação. É um sistema de
"design" para a ocupação humana do terreno em todos os lugares.
Nas cidades ou no campo, em qualquer clima e no novo clima. Permacultura pode
preparar uma pessoa para redesenhar sua vida de forma sustentável. Surgiu na
Australia na pessoa do Dr. Bill Mollison, um cientista que estudou por muitos
anos a sustentabilidade dos ecossistemas naturais e passou suas conclusões
para o mundo prático da construção de assentamentos humanos equilibrados.
REAEA - Qual a conexão que você vê entre Educação Ambiental e
Permacultura?
A - A Permacultura é a Educação Ambiental em ação, conforme prenunciado
no livro "A Escola Sustentável" de Lucia Legan. Na minha opinião
este livro é a obra fundamental necessária para qualquer educador ambiental,
pois vai além das elocubrações filosóficas da maioria dos livros nesta área,
demonstrando que é possível transformar o espaço a nossa volta, transformar
a escola e transformar a vida de todos nós para um equilíbrio natural. Ninguém
faz educação ambiental sem impacto no mundo real. Esta falácia de educação
ambiental teórica já está mais do que caduca. Toda a educação é
ambiental e a permacultura é a ação de educar.
REAEA - Vocês desenvolvem atividades de Educação Ambiental no Ecocentro
Ipec? Se sim, como são estas atividades, e qual o público que vocês alcançam?
A - O Ecocentro IPEC foi estabelecido há dez anos para educar na prática,
demonstrando que a vida sustentável é viável e confortável. Que poucas
mudanças podem trazer muitos resultados. O Ecocentro recebe escolas e
estudantes de todo o mundo para participarem dos muitos eventos que oferecemos
ou apenas para conviver com nossa comunidade. Recebemos visitantes que ficam
desde um dia até um ano vivendo e aprendendo. Em visitas curtas as pessoas
observam o que fazemos e participam em alguns eventos práticos. Nas estadas
mais longas as pessoas nos ajudam a construir o modelo de comunidade humana
sustentável que sonhamos.
REAEA - A maioria das pessoas tem dificuldades para promoverem mudanças de
suas atitudes, principalmente as que vivem em grandes centros urbanos. Como
você vê esta situação em relação a Educação Ambiental e a
Permacultura?
A - Muita gente se sente prisioneira de um sistema que lhes abarca a maior
parte do seu tempo. Muitas pessoas vivem e trabalham para pagar dívidas de
tempo e dinheiro que adquiriram em algum momento. Seja a casa, o automóvel ou
a educação dos filhos. Isso deixa as pessoas a espera do dia em que se
libertarão destas amarras econômicas. A prisão é econômica, portanto o
caminho para libertação é econômico. No momento em que as pessoas
descobrem que é possível viverem com bom alimento, água pura, casa confortável
e sadia, e trabalho significativo, elas praticamente renascem para uma vida
mais feliz. Mas para fazer isto precisam de uma nova visão de mundo, uma visão
que lhes aponte para as infinitas possibilidades que cada ser humano tem. Isto
não é nada religioso ou místico, é apenas uma nova maneira prática de ver
e pensar.
REAEA - Durante sua caminhada, desde a implantação do Ecocentro Ipec até
os dias de hoje, qual o aspecto que causou maior dificuldade nesta trajetória?
A - As relações interpessoais, naturalmente. É neste campo que ainda somos
todos subdesenvolvidos. As pessoas ainda estão aprendendo a ouvir. Temos um
desafio muito grande neste sentido, pois também precisamos avançar nossa
cultura no sentido ético. Qualquer iniciativa, mesmo que vanguardista, vai
sempre apresentar um certo reflexo da cultura em que está inserida. E neste
ponto é que precisamos cortar caminhos. Não podemos esperar até que os íderes
erradiquem a corrupção. Não podemos esperar que haja uma lei que proíba a
propaganda enganosa. Não podemos esperar que o respeito pelas minorias, pela
mulher e pelo índio sejam determinados. Temos que movimentar as mudanças a
partir de nós.
REAEA - E qual o aspecto que lhe traz maior satisfação?
A - A prova! Hoje sabemos que a sustentabilidade não é uma utopia teórica.
Sabemos que é possível viver bem sem consumir o planeta. Esta certeza dá
muita força para realizarmos sonhos ainda mais ambiciosos de transformação.
REAEA - Quais são os projetos do Ecocentro Ipec, em andamento?
A - No momento estamos realizando uma revisão completa dos nossos métodos e
processos. Estamos "automatizando" algumas funções básicas para
que possam ser repetidas e copiadas em qualquer situação. Nossos projetos
mais ambiciosos envolvem o alcance global do nosso trabalho. Já estabelecemos
elos práticos de educação com a Austrália, com os Estados Unidos e com
Portugal e o próximo passo é uma escola de futuro global. Sempre pensamos
grande.
REAEA - Como as pessoas podem conhecer melhor o Ecocentro Ipec?
A - A melhor maneira é visitando pessoalmente, até o momento. Estamos
trabalhando em outras oportunidades virtuais para que as pessoas possam viver
a experiência de sustentabilidade sem sair de casa. Mas agora, o melhor a
fazer é agendar uma visita ou curso. Melhor ainda se organizar um grupo de
amigos ou colegas para realizarem um curso especificamente desenhado para as
necessidades de aprendizado.
REAEA - Por gentileza, poderia nos deixar uma mensagem sobre o que esta
experiência de vida significa para o você e para Planeta?
A - A experiência de sustentabilidade é a vivência prática da esperança.
Viver neste mundo é um desafio ao otimismo inteligente. Nós acreditamos no
potencial infinito de criação da espécie humana e esta é a experiência da
liberdade.
REAEA - André, parabéns pelo trabalho, pela dedicação, e muito obrigada
por compartilhar suas experiências com a EducaçãoAmbiental em Ação.