A importância da Educação Ambiental
na valorização do Patrimônio Natural
Shênia
Patrícia Cassiano de Oliveira,
Bacharel em Turismo pela Universidade Federal de Ouro Preto, Mestranda em Patrimônio
e desenvolvimento pela Universidade de Cabo Verde.
Endereço para correspondência:
Terra Branca, Cidade da Praia. Ilha de Santiago. Cabo Verde.
Email: sheniapatricia@yahoo.com.br
Tel.: (238) 97 57 990
Resumo
O presente artigo faz um paralelo entre a Educação
Ambiental e a estrutura conceitual do patrimônio natural. Transforma-se a
multidisciplinaridade do patrimônio e da educação ambiental em
interdisciplinaridade atestada pela análise de algumas das principais vertentes
de ambos.
Palavras-chave: patrimônio
natural, educação ambiental, valorização, reconhecimento, reflexão.
O presente artigo propõe uma reflexão que suscita a importância da
Educação Ambiental na valorização do patrimônio natural. Se configura em um
breve estudo analítico de cunho multidisciplinar que transcorre para a
interdisciplinaridade.
É analisada a estrutura conceitual de patrimônio, a destacar o natural,
salientando as vertentes que contribuem para sua salvaguarda e são dialogadas e
reforçadas pela educação ambiental.
Busca-se
ressaltar que a identificação do
ser humano enquanto parte da natureza em uma relação de sustentabilidade,
reconhecimento e atribuição de valor, estabelece questões convergentes tanto
para a educação ambiental quanto para a instituição
do patrimônio natural.
A
Educação Ambiental visa a conscientização do ser humano através da
abordagem das relações históricas, sociais, culturais e econômicas, todas em
interação com a natureza em uma associação de bem estar mútuo. O processo
de aprendizagem ambiental é constante e vitalício e se dá de diversas
maneiras, em todos os momentos e lugares. Ela
surge como agente intensificador do contato entre o homem e a natureza e do
conhecimento de suas inter-relações em busca de um equilíbrio.
Os
meios e métodos de difusão da educação ambiental devem ser discutidos,
valorizados e aprimorados, pois a mesma abrange
problemas que repercutem na convivência e sobrevivência em todo o
planeta, buscando a sustentabilidade e a preservação do meio para gerações
futuras.
Cabe
ressaltar que ela promove as bases para as práticas de reconhecimento e
valorização do patrimônio, a destacar, o patrimônio natural. Ela pode
ser veiculdada de forma a contribuir com
o sentimento de pertença, de identidade, perante este tipo de patrimônio.
A
conscientização a respeito do patrimônio natural é
reforçada pelas idéias promovidas na educação ambiental, no modo como a
natureza deve ser tratada, sentida e fruída. Em patrimônio há o valor da
sensiblidade, este valor vai contra o superficial, o fugaz, o efêmero.
Todos
têm seu próprio conceito de patrimônio e este não deve ser
padronizado. Muitas opiniões tendem a enriquecer um conceito, que
inclusive, está em constante mutação, de acordo com o espaço e tempo em que
é instituído. No presente trabalho não pode-se pensar apenas no patrimônio
natural classificado pela UNESCO[i],
mas em todos que de alguma forma têm mérito para tal. Ou seja, possuem uma
percepção humana privilegiada.
Não obstante, se analisarmos a fundo a origem de patrimônio, chegaremos
ao aspecto humano. Um elemento patrimonial foi construído pelo homem e para o
homem e cabe a ele valorizar ou não este bem, a fim de mantê-lo para continuar
integrando o meio ambiente.
Deste modo encontramos um dos pilares reforçados pela educação
ambiental. Homem e natureza como uma unidade, o patrimônio natural é na
verdade fruto de uma construção social- definição
de Prats (1997) . Ele reflete a natureza
humana, pois quem o promoveu se identificou com o mesmo. Ele pode ser visto como
uma extensão humana dignificada
E como surge a idéia de patrimônio?
Para Ballart (1997) a noção de patrimônio surge “quando um indivíduo
ou grupo de indivíduos identifica
como seu um objecto ou um conjunto de objectos.”
A idéia de patrimônio também se configura, quando se fala em
testemunho de um contexto específico, porém que pode ser valorizado em âmbito
geral.
Quem escolhe o que é patrimônio? Pode-se dizer que há uma “seleção
natural”, ou seja, só sobrevive a representatividade mais forte, e que merece
perdurar ao longo do tempo. Que sua escolha enquanto patrimônio colabore para o
desenvolvimento da espécie humana., como algo que ganhou destaque, teve
utilidade, e tem autenticidade evidente. Pode-se até ir mais longe e dizer que
o patrimônio é escolhido por mérito primeiramente e depois por
excepcionalidade, ele carrega grande informação, seja natural, seja cultural.
Vejamos outra opinião sobre a seleção do que é patrimônio, por
Silva (s.d.) :
“o patrimônio não
é só o legado que é herdado, mas o legado que, através de uma seleção
consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao futuro.”
Podemos afirmar que,
existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o patrimônio natural
às gerações vindouras.
É importante destacar é que existe também uma noção de posse por
parte de um determinado grupo relativamente ao patrimônio natural, ( a educação ambiental alerta sobre
este fato) neste caso este
sentimento deverá ser o de integração.
O patrimônio pode ser escolhido por ser de grande utilidade, por ser diferente, por ter beleza e
valor estético reconhecidos, por ter sido patrimônio herdado, por simbolizar
uma cultura, dentre outros. São inúmeras as opções da conotação de um
elemento/ lugar enquanto patrimônio.
Outro aspecto relevante na compreensão patrimonial é a análise da função
prática (de uso), estética (imagem, estrutura física) e simbólica
(significado construído através da vivência, intuitivo, que é
representatividade de alguma coisa, alegórico, quando expressa uma idéia de
forma figurada). Cabe destacar que
a função prática do patrimônio natural nunca se torna obsoleta.
É oportuno salientar outra idéia pertinente na educação ambiental: a
sustentabilidade, a preservação dos recursos naturais, a manutenção dos
ecossistemas. Todos estes se configuram com elementos proponentes no que
concerne à existência do patrimônio
natural. Este é singular e memorável. Resgato aqui as palavras que compõem a
definição da UNESCO que dizem que o patrimônio é uma fonte insubstituível
de vida e inspiração.[ii]
Considerações finais
Diante da complexidade e relevância da análise feita neste artigo, propõe-se
que mais estudos sejam feitos relacionando especificamente o patrimônio natural
e sua difusão pela educação ambiental. Sabe-se que ela nos fornece também
uma visão histórica das relações homem-natureza e do conceito de
sustentabilidade associado ao desenvolvimento humano e preservação natural. Além
disso, promove uma conscientização em torno da utilização de metodologias
para preservação ecológica, bem como da viabilidade de intervenção mínima
e da manutenção dos ecossistemas.
Há muito o que se estudar com relação ao binômio patrimônio
natural-educação ambiental, acredita-se que
o presente estudo é de grande importância e poderá servir de estímulo aos
pesquisadores de áreas afins. Sugere-se temas relacionados às questões práticas
da evolução conjunta deste binômio a fim de proporcionar um melhor
desenvolvimento nas relações entre o meio acadêmico e as comunidades em
geral.
Referências bilbliográficas
BALLART, Josep. El
Patrimonio Histórico y Arqueológico: Valor
y Uso. Barcelona: Ariel, 1997.
B.
PRIMARCK, Richard; RODRIGUES, Efraim. Biologia
da conservação. Londrina:
Planta,2001.
CHOAY,
Françoise. Alegoria do Património.
Lisboa: Ediçoes 70, 2006.
SILVA,
Elza Peralta da. Património e identidade.
Disponível em: http://www.aguaforte.com/antropologia/Peralta.html.
Acesso em 17 de Junho de 2008.
PRATS; Llorenç. Antropologia
e Patrimônio. Barcelona: Editorial Ariel, 1997.
RUBEM,
Alves. Educação dos sentidos e mais.
Campinas:Editora Versus, 2005.
SERRANO,
Célia. A Educação pelas pedras:
ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: Chronos, 2000.