A AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO USO DE AGROTÓXICO NO MEIO AMBIENTE E NA SAÚDE HUMANA: o que pensa o estudante do Ensino Fundamental do Município de Bonito – PE?

 

Leandra Patrícia da Silva1, Jaciene Alves Cavalcanti1, Isaac Ferreira de Queiroz1, João R. de Freitas Filho2.

 

1Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul - FAMASUL, Palmares/PE.

2Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE - Unidade Acadêmica de Garanhuns/UAG.

joaoveronice@yahoo.com.br

 

RESUMO

O impacto do uso de agrotóxicos sem nenhuma proteção e informações sobre os produtos utilizados intensivamente na agricultura, onde os trabalhadores rurais têm sua principal fonte de renda, traz diversos problemas para a saúde humana. Por outro lado, quando usado de forma indevida ocorre danos a saúde e ao meio ambiente. Este trabalho teve como objetivo avaliar o impacto do uso de agrotóxico ao meio ambiente e a saúde humana por alunos do ensino fundamental da zona rural de Bonito – PE. A metodologia utilizada consistiu em aplicação de questionário e em seguida trabalhar a temática em sala de aula. Ao final, os alunos produziram cartilhas, gibis e codéis, os quais foram usados para sensibilizar a população quanto ao uso adequado dos agrotóxicos.

 

 

1. INTRODUÇÃO

 

O impacto do uso de agrotóxicos sem nenhuma proteção e informações sobre os produtos utilizados intensivamente na agricultura, onde os trabalhadores rurais têm sua principal fonte de renda, traz diversos problemas para a saúde humana. Por outro lado, a cada dia que passa, devido à falta de informação técnica, as pragas tornam-se mais resistentes e por sua vez, os “defensivos” tornam-se indispensáveis às lavouras, ficando o agricultor dependente dos mesmos e conseqüentemente alterando o equilíbrio natural e os sistemas onde acontece a degradação ambiental. Um dos aspectos dos agrotóxicos que chama a atenção é que estes têm efeitos a médio e longo prazo sobre a saúde humana, os efeitos tais como dores de cabeça, alergias e problemas de pele, são observados diariamente em milhares de pessoas em todo o mundo, que não entram em contato direto com estes produtos, sendo decorrido da ingestão de alimentos ou água contaminada por resíduos.

Os pesticidas agrícolas são concebidos visando potencializar suas peculiares químicas de tal forma que sejam tóxicos a certos tipos de insetos, animais, plantas ou fungos. Embora, essa função seja direcionada, estes também podem causar estragos a outros organismos. Com isso, os agrotóxicos que seriam compostos químicos desenvolvidos para maximizar características biocidas naturais, seriam, também, danosos para todos os organismos vivos (Veiga et. al, 2006). Esses efeitos podem ser crônicos quando interferem na expectativa de vida, crescimento, fisiologia, comportamento e reprodução dos organismos e/ou ecológicos quando interferem na disponibilidade de alimentos, de habitats e na biodiversidade. O uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras tem trazido graves problemas ao meio ambiente em torno das culturas, especialmente no que cerne o equilíbrio da cadeia trófica, como relata Peres e Moreira (2007):

 

A larga utilização de agrotóxicos no processo de produção agropecuária, entre outras aplicações, tem trazido uma série de transtornos e modificações para o ambiente, seja através da contaminação das comunidades de seres vivos que o compõem, seja através da sua acumulação nos segmentos bióticos e abióticos dos ecossistemas (biota, água, ar, solo, sedimentos etc.). Um dos efeitos ambientais indesejáveis dos agrotóxicos é a contaminação de espécies que não interferem no processo de produção que se tenta controlar (espécies não-alvos), dentre as quais se inclui, conforme discutido no item anterior, a espécie humana.

 

A disseminação de agrotóxicos no ambiente, afetando, principalmente os recursos hídricos, tem como efeito o impacto expressivo na ocorrência e distribuição de espécies animais e alteração orgânica dos vegetais dependentes desta água. Os indivíduos coligados diretamente à hábitos natatórios e aqueles que vivem fixados a pedras, são os mais facilmente afetados. Em geral, tais organismos são coletores ativos ou passivos, alimentando-se especialmente de matéria orgânico em suspensão ou de detritos. Esse fenômeno é retratado em Baird (2002).

 

 “Muitos compostos organoclorados encontram-se nos tecidos de peixes em concentrações mais elevadas do que deveriam segundo o habitat em que vivem. As substâncias hidrofóbicas, como o DDT, são particularmente propensas em exibir este fenômeno. Muitos organoclorados são essencialmente muito mais solúveis em meios similares a hidrocarbonetos como o tecido gorduroso de peixes do que em água. Assim, quando a água passa através das brânquias do peixe, os compostos difundem de forma seletiva desde a água até a carne gordurosa, tornando-se aí mais concentrados: esse tipo de processo (que também afeta outros organismos alem dos peixes) é chamado bioconcentração.

 

O ensino da química deve facilitar as relações vividas pelo educando; o conteúdo químico deverá ter relação com o cotidiano dos estudantes e das comunidades, possibilitando a interação do ensino. O professor não deve oferecer o conhecimento de Química acabado, deve mostrar como foi produzido, a sua história e buscar a evolução dos acontecimentos, relacionado-os ao desenvolvimento, salientando fatos, permitindo ao aluno mudanças, aproximando-os à realidade vivida por eles. Para Freire, ”O aluno quando compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, poderá transformá-la e, com seu trabalho, criar um mundo próprio: seu eu e suas circunstâncias”. (1983: p.30)

O que é mais importante para um aluno da zona rural? - A configuração eletrônica dos lantanídeos ou as modificações que ocorrem no meio ambiente, quando do uso indiscriminado e incorreto de defensivos agrícolas? Para Chassot (1993), a Química que se ensina deve ser ligada à realidade, entretanto, muitas vezes, os exemplos que são apresentados aos alunos, desvinculam-se do cotidiano.

Baseado no descrito são objetivos além do acima citado:

 

1.1. Objetivo Geral

             Avaliar o impacto do uso de agrotóxico ao meio ambiente e a saúde humana por alunos do ensino fundamental da zona rural de Bonito - PE

 

1.2. Objetivos específicos

Abordar na sala de aula a temática dos agrotóxicos, para que os alunos possam interagir com o meio ambiente, e assim também preservá-lo;

Discutir aspectos ambientais relacionados à manipulação de defensivos agrícolas;

Discutir em sala de aula os riscos da utilização de agrotóxicos nas lavouras para a saúde humana;

Elaborar cartilha, folder e cordel utilizando à temática agrotóxicos;

Trabalhar alguns conceitos científicos presentes nas cartilhas, folder e cordéis elaborados pelos alunos.

 

2. METODOLOGIA

 

2.1.     Amostragem

A escola selecionada para a realização do trabalho foi a Escola Municipal Bernardo Sayão, no ensino fundamental, localizada na sede da Colônia Japonesa, zona rural do município de Bonito – PE.

 

2.2.        Instrumentos

Questionários aplicados para a identificação de conhecimentos prévios dos alunos. Elaboração e confecção de trabalhos manuais: cartilha informativa, cordel e gibi no tema: impacto do uso de agrotóxico na saúde humana.

 

2.3.        Materiais

Jornais, livros, sites e revistas.

2.4.     Procedimentos metodológicos

ü  Seleção da escola a ser objeto de estudo

ü  Visita à escola de campo;

ü  Realização de palestra;

ü  Aplicação de questionários aos  alunos;

ü  Construção dos trabalhos (cartilha, cordel e gibi). Para tanto, os vinte (20) estudantes foram divididos em grupos e após esta etapa, houve a apresentação envolvendo todos os alunos.

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

A pedagogia moderna, preocupada, com os problemas educacionais que surgem dia a dia, direciona-se cada vez mais para preparação do aluno como cidadão consciente de si mesmo e útil à sociedade, e para tanto procura implantar atividades didáticas voltadas para o aluno no seu meio ambiente. Partindo desta realidade foi proposto aos alunos o projeto: Avaliação do impacto do uso de agrotóxicos ao meio ambiente e  a saúde humana : o que pensa o estudante do Ensino Fundamental do Município de Bonito – PE?

 

3.1.Análise dos questionários aplicados aos estudantes

           

2.1 

2.2 

2.3 

2.4 

2.5 

Referente à pergunta: “Você tem consciência dos males que os agrotóxicos podem causar a nossa saúde?”, observa-se de acordo com gráfico 1, que apenas 30% dos estudantes afirmaram conhecer as conseqüências dos malefícios que podem causar a saúde enquanto 70% desconhecem não tal consciência. Isto, ao que parece, pode indicar uma falta de informação à cerca dos perigos do uso indevido dos agrotóxicos. Por sua vez, tal situação é agravante, pois grande parte destes convive diretamente com tais produtos em casa, nas hortas dos quintais ou nos plantios ao redor. Observe-se melhor o gráfico a seguir:

 

Gráfico 1 – Informação sobre quantidade de casos de prejudicadas  por mau uso de agrotóxicos.

 

Com relação à pergunta: “Você tem conhecimento que o meio ambiente tenha sido prejudicado pelos usos abusivos de agrotóxicos?” registrou-se que 75% dos disseram desconhecer casos de agressão ao meio ambiente pelo uso dos agrotóxicos, demonstrando que tais episódios são raros ou não são divulgados, em trabalhados nas escolas. Veja resultados no gráfico 2.

 

Gráfico 2 – conhecimento que o meio ambiente tenha sido prejudicado pelos usos abusivos de agrotóxicos.

 

3.2. Análise dos trabalhos realizados em classe

 

Decorrida a etapa relativa à aplicação dos questionários, os estudantes divididos em grupos, cada grupo constituído de cinco membros elaboraram cartilha informativa; cordel e gibi a cerca do tema, os quais seriam usados como forma de sensibilizar a comunidade que lida diretamente com agrotóxicos. Estes instrumentos foram divulgados em outras escolas, associação de bairros, creche, e com a população em geral do Município de Bonito/PE.

 

3.2.1.Elaboração de Cartilha

Neste trabalho composto de 13 páginas, os alunos relatam que o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, mostrando que os produtos mais afetados são morangos, tomates e maçãs. Relatam, também, que no Paraná frutas e hortaliças estão com excessos de resíduos dos pesticidas. Além de citarem o médico, Alfredo Benatto que afirma que os produtos tradicionais necessitam ser substituídos pelo consumo de produtos orgânicos, que são mais saudáveis. Prosseguem o trabalho com uma tabela que mostra a quantidade de agrotóxico consumido e o número de embalagens recolhidas por estado e falam ainda sobre o caso particular de Bonito no contexto agro-econômico. Desta forma, os alunos querem chamar a atenção para o consumo desregrado de pesticidas no nosso país, mostrando que produtos comuns a mesa contém alto teor de resíduos químicos, focando a utilização de produtos mais saudáveis, como os orgânicos.  Abaixo na figura 1, ilustramos um trecho deste manuscrito.

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Figura 1 – Fragmento da cartilha informativa confeccionada por um grupo de estudantes da 8ª série do ensino fundamental da zona rural do município do Bonito.

 

3.2.2. Construindo Cordel

Através de versos e ilustrações, o grupo chama atenção para diversos temas relacionados ao uso indevido dos agrotóxicos e da falta de proteção do trabalhador rural e ao meio ambiente. Nos desenhos podem ser encontrados botas, luvas, óculos entre outros equipamentos e frascos de venenos, além de um trabalhador efetuando uma aplicação sem nenhum tipo de proteção. Com isto, querem mostrar que a maioria dos trabalhadores não utiliza os EPI por falta de informação ou de condições financeiras. Encontra-se também a noção de que apesar de fazer mal a saúde, os agrotóxicos são necessários as lavouras e que por isso devem ser utilizados com segurança. Abaixo na figura 2, encontramos um trecho deste trabalho.

 

 

 

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Figura 2 – Fragmento do cordel confeccionado por um grupo de estudantes da 8ª série do ensino fundamental da zona rural do município do Bonito.

 

3.2.3. Confeccionado Gibis

Na figura 3, os estudantes relatam uma história de um agricultor e sua família que trabalhavam a vida inteira com agrotóxicos e sem nenhum tipo de proteção e sua esposa sempre pedia para que comprasse os EPI para não pegar uma doença grave. Após algum tempo sua mulher engravidou e a criança nascer com deficiência e só então, o agricultor, finalmente, veio a observar a importância dos equipamentos e a utilizá-los.

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Figura 3 – Fragmento do gibi confeccionado por  um grupo de estudantes da 8ª série do ensino fundamental da zona rural do município do Bonito .

           

O trabalho possibilitou uma contextualização da química, uma vez que os alunos identificaram os elementos químicos pertencentes nos principais defensivos agrícolas utilizados em Itumbiara e Região. Muitos alunos não tinham conhecimentos sobre a localização dos elementos químicos na tabela periódica e não sabiam o significado de períodos e grupos. Além disso, pode-se introduzir conceitos de meio ambiente, ecossistema, soluções e diluição e discutir aspectos ambientais relacionados à manipulação de defensivos agrícolas. Mediante a proposta os alunos identificaram os problemas com os quais convivem: intoxicação por defensivos agrícolas, não utilização das EPIs (equipamento de proteção individual), descarte incorreto dos vasilhames, danos ao meio ambiente e saúde.

 

4. CONCLUSÃO

Neste estudo procurou-se alcançar resultados bastante importantes como a sensibilização dos estudantes a respeito dos perigos que estes podem estar correndo no convívio com agrotóxicos. Estes, por sua vez, tiveram a oportunidade de mostrar o que aprenderam frente à comunidade rural, Colônia rio Bonito, que engloba a Escola Municipal Bernardo Sayão em Bonito/PE. Este aprendizado é bastante importante, pois muitos deles têm pais trabalhando em plantio na região. Isto justifica o empenho que os mesmos tiveram ao desenvolver o tema, buscando saber, como foi demonstrado pelos próprios trabalhos confeccionados e expostos, por exemplo, a importância dos EPI, os procedimentos necessários para uma “boa” aplicação, os produtos mais comercializados, para que servem e os respectivos riscos a saúde, além de passarem a possuir uma visão ampla sobre os produtos que estão no seu cotidiano. Chama-se a questão da preservação do meio ambiente.  

A principal contribuição deste, é a possibilidade de utilizar os jovens como instrumento de ação e de divulgação para uma reversão (ou pelo menos, para neutralização) do quadro geral de utilização desenfreada de tóxicos na agricultura causando danos ao meio ambiente e a saúde. 

 

5. BIBLIOGRAFIA

 

BAIRD, C. Química Ambiental. Porto Alegre: 2ª ed. Bookmam, 2002.

CHASSOT, A. Rev. Bras. Educ.  no.22 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2003.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. (1983). 13.ed. Ruo de Janeiro, Paz e Terra. ( Coleção O Mundo, Hoje,v.21).

PERES, F.; MOREIRA, J. C. Saúde e ambiente em sua relação com o consumo de agrotóxicos em um pólo agrícola do Estado do Rio de Janeiro. Brasil. Cad. Saúde Pública, 2007, vol.23, suppl.4, p.S612-S621. ISSN 0102-311X.

VEIGA, MARCELO MOTTA et al. Análise da contaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos numa pequena comunidade rural do Sudeste do Brasil. Cad. Saúde Pública, Nov 2006, vol.22, no.11, p.2391-2399. ISSN 0102-311X