Educação Ambiental em Ação 25
TERRA: PLANETA ÁGUA?!
FOFONKA, Luciana
As mais belas imagens da Terra, sempre têm a água em sua composição: as
ondas do mar, as cachoeiras, um lago cristalino, a neve sobre as montanhas, a
chuva caindo sobre as plantas, o orvalho, a geada...
Esse líquido precioso está presente nos menores movimentos do nosso corpo,
como no piscar de olhos. Afinal, somos compostos basicamente de água. Ela está
nas células, nos vasos sangüíneos , nos tecidos... Nosso metabolismo, as
funções orgânicas precisam da água para funcionarem. Em média, um homem
tem aproximadamente 47 litros de água em seu corpo e diariamente ele deve
repor cerca de 2 litros e meio. Se não ingerir água, o ser humano entra em
processo de desidratação e pode morrer de sede em média de dois dias.
Quimicamente, nada se compara à água; é um composto de grande estabilidade,
um solvente universal e uma fonte poderosa de energia química. A água é
capaz de absorver e liberar mais calor que todas as demais substâncias
comuns.
A ciência vem demonstrando que a vida se originou na água e que ela
constitui a matéria predominante nos seres vivos. É impossível prever um
tipo de vida em sociedade onde seja dispensado o uso da água: água para
beber e cozinhar, para higiene pessoal e do lugar onde vivemos, para uso
industrial, para agricultura, para geração de energia, para navegação...
Vista do espaço a Terra parece o Planeta Água, pois aproximadamente 2/3 da
sua superfície é coberto por água. No entanto somente uma pequena parcela
dessa água, na ordem de 113 trilhões de m³ é adequada para nosso consumo,
pois 97,0% é água salgada, 2,4% congelada e 0,6 água doce. Desse 0,6%
são utilizados 70% na agricultura, 22% na indústria e apenas 8% nas cidades
para consumo humano. Essa “abundância” aparente de água leva as pessoas
a considerá-la como elemento barato, abundante e inesgotável, utilizando-a
de forma irracional.
Apesar desse recurso ser essencial à vida, a água encontra-se com
disponibilidade limitada, vulnerável, poluída, finita e dotada de valor econômico.
Com essas condições ,corremos o risco de não mais dispomos de água potável,
o que em última análise significa dizer que o Planeta Água está prestes a
perder esse título, principalmente no que diz respeito a qualidade.
Cabe a nós, habitantes da Terra, tentar reverter esse quadro caótico de
desperdício e poluição das águas. São necessárias muitas mudanças, um
novo paradigma, uma gestão compartilhada da água, pois a sua conservação
depende, principalmente de ações educativas junto à comunidade; uma política
de conscientização para controle da poluição e de uma série de leis e
regulamentos que as autoridades devem implantar, não ficando apenas no papel.
Situação atual dos Recursos Hídricos
Ø No mundo
Conforme Rebouças (2002) a quantidade total de água na Terra, atualmente, é
de 1.386 milhões de km³ e tem permanecido constante durante os últimos 500
milhões de anos. Entretanto, as quantidades estocadas nos diferentes reservatórios
individuais de água no planeta, variaram ao longo desse período.
Quanto à distribuição dos volumes nos principais reservatórios de água da
Terra, pode-se verificar que 97,5% do volume total de água formam os oceanos
e mares e apenas 2,5% são de água doce. Cerca de 68,9% da água doce forma
as calotas polares, as geleiras e neves eternas. Os 29,9% restantes constituem
as águas subterrâneas doces. A umidade dos solos, as águas dos pântanos
representam aproximadamente 0,9% do total e a água doce dos rios e lagos
cerca de 0,3%.
Em relação a utilização de água disponível (em âmbito mundial), PEGORIN
(2003) destaca que a área industrial utiliza mais água do que as pessoas.
Para contextualizar, basta dizer que para produzir um barril de cerveja, é
necessário utilizar 1.800 litros de água. O que é pouco em comparação ao
consumo de 250 mil litros para a produção de uma tonelada de aço ou 1 milhão
de litros gastos para se fabricar mil quilos de papel
A água tem se tornado um elemento escasso e de disputa entre nações. Um
relatório do Banco Mundial alerta para o fato de que as próximas
guerras serão por causa da água, não pelo petróleo ou política.
Segundo Branco, (2000) cerca de 250 milhões de pessoas, distribuídas em 26
países, já enfrentam escassez crônica de água. Em 30 anos o n.º de
pessoas saltará para 3 bilhões em 52 países. Nesse período, a quantidade
de água disponível por pessoa em países do Oriente Médio e do norte da África
estará reduzida em 80%. A projeção é que nesse período, 8 bilhões de
pessoas habitarão a Terra, em sua maioria concentrados nas grandes cidades.
Será necessário aumentar a produção de comida e energia, aumentando o
consumo doméstico e industrial de água. Essas perspectivas fazem crescer o
risco de guerras, porque a questão das águas torna-se internacional.
É importante lembrar que em 1967, um dos motivos da guerra entre Israel e
seus vizinhos foi justamente a ameaça, por parte dos árabes, de desviar o
fluxo do rio Jordão, cuja nascente fica nas montanhas no sul do Líbano. O
rio Jordão e seus afluentes fornecem 60% de água necessário à Jordânia. A
Síria também depende do mesmo rio.
Esse tipo de problema também atinge a populosa China. A demanda
agro-industrial e o grande crescimento populacional estão esgotando o
suprimento de água. das 500 cidades desse país, 300 sofrem com a escassez da
água. Mais de 80 milhões de chineses andam mais de um quilômetro e meio por
dia para obter água, e esse fato se repete com inúmeras nações..
Desde o início das civilizações antigas, a posse da água foi um
instrumento político de poder.
Rebouças (2002) destaca que o controle dos rios como forma de dominação dos
povos que habitavam os setores hidrográficos de jusante foi desenvolvido
desde, 4 mil a.C. na Mesopotânia.
A guerra da água é um conflito milenar, expandindo-se para além de Oriente
Médio, Norte da África... pois pouco tem sido feito para evitar esse
problema.
Mais de um sexto da população mundial, conforme a Folha Online (2004), 18% o
que corresponde a 1,1 bilhão de pessoas, não tem fornecimento de água nem
acesso a ela. O problema é maior em relação ao saneamento básico, que não
faz parte da realidade de 39% da humanidade ou, 2,4 bilhões de pessoas.
A falta de saneamento e o consumo de água contaminada levam anualmente a
morte de mais de 2,2 milhões de pessoas, especialmente países em
desenvolvimento.
A esse quadro de escassez acrescenta-se a falta de recursos para tratar
a água tornando-a potável e própria para o consumo humano. Segundo a Folha
Online (2004) atualmente existem tristes estatísticas a esse respeito:
Conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde), 80% das internações
hospitalares no mundo são devidas a doenças transmitidas pela água; A cada
8 segundos, morre uma criança no mundo por diarréia, ascaridíase, hepatite,
cólera...todas provocadas por bacilos ou parasitas existentes em água
contaminada. Entre os adultos, 5 a 10 milhões de seres humanos, por ano, são
vítimas fatais de doenças transmitidas pela água.
Até 2050, quando 9,3 bilhões de pessoas devem habitar a Terra, entre 2 bilhões
e 7 bilhões de pessoas não terão água de qualidade. Esses dados fazem
parte do relatório da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura), órgão responsável pelo Programa Mundial de Avaliação
Hídrica. Segundo seu diretor geral, as reservas de água estão diminuindo,
ao passo que a demanda cresce de forma insustentável.
A UNESCO fez um ranking de 122 países em relação à qualidade de seus
mananciais. Em último lugar ficou a Bélgica, atrás de países pobres como a
Índia.
A Bélgica foi destacada negativamente devido a escassez de seus lençóis freáticos,
de imensa poluição industrial e do precário sistema de tratamento de resíduos.
Os rios asiáticos são os mais poluídos do mundo e metade da população
nos países pobres dispõe de água contaminada por esgoto ou resíduos.
Entre os primeiros da lista de qualidade da água, estão a Finlândia, Canadá,
Nova Zelândia, Reino Unido e Japão.
Essa pesquisa também demonstrou as diferenças relativas quanto a
disponibilidade da água nos diversos países. Cada Kuaitiano, por exemplo,
tem acesso apenas a 10 metros cúbicos anuais, enquanto na Guiana Francesa, são
812,121 metros cúbicos per capta.
Segundo Lonborg (2002) muitos países vivem com reservas de água bem
limitadas, porque exploram eficazmente essas reservas. Israel usa
eficientemente sua água, em parte por utilizar um ótimo sistema de irrigação,
gota a gota para cultivar no deserto, e também por reciclar as águas
domiciliares para a irrigação.
É importante salientar que eles praticam irrigação conforme Rebouças
(2002) numa faixa do seu território onde a pluviometria média é de apenas
200mm/ano,com alta produtividade agrícola com aplicação de uma taxa de
irrigação da ordem de 6000 m³/ha/ano. Essa taxa em outras regiões do mundo
mais favorecidas em disponibilidades de água e clima encontra-se entre 12000
e 20000 m³/ha/ano.
As indústrias dos Estados Unidos, Japão e Alemanha aumentaram sua
produtividade e, reduziram o consumo de água, a partir do programa de
reutilização. No Japão por exemplo, a água que sai pelo ralo do Box ou da
banheira segue por canos independentes até um reservatório que abastece os
vasos sanitários do edifício;à partir daí vira esgoto,sendo tratado e
reutilizado em processos industriais.
O governo dos Estados Unidos vem investindo severamente no combate e desperdício
da água; a ordem é economizar. Conforme PEGORIN (2003) lavar um carro, na
calçada, por exemplo, pode levar à prisão.
Quanto ao preço o valor médio da água encanada no mundo segundo a Folha
Online (2004) é de US$ 1,80 por m³, sendo que a falta desse sistema encarece
o abastecimento. Bangladesh, por exemplo, chega a pagar 250 vezes mais pela água
transportada em caminhões.
No México, o fornecimento é gratuito, porém, os motoristas só entregam a
água mediante pagamentos informais.
O preço de um barril de água importada da Europa pelos países árabes
produtores de petróleo é, atualmente superior ao de um barril de petróleo
exportado. Enquanto um barril de petróleo bruto é hoje vendido a U$ 25 à
30; Os árabes pagam U$ 130,00 por barril da água mineral importada da
Europa.
Há anos atrás, Adam Smith salientou que a água, que é vital para a vida, não
custa nada, enquanto os diamantes, totalmente inúteis à vida, custam uma
fortuna, VILLIERS (2002).
No próximo século, outro grande desafio vai surgir em muitos países, pelo
fato de se tornarem cada vez mais dependentes das descargas hídricas que são
gerados em setores hidrográficos localizados fora dos seus territórios. Essa
situação agrava os problemas políticos e sociais levando a uma possível
guerra, como tem acontecido nas áreas mais secas do planeta.
Nesse contexto, em alguns países, essa dependência dos recursos hídricos
externos poderia ser reduzida através de um gerenciamento dos recursos
internos, incluindo-se a utilização das águas subterrâneas, o reuso e a
busca de uma crescente eficiência de produtividade das atividades agrícolas.
Ø No Brasil
O Brasil é um país privilegiado quanto à quantidade de água. Temos alguns
dos maiores recordes encontrados no “Planeta Água”, como quedas de água
com os maiores fluxos, como o Guaíra com 13.301000 m³/s de água, hoje
encoberta sob o lago de Itaipu, Queda de Paulo Afonso no Rio São Francisco
com 2.830000 m³/s, Urubupungá no Rio Paraná com 2.745000m³/s. Temos ainda
uma das maiores lagoas, a Lagoa dos Patos com 10.1444 km² de área e com uma
profundidade de 6,75m.
Se a Terra parece ser o Planeta Água, o Brasil poderia ser considerado sua
capital, pelo menos em quantidade, uma vez que possuímos uma extensa rede de
rios e somos privilegiados por um clima excepcional, que assegura chuvas
abundantes e regulares em quase todo seu território.
Segundo Branco (2000) a Amazônia, por exemplo é uma região que detém a
maior bacia fluvial do mundo, sendo que o volume de água do rio Amazonas é o
maior do globo, com 7.025 km de extensão, considerado essencial para o
planeta. Porém as maiores concentrações populacionais do país encontram-se
nas capitais, distantes dos grandes rios brasileiros, como o Amazonas, o São
Francisco e o Paraná.
Dentre os países do planeta, o Brasil tem a propriedade de quase 20% de toda
água doce disponível na Terra, ou seja, dos 113 trilhões de m³ disponíveis
para a vida terrestre, 17 trilhões estão em nosso país. No processo de
reciclagem, quase toda essa água é recolhida pelas nove grandes Bacias
Hidrográficas aqui existentes. Devido a necessidade da água para dar
continuidade ao crescimento econômico, as Bacias Hidrográficas passam a ser
áreas geográficas de interesse dos agentes e interesses públicos e
privados, pois elas passam por várias cidades, propriedades agrícolas e indústrias.
São oito as grandes Bacias Hidrográficas do território brasileiro: a do rio
Amazonas, a do rio Tocantins, a do Atlântico Sul (trechos norte e nordeste),
a do rio São Francisco, a do Atlântico Sul (trecho leste), a do rio
Paraná, a do rio Uruguai e a do Atlântico Sul (trecho sudeste).
O maior trunfo do país em relação à garantia de abastecimento, é o Aqüífero
Guarani, maior reserva de água doce subterrânea do mundo, com 1,2 milhões
de km²; pode conter mais 40 mil km³ de água, o que é superior a toda a água
contida nos rios e lagos de todo planeta. Estima-se que por ano o Aqüífero
de Guarani receba 160 km³ de água adicional vindas da superfície. Caso
estas águas superficiais estiverem contaminadas, o aqüífero será
prejudicado. O Guarani não está apenas em território brasileiro, mas também
na Argentina, Paraguai e Uruguai, o que torna necessária a criação de uma
regulação de uso entre tais países.
Apesar de toda essa riqueza, a distribuição da água não é uniforme em
todo o território nacional, temos sérios problemas de gerenciamento destes
recursos com índices de saneamento básico encontrados apenas em países do
continente Africano. Devido o descaso dos governantes, à falta de
investimentos e planejamento, a população sofre com secas, enchentes e falta
de água para abastecimento das residências.
Além de fazer um mal uso da água, o Brasil paga o preço por deixar represas
e mananciais serem depredados, tolerar ligações clandestinas de esgoto, lançamento
de detritos químicos nos cursos de água, bem como a ocupação desordenada
da população em áreas próximas aos reservatórios.
Conforme Marcos Tadeu Abicalil, da Secretaria Especial de Desenvolvimento
Urbano da Presidência da República, o Brasil atende 77,8% dos domicílios
com água e 47,2 % com esgotos ,dados da ANA (2000). A cobertura de
esgotamento sanitário chega a 62,2%, se considerados os domicílios com
fossas sépticas. Portanto, o déficit de atendimento é de 9,9 milhões de
domicílios para abastecimento de água e 23,6 milhões para esgotos (ou 16,9
milhões, se levados em consideração os domicílios com fossas sépticas).
O déficit de atendimento, segundo a ANA (Agência Nacional de Águas) é
maior na zona rural, onde apenas 1,35 milhões de domicílios, dos 7,46 milhões
existentes, estão ligados às redes de abastecimento de água. Somente 960
mil estão ligados a redes coletoras de esgotos ou dispõem de fossas sépticas.
Cerca de 4,3 milhões de domicílios rurais utilizam água de nascentes ou poços
localizados na propriedade, sem garantias da qualidade dessa água.
Segundo a EMBRAPA (2004), metade dos municípios brasileiros são abastecidos
por água retirada de poços, teoricamente, água protegida, potável, de boa
qualidade. Na realidade a situação não é essa, pois, nem lá embaixo a água
está protegida. Os franceses estão apavorados com a descoberta de diversos
poluentes, oriundos de atividades agrícolas, em águas subterrâneas, como a
alta concentração de nitritos, indutores de tumores malignos. A dúvida está
na procedência desses nitritos, que podem ter surgido do uso muito intensivo
de adubos nitrogenados altamente solúveis, ou da lixiviação de dejetos da
suinocultura, entre outros.
Quanto aos rios e lagos brasileiros são vários os motivos responsáveis pela
queda de qualidade da água disponível, para captação e tratamento.
Em Porto Alegre, o lago Guaíba está comprometido pelo lançamento de resíduos
domésticos e industriais, além do uso inadequado de agrotóxicos e
fertilizantes. Brasília, além da escassez de água, enfrenta a poluição do
lago Paranoá. Em Curitiba, a ocupação urbana das áreas de mananciais do
Alto Uruguai prejudica a qualidade da água para seu abastecimento. O rio Paraíba
do Sul, que abastece a região metropolitana do Rio de Janeiro e é manancial
da cidade de São Paulo e Minas Gerais, sofre graves problemas devido ao
garimpo, à erosão, aos desmatamentos e aos esgotos. Em Belo Horizonte, a
lagoa da Pampulha, que era um manancial para abastecimento, foi substituída
pelos rios Serra Azul e Manso. O rio Doce que passa pelos estados de Minas
Gerais e Espírito Santo, tem suas águas comprometidas pela extração de
ouro, o desmatamento e o mau uso do solo agrícola.
No meio rural, as diversas formas de ocupação do solo, fundamentam sua
economia no aproveitamento do potencial hídrico do solo, explorando
extensivamente tanto a agricultura como a pecuária, acarretando o
desmatamento das bacias hidrográficas, o desenvolvimento dos processos
erosivos do solo, a redução das reservas de água do solo...Aliados a esses
problemas, a falta de orientação, apoio, e incentivo por parte dos
governantes, levou a um intenso êxodo rural para o meio urbano, que teve um
agravamento pelo crescimento de favelas nas áreas de alto risco ambiental,
como encostas dos morros e margens de rios.
O desenvolvimento das cidades foi invadindo os mananciais que antes estavam
isolados da ocupação humana. As ações efetuadas numa bacia hidrográfica
afetam a qualidade da água desse manancial. É muito importante que a população
se conscientise que é preciso disciplinar todo tipo de uso e ocupação do
solo das bacias hidrográficas.
Conforme Abicalil, ANA (2000) a urbanização ou a industrialização
aceleradas refletem na ausência de tratamento adequado dos resíduos,
constituindo a principal causa de degradação ambiental ; a poluição das águas
afeta os vários usos dos recursos hídricos, refletindo negativamente na
economia dessas regiões. Entre 1980 e 1991, a população urbana brasileira
passou de 80 para 111 milhões e a cobertura dos serviços urbanos de água
passou para 86,3%, com a incorporação de 32,4 milhões de pessoas ao
atendimento. No mesmo período, o esgoto de 23,5 milhões de pessoas passou a
ser coletado. Entre 1991 e 2000, a cobertura dos serviços de água foi
de 89,8% da população urbana, incorporando 28, milhões de pessoas, sendo
que 24,1 milhões tiveram acesso à coleta de esgotos.
Entre as regiões brasileiras existe um enorme desequilíbrio quanto aos serviços
de água e esgotos sendo o déficit maior no Norte e Nordeste, afetando a
população de menor nível de renda, que não consegue a pagar por serviços
de esgotamento sanitário.
Em relação ao saneamento básico, nossa situação é realmente grave.
Atualmente no país, apenas 50% dos esgotos são coletados, sendo que
90% dos esgotos coletados são lançados nos rios e no mar, sem tratamento.
Todos os dias são lançados 10 bilhões de litros de esgoto nos rios e no
mar.
O IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística realizou uma pesquisa
entre 1989 e 1990 em 4.425 cidades e alertou que o precário saneamento básico
é responsável por 80% das doenças que afetem a população e 65% das
internações hospitalares de crianças. Esse problema gera um gasto adicional
de 2 bilhões de dólares por ano ao sistema de saúde.
É imprescindível que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
gerenciem com responsabilidade verbas para esse setor, obras para coleta e
tratamento de esgotos. Com uma ação governamental nesse sentido também
seria possível gerar mais empregos, e uma economia razoável na área da saúde,
pois, segundo Soares (2004) para cada real investido em saneamento teríamos
uma economia de dois reais na saúde. Não investir em saneamento é, antes de
tudo, mau uso do dinheiro público.
A água que consumimos custa R$ 1.00 cada mil litros. A faixa de consumo por
pessoa varia de 150 a 400 litros por dia. Se a água for usada com economia, o
consumo será menor e a conta também.
É visível que para superar tal situação são necessários investimentos
subsidiados para atendimento às populações de mais baixa renda;
investimentos em esgoto sanitário e modernização do setor, com aumento da
eficiência e capacidade de alavancagem, procurando formas mais apropriadas
para a prestação dos serviços e financiamento dos investimentos necessários.
O planejamento de ações que evitem os efeitos do excesso ou falta de água,
deve considerar as características de variabilidade no tempo e espaço das
chuvas e descargas dos rios, os fatores ambientais, socioculturais de uso e
conservação da água, de uso e ocupação do território urbano e rural,
lutando para garantir um desenvolvimento sustentado.
Para o presidente da ANA, Jerson Kelman a solução para tais problemas seria
um modelo de racionamento para casos de escassez, baseado no custo de
oportunidade dos usuários para o acesso prioritário à água, considerando a
eficácia econômica e a eqüidade social. Estes sistemas seriam definidos,
caso a caso, por associações de usuários ou comitês de bacia hidrográfica.
Os usuários teriam uma cobrança para compensação, uma cobrança
“proporcional ao volume atendido, e só realizada em períodos de
racionamento. ”
O que mais falta, conforme Rebouças(2002) não é a água, mas mas um padrão
cultural que conscientize sobre a necessidade de combate aos desperdícios e
à degradação da sua qualidade, que considere o seu caráter finito e de
grande valor econômico.
Sociedade e governo demonstram inércia na gestão desse precioso recurso hídrico
que é a água. Não é preciso criar nem modificar leis, pois, no que se
refere a recursos hídricos, temos as melhores e mais eficientes que existem.
Parece contraditório, nos sobram reservas de água e temos as melhores leis,
mas ainda sofremos com racionamento. Por quê?
Falta-nos a criação de uma política de governo centrada em duas
prioridades: a educação e o saneamento básico.
Segundo Soares (2004) a educação é fundamental para conscientização da
sociedade quanto ao uso correto e à preservação da água. A informação
sobre utilização racional de água deve incluir questões de economia, reuso
das águas, proteção dos mananciais, poluição por uso desordenado do solo,
destinação correta do lixo produzido, reciclagem... Deve-se envolver nesse
processo educativo as instituições científicas, universidades, escolas,
companhias de saneamento, serviços de hidrogeologia, ONGs, igrejas, clubes, e
associações de bairros. Principalmente os grandes consumidores de água dos
setores agrícola, industrial e comercial.
Os setores agrícola, industrial e comercial deveriam ser mais fiscalizados,
priorizando os interesses da sociedade e do meio ambiente, através da
racionalização do consumo, evitando a poluição de mananciais superficiais
e subterrâneos.
Conforme Rebouças (2002) a nossa abundância de água doce sustenta a cultura
do desperdício da água disponível, a não realização dos investimentos
necessários ao seu uso e proteção e a sua pequena valorização econômica,
isto é, a água tem sido vista como um bem livre de uso comum.
CONCLUSÃO
Embora a água seja um dos mais preciosos bens na constituição da Terra,
poucos têm a noção da importância desse recurso natural, seja ele
superficial ou subterrâneo.
Até um passado recente, as necessidades de água cresceram gradualmente
acompanhando o lento aumento populacional.
A concepção antropocêntrica resultou numa cultura de uso indiscriminado e
desperdício da água, onde qualquer usuário sente-se dono para tirar
proveito, sem pagar nada por isso, esquecendo-se que esse recurso pertence a
todos.
A questão da água vem sendo cercada de muita polêmica, dúvidas, alarmes,
especulação. A histeria coletiva que se alastra pela mídia mundial é que a
água está acabando. (não que ela esteja errada, o problema são as proporções,
tempo previsto e intenções). Os jornais esquecem de divulgar e esclarecer
que o problema de escassez está na água doce. Em decorrência das notícias
alarmistas vários países já começaram a se preparar para a venda de
grandes volumes de água, pensando em lucrar em cima da necessidade dos
outros.
É importante conscientizar, que a quantidade de água na Terra é
praticamente a mesma há centenas de milhões de anos. Ou seja, a quantidade
de água permanece a mesma, o que muda é a sua distribuição, seu estado e
qualidade.
Daí a necessidade de geri-la com mais atenção, pois, a crescente tenção
hídrica resulta principalmente da má alocação da água, desperdício e
falta de uma gestão adequada .
No Brasil temos água suficiente, o que não temos é uma ação
gerencial eficiente, um padrão cultural ético que aperfeiçoe o desempenho
político dos governos e da sociedade, portanto, se os governos investirem
adequadamente no gerenciamento, armazenagem, tratamento, distribuição,
controle , fiscalização das condições de uso e proteção, não deveremos
ter problemas de falta de água.
Nesse contexto, a satisfação das necessidades de água põe na atualidade sérios
problemas à humanidade. O crescente uso de água, a limitação dos recursos
hídricos, os conflitos entre alguns usos exigem que tanto o planejamento como
a gestão da utilização e do domínio da água se façam em termos racionais
e otimizados devendo integrar-se na política de desenvolvimento econômio-social
dos territórios.
O esforço de cuidar das águas não pode se restringir à atuação
unilateral do Governo, daí a necessidade de fortalecermos os canais de
participação e aprimorarmos o diálogo com a sociedade. Somente uma gestão
compartilhada da água, descentralizada e democrática será capaz de mudar
essa realidade preocupante de desperdício, poluição e escassez de água. A
participação da sociedade é fundamental para a conscientização de novos
valores.
É necessário uma administração racional, que não vise apenas aumentar a
oferta de água, mas se preocupe, principalmente em conservar e reaproveitar a
água que temos. Para tanto é preciso que se faça a coleta e o tratamento de
esgotos, o controle de ocupação urbana, a proteção dos mananciais e a
busca de uma crescente eficiência de produtividade principalmente das
atividades agrícolas.
Racionalizar o uso da água não significa ficar sem ela periodicamente, mas
sim usá-la sem desperdício, considerá-la uma prioridade social e ambiental,
para que a água tratada, saudável nunca falte. Só assim estaremos
contribuindo para que a Terra continue a ser chamada de Planeta Água. Caso
contrário, fica a dúvida: Terra, Planeta Água, até quando???
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