Educação Ambiental em Ação 24

Será que isso vai para a reciclagem?

CDs, clipes, embalagens de creme dental, ... ainda são muitas as dúvidas das pessoas na hora de separar o lixo para reciclagem

Como já dizia o pai da química, Antoine Laurent Lavoisier nas últimas décadas do século XVIII, em sua conhecida lei da conservação da matéria: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Hoje, no século XXI, a surpreendente quantidade de lixo produzido nas nossas cidades e a consciência de que é preciso reciclar e reutilizar materiais e produtos como forma de promover o moderno conceito de sustentabilidade, faz com que a frase ganhe fôlego renovado e seja novamente entoada como um “mantra”.

Atualmente, são coletadas mais de 140.000 toneladas de lixo urbano por dia no Brasil. Desse total, 60% não têm um destino final adequado, em aterros sanitários, sendo jogados nos chamados lixões. E segundo o Relatório Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2007, da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o total de lixo gerado nas cidades brasileiras pode ser muito maior. Estima-se que cerca de 10 milhões de toneladas de resíduos sólidos (algo como 20 a 25% do total coletado de lixo urbano) deixam de ser coletados todos os anos, acabando por ter um destino incerto, geralmente, inadequado. 

Para se ter uma idéia do que significa esse volume de lixo, apenas no município de São Paulo são geradas cerca de 15 mil toneladas de lixo por dia, das quais 9 mil toneladas são provenientes do lixo domiciliar. Um caminhão de transporte de lixo tem capacidade de carregar 12 toneladas de lixo a cada viagem. Assim, para transportar essas 9 mil toneladas de lixo doméstico produzidas apenas na capital paulista em um único dia, seriam necessários 750 caminhões de lixo que, estacionados um na frente do outro, formariam uma fila de mais de 7 quilômetros.

No entanto, nem todos esses resíduos precisariam ter como fim as latas de lixo. Até 30% dessa montanha de lixo produzidos diariamente nas cidades brasileiras é composta por materiais recicláveis, como plástico, vidro, papel, latas entre outros que, se adequadamente separados, coletados e encaminhados poderiam ser reaproveitados na confecção de novas matérias primas que poderiam ser reprocessadas em processos de reciclagem e usadas na fabricação de novos produtos.

De acordo com dados da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), dos 5.564 municípios brasileiros, 65% já possuem algum tipo de iniciativa de coleta seletiva, seja realizada porta a porta, por meio de cooperativas de catadores, seja pela existência de postos de coleta em locais definidos, organizados pelo poder público ou pela iniciativa privada.

As vantagens da coleta seletiva e da reciclagem são muitas. Além de evitar o desperdício de materiais que ainda podem ser utilizados, ao separarmos nosso lixo e enviarmos o material reciclável para o reaproveitamento nas indústrias, diminui a quantidade de lixo que precisará ser armazenado e tratado pelos serviços públicos municipais. As cidades evitam, assim, ter que investir adicionalmente na construção de aterros e na infra-estrutura necessária para tratar o lixo de maneira correta, de forma a evitar riscos à saúde e ao meio ambiente. O material que é destinado à reciclagem segue para as centrais de triagem e é fonte de renda para as famílias que trabalham nas cooperativas de catadores, um benefício social importante.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB-IBGE, 2000), a maior parte dos municípios brasileiros com população de até 50 mil habitantes destina em média 5% de seus orçamentos para a gestão de resíduos sólidos. Segundo Patrícia Leme, doutora em Educação, bióloga e educadora ambiental do Programa USP Recicla, campus de São Carlos, o consumidor pode contribuir, e muito, para diminuir a quantidade de lixo gerado em sua casa ao aplicar no dia a dia o princípio dos 3 R´s – reduzir, reutilizar e reciclar – acrescido de um primeiro e fundamental conceito, também um “R’’, o do repensar seus hábitos de consumo. “O consumidor precisa repensar seu padrão de consumo e antes de comprar se perguntar: eu preciso mesmo disto? E ainda, quanto tempo este produto vai levar para virar lixo?”, explica a educadora.

Assim, após refletir sobre suas necessidades de compra e estar ciente da importância de levar para casa apenas o necessário, é também importante analisar cada opção de consumo e fazer escolhas que tenham o menor impacto socioambiental possível. Para atingir esse objetivo, a dica é evitar lotar o carrinho de supermercado com produtos descartáveis e cheios de embalagens, cujo destino certo é transformarem-se rapidamente em lixo. Nessa linha de raciocínio, o ideal é escolher embalagens retornáveis ou recicláveis, assim como optar por produtos vendidos a granel.

Já em casa, após o uso dos produtos, cuidadosamente escolhidos para causar o menor impacto possível, chega a hora do descarte. É o momento de pensar na coleta seletiva e na reciclagem dos materiais. A coleta seletiva envolve a separação e envio dos materiais usados que poderão ser reaproveitados, evitando jogá-los fora junto ao lixo comum. Por meio desta ação é possível levá-los novamente para a indústria, após o reprocessamento que permite gerar matérias primas com menor gasto de dinheiro, água e energia do que o que seria gasto no ciclo produtivo a partir dos recursos da natureza.

Assim, a reciclagem é o processo de transformação e reaproveitamento desses materiais coletados. Para que possa ocorrer na prática, dependerá de dois fatores básicos: o tecnológico e o de mercado. O primeiro é bastante objetivo, pois pressupõe que exista um jeito de reutilizar e transformar um determinado material na indústria. Já o segundo fator, por sua vez, é bastante mais complexo. Para a educadora do USP Recicla, as questões de mercado são dependentes principalmente da existência ou não de um sistema municipal de coleta seletiva e da distância que o município está das usinas de reciclagem, de cada material específico. “Em São Carlos as embalagens Tetra Pak são recicladas, pois existe uma indústria em uma cidade vizinha. Mas em Manaus, por exemplo, não são”, exemplifica.

Para saber se um determinado material é ou não reciclado em sua região, Patrícia sugere que o consumidor se informe junto a Prefeitura Municipal ou informalmente junto aos catadores locais. “O consumidor tem um enorme poder de influenciar o mercado. Ele pode se organizar e tentar pressionar o município em que mora para que invista no sistema de coleta seletiva e reciclagem. De modo geral, o consumidor, por meio de seu ato de consumo, tem possibilidades de transformar a realidade para melhor”, sugere.

Para ajudar os consumidores a separarem seu lixo em casa, o Akatu mostra a seguir algumas orientações que facilitam a separação dos recicláveis, em casa ou no trabalho. A elaboração dessas recomendações contou com o auxílio de Patrícia Leme, educadora do USP Recicla, e de Eduardo Ferreira de Paula, Diretor Secretário da Coopamare (Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Papelão, Aparas e Materiais Reaproveitáveis) e do Movimento Nacional de Catadores.

 

Materiais que devem ser encaminhados para reciclagem

  

Materiais que não devem ser encaminhados para a reciclagem.

  

A coleta seletiva, que envolve a separação e envio dos recicláveis para reaproveitamento industrial, é a primeira parte de um processo complexo. Patrícia explica que a reciclabilidade dos materiais depende tanto da existência de tecnologia, que permita transformar e reutilizar os materiais coletados, quanto de indústrias dispostas a usarem esse material. Portanto, um determinado material, apesar de ser reciclável, pode não ser reciclado por falta de uma empresa que o utilize. A Pesquisadora recomenda que o consumidor que tiver a oportunidade cheque quais os materiais são reciclados em sua região e continue incentivando a coleta seletiva, para que cada vez mais materiais possam ser efetivamente reciclados em sua cidade.

 

Eletroeletrônicos

 

Segundo o Greenpeace, o lixo eletrônico produzido no mundo em um ano encheria um vagão de carga de um trem capaz de dar uma volta completa no mundo. São 50 milhões de toneladas de lixo eletroeletrônico produzidos a cada ano pela humanidade, composto por computadores, celulares, eletroeletrônicos e eletrodomésticos.

“Na União Européia já existe legislação específica para resíduos eletro eletrônicos que garante que esses materiais terão uma destinação ambientalmente correta. No Brasil, não. Essa legislação européia diz que o consumidor que quiser descartar estes produtos é obrigado a dispô-los em locais específicos que encaminharão o material coletado para destinação correta sem custo adicional para o consumidor”, explica Patrícia.

Algumas entidades que recebem equipamentos e/ou orientam aqueles que querem fazer doações são:

 

Associação Brasileira de Excedentes

http://www.abre-excedente.org.br


Casas André Luiz
http://www.andreluiz.org.br


Comitê pela Democratização da Informática
http://www.cdi.org.br

 

Exército de Salvação

www.exercitodesalvacao.org.br


Museu do Computador
http://www.museudocomputador.com.br

 

 

Orientações em geral

 

Se você achou muito longa ou complexa essa lista de dicas, fique apenas com esta: “Na dúvida sobre um material, envie para reciclagem”, afirma Patrícia, mesmo correndo o risco de uma parte desse material acabar mesmo no lixo comum.


 Mãos a obra! Repense, reduza, reutilize e recicle o seu lixo!

 

Fonte: http://www.akatu.com.br/central/especiais/2008/sera-que-isso-vai-para-a-reciclagem