PLANTAS
MEDICINAIS COM POTENCIAL TÓXICO: “MATO QUE MATA”
José
Martins Fernandes
Doutorando
em Botânica, Universidade Federal de Viçosa – MG
e-mail:
fernanbio@bol.
A
eficácia das plantas medicinais no tratamento das doenças é amplamente
conhecida pela sociedade. No entanto, muitos usuários acham que, por serem
produtos naturais, não precisam de rigor quanto a seu preparo, principalmente
em relação à quantidade de plantas utilizadas e à sua dosagem. Com esses
equívocos, o Ministério da Saúde informa que muitos brasileiros
intoxicam-se com o uso incorreto de plantas medicinais.
Os
remédios à base de plantas usados de forma indiscriminada, possivelmente irão
intoxicar os usuários, acarretando, por exemplo, uma alergia ou até mesmo o
desenvolvimento de outras doenças mais complexas. Estas doenças poderão se
desenvolver logo após o uso do remédio, ou a longo prazo, como um câncer.
O
uso incorreto do confrei - Symphytum officinale L. (Boraginaceae)
A
arruda - Ruta graveolens L. (Rutaceae), cultivada em muitos quintais,
pode provocar vômitos, gastrinterites, salivações, edema na língua e,
principalmente, hemorragias em mulheres grávidas, podendo levar ao aborto
(Martins et al., 1998).
Outras
plantas também são citadas na literatura como abortivas, entre elas:
quebra-pedra - Phyllanthus amarus
L. e P. niruri L. (Euphorbiaceae)
O
quebra-pedra não pode ser utilizado durante a gravidez, pois possui princípios
ativos que atravessam a barreira placentária, podendo provocar aborto; e
essas substâncias também podem ser excretadas no leite materno. A cabacinha
possui substâncias denominadas cucurbitacinas, esteróides resultantes da
oxidação de triterpenos tetracíclicos, responsáveis pelas ações embriotóxicas
e abortivas, podendo causar hemorragia grave ou até mesmo a morte (Barros
& Albuquerque, 2005).
Não
são raros os casos em que se emprega somente uma parte da planta com fins
medicinais, enquanto as outras partes podem ser consideradas tóxicas para
algumas espécies, como por exemplo, o cambará (Lantana camara L.),
cujas folhas possuem propriedades medicamentosas enquanto os frutos são tóxicos
(Martins et al., 1998). Desta forma, o usuário deve usar apenas a
parte da planta recomendada por um médico ou um conhecedor popular da
comunidade.
Outra
espécie que merece atenção é a aveloz - Euphorbia tirucalli L. (Euphorbiaceae)
Outro
problema enfrentado por usuários de plantas medicinas está na identificação
errada das espécies. Geralmente, quando o usuário não tem muita experiência
no reconhecimento da planta certa no campo, coleta outra espécie muito próxima
que não apresenta as devidas composições químicas necessárias,
acarretando algumas vezes a intoxicação.
Como
exemplo de trabalho comunitário para reverter problemas de intoxicação com
plantas medicinais, está o trabalho de pesquisa e ação social desenvolvido
no município de Morretes, Estado do Paraná, envolvendo 555 famílias.
Identificou-
Este
tipo de pesquisa poderá ser realizado em outras regiões do país, buscando
conhecer as espécies utilizadas como remédio, porém, com potencialidade tóxica.
E a partir dessas informações, desenvolver ações públicas nas comunidades
estudadas, visando à melhoria da qualidade de vida, por meio da educação
ambiental.
A
expressão “mato que mata” não visa a assustar o leitor quanto ao
uso das espécies citadas nesta nota, mas chamar a atenção dos usuários,
pois o “mato” (planta medicinal) pode curar quando usado de forma correta,
mas também poderá “matar” vidas, como um feto, quando usado sem critério
e responsabilidade.
Bibliografia
MARTINS,
E. R.; CASTRO, D. M.; CASTELLANI, D. C. & DIAS, J. E. Plantas
medicinais. Viçosa, MG: UFV, 1998. 220p.
LORENZI,
H. & MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas.
Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum. 2002. 512p.
BARROS,
F. R. N. & ALBUQUERQUE, I. L. Substâncias e medicamentos abortivos
utilizados por adolescentes em unidade secundária de saúde. Revista
Brasileira em Promoção da Saúde, Fortaleza-Ceará