Educação Ambiental em Ação 22
... Dia 10 de dezembro é
o Dia Nacional do Catador de Material Reciclável?
Entrevista com Claudete Ferreira
da Costa
Por Flávia Mattar e Jamile
Chequer
www.ibiss.com.br
Publicado em 28/11/2006.
Em 10 de dezembro é comemorado o Dia Nacional do Catador de Material Reciclável.
A atividade é reconhecida pelo Ministério do Trabalho desde 2002, o que
garante à categoria os mesmos direitos e obrigações de um(a) trabalhador(a)
autônomo(a). Apesar de muitas vezes não ser reconhecido pela sociedade, o
trabalho do(a) catador(a) é de grande importância para a preservação do
meio ambiente. Os quilos de papel que coleta para reciclagem, por exemplo,
poupam a derrubada de árvores. Graças ao seu trabalho também podem ser
reutilizados materiais como latas, vidros, garrafas PET. Claudete Ferreira da
Costa, catadora há 10 anos, reforça a importância da atuação desses(as)
profissionais e apresenta o Projeto Catadores da Vida, do Instituto Brasileiro
de Inovações em Saúde Social (Ibiss).
- Há quanto tempo você trabalha como catadora?
Trabalho como catadora há 10 anos. Além de mim, minha mãe atua nessa
atividade há 30 anos. Quando conheci meu ex-marido, começamos a reciclar
juntos. Comprei minha primeira casa com o dinheiro do papel. O papel,
antigamente, dava muito dinheiro, era mais valorizado. Ele desvalorizou com o
real. Está cada vez pior o valor de venda. Além disso, aumentou muito o número
de catadores. Agora é chato e estressante, porque não vemos retorno
financeiro.
- Há muito preconceito contra a pessoa que atua como catadora?
Eu já sofri preconceito. Quando eu e meu ex-marido passávamos na rua, ele ia
com o carrinho e eu ia ao lado dele andando,
umas mulheres ‘bestas’, nos viam e seguravam a bolsa. Além disso, tinham
pessoas que passavam do nosso lado e cuspiam.
Eu sentia muita raiva. Mas, agora, não há muito preconceito. Esse ramo tem
crescido e há pessoas importantes no meio. Como uma atriz que tem uma ONG que
trabalha com catadores. Vários artistas e pessoas importantes se juntaram a
ela. É claro que com isso também há perdas. No Centro da Cidade [Rio de
Janeiro], 100% das pessoas estavam perdendo os seus pontos de papel porque
ela estava apresentando um projeto lindo. Os prédios onde catávamos papel
passaram a dar o material para ela. Então, tivemos que visitar os prédios
com uma carta de nossa cooperativa, mostrando que também tínhamos um projeto
e que vivíamos com aquele dinheiro. Além disso, a nossa cooperativa entrou
em contato com a ONG dela, mostrando o que estava acontecendo. Então,
foi feito um acordo para que não coletassem mais nos mesmos pontos que a
gente.
- Você escolheu trabalhar como catadora por falta de opção ou foi
uma escolha?
Até os 7 anos eu era ‘patricinha’. Vivíamos em São Paulo. Meu pai tinha
condição. Quando minha mãe se separou, por ele ser
alcoólatra, eu e meus três irmãos seguimos com ela. Foi assim que ela começou.
Ela se informou com uma moça na Uruguaiana [Centro do Rio de Janeiro], que
começou a ensinar a ela como catar papel, como as crianças deviam vender
doces. Começamos a
conhecer as artimanhas da rua. Com 15 anos, conheci meu ex-marido na
cooperativa da Praça XV, na Associação dos Recicladores do Rio de Janeiro.
- Qual a relação do Ibiss com a associação?
O meu ex-marido sempre quis lutar pela causa do catador e, como já conhecíamos
o diretor-executivo do Ibiss, sentaram ele, meu ex-marido e outra pessoa e
montaram o Projeto Catadores da Vida. Esse projeto foi desenvolvido em 2000 e
eu comecei a trabalhar nele em 2001. Nós entramos com a organização dos
catadores, para que pudéssemos ter uma cooperativa com todo mundo unido,
sabendo seus direitos etc. O Ibiss bancou toda a obra e não cobrou nada da
gente. Agora, temos um galpão enorme, bonito, com
cozinha, cantina, banheiro de mulheres e homens, com água quente e fria. Toda
a manutenção da cooperativa é feita pelo Ibiss sem cobrar nada. Além
disso, entrou com o apoio de cidadania e saúde – documentação, postos de
saúde próximos. O Ibiss tem educadores, como eu, para facilitar a ida do
catador a postos de saúde e hospitais no Centro da cidade, próximo à
cooperativa,
e para agilizar documentação gratuitamente.
- Você recebeu curso de formação para ser educadora?
Sim, fiz um curso pelo Ibiss. Primeiro, fiz cursos de jovens lideranças.
O curso começou a mudar minha forma de pensar, meu modo de viver. Estou
estudando ainda, vou terminar o primeiro grau este ano.
- Estão acontecendo novidades no Projeto Catadores da Vida?
Agora, comecei a fazer mapeamento de saúde. Temos uma ficha na qual
perguntamos se o catador tem procurado posto médico, hospital, se foi bem
tratado. Além disso, meu trabalho também é orientar catadores sobre saúde.
Eu explico o que sei e o que
não sei busco ajuda, converso com algum médico do Ibiss e peço que ele
oriente a pessoa. Também distribuo preservativos. Outra frente de ação é o
apoio ao catador que precisa de medicamento e não encontra em postos de saúde.
Quando isso ocorre, podemos
comprar o remédio por meio do projeto. Além de fazer trabalho com os
catadores da cooperativa, também trabalho com catadores de rua, em quase todo
o Centro da cidade. Antes, os catadores não tinham documentos. Hoje, todos
estão documentados.
- Vocês têm foco em DST/Aids, não?
Dois catadores falaram que eram soropositivos e que estavam se tratando na
Fiocruz. Eles só souberam por conta do projeto. Com as informações que
passei é que começaram a perceber que tinha algo errado e foram procurar
ajuda. Nós distribuímos panfletos informativos etc.
- Que tipo de orientações, com foco em saúde, vocês passam para
catadores(as)?
Uma coisa que dizemos é para que não tentem trabalhar com sacos que estejam
com muitas seringas e luvas amarradas. Se alguém está com a pela muito áspera,
com a pele estranha, encaminhamos para o pessoal da hanseníase do Ibiss.
Quando tem alguém tossindo muito, com suspeita de tuberculose, agimos da
mesma forma.
- Como vê a luta dos catadores(as) do Aterro Sanitário de Jardim
Gramacho?
Quando conheci o local, achei tudo precário. Não entendia como eles
conseguiam trabalhar ali, já que lidavam com o resto do resto do lixo. Achei
muito complicado. A criação da cooperativa deles foi uma vitória, tem
melhorado as condições de trabalho. Acredito que a associação irá
melhorar cada vez mais o esquema de trabalho deles.
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Publicado em 28/11/2006.
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