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O EXEMPLO DAS EMBALAGENS LONGA VIDA E A GESTÃO ESTRATÉGICA DE RESÍDUOS



O caso recente envolvendo a Tetra Pak e o Governo do Paraná mostra como a gestão estratégica de resíduos deve ser prioridade nas empresas. Não dá mais para se esconder atrás de certificados ISO ou de "boas práticas ambientais". É preciso avançar efetivamente na gestão sustentável dos resíduos, eliminando a visão e o conceito tradicional de resíduo, para agregar valor para a empresa.


O Governo do Paraná iniciou grande pressão sobre a Tetra Pak, argumentando que a empresa coloca no Estado uma imensa quantidade de embalagens longa vida, que depois vão parar no meio ambiente. A Secretaria do Meio Ambiente ameaçou até proibir a comercializaçã o desse tipo de embalagem no Estado. Afirmou também que a Tetra Pak não tem um sistema eficaz para coletar as embalagens que coloca no mercado. A empresa tem uma fábrica em Ponta Grossa. A empresa se defendeu da forma usual, dizendo que "não sofre nenhum tipo de restrição nos 165 países onde atua e que é referência global em sustentabilidade, por suas práticas em prol da preservação ambiental, tais como utilização de matéria-prima renovável, como a compra de papel de madeira certificada" .


Com essa resposta a empresa provou desconhecer a gestão ambiental avançada, em que as ações estratégicas e pró-ativas são fundamentais. Hoje certificados ISO e políticas para fazer o "basicão" (destinação adequada de resíduos, usar materiais recicláveis, etc.) são apenas obrigação, não criam valor sustentável para as empresas. Menos de uma semana após o Governo ter endurecido as ações, a Tetra Pak voltou atrás e assumiu compromisso de elaborar, em 60 dias, um projeto de logística de recolhimento e destinação de embalagens em todo o Estado. Esse projeto será feito em conjunto com o Governo Estadual e com o Ministério Público. O vice-presidente da empresa para a América Latina, Nelson Findeiss, quando percebeu o dano à imagem corporativa, admitiu que as conversas foram mal conduzidas. “Tivemos um problema de comunicação, até porque em Ponta Grossa não temos área administrativa. O diretor responsável foi infeliz.”



Vejam como esse caso é um grande exemplo para os profissionais da área ambiental das empresas. A maioria de nós acha que a gestão de resíduos nas empresas mais estruturadas (geralmente grandes empresas e multinacionais) está resolvida. Que não há muito o que evoluir. Isso porque pensamos no conceito tradicional de resíduo e nos concentramos exclusivamente nos resíduos gerados na etapa de produção. Não pensamos com base nos conceitos de Balanço de Massa e de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), que inclui as embalagens e o próprio produto (no caso de bens duráveis) como materiais que serão dispostos no ambiente.


A sociedade está muito mais atenta e exigente com a gestão sustentável de resíduos. As empresas têm dois caminhos a seguir. Ou esperam ocorrer casos como esse do Paraná, em que a imagem da empresa sai muito arranhada (quando custa em dinheiro esse dano à imagem?). Ou saem na frente e aproveitam o desejo da sociedade por ações concretas em defesa do meio ambiente. Adotando a segunda opção criam valor sustentável, com impactos positivos no mercado.


Luiz Carlos Porto, Eng., MSc.
Enviada por e-mail pelo grupo Gestão Ambiental.